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CAPÍTULO III – A relação entre o Estado e as políticas para o cinema e o audiovisual na

3.3 O CSA e as cotas de difusão de programação e investimento na produção de obras

3.3.2 As cotas de exibição

As obrigações em relação às cotas dizem respeito a obras cinematográficas e obras audiovisuais. Nem todos os canais são submetidos às mesmas regras.

3.3.2.1 Cotas de exibição para obras cinematográficas

Busca-se criar cotas para se preservar uma diversidade cultural dentro dos canais de televisão. Isso data dos anos 1970, quando foi assinada uma convenção geral do Diretor do ORTF à época junto ao Ministério dos Assuntos Culturais que fixava uma cota de 50% de filmes franceses na programação cinematográfica nos canais de televisão. Isso visava proteger os filmes franceses nos canais, uma vez que sua presença nas salas de cinema era minoritária. Nos anos 1990, o Decreto nº 90-66 de 17 de janeiro fixará novas regras em relação a exibição dessas obras nos canais.

De modo geral podemos dizer que as cotas são aplicadas para que seja possível a garantia nos canais de televisão de filmes de expressão original francesa ou europeus. Além delas, também há outras duas medidas que buscam limitar a difusão de filmes na TV, concebidas para proteger a exibição em salas de cinema. A primeira diz respeito a um máximo anual de obras inéditas, enquanto a segunda veta a difusão de obras cinematográficas em dias e horários particularmente lucrativos para os cinemas, buscando, desta forma, desestimular uma competição nociva entre a programação fílmica da televisão e a do cinema.

As cotas de obras cinematográficas distinguem os chamados canais de serviços de cinema dos outros canais:

a) Os canais de serviços de cinema são aqueles cuja principal função é a difusão de obras cinematográficas ou emissões dedicadas ao cinema e sua história. Segundo o

Decreto n° 2010-747 de 2 de julho de 2010, esses canais dedicam ao menos 75% do seu tempo de difusão diária a programas com essas características. Esses canais focados em cinema são subdivididos em função das especificidades de suas exibições:

- canais de cinema de primeira difusão são aqueles que fazem a estreia de um ou vários filmes com exclusividade, ou aqueles que tenham realizado a difusão de 10 obras cinematográficas em segunda difusão (2o canal a difundir) em menos de 36 meses após seu lançamento em sala.

- canais de cinema de primeira exclusividade são aqueles que lançam como primeira exibição na televisão ao menos 75 obras cinematográficas, sendo destas 10 de expressão francesa.

- canais de patrimônio cinematográfico são aqueles que exibem exclusivamente obras cinematográficas que tenham sido lançadas em sala de cinema há mais de 30 anos.

As cotas seguidas por todos os canais com este perfil são a exibição de ao menos 60% de obras cinematográficas europeias e 40% de obras de expressão original francesa no total de longas-metragens exibidos no canal ao longo do ano. Aqueles classificados como canais de cinema de primeira difusão são submetidos a taxas mais sutis: 50% e 35%, respectivamente.

Além disso, esses canais não podem difundir mais de 500 obras cinematográficas diferentes anualmente, sendo que as reprises de cada uma não podem passa de 7 em um período de três semanas.

Finalmente, o decreto proíbe a difusão de filmes em certos horários: das 18h às 23h do sábado (exceto para os canais de cinema de primeira exclusividade sob certas condições) e das 13h às 18h do domingo (exceto para os filmes preto e branco dos canais de patrimônio cinematográfico). Dentro das obrigações a serem seguidas é importante mencionar a Cronologia das mídias,160 que não vale apenas para a televisão, mas para todas as janelas de exibição de um filme. A regra determina uma ordem temporal a ser seguida no que diz respeito à trajetória de uma obra (após a estreia em sala de cinema, deve-se esperar no mínimo 4 meses para a obra ser vendida, alugada ou difundida em TVoD; mais de um ano para chegar aos canais de televisão; mais tempo ainda para serviços de SVoD e assim por diante).

b) Os canais que não são de serviços de cinema devem seguir a mesma cota que determina que um mínimo de 60% da programação seja de obras cinematográficas europeias,

160 Após o lançamento de um filme em sala de cinema este deve esperar pelo menos 10 meses para poder ser exibido em um canal de televisão. Mais detalhes da cronologia das mídias no Anexo VI.

e 40% de obras de expressão original francesa, em relação ao total de longas-metragens difundidos anualmente. Contudo, é importante notar que esses canais devem cumprir suas cotas de difusão no horário nobre, definido pelo decreto como a faixa horária das 20h30 às 22h30.

Além disso, para esses canais o teto de longas-metragens é fixado em 192 (número que inclui, além da difusão, as reprises), sem que as difusões e reprises em horário nobre ultrapassem 144 filmes. Há também a possibilidade de difundir 52 filmes suplementares, desde que sejam classificados Art et Essai e exibidos no canal fora do horário nobre.

Finalmente, esses canais têm mais horários vetados à difusão de filmes: as noites inteiras de quarta-feira e sexta-feira (exceto obras Art et Essai após as 22h30), o sábado inteiro e o domingo antes das 20h30.

3.3.2.2 Cotas de exibição para obras audiovisuais

As cotas relacionadas a obras audiovisuais dizem respeito àquelas que forem europeias e/ou de expressão francesa e buscam, como já mencionado, proteger o cinema francês e europeu, dificultando o crescimento das obras estrangeiras nos canais em detrimento de obras locais, dando a possibilidade do telespectador ter acesso a uma programação nacional. A regulamentação desta categoria difere para canais hertzianos e não hertzianos.

O início das cotas de difusão na França se deu nos anos 1970. As três empresas nacionais de programas de televisão procedentes do ORTF definiram para os canais um limite anual mínimo de difusão de 60% de obras de ficção de origem ou participação majoritária francesa.

Canais hertzianos

São eles TF1, M6, France 2,3,4,5, Direct 8, TMC, NT1, NRJ 12, W9, Direct Star e Gulli.

Os canais devem exibir anualmente ao menos 60% de obras audiovisuais europeias e 40% de obras de expressão original francesa. Além disso, essa proporção deve ser mantida durante horários de grande audiência: das 14h às 18h (quarta-feira) e das 18h às 23h nos outros dias.

O CSA também é autorizado pelo decreto a determinar diferentes horários de grande audiência dos canais em função de sua programação e horários. Ou seja o CSA tem a prerrogativa de definir o que considera horário nobre para cada canal.

Os canais Canal + e TPS também fazem parte das medidas, mas seus horários nobres são considerados das 20h30 às 22h30.

Canais não-hertzianos

Seguem a mesma regra dos canais hertzianos, ou seja, mínimo de 60% de difusão de obras europeias e 40% de obras de expressão original francesa.

O Decreto autoriza o CSA a baixar o mínimo para 50% quando o canal se envolve na produção de obras de expressão original francesa inéditas e que sejam de produtoras independentes.

Através dessas cotas de difusão de obras na grade de programação televisiva, assim como o auxílio na produção das mesmas, possibilita que produções cinematográficas e audiovisuais francesas e europeias, independentes ou patrimoniais, mais recentemente o VoD, SVoD, e TVoD, encontrem seu espaço garantido na televisão, setor tão fundamental para o funcionamento da economia do audiovisual.

3.4 A reforma da Cosip: a construção de uma legislação em defesa do documentário de