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Obrigações de contribuições à produção audiovisual e cinematográfica

CAPÍTULO III – A relação entre o Estado e as políticas para o cinema e o audiovisual na

3.3 O CSA e as cotas de difusão de programação e investimento na produção de obras

3.3.1 Obrigações de contribuições à produção audiovisual e cinematográfica

3.3.1.1 Contribuições de canais de TV à produção cinematográfica

As obrigações definidas pelo Decreto n° 2010-747 de 2 julho 2010 se aplicam aos canais de televisão hertzianos,155 enquanto as do Decreto nº 2010-416 contemplam os não- hertzianos nos mesmos moldes. Só ficam excluídos destas obrigações aqueles canais que exibirem, ao longo de um ano, 52 ou menos longas-metragens diferentes (ou seja, até um por semana), sem que o total de exibições, incluindo reprises, exceda 104.

A principal obrigação desses canais é de investir uma parcela do volume de negócios líquido do ano anterior em contribuições ao desenvolvimento da produção de obras cinematográficas.156 3,2% deste montante são destinados a obras europeias, sendo que 2,5% devem sê-lo para obras de expressão original francesa. O texto da lei define como despesas em obras cinematográficas:

- Compra dos direitos de difusão de obras cinematográficas; - Investimento parcial na produção de obras cinematográficas;

153 Disponível em: <http://www.csa.fr/Television/Le-suivi-des-programmes/La-production-des-oeuvres/La- contribution-a-la-production-audiovisuelle>. Acesso em: mai/2018.

154 A diretiva Televisão sem Fronteiras se assenta em dois princípios: a livre circulação de programas televisivos europeus no mercado interno e a obrigação de os canais de televisão aplicarem quotas de difusão de obras europeias.

155 Canais Hertzianos são aqueles transmitidos por ondas eletromagnéticas e recebidos por uma antena. No caso da televisão na França, este termo agrupa tanto as transmissões terrestres (Télévision Analogique Terrestre - TAT

e Télévision Numérique Terrestre - TNT) quanto as via satélite (Télévision Numérique Satellite – TNS). Por

exclusão, os canais não-hertzianos agrupam aqueles transmitidos via tecnologia ADSL e fibra ótica (cujo sinal é transmitido via internet) e os canais a cabo.

156 A definição de “obra cinematográfica”, segundo o artigo 2º do decreto nº 90-66 de 17 de janeiro de 1990, é: obras que tenham um visa de exibição, com exceção de documentários cuja primeira difusão na França tenha sido na televisão; e também obras estrangeiras que não tenham um visa mas que tenham sido exibidas comercialmente em sala de cinema em seus países de origem.

- Investimento em um fundo que participe da distribuição em salas de cinema de obras cinematográficas;

- Adaptação de obras cinematográficas para deficientes visuais.

Nos casos de compra de direito de difusão e de investimento parcial na produção de obras cinematográficas, o decreto obriga que pelo menos ¾ destes gastos sejam direcionados para o desenvolvimento da produção independente, nos termos definidos pelo decreto.157

3.3.1.2 Contribuições de canais de TV à produção audiovisual

As obrigações para a produção de obras audiovisuais158 também são definidas pelos mesmos decretos. Neste caso, são contemplados os canais que anualmente reservam mais de 20% de seu tempo de difusão a obras audiovisuais. Aqueles que ficam abaixo deste limiar só serão enquadrados caso seu volume de negócios líquido do ano anterior exceda 350 milhões de euros.

A principal obrigação destes canais é de destinar anualmente pelo menos 15% do seu volume de negócios líquido do ano anterior em contribuições ao desenvolvimento da produção de obras cinematográficas europeias ou de expressão original francesa, sendo pelo menos 10,5% direcionado a obras patrimoniais (para canais de menor faturamento, este percentual diminui gradativamente até 8,5%). Para canais que destinem mais da metade do seu tempo de exibição anual para filmagens de espetáculos ao vivo ou videoclipes musicais, sendo que este último deve representar pelo menos 40%, a taxa obrigatória de difusão anual cai de 15% para 8%. Também neste caso há uma obrigatoriedade com relação às obras patrimoniais, devendo elas receberem 7,5% do volume de negócios liquido do ano anterior. Caso o canal invista exclusivamente em obras patrimoniais, a obrigação prevista cai de 15% para 12,5%. Além disso, uma parte das despesas deve ser comprometida com o

157 Neste caso, uma obra de produção independente é definida nos termos da aquisição dos direitos de difusão pelos canais. Seus direitos de difusão não podem ter sido adquiridos por um canal para mais de duas exibições ou por mais de 8 meses; além disso, os canais não podem acumular direitos para diferentes modalidades de exibição, por exemplo, em salas de cinema, em serviços on line ou em DVD/Blu-ray.

158 A definição de “obra audiovisual” é dada negativamente pelo artigo 4 do decreto nº 90-66 de 17 de janeiro de 1990. São aquelas que não pertençam aos seguintes gêneros: obras cinematográficas com mais de 1h de duração; jornais e emissões de informação; programas de variedades; programas de jogos; ficções filmadas majoritariamente em estúdio; retransmissões esportivas; mensagens publicitárias; programas de telecompra; autopromoção; e teletexto.

Esta definição não é isenta de problemas. Em 30 de julho de 2003, uma sentença do Conselho de Estado qualificou como obra audiovisual uma emissão do canal M6 intitulada Popstar por ela não se encaixar nos gêneros excluídos. Esta classificação do programa, uma espécie de reality show que acompanha o percurso de uma banda, causou desconforto em agentes do setor.

desenvolvimento da produção independente (pelo menos 9% do volume de negócios líquido do ano anterior).

O texto da lei define como despesas em obras audiovisuais:

- A compra, antes ou depois do fim das filmagens, dos direitos de difusão;

- Investimento parcial, antes do fim das filmagens, na produção (cotas, ações, coprodução, etc);

- Financiamento nos trabalhos de escritura e desenvolvimento; - Adaptação de obras cinematográficas para deficientes visuais.

O decreto define ainda que os investimentos feitos pelo canal podem ser acordados entre este e os produtores a fim de levar em conta a natureza da programação do canal.

3.3.1.3 Contribuições de serviços de VoD à produção cinematográfica e audiovisual

Os serviços de VoD são regulamentados pelo Decreto n° 2010-1379 de 12 novembro 2010.

Para aqueles que permitam assistir, por um tempo limitado, a programas exibidos em um canal de TV (télévision de rattrapage), a taxa obrigatória de contribuição à produção de obras cinematográficas europeias e francesas é idêntica àquela aplicada ao canal de onde provém sua programação. Com respeito às obras audiovisuais, esta categoria está isenta de contribuição.

Para os outros serviços de VoD, a contribuição obrigatória só será exigida daqueles com volume de negócios líquido anual superior a 10 milhões de euros e que disponibilizarem pelo menos 10 longas-metragens por ano. Estes são basicamente divididos em serviços por assinatura (subscription video on demand – SVoD), nos quais o consumidor paga uma mensalidade para acessar o acervo da plataforma, e serviços por transação (transactional video on demand - TVoD), nos quais o consumidor paga individualmente pelos filmes escolhidos.

No primeiro (SVoD), levando em conta que esse tipo de serviço é impedido de disponibilizar um filme com menos de três anos após sua estreia no cinema,159 a taxa obrigatória de contribuição à produção é de 15% para as obras cinematográficas e de 12% para as obras audiovisuais.

No segundo (TVoD), a plataforma deve investir ao menos 15% do seu volume de negócios líquido anual no desenvolvimento da produção de obras cinematográficas ou audiovisuais europeias, sendo ao menos 12% de obras de expressão original francesa.

É importante notar que ¾ dos investimentos supracitados devem ser dirigidos à produção independente.

São aceitas as seguintes despesas:

- A compra, antes do fim das filmagens, dos direitos de exibição;

- Investimento parcial, antes do fim das filmagens, na produção (cotas, ações, coprodução etc);

- Adaptação de obras cinematográficas para deficientes visuais e auditivos.