• Nenhum resultado encontrado

Crédito rural

No documento Fundação oswaldo Cruz Presidente (páginas 170-172)

Sergio Pereira Leite

Em qualquer atividade produtiva, seja no setor agropecuário, industrial, de comércio ou de serviços, a existência de uma linha de crédito é fundamental para viabilizar as despesas com insumos, mão de obra, investimentos (em máqui- nas, equipamentos, edificações etc.) e comercialização dos produtos objeto dessa atividade. O crédito, nesse senti- do, pode ser compreendido como uma

antecipação monetária (empréstimo) entregue ao tomador (produtor) dos re- cursos, que fará uso do financiamento. Assim, na ausência de recursos próprios que permitam custear a produção, dis- por de um programa de crédito para um setor específico tem sido uma estratégia importante para sustentar a produção e, consequentemente, a oferta de um bem e/ou serviço. Além do crédito para ati-

C

vidades produtivas, há também linhas de crédito direcionadas ao consumo, por exemplo. No nosso caso, vamos nos deter no crédito orientado à produção, em particular àquela existente no meio rural brasileiro.

Primeiramente devemos lembrar que estamos tratando de um emprés- timo que, para tanto, pressupõe algu- mas condições prévias, entre as quais: instituições devidamente reconhecidas e/ou credenciadas para operar esses financiamentos (bancos, públicos ou privados, por exemplo1) e que contem

com fundos disponíveis para tanto, prazos para a devolução dos recursos emprestados, cobrança de taxas pela antecipação dos recursos financeiros (taxas de juros), cobrança de taxas administrativas para viabilizar a ope- ração, garantias exigidas do tomador (que variam de acordo com o tipo de financiamento, a instituição financeira envolvida, o programa governamen- tal etc.), assinatura de contrato entre as partes envolvidas, enquadramento do beneficiário nos critérios previstos para a linha de financiamento, seguro do valor financiado. É bom frisar que a política de crédito está, por definição, atrelada à política monetária propria- mente dita, pois depende das taxas de juros praticadas pelo sistema financeiro e, em especial, definidas pelas autorida- des monetárias (no caso brasileiro, pelo Banco Central). Ou seja, num contexto de política monetária que vise à con- tenção da inflação por intermédio de uma frenagem da capacidade de gasto, o aumento da taxa de juros geral da economia certamente influenciará as condições de operação de programas específicos de crédito, podendo torná- los mais “caros” aos interessados em recorrer a esse tipo de recurso. Assim, podemos deduzir que, para o tomador

dos empréstimos (o produtor), o uso do financiamento somente será inte- ressante quando a expectativa de retor- no e a rentabilidade da sua produção compensarem o custo (juros, admi- nistração, seguro etc.) de fazer uso do dinheiro emprestado. Caso contrário, a capacidade de pagamento das dívidas contraídas com esses empréstimos fi- cará seriamente comprometida.

Uma segunda lembrança que nos parece importante fazer aqui refere-se às especificidades da atividade agrope- cuária e seu rebatimento sobre as mo- dalidades de empréstimo. Como nos re- corda Delgado (2000), nem sempre os gestores da política macroeconômica (que engloba a política monetária) são sensíveis ou estão atentos às particu- laridades dos setores com os quais a política interage. Isso é mais evidente no setor rural, visto o caráter majori- tariamente urbano da sociedade e da economia brasileiras. Aspectos como diferenças entre o tempo de produção e o tempo de trabalho (sendo o primei- ro maior do que o segundo na agricul- tura), maior suscetibilidade aos riscos climáticos (secas, geadas, intempéries etc.), forte instabilidade de preços, pe- recibilidade dos produtos, inflexibilida- de na escala produtiva após o plantio, calendário agrícola (safra, entressafra, época de plantio, época de colheita etc.) levam o setor agropecuário a demandar instrumentos de políticas relativamen- te adequados às suas condições produ- tivas. No caso dos programas de crédi- to, isso tem implicado algumas ações, entre elas: a) taxa de juros média prati- cada no setor em geral inferior àquela praticada no restante da economia (vis- to que os riscos para a produção são maiores na agricultura e os retornos mais baixos); b) adaptação do crono- grama de disponibilidade de recursos

para empréstimos adaptados ao calen- dário agrícola (liberação de recursos após o período de plantio compromete a viabilidade da safra, por exemplo); c) segmentação do crédito em linhas de custeio, comercialização e investimen- to com prazos e taxas diferenciados de acordo com a modalidade (e, em alguns casos, diferenciados segundo o tipo de produto financiado – lavouras tempo- rárias, lavouras permanentes, atividade criatória, extrativismo, silvicultura, be- neficiamento e agroindustrialização); d) o tomador deve enquadrar-se na ca- tegoria de produtor rural, isto é, pos- suir uma área (terra), no mínimo, desti- nada à atividade agropecuária, mesmo não sendo proprietário do local (como é o caso de arrendatários, meeiros, ex- trativistas etc.).

Devemos ressaltar ainda que a polí- tica de crédito, assim como a política de preços agrícolas, atua complementar- mente como sinalizadora das áreas, se- tores e/ou produtos que o governo quer estimular ou conter. Ou seja, ao praticar uma política de empréstimos com gran- de volume de recursos oferecidos a ta- xas de juros relativamente baixas (ou até negativas2) para financiar a produção de

um determinado cultivo, o governo si- naliza claramente a sua opção por um aumento da oferta desse produto, seja visando à sua comercialização no mer- cado doméstico, seja visando aumentar a sua disponibilidade para exportação.

um breve resgate da

No documento Fundação oswaldo Cruz Presidente (páginas 170-172)