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Como mencionamos acima, cultivar a com­ paixão pelas experiências pessoais é um dos aspectos mais desafiadores dessas interven­ ções. Conversamos sobre isso diretamente com nossos clientes, explicando que pode­ mos ter aprendido a não ter compaixão por nós mesmos (p. ex., nossos pais ou outras pessoas importantes podem ter modelado a ausência de compaixão; aprendemos a

associar a compaixão, equivocadamente, a encontrarmos desculpas para tudo ou sermos indolentes e pouco persistentes). Pedimos que o cliente preste atenção aos efeitos de suas respostas não compassivas a si mesmo e os efeitos das respostas alheias não compassivas dirigidas a ele. Também os lembramos da função das emoções e de como todas as experiências internas fazem parte da nossa condição humana, para que possam cultivar a compaixão por essas ex­ periências.

Talvez o modo mais eficiente de cul­ tivar a autocompaixão na terapia seja por meio da resposta compassiva do terapeuta ao relato que o cliente faz de suas expe­ riências. Rogers (1961), há muito tempo, percebeu o impacto terapêutico do interes­ se empático, e a nossa experiência clínica certam ente confirm a suas observações. Durante todo o tratamento, nossos clientes compartilham as experiências internas que julgam mais negativamente em si mesmos, e nós respondemos consistentemente a es­ ses relatos conforme os experienciamos: como aspectos naturais da experiência hu­ mana. Também comunicamos compaixão e aceitação de suas respostas ao não tentar eliminar suas experiências; isso mostra que não as vemos como perigosas ou más, mesmo entendendo que é assim que eles sentem. Nossos clientes, e os de terapeu­ tas que supervisionamos, com frequência dizem que ouvir mentalmente as palavras compassivas do terapeuta é um primeiro passo para cultivar uma resposta com­ passiva às próprias experiências. Praticar mindfulness ajuda o terapeuta a cultivar essa compaixão e sintonia com as expe­ riências emocionais dos clientes (Fulton, 2005) e há exercícios específicos para cul­ tivar a empatia pelo cliente (ver Morgan e Morgan, 2005).

Também reunimos uma série de exercí­ cios de mindfulness que usamos com clien­ tes que têm uma dificuldade especial em cultivar a autocompaixão. Williams, Teas- dale, Segai e Kabat-Zinn (2007) descrevem um breve exercício de espaço para respirar,

destinado a suavizar a reação da pessoa à própria dor e sofrimento, que usamos com algumas adaptações (p. ex., ampliando a ênfase nas sensações corporais de modo a incluir todas as situações internas). O clien­ te começa se concentrando na respiração e depois passando para o corpo todo. Então lhe pedimos que pense em uma dificulda­ de atual na sua vida e continuamos confor­ me segue.

Agora que você está se concentran­ do em algum pensamento ou situação perturbadora - alguma preocupação ou sentimento intenso - dedique um momento para entrar em sintonia com alguma sensação física que essa dificul­ dade evoca. Percebendo se você conse­ gue notar e se aproximar de quaisquer sensações que estejam surgindo em seu corpo, tomando consciência des­ sas sensações físicas, deliberadamente [mas suavemente] dirigindo seu foco de atenção para a região do corpo onde as sensações são mais fortes e abrindo os braços para elas, acolhendo-as. Esse gesto pode incluir respirar nessa parte do corpo, levando o ar para essa região, fazendo o ar sair na expiração, explo­ rando as sensações, observando sua in­ tensidade aumentar e diminuir de um momento para o seguinte.

[...] Vendo se você consegue levar para essa atenção uma atitude ainda mais profunda de compaixão e abertu­ ra a quaisquer sensações, [pensamentos ou emoções] que estiver experiencian- do, por mais desagradáveis que sejam, dizendo a si mesmo de vez em quan­ do: "Tudo bem. Seja o que for, já está aqui. Eu vou me abrir para isso." Então simplesmente mantenha a consciência dessas sensações [internas], respirando com elas, aceitando-as, permitindo-as, deixando que sejam exatamente o que são. Repetindo: "Está aqui agora. Seja o que for, já está aqui. Eu vou me abrir para isso". Serenamente se abrindo para as sensações que percebe, desfazendo-se

de qualquer tensão e controle. Lembre- -se de que ao dizer "Já está aqui" ou "Tudo bem ", você não está julgando a situação original nem dizendo que tudo está bem, mas simplesmente ajudando a sua percepção, neste momento, a con­ tinuar aberta às sensações do seu corpo. Se quiser, também pode manter presen­ tes as sensações do corpo, da inspiração e expiração, conforme respira com as sensações momento a momento.

E quando perceber que as sensa­ ções corporais já não estão atraindo a sua atenção no mesmo grau, simples­ mente volte 100% para a respiração e a mantenha como seu principal objeto de atenção.8

Os clientes podem começar a respon­ der mais serenamente a sensações pertur­ badoras e depois, gradualmente, se abrir também para pensamentos e sentimentos perturbadores. Praticar isso diariamente de maneira formal (p. ex., sempre que acordar com alguma reação perturbadora) ajuda a fortalecer a resposta, e a pessoa pode apli­ car isso sempre que tiver alguma experiên­ cia angustiante, respirando e se abrindo para a sua experiência em vez de tentar evitá-la ou julgá-la.

Frequentemente adaptamos o exercício de "aceitar-se com fé", da TAC (Hayes, Stro- sahl e Wilson, 1999), para ajudar o cliente a praticar uma resposta compassiva mais ampla, em oposição ao sentimento esmaga­ dor de autocrítica desenvolvido a partir de experiências passadas. Pedimos ao cliente que pense em como repetidamente se ana­ lisa e não se acha suficientemente bom. Pe­ dimos que considere uma alternativa - que ser aceitável é uma escolha, um pulo de fé, e não algo a ser constantemente testado e ava­ liado. Nesse exercício, perguntamos se ele está disposto a dar esse pulo, a se ver como uma pessoa completa, que tem valor, exata­ mente como é, neste momento e em todos os momentos.

Outros exercícios utilizados nas abor­ dagens baseadas em mindfulness se valem

A Prática daTerapia Cognitivo-comportamental Baseada em Mindfulness e Aceitação 145

da prática budista tradicional (ver Germer, 2005, para uma revisão) para cultivar a com­ paixão. A prática tibetana de Tonglen, que envolve inspirar (e se abrir para) a nossa dor e sofrimento e os dos outros e expirar alívio (Brach, 2003; Chodron, 2001) pode ser usada para se cultivar uma resposta aberta e não evitante a qualquer ocorrência de dor ou sofrimento. A prática continuada, em todo sofrimento que surgir, ajuda o cliente a desenvolver um senso da sua capacidade de conter a dor e o sofrimento, em vez de precisar rechaçá-los. Podemos usar a me­ ditação de amor-bondade ou metta (p. ex., Kabat-Zinn, 1994) para cultivar uma respos­ ta amorosa e bondosa a nós mesmos e de­ pois dirigir esse amor-bondade para outras pessoas. Praticar a compaixão pelos outros pode ser útil no contexto das dificuldades interpessoais do cliente e ajudá-lo a apren­ der maneiras mais hábeis e eficientes de re­ solver conflitos.

Juntando tudo: compreender a