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A nossa segunda tarefa de valores fora da sessão consiste em pedir ao cliente, nova­ mente, que reserve 20 minutos do dia, em três dias diferentes, para descrever seu processamento emocional. O foco dessa tarefa é o cliente considerar seus valores pessoais em cada uma das três áreas. Essa tarefa também inclui algumas perguntas para ajudar o cliente a considerar aspec­ tos multifacetados de seus valores e pode ser modificada de acordo com suas neces­ sidades. Por exemplo, podemos pedir ao cliente que considere que tipo de amigo ou parceiro ele quer ser, quão aberto ou reser­ vado ele gostaria de ser e/ou que tipo de apoio gostaria de dar aos outros. Ele tam­ bém pode descrever o tipo de empregado que gostaria de ser considerando hábitos de trabalho, relacionamentos com os cole­ gas e disposição a enfrentar desafios. Fi­ nalmente, o cliente pode ser incentivado a escrever sobre como gostaria de passar seu tempo livre: cuidando de si m esm o, em atividades recreativas ou hobbies, envol- vendo-se mais com a comunidade (e se ele se percebe como tendo tempo livre). Um exemplo dessa tarefa de valores é apresen­ tado no Material 7.3 (p. 181).

Para a maioria dos clientes, essa tarefa é apenas um ponto de partida para a ex­ ploração dos valores. Portanto, geralmente uma porção significativa de tempo é dedi­

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cada à discussão da tarefa nas sessões sub­ sequentes, e não é raro que alguns clientes refaçam a tarefa uma segunda vez fora da sessão. A seguir, discutimos alguns proble­ mas que com frequência surgem e mere­ cem atenção.

Confusão entre valores e objetivos

Mesmo que façamos na sessão uma distin­ ção entre valores e objetivos, é comum os clientes confundirem ambos. Por exemplo, uma cliente escreveu que seu valor era ser promovida no trabalho. Outra queria fre­ quentar a igreja regularmente. Embora esses objetivos possam informar o desenvolvi­ mento de ações consistentes com valores, a serem buscadas na terapia (e além), na nos­ sa perspectiva é importante que primeiro a pessoa defina claramente os seus valores, separadamente dos objetivos e ações valo­ rizadas que refletem os valores.

Valores que envolvem m odificar estados emocionais

Muitas vezes, os clientes escrevem que valo­ rizam determinados estados internos (como confiança ou autoestima) ou emoções (como felicidade e serenidade). Por exemplo, um cliente poderia expressar o seguinte na se­ gunda tarefa escrita:

Eu gostaria de ser uma pessoa feliz e autoconfiante. Acho que se eu fosse mais agradável e otimista teria um re­ lacionamento mais sólido com minha esposa. Também gostaria de ser mais paciente com meus filhos. Por exem­ plo, quando eles brigam entre si, gos­ taria de continuar tranquilo, calmo e senhor de mim, em vez de perder a calma. Se eu tivesse uma autoestima mais alta, acho que teria mais amigos. Basicamente, nesse momento, não saio para almoçar com os colegas de tra­ balho porque não me sinto suficiente­ mente bem comigo mesmo para estar com eles. Depois que eu resolver as minhas inseguranças, gostaria de ter um círculo de amizades maior.

Quando esses valores são expressos, alguns pontos devem ser considerados. A nossa resposta típica é validar esse desejo tão humano de se sentir feliz, calmo, con­ fiante, e assim por diante. Também relacio­ namos esse desejo a conceitos que foram o foco de sessões anteriores, tais como a fun­ ção da emoção e os limites das tentativas de controle. Lembramos aos clientes, com empatia, do que eles observaram sobre a "condição humana": que com o amor vem a perda, e com o risco o medo. De uma pers­ pectiva muito prática, acreditamos que se as pessoas se empenham em atividades valori­ zadas, provavelmente se sentirão mais feli­ zes e calmas. Mas a felicidade, como estado constante, é inalcançável, e a aceitação des­ sa realidade é essencial para que o cliente comece a buscar atividades valorizadas que talvez provoquem uma gama variada de emoções.

Quando o cliente endossa valores rela­ tivos a atingir ou evitar estados emocionais, em geral conceitualizamos novamente o de­ sejo de atingir constante felicidade, calma e autoestima elevada (e o desejo relacionado de evitar tristeza, ansiedade e pensamentos negativos julgadores) como uma barreira para uma vida com significado. Portanto, perguntamos ao cliente quais valores ele teria se esses obstáculos não estivessem pre­ sentes. Em outras palavras, pedimos que imagine que tipo de amigo ele gostaria de ser se não se sentisse amarrado pela tristeza e pelo medo.

Valendo-nos da TAC (Hayes, Strosahl e Wilson, 1999), frequentemente dedica­ mos um tempo para considerar o conceito de confiança dos nossos clientes, especial­ mente quando dizem valorizar um estado de autoconfiança. É comum a pessoa pensar sobre confiança como um traço concedido aos outros e algo difícil de adquirir. A au­ toconfiança geralmente é vista como um estado em que o indivíduo não tem nenhu­ ma insegurança, medo ou autoavaliação negativa, mas, de fato, confiança significa ser verdadeiro e honesto consigo mesmo. Em outras palavras, autoconfiança significa

confiar ou acreditar em si mesmo, mesmo diante do medo. Então, podemos nos sen­ tir inseguros, em dúvida e/ou com medo, mas, ainda assim, agir de maneira que de- monstre autoconfiança ou fé. A confiança é semelhante à coragem, que significa agir apesar do medo, não agir sem medo. Conse­ quentemente, incentivamos nossos clientes a expressarem, nessa tarefa, maneiras de ser pessoalmente relevantes que lhes permitam agir com autoconfiança.

Valorização da perfeição/dificuldade de equilibrar as várias esferas

Não é raro que essa segunda tarefa de va­ lores faça aparecer o desejo de perfeição, como no segundo exemplo (que também ilustra uma mistura de valores e objetivos e a valorização de estados internos):

Eu gostaria de ser uma esposa amorosa, atenta, sempre presente quando meu marido precisa. Quero ser uma mãe amorosa e divertida, sempre sintoni­ zada com as necessidades dos meus fi­ lhos. Quero que a minha casa seja um lugar onde eles possam receber todos os amigos - quero ser uma mãe muito legal. Quero ser uma amiga leal. É mui­ to importante para mim ser uma pessoa com a qual todos os meus amigos pos­ sam contar - sempre que precisarem.

Voltar a estudar é realmente impor­ tante para mim. Se eu conseguir entrar na faculdade, pretendo ser uma aluna modelo e manter um conceito A. Outro exemplo de valorização da per­ feição surge quando o cliente sente que a ação em uma esfera se opõe à ação em ou­ tra. Ele acha que não conseguiria viver de maneira consistente em uma esfera sem sa­ crificar outra. Por exemplo:

Por um lado, acho que aparentemente tenho tudo. Sou vice-presidente da mi­ nha empresa, ganho dinheiro suficiente para a minha família viver muito con­ fortavelmente. É importante para mim

ser um bom provedor para a minha família. Sempre sonhei em ter uma fa­ mília grande, acho maravilhoso a De- bbie e eu termos cinco filhos. Temos uma vida social muito boa - a Debbie organiza jantares com outros casais, eu tenho alguns parceiros de golfe, e assim por diante - mas, às vezes, eu me sinto "um pau para toda a obra" e "não dono do meu próprio nariz". Mesmo sendo bem-sucedido no trabalho, tenho medo de que as pessoas pensem que não sou tão dedicado à empresa quando tiro fé­ rias com a minha família ou saio mais cedo do trabalho para assistir a uma peça das crianças na escola. Tenho cin­ co filhos maravilhosos, mas gostaria de participar mais - de treinar o time de beisebol do Mark, ou de ler para eles à noite. Sei que a Debbie acha que não faço o suficiente pela família. Sei que é importante passar um tempo com ela e os nossos amigos, mas, para dizer a verdade, eu geralmente estou exausto à noite e no fim de semana, e só quero me esparramar no sofá e assistir à televisão. Eu valorizo a minha carreira, a minha família e os meus amigos, mas não te­ nho ideia de como dar o máximo de mim mesmo nessas três áreas. Às vezes, a minha vida parece um ato de equili- brismo - só estou tentando manter to­ das as bolas no ar.

Mais uma vez, é importante validar o desejo de ser perfeito, que muitos de nós compartilham, e discutir como às vezes é difícil aceitar os limites associados à nossa condição humana. Também dedicamos um tempo a examinar a função da "perfeição". O cliente pode tentar ser perfeito para ser aceito e amado pelos outros, e para se sen­ tir completo e aceitável. Normalizamos esse desejo e, às vezes, incentivamos o cliente a praticar a autoaceitação no exercício de fé descrito no Capítulo 6, para ver se ele con­ segue deixar de lado a necessidade de "m e­ recer" ser aceito. Também trabalhamos com nossos clientes para ver se esse desejo está

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relacionado a um valor, tal como desenvol­ ver relacionamentos íntimos com os outros. Finalmente, assim como testamos a funcio­ nalidade de outras "regras", incentivamos o cliente a examinar se suas tentativas de ser perfeito o aproximam de seus valores ou os empurram ainda mais para longe.

É importante observar que, além da possível associação com a busca de perfei­ ção, a dificuldade de harmonizar ações va­ lorizadas em diferentes áreas é um desafio real, inevitável. Muitas vezes fazemos es­ colhas que estão de acordo com valores em uma esfera de vida, mas não em outra, e não existem orientações claras sobre como escolher a esfera a atender em diferentes momentos. A essa altura da terapia, sim­ plesmente reconhecemos esse desafio e ob­ servamos que nós, também, o enfrentamos. Dizemos que, a fim de encontrar um senso de equilíbrio entre as áreas, tentamos man­ ter uma visão ampla e procurar dar atenção a cada área em algum momento do tempo (uma semana, um mês ou vários meses, de­ pendendo das nossas atuais circunstâncias de vida). Usamos a metáfora de encontrar o equilíbrio dos nossos lados durante a prá­ tica de ioga. Não podemos levantar a perna direita e a esquerda ao mesmo tempo. Em vez disso, levantamos a perna direita, tra­ zemos nossa consciência e atenção apenas para essa ação, e depois fazemos a mesma coisa com o outro lado. Da mesma maneira, tentamos dar atenção, de maneira focada, a cada esfera da nossa vida, geralmente uma por vez, mas garantindo que, ao longo do tempo, nenhuma seja ignorada. Num mo­ mento posterior do tratamento, voltamos a essa ideia quando o cliente escolhe ações va­ lorizadas, ajudando-o a escolher de maneira a harmonizar sua vida por completo.

Valores que dependem das outras pessoas

Quando pedimos ao cliente que reflita so­ bre as coisas que são importantes para ele, não surpreende que os m aiores valores envolvam as outras pessoas. Embora os relacionamentos em geral tragam grande satisfação e conforto, eles também podem

trazer dor e sofrimento. Na segunda tarefa de valores, muitos clientes expressam um forte desejo de que os outros mudem. Por exemplo:

Eu gostaria que a minha parceira real­ mente me escutasse e estivesse disposta a fazer algumas das coisas que me inte­ ressam. Vamos tanto ao cinema, o que ela adora, mas ela não se dispõe a ir a concertos ou ouvir música, que são coi­ sas que eu valorizo muito.

Eu realmente valorizo a comunicação aberta no local de trabalho, mas isso simplesmente não é possível com a mi­ nha chefe. Ela é uma verdadeira tirana. Se você discorda dela, mesmo em algo sem importância, ela fica uma fúria. En­ tão fico na minha e só pego o meu che­ que de pagamento no fim no mês. Eu gostaria de ter amizades verdadei­ ras, de dar e receber. Sinto que meus amigos só tomam, e não estão dispostos a dar. Sempre que têm algum problema, eles me ligam, mas não conto com ne­ nhum deles quando preciso de um ami­ go verdadeiro.

O cliente pode se sentir empacado e de- sesperançoso quando acredita que não pode buscar seus valores sem depender dos ou­ tros. Quando surge esse tipo de problema, geralmente comparamos as tentativas de controlar os outros às tentativas de contro­ lar nossos estados internos. Incentivamos o cliente a observar se as tentativas de con­ trolar os outros dão certo e a perceber suas próprias emoções e reações quando tenta controlá-los. Também, delicadamente, su­ gerimos que ele pode viver de acordo com seus valores independentemente das rea­ ções alheias.

Por exemplo, Rachel, uma cliente diag­ nosticada com distimia, tinha sentimen­ tos de tristeza e pensamentos de desvalia. Quando escreveu sobre seus valores, expres­ sou desalento em relação à atual situação no trabalho. Ela com frequência faltava ao

trabalho alegando doença e, quando estava no escritório, perdia muito tempo navegan­ do na internet. Ela descreveu um padrão de interação passivo-agressivo com seu chefe, que, na sua opinião, era um líder pouco ra­ zoável e incompetente. Depois que Rachel começou a ver a conexão entre seu compor­ tamento no trabalho e seus sentimentos de tristeza, concluiu que precisava trocar de emprego imediatamente. Afirmou que seu emprego atual não a desafiava e que seu chefe era um bully, mas também começou a se preocupar e a duvidar de sua capacidade de escolher o emprego certo no futuro, pois durante a entrevista para o atual emprego ela e o chefe se deram muito bem.

Várias sessões foram dedicadas a exami­ nar melhor os valores de Rachel. Apesar de valorizar desafios profissionais, parecia que esses desafios precisavam ser impostos ex­ ternamente. Juntas, exploramos maneiras de ela viver de acordo com seus valores mes­ mo em situações que não via como ideais. Embora inicialmente acreditasse que seu emprego atual era mundano demais para ser desafiador, usando suas habilidades de mindfulness (especialmente a mente de prin­ cipiante), Rachel conseguiu definir desafios internos que poderia experimentar pratica­ mente em qualquer contexto. Consistente com uma abordagem baseada em valores, a ênfase estava no processo, não no resultado. Por exemplo, ela se esforçou para realmente escutar o que os clientes, colegas e chefe es­ tavam tentando comunicar. Começou a exa­ minar processos em seu local de trabalho (como o sistema de cobrança) para ver ser conseguia descobrir métodos mais eficientes e convenientes de fazer negócios. Rachel co­ meçou a reconhecer que, independentemen­ te de os outros aceitarem ou adotarem suas sugestões, ela podia se comportar de acordo com seus valores. Não é de surpreender que, muitas coisas mudaram para ela quando co­ meçou a se empenhar nesses novos padrões comportamentais.

Como esclarecimento, apoiamos abso­ lutamente a sugestão de Rachel de buscar

uma colocação mais consistente com seus valores. A nossa filosofia é que podemos fazer uma mudança que provavelmente vai melhorar o nosso humor e qualidade de vida, e se essa mudança está a serviço dos valores e não é impulsionada pela evita­ ção, ela faz perfeito sentido. A nossa única preocupação é quando o cliente expressa a crença de que eventos além do seu controle (internos ou externos) precisam mudar para que ele possa viver uma vida significativa e gratificante. Em nossa experiência, essa perspectiva raramente é verdadeira: ao lon­ go da história, o ser humano foi capaz de manter a sua dignidade e encontrar signifi­ cado nos ambientes mais sombrios. É claro, há contextos em que isso é mais difícil, e é muito importante validar as realidades ex­ ternas (particularmente aquelas associadas a desigualdades estruturais e opressão) que influenciam o bem-estar do indivíduo, mas o terapeuta pode, ao mesmo tempo, ajudar o cliente a encontrar uma maneira de viver uma vida significativa mesmo sob limita­ ções reais.

Valores impulsionados pela evitação

Quando estamos entrincheirados em um padrão crônico de evitação, pode ser difícil obter uma perspectiva suficiente para en­ xergar com clareza os nossos valores. Por exemplo, uma cliente diz que gostaria de ser um pouco reservada em seus relacionamen­ tos, para evitar ser magoada ou impedir que as amigas ou o parceiro vejam a verdadeira pessoa que está lá dentro. Trabalharíamos com ela para ver se essa posição mudaria se a sua ansiedade, insegurança, tristeza, etc., fossem magicamente removidas. Em outras palavras, se ela não se sentisse compelida a evitar experiências internas (e experiências externas que certamente instigariam ex­ periências internas difíceis), será que seus valores mudariam? O objetivo é tentar com­ preender os valores da cliente separada­ mente de seu desejo de evitar o sofrimento.

Uma de nossas clientes estava tendo dificuldades ao examinar suas opções pro­

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fissionais. Por um lado, Laura valorizava muito seu emprego de garçonete. Ela gosta­ va de interagir com os clientes e apreciava a liberdade e flexibilidade que o emprego lhe permitia de se dedicar a outros interes­ ses valorizados, como a música e o relacio­ namento com o namorado. Por outro lado, Laura valorizava desafios profissionais. Ela estava pensando em fazer um curso de gerenciamento no restaurante onde traba­ lhava e disse estar com dificuldade para decidir se era mesmo o que queria. Laura achava que o emprego de garçonete era consistente com seus valores, mas temia es­ tar se enganando, ao acreditar nisso, para evitar o risco associado a tentar fazer o cur­ so de gerenciamento.

Quando o cliente e/ou o terapeuta es­ tão preocupados com a possibilidade de os valores serem impulsionados pela evi­ tação, o mais importante é evitar a inação. Acreditar que é preciso ter clareza antes de agir pode atrapalhar o progresso tera­ pêutico. Por outro lado, temos de tomar cuidado com o impulso de escolher um caminho apenas para aliviar ou evitar o es­ tresse e a ansiedade associados à indecisão (Wilson e Murrell, 2004). As duas opções - parar de agir e ficar atolado na indecisão ou escolher um caminho impulsivamente só para por fim à angústia que geralmente acompanha a indecisão - podem impedir o cliente de ter liberdade de escolha (Wil­ son e Murrell, 2004).

A nossa resposta nessa situação costu­ ma ser a de encorajar o cliente a usar todas as habilidades que já desenvolveu. Praticar aceitação e desfusão, observar a realidade conforme ela se desdobra, considerar o meio-termo diante do que parece ser uma decisão preto-ou-branco (tal como esco­ lher o emprego de garçonete ou gerente) e processar emocionalmente os valores por meio de tarefas escritas e na sessão, tudo isso pode ajudar a pessoa a entender me­ lhor as possibilidades de ação valorizada. Também encorajamos o cliente a continuar agindo com mindfulness enquanto ainda está

decidindo. Por exemplo, no caso de Laura, poderíamos incentivá-la a buscar maneiras de se desafiar em seu trabalho como garço­ nete, a se dedicar às outras atividades que são significativas para ela e, talvez, a bus­ car mais informações sobre oportunidades e desafios na posição de gerenciamento. Geralmente incentivamos o compromisso com um valor escolhido, mesmo no caso de dúvida e incerteza (como descrevemos com mais detalhes a seguir), mas também acre­ ditamos que explorar múltiplas oportunida­ des nos ajuda a distinguir valores pessoais nos quais acreditamos e valores impulsio­ nados pela evitação.

O p apel dos outros no desenvolvimento dos valores

Hayes, Strosahl e Wilson (1999) discutem a influência potencialmente grande da malea­ bilidade sobre a articulação dos valores. A maleabilidade ocorre quando alguém segue uma regra (p. ex., "Eu devo trabalhar como voluntário regularmente") devido a conse­ quências sociais passadas de seguir tal regra (isso agrada às pessoas e eu receberei uma atenção positiva se for voluntário na minha comunidade). A maleabilidade pode se tor­ nar um problema quando o cliente endossa valores que, acredita, eliciarão a aprovação (ou desaprovação) do terapeuta, dos pais, de outras pessoas importantes na sua vida, ou mesmo da cultura mais ampla.

Embora reconhecendo que os valores serão parcialmente influenciados por essas forças, Hayes e colaboradores (1999) su­ blinham a importância de uma discussão constante sobre a "posse" dos valores. Por exemplo, no caso de uma cliente que valori­ za a instrução e tem o objetivo de obter um Ph.D., a terapeuta pode pedir à cliente que imagine as consequências de alguns cená­ rios diferentes. Como o valor seria afetado se a cliente não conseguisse contar a nin­ guém sobre o Ph.D.? Alternativamente, e se ela conseguisse contar a todo o mundo so­ bre o Ph.D., mas depois de obtê-lo perdesse todo o seu conhecimento? O esclarecimento

dos valores pode se beneficiar significati­