Frequentem ente utilizam os uma versão adaptada da "m etáfora das duas monta nhas" (Hayes, Batten et al., 1999), retirada da TAC, para ilustrar aos nossos clientes a universalidade de suas lutas e reconhecer que não estamos imunes a essas forças.
Como seu terapeuta, farei algumas ob servações sobre as suas dificuldades e darei algumas sugestões de possíveis opções em resposta a essas lutas. Pode parecer que eu estou no topo de uma montanha, com a montanha represen tando as barreiras que você enfrenta ao buscar uma vida gratificante e satisfató ria. Pode parecer que, do alto da minha montanha, eu vejo mais claramente as coisas que contribuem para as suas di ficuldades, uma vez que eu já consegui subir ao topo. Mas não é essa a minha visão da terapia. Eu acredito que as difi culdades que você está vivendo são co muns a todos os seres humanos e que os terapeutas não são imunes a essas difi culdades. De fato, um terapeuta é como qualquer outro ser humano, pois cada um tem a sua própria montanha e en frenta dificuldades e obstáculos. Como seu terapeuta, às vezes eu poderei lhe
dar alguma perspectiva das suas dificul dades, porque estarei olhando de certa distância e com uma perspectiva única daqui de cima da minha montanha. Incentivamos os terapeutas a dar exem plos, de modo consistente, quando for tera- peuticamente apropriado, dos pensamentos e sentimentos que experienciam em situa ções difíceis. Por exemplo, uma terapeuta pode revelar seus pensamentos de inade quação ao ser convidada a dar uma confe rência científica ou descrever seu impulso de escapar de uma situação de conflito. Consideramos essas revelações particular mente úteis quando o cliente está pouco à vontade ao narrar suas experiências inter nas. Por exemplo, uma cliente com TDM que valorizava muito seu papel como mãe estava inicialmente pouco disposta a exami nar como os seus problemas poderiam estar interferindo no seu relacionamento com os filhos. A terapeuta revelou que ser uma mãe disponível e conectada também era um valor para ela, mas admitiu que quan do se sentia muito pressionada no trabalho notava que ficava mais crítica em relação aos filhos e mais distante deles. Depois da honesta revelação da terapeuta, a cliente se dispôs a dar exemplos de momentos em que se sentia triste e sem valor e se afastava dos filhos. Embora essas revelações sejam poderosas, elas devem ser cuidadosamente escolhidas e guiadas pela intenção de dar um modelo da universalidade dessas difi culdades.
Também recomendamos que os tera peutas empreguem na sessão uma lingua gem que reflita uma postura atenta e cog- nitivamente desfundida. Por exemplo, ao discutir a experiência do cliente, o terapeuta deve empregar termos precisos e não pato lógicos e incentivar o cliente a usar a mes ma linguagem. O intercâmbio abaixo ilustra esse conceito.
C lie n te : E u tinha planos de sair para jantar com minhas amigas na sexta-
-feira, mas não consegui ir por cau sa da minha depressão.
T e ra p e u ta : Eu compreendo que você foi diagnosticada com transtorno de pressivo maior e que, às vezes, usa a palavra "depressão" para resumir muitos pensamentos, emoções e sensações físicas que tem. Para que nós duas possamos realmente com preender o que você sente momento a momento, peço que você tente ser mais específica quando falar sobre suas experiências. Você concorda em tentar? (A cliente fa z que sim com a cabeça.) Então, que emoções você sentiu na noite de sexta?
Clien te: Eu m e senti d ep rim id a.
T e r a p e u ta : Você diria que estava sen tindo tristeza?
C l i e n t e : Sim, eu decididamente me sentia triste.
T e ra p e u ta : Alguma outra emoção? C lie n te : Não, só triste.
T e r a p e u ta : Como se sentia fisicamen te? Percebeu alguma coisa aconte cendo em seu corpo?
C l i e n t e : Meu corpo estava pesa do, como se eu fosse um bloco de chumbo.
T e r a p e u ta : E teve alguns pensamen tos? Notou se pensava alguma coisa ou dizia a si mesma alguma coisa? C l i e n t e : Sóo habitual. Eu me sentia
inútil, uma fracassada.
T e ra p e u ta : Então você pensou: "Eu sou inútil. Sou uma fracassada." C lie n te : Sim, foi isso.
T e r a p e u t a : Geralm ente as emoções estão ligadas ao que chamamos de "tendências de ação". Em outras palavras, certas emoções nos im
pulsionam a agir de determinada m aneira, como quando estamos ansiosos e sentimos o impulso de fugir ou lutar com aquilo que está nos apavorando. Você notou algum impulso comportamental quando se sentiu triste?
C lie n te : Com certeza. Eu senti vontade de voltar para a cama. Eu só queria evitar minhas amigas, voltar para a cama e puxar as cobertas, tapando a cabeça.
T e ra p e u ta : Certo, uma última coisa. O que você escolheu fazer?
C lie n te : E u fiquei na cama. Não aten di o telefone quando minha amiga ligou.
T e r a p e u ta : Bem, deixe-me ver se en tendi como foi a sua experiência na sexta à noite. Você percebeu sentimentos de tristeza, seu corpo parecia pesado, teve o pensamento de que era inútil e sentiu o impulso de voltar para a cama e evitar suas amigas. No final, preferiu ir para a cama em vez de sair para jantar. Isso captura a sua experiência? C lie n te : Sim.
T e r a p e u ta : Se você estiver disposta, vou lhe pedir para tentar falar so bre a sua experiência dessa maneira bem específica, em vez de usar o termo resumido "depressão". Você concorda com isso?
C lie n te : Certo, eu posso tentar. Mas não é assim que estou acostumada a falar.
T e ra p e u ta : Eu entendo isso muito bem. E vou lhe pedir para tentar várias coisas novas que podem lhe parecer estranhas e diferentes no começo. Em resposta a um cliente que disse: "Eu me automediquei para o meu flashback
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do TEPT", o terapeuta poderia explorar os elementos dessa afirmação, incentivando o cliente a perceber que tivera uma imagem de um acontecimento passado doloroso, juntamente com sentimentos de tristeza e medo, e que notara pensamentos como "Eu não consigo lidar com isso", sentiu o im pulso de beber e optou por beber uma dose de uísque na esperança de que as imagens, pensamentos e sentimentos dolorosos desa parecessem.
Às vezes, a modelagem assume uma forma mais sutil, com menor intervenção, como no seguinte diálogo.
C lie n te : Quarta-feira foi um dia hor rível. Eu acordei sabendo que seria um dia "gordo".
T e r a p e u ta : Então, logo que acordou, você percebeu o pensamento "Eu me sinto gorda hoje"?
C lie n te : Foi bem assim. Eu não conse guia nem pensar em vestir a calça jeans e ir para a aula. Sabia que ti nha de ir à academia e malhar o do bro do tempo.
T e r a p e u t a : Então, você percebeu o impulso de matar aula e ir para a academia. Parece que isso foi muito forte.
C lie n te : Eu estava com nojo de mim mesma. Tinha de ir à academia. T e r a p e u ta : Essas emoções podem ser
muito intensas e poderosas. Parece que você realmente se sentiu impul sionada a se exercitar.
Da mesma forma, incentivamos os tera peutas a usar o conceito de ação valoriza da para se comprometerem com o trabalho que se espera deles. Em outras palavras, ser terapeuta significa se comprometer em se preparar para as sessões, examinar com o cliente todas as tarefas combinadas para o período entre as sessões, estar disposto a experienciar o próprio desconforto e o do
cliente, manter anotações adequadas, pre parar-se bem para a supervisão ou consulta com colegas e utilizá-las eficientemente.