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DOS VALORES PARA

O COMPORTAM ENTO

C O NSISTENTE COM

OS VALORES

Num preparo para essa conversa, pedi­ mos ao cliente que realize uma terceira ta­ refa escrita referente a valores, destinada especificam ente a exam inar seus pensa­ mentos, m edos e sentim entos em relação a se comprom eter com a m udança com- portam ental. Como nas tarefas anterio­ res, pedim os que reserve 20 minutos por dia, em três dias diferentes, para escrever, o m ais aberta e honestam ente possível, sobre alguns tópicos importantes que re­ presentam uma revisão e consolidação de m ateriais já trabalhados. Pedimos que pense seriamente em fazer mudanças sig­ nificativas. Por exem plo, perguntam os mais uma vez se ele se sente ocupado de­ mais fazendo coisas que deveria e não lhe sobra tempo para atividades consistentes com o que quer fazer, se faz as coisas de modo autom ático ou se evita ações con­ sistentes com seus valores por causa das suas dificuldades psicológicas.

O cliente também é estimulado a des­ crever a importância de seus valores, um exercício semelhante ao que fez no início do processo de terapia. Nesse momento mais adiantado do tratamento, quando a pessoa já começou a se abrir e a conside­ rar suas experiências internas e comporta­

mentos com mais honestidade e exatidão, escrever sobre esse tópico é um catalisador vital de mudança. Por exemplo, Mareia, uma mulher com problemas de relaciona­ mento, iniciou o tratamento insensível às lacunas em sua vida. Embora descrevesse, indiferentemente, algumas possíveis dire­ ções valorizadas, sua evitação experiencial a impediu de se empenhar de verdade na prim eira tarefa. Num m om ento poste­ rior da terapia, depois de ter começado a praticar mindfulness e a observar sem jul­ gamentos a sua dor interna relacionada à ausência de relacionamentos sociais em sua vida, ela se dispôs a assumir riscos e articular seu desejo genuíno de viver de outra maneira.

Também pedimos ao cliente que escreva sobre o maior obstáculo que ainda enfrenta com relação a experienciar verdadeiramente seus eventos internos, a serviço de ações va­ lorizadas. Don, um cliente que buscou tra­ tamento por problemas com a raiva, vinha usando mindfulness de modo bem eficiente em vários contextos desafiadores, mas es­ creveu que temia o "gorila de 400 quilos" emboscado em suas experiências. Em ou­ tras palavras, ele temia que algum pensa­ mento ou sentimento perigoso e impossível de acolher, que não percebia no momento, pudesse irromper e impedi-lo de continuar a seguir em frente. O medo dessa possibili­ dade o impedia de realizar algumas ações valorizadas.

Finalmente, nessa tarefa o cliente vai escrever sobre suas experiências passadas de com prom etim ento, incluindo suces­ sos e fracassos (ver Material 8.1, p. 195). A maioria dos nossos clientes tentou vá­ rias vezes se comprometer com mudanças com portam entais no passado, e desco­ brimos que é m uito útil abrir um espaço para que observem, honestam ente e não defensivamente, os pensam entos e senti­ m entos que surgem quando pensam em se comprometer novamente. A seguir está uma conversa que tivemos sobre essa tare­ fa com Terrell, um cliente que estava com dificuldades sexuais.

Clien te: Essa tarefa foi a mais difícil até agora. Eu tinha muita esperança de fazer algumas mudanças, mas pre­ encher isso me lembrou de todas as vezes em que fracassei.

Tera peu ta: Me fale um pouco mais so­

bre o que você pensou.

Cl ie n t e: Bem, me lembrei de como

Jazmin e eu tentamos "saídas ro­ mânticas" à noite para melhorar a nossa vida sexual. Durante o verão, contratávamos uma babá todos os sábados à noite e saíamos para ou­ vir música ou jantar. Começamos a nos sentir muito próximos, e eu ti­ nha esperança de que a nossa vida sexual melhorasse.

Tera peu ta: E o que aco n te ce u ?

Cl ien t e: É difícil le m b ra r co m o as co i­

sas co m e ça ra m a d a r errad o.

Ter a peu t a: Acho que pode ser muito

doloroso lembrar.

Cl ie n t e: Eu me sinto muito mal em

relação a isso. Não sei, acho que uma noite eu tinha bebido muito e quis que tentássemos fazer sexo. Vínhamos trabalhando com a nossa terapeuta, combinamos ir devagar - passar um tempo só nos beijando e acariciando - mas eu me sentia bem e queria fazer sexo. Começamos, mas eu não tive ereção. Eu me senti um completo fracasso, e Jazmin e eu tivemos uma briga horrível. Eu dormi na sala naquela noite.

Te r a p e u t a: O q u e a c o n te c e u d e p o is

d isso?

Clien te: Praticamente paramos de sair.

Eu nunca pensei de fato nisso na época, mas essa tarefa me fez lem­ brar. O trabalho começou a me exi­ gir muito, de modo que interrompe­ mos as nossas "saídas românticas". Acho que o dinheiro estava curto, então peguei turnos extras no res­

taurante. Chegava em casa tarde, e Jazmin já estava dormindo. Duran­ te o dia, as crianças estão sempre em volta, não dá pra gente ter in­ timidade. Simplesmente seguimos com a vida e abandonamos a "coisa do sexo".

Ter a peu ta: Então, quando começou a

pensar sobre isso, a escrever sobre isso, o que percebeu?

Clien te: Fiquei com medo. Se eu disser

que alguma coisa é realmente im­ portante para mim e não me esfor­ çar para atingi-la, isso significa que sou mesmo um fracasso.

Te r a pe u t a: Para você, parece que se

comprometer significa ter de acer­ tar o tempo todo. E se você não agir de acordo com o seu compromisso, então é um fracasso.

Clien te: Se não mantiver a minha pala­

vra, me sinto péssimo. Então, acho que é mais fácil desistir.

Te r a pe u t a: Isso é muito importante.

Fico contente por você ter percebi­ do isso. Então, se você se compro­ meter com alguma coisa e depois perder uma oportunidade de agir de acordo com seus valores, per­ cebe sentimentos muito dolorosos, pensamentos de que é um fracasso e um impulso comportamental de abandonar seu compromisso. É as­ sim que você sente?

Clien te: Sim, acho que é assim.

Te r a p e u t a: Conversaremos mais so­

bre isso, mas quero que saiba que, embora tenha sido muito doloroso se dar conta de todas essas coisas, acho que isso realmente vai nos aju­ dar muito. A ideia de se comprome­ ter é apavorante para a maioria de nós, e enfrentar esse medo e obser­ var o que acontece depois pode nos ajudar a dar outras respostas.

A Prática daTerapia Cognitivo-comportamental Baseada em Mindfulness e Aceitação 187

COM PROMETENDO-SE