• Nenhum resultado encontrado

Descobrimos que é muito útil revisar a na­ tureza e função das emoções com os clien­ tes, que frequentemente buscam tratamento com o desejo de reduzir suas emoções ne­ gativas e aumentar as positivas, e com um senso indiferenciado da própria experiência emocional (isto é, com uma experiência de "angústia" ou "perturbação", sem um senso claro de estímulos e emoções específicos e seus correia tos). Valendo-nos da TDC (Li- nehan, 1993b), da terapia focada na emoção de Greenberg (2002) e da terapia de regula­ ção da emoção de Mennin (2006), dedica­ mos um tempo a examinar a natureza das experiências emocionais do cliente (como descrevemos anteriormente) e a função que até as emoções desagradáveis possuem.

Temos achado útil revisar essas infor­ mações cedo no tratamento, depois de de­ senvolver um modelo dos problemas apre­ sentados pelo cliente e a nossa abordagem de tratamento proposta, e depois de uma breve introdução e demonstração de min­ dfulness (como descreveremos no próximo capítulo). Sugerimos ao cliente que, embora as pessoas em geral queiram controlar suas experiências emocionais, essas tentativas nem sempre dão certo, pois as emoções tem uma função útil. Começamos perguntando qual é, na opinião dele, a função das suas emoções, e depois perguntamos especifi­ camente sobre emoções "desagradáveis" e momentos em que as sentiram nos quais elas podem ter sido úteis. Então damos ao cliente um material sobre a função das emo­ ções (Material 5.3, p. 125) e o examinamos com ele detalhadamente, dando exemplos.

Ao revisar a parte superior do formu­ lário, convém dar exemplos de cada fun­ ção, usando as experiências do cliente ou as nossas experiências. O terapeuta pode ilustrar como as nossas reações emocionais nos avisam quando está presente uma pos­

108 Lizabeth Roemer & Susan M. Orsillo

sível ameaça (ansiedade ou medo), quando nossas necessidades não estão sendo aten­ didas (raiva) ou quando estamos perdendo alguma coisa que valorizamos (tristeza). Deve ser dada ênfase à função comunica­ tiva das expressões emocionais. Podemos pedir ao cliente algum exemplo de momen­ tos em que a expressão emocional no rosto de alguém amado o ajudou a compreender a importância de uma preocupação e real­ mente prestar atenção ao que a pessoa esta­ va dizendo. Embora as pessoas geralmente recebam a mensagem de que é importante controlar expressões emocionais, os clien­ tes normalmente conseguem lembrar mo­ mentos em que a clara comunicação de emoções, por parte deles ou de outros, aju­ dou a gerar mudanças. Além disso, discuti­ mos como as propagandas e os comerciais procuram eliciar emoções específicas para aumentar a probabilidade de os consumi­ dores lembrarem o produto que está sendo anunciado.

Também podemos pedir ao cliente que dê exemplos de momentos em que sua res­ posta emocional o ajudou a realizar uma ação importante, ilustrando como as emo­ ções podem nos organizar para ações efi­ cientes em certos contextos. Por exemplo, a excitação e o medo em relação a uma com­ petição esportiva podem motivar um atleta a manter um programa de treinamento di­ fícil e demorado. Quando discutimos essa função da emoção, reconhecemos como as emoções estão associadas à tendência para determinadas ações. Por exemplo, quando estamos com medo, nos preparamo para lu­ tar, fugir de uma situação perigosa, ou nos imobilizamos, na esperança de que ameaça passe. A raiva nos prepara para lutar ou nos defender de uma possível ameaça. Deixa­ mos claro que, embora as emoções possam nos preparar fisiologicamente para a ação e aumentar a probabilidade de escolhermos um determinado comportamento, as nos­ sas ações não são causadas por respostas emocionais. Conforme discutimos poste­ riormente, um componente importante do

tratamento envolve distinguir respostas emocionais e respostas comportamentais.

Finalmente, pedimos ao cliente que imagine como seria não ter nenhuma res­ posta emocional (às vezes usamos exem­ plos da ficção científica, como Data, de Star trek: the next generation, que frequentemente ficava perplexo com a experiência humana da emoção, mas ansiava senti-la), para que perceba como as emoções tornam a vida mais intensa. Com alguns clientes, pode ser útil reconhecer o paradoxo, muitas vezes desagradável, de sermos humanos e sen­ tirmos a gama completa das emoções. Por exemplo, é impossível sentir a alegria e o amor associados aos relacionamentos ínti­ mos sem sentir também a dor da separação. Não é possível sentir a exultação de assu­ mir um risco ou responder a um desafio pessoal sem também sentir certo medo do <jue é novo ou possivelmente ameaçador. E importante demonstrar como os estados emocionais que muitas vezes rotulamos como "positivos" ou "negativos" estão in­ timamente conectados.

Como em outras abordagens que des­ crevem a emoção aos clientes, empregamos a metáfora de um fogão quente para ilustrar o aspecto informacional das nossas respos­ tas emocionais e como é complexo respon­ der bem a elas. Salientamos os principais pontos da metáfora no Material 5.3, mas a apresentamos na íntegra ao cliente, como no seguinte exemplo.

Muitas vezes desejamos evitar emoções negativas, o que parece ser uma res­ posta humana natural e adaptativa. Se existe alguma forma de desligar a dor emocional (como beber ou usar drogas, se distrair ou evitar uma tarefa que real­ mente teríamos de realizar), nós a expe­ rimentamos. Isso faz muito sentido e, infelizmente, podemos ter problemas quando ignoramos nossa programação biológica básica. Pense na dor emocio­ nal como uma dor semelhante à dor fí­ sica. A maioria das pessoas concordaria

que a dor física é desagradável e deve­ ria ser evitada a qualquer custo. Agora imagine que você colocou a mão sobre um fogão quente. Você, obviamente, estaria muito motivado a tentar evitar a dor associada. Então, o que poderia fazer?

Você poderia tomar um analgésico muito, muito forte e manter a mão em cima do fogão. Poderia se distrair e pro­ curar não se concentrar na dor (como as mulheres fazem durante o trabalho de parto ou as pessoas de algumas culturas quando tentam caminhar sobre brasas). Você poderia dizer a si mesmo que não está sentindo dor (o que às vezes cha­ mamos de negação).

O que aconteceria se você conse­ guisse colocar em prática alguma des­ sas técnicas de evitação ou distração? A sua mão ficaria gravemente queimada. Obviamente, o que precisa fazer é tirar a mão do fogão.

Mas tirar a mão não é suficiente para garantir que jamais se queimará de novo. Se você a tirar sem prestar atenção suficiente ao processo, corre o risco de repetir o mesmo erro. Para responder de modo adaptativo, você precisa:

1. Ter consciência de que está sentindo dor.

2. Ter consciência do tipo de dor que está sentindo.

3. Ter consciência de que é o fogão que está causando a dor.

4. Estar pronto para agir.

Se não cumprir todas essas etapas, talvez consiga parar a dor no momento, mas terá outras dificuldades mais tarde. Por exemplo, se você queimar a mão numa panela sobre o fogão, pode culpar a panela pela dor e evitar panelas quan­ do foi o fogão o que realmente causou a dor. Talvez tente remover a dor da sua vida jogando fora o fogão ou jamais co­ zinhando novamente, mas, nesse caso,

suas tentativas de evitar a dor teriam se tomado mais importantes para você do que a sua necessidade de cuidar de si mesmo e se alimentar.

Vejamos como essa m etáfora se ajusta a um exemplo emocional. Imagi­ ne que está sentindo tristeza e desapon­ tamento porque o seu emprego atual não é gratificante. Esses sentimentos são desconfortáveis, e é natural que queira se livrar deles. Você poderia começar saindo até tarde com os amigos, indo a bares, para não perceber que está tris­ te. Poderia começar a achar razões para faltar ao trabalho ou devanear quando está trabalhando. Todas essas coisas re­ duzem a dor da tristeza, mas nenhuma delas resolve o problema, e elas podem criar novos problemas conforme você passa a dormir menos e ter pior desem­ penho no trabalho. Em vez de tentar se livrar da dor, você primeiro precisa per­ ceber que está sentindo dor, reconhecer que a dor é tristeza e desapontamento, e se dar conta de que isso se origina da sua situação profissional. Depois você pode ir para a etapa final e agir para re­ solver a situação, tal como procurar um novo emprego ou novos desafios no seu atual emprego.

A dor emocional pode ser mais com­ plicada que a dor física, pois às vezes queremos ignorar a resposta associada a um sinal emocional. Por exemplo, po­ demos sentir ansiedade em resposta a uma possível ameaça, tal como conhe­ cer alguém. Mesmo que identifiquemos corretamente a fonte da nossa dor emo­ cional como a exposição a uma pessoa desconhecida, talvez não desejemos evi­ tar essa pessoa. Se valorizamos os rela­ cionamentos, talvez combine mais com os nossos valores conhecer essa pessoa, mesmo que isso aumente a nossa dor emocional no momento. Nesse caso, depois das primeiras três etapas (tomar consciência da dor, identificar o tipo de dor, identificar a fonte da dor), poderia-

I 10 Lizabeth Roemer & Susan M. Orsillo

mos escolher uma ação mais de acordo com os nossos valores do que uma ação que simplesmente elimina a dor. Naturalmente, a consciência e a identi­ ficação de respostas emocionais é um pro­ cesso complexo, desafiador. Adaptamos o conceito de emoções "lim pas" e "sujas" da TAC, combinado com o construto de Gre­ enberg e Safran (1987) de emoções primá­ rias e secundárias, para explorar com os clientes como as emoções às vezes são claras e, outras vezes (talvez com frequência mui­ to maior) são turvas. As emoções claras es­ tão diretamente relacionadas, em conteúdo e intensidade, à situação do momento. Por exemplo, quando estamos atravessando a rua e um carro está vindo na nossa dire­ ção, sentimos medo em relação direta a esse evento, e esse medo nos motiva a acelerar o passo e evitar ser atropelado. Muitos fa­ tores, entretanto, podem provocar reações emocionais que são mais intensas do que o contexto atual justifica ou não têm rela­ ção com ele. Esses fatores estão listados na parte inferior do Material 5.3, e o revisamos com os clientes, dando ilustrações pessoais de como todos os seres humanos têm res­ postas emocionais turvas. A desregulação fisiológica, como falta de sono ou má nutri­ ção, pode nos tornar emocionalmente vul­ neráveis, levando-nos a respostas emocio­ nais mais intensas do que um determinado contexto justifica. Eu (Roemer) compar­ tilho com os clientes que, no início de um dia em que não dormi bem, lembro a mim mesma de não agir em função das reações emocionais que tiver naquele dia, mas es­ perar para ver se a situação continua sendo emocionalmente evocativa depois de uma boa noite de sono. Um foco mental no pas­ sado ou no futuro também pode afetar as nossas respostas emocionais no momento. Uma preocupação excessiva com o futuro pode piorar o impacto dos acontecimentos presentes, levando a respostas ansiosas de­ vido a uma suposta associação com futuros acontecimentos catastróficos imaginados. Da mesma forma, os eventos atuais po­

dem nos lembrar de situações emocionais do passado, levando a uma resposta mais intensa no momento devido a sentimentos relacionados a um contexto anterior. Por exemplo, se brigamos com nosso parceiro de manhã e a nossa raiva não foi resolvida, talvez tenhamos uma resposta muito forte a um comentário crítico brando de um colega que nos lembra de algo que nosso parceiro disse. E, muitas vezes, também responde­ mos a pessoas e contextos do presente que nos lembram de experiências dolorosas do passado. Como já discutimos, as nossas reações às nossas respostas emocionais, incluindo nosso esforço para controlá-las ou eliminá-las, podem amplificar e exa­ cerbar essas respostas, levando a emoções turvas que não nos dão informações claras. Quando nos sentimos definidos por nossas emoções ou nos emaranhamos nelas, elas passam a ser mais turvas, mais intensas e mais globais. Cada um desses fatores resul­ ta num sinal emocional que não está ligado à sua verdadeira fonte, de modo que não há nenhuma indicação clara de como respon­ der adequadamente. Respostas baseadas em mindfulness e aceitação nos ajudam a esclarecer respostas emocionais e escolher ações apropriadas. Além disso, esses mo­ dos de responder facilitam ações escolhidas e intencionais em resposta a sinais emocio­ nais, permitindo que o cliente, às vezes, es­ colha ações que se opõem a tendências de ação emocional, mas são consistentes com o que é importante para ele.

Esta última distinção entre reagir a es­ tímulos emocionais e agir em resposta a emoções foi identificada, por muitos espe­ cialistas na área, como um aspecto impor­ tante da regulação da emoção e funciona­ mento adaptativo (Barlow, Allen e Choate, 2004; Germer, Siegel e Fulton, 2005; Green- berg e Safran, 1987; Linehan, 1993a, 1993b). Um cliente se referiu à nossa abordagem de tratamento como "terapia de pausa", pois ela ajuda a pessoa a fazer uma pausa en­ tre a sua reação emocional e sua ação com- portamental, de modo que a ação pode ser informada, mas não ditada, por suas res-

postas emocionais. Uma extensa observa­ ção, aplicação e prática ajudam os clientes a desenvolverem essa postura de resposta, mas um primeiro passo importante é au­ mentar seu entendimento de suas emoções e das razões pelas quais devemos prestar atenção às emoções, mas não segui-las ce­ gamente.

Por fim , em nossa discussão sobre a função e regulação da emoção, tratamos da maneira complexa pela qual as emoções se relacionam a ações valorizadas. As res­ postas emocionais podem nos dar informa­ ções importantes sobre o que é importante para nós. Podemos tentar viver uma vida influenciada por coisas que são importan­ tes para uma outra pessoa (como os pais ou o parceiro) em vez de seguir o caminho que valorizamos. A continuada experiên­ cia emocional de descontentamento é uma deixa importante de que isso está aconte­ cendo, e examinar essa resposta nos aju­ da a determinar o caminho que realmente queremos seguir. Por outro lado, às vezes, as nossas emoções turvas interferem no ca­ minho que queremos seguir, como quando respondemos ao nosso medo superapren- dido de rejeição evitando a intimidade em vez de buscar um relacionamento íntimo valorizado. A atenção constante e cons­ ciente a contextos, consequências e às nos­ sas respostas nos ajudará a identificar cada uma dessas situações e ajustar nossas ações adequadamente.

Depois de apresentar essas informações, costumamos ampliar o automonitoramento dos clientes, para que comecem a perceber suas respostas emocionais. Por exemplo, um cliente com TAG poderia preencher o formulário Preocupação Consciente, da Fi­ gura 5.2, em que começa a observar suas respostas emocionais quando percebe que está se preocupando. Isso lhe dá a oportuni­ dade de ver como a sua preocupação surge em diferentes contextos emocionais e pode, na verdade, distraí-lo de sua experiência emocional. No Formulário 5.2 (p. 128) apre­ sentamos uma versão em branco do formu­ lário de Preocupação Consciente.

O problema das tentativas de