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Algumas variáveis relativas aos clientes, in­ cluindo fatores culturais, experiências ante­ riores de terapia e estilo interpessoal, podem influenciar extraordinariamente as suas ex­ pectativas em relação à natureza dos papéis na psicoterapia. Os clientes podem esperar que o terapeuta seja um observador relati­ vamente silencioso, um conselheiro ativo ou um amigo apoiador. Portanto, descobrimos que convém esclarecer explicitamente o que acreditamos ser o papel do terapeuta e o do cliente na nossa abordagem de terapia, e também avaliar as expectativas que cada pessoa traz ao tratamento.

As abordagens cognitivo-comportamen- tais tradicionais salientam a importância de se identificar, colaborativamente, áreas de problema, objetivos e sinais de progresso no relacionamento cliente-terapeuta. O estabe­ lecimento de uma relação colaborativa en­ tre cliente e terapeuta é essencial na TCBA. Embora a teoria geral da TCBA sugira que a evitação está influenciando negativamen­ te a vida do cliente e ofereça vários métodos clínicos para tratar essa evitação, o que dita o curso da terapia são as preocupações e os valores pessoais de cada indivíduo. Supo­ mos que o cliente é o especialista em si mes­ mo, mas também reconhecemos que a fusão, a evitação e os comportamentos governados por regras podem, às vezes, obscurecer a sua capacidade de observar adequadamente a sua experiência e ter consciência das contin­ gências que orientam seu comportamento. Assim, esperamos que o cliente fique inicial­ mente confuso em relação a alguns dos con­ ceitos discutidos ou discorde da utilidade de certas estratégias para ele, mas pedimos que esteja aberto à possibilidade de fazer mudanças radicais na sua maneira de ver a própria experiência interna e de escolher suas respostas. Em outras palavras, respei­ tamos a ideia do cliente sobre a utilidade de certas abordagens ou estratégias para me­ lhorar sua qualidade de vida, mas pedimos que considerem dedicar um tempo a obser­

var cuidadosamente o seu comportamento e tentar alguns métodos novos de responder antes de decidirem. Ao descrever esse rela­ cionamento para um cliente com transtorno de ansiedade, poderíamos dizer:

Aqui está o que eu penso sobre os nos­ sos papéis na terapia e a melhor forma de trabalharmos juntos. Como terapeu­ ta, tenho algum conhecimento dos prin­ cípios gerais da ansiedade e da preo­ cupação, de como elas podem limitar a vida das pessoas e de métodos para ajudar alguém que está lutando com a ansiedade a levar uma vida mais satis­ fatória e gratificante. Mas o meu conhe­ cimento é geral, e você é o especialista na sua experiência pessoal e em como esses princípios gerais se aplicam ou não a você. Assim, farei o possível para lhe apresentar todas essas informações, meus pensamentos e ideias, e lhe ofere­ cer meu apoio, entendimento e orienta­ ção, mas acredito que você é o único pe­ rito em você mesmo. Só você pode dizer o que realmente é importante para você e como gostaria de viver o restante da sua vida. Você é o único que pode ob­ servar a sua experiência para ver se as coisas que falamos aqui, que poderiam estar causando as suas dificuldades, realmente se confirmam e para avaliar se as mudanças tentadas melhoram a sua vida. Se formos trabalhar juntos, eu lhe pedirei para considerar algumas das minhas sugestões, baseadas no meu conhecimento geral, para ver se elas se ajustam à sua experiência. Também vou lhe pedir para experimentar algu­ mas maneiras novas de responder, que talvez no início não lhe pareçam muito lógicas ou úteis. A sua experiência com essas novas abordagens nos ajudará a determinar se elas são úteis ou não para você. Gostaria que você se comprome­ tesse em considerar algumas novas abordagens, e eu me comprometo em lhe ouvir e respeitar suas experiências com essas abordagens.

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Para resumir as questões que levanta­ mos neste capítulo, apresentamos a seguir um exemplo das informações que tentamos transmitir a um cliente com transtorno de ansiedade social durante uma sessão inicial. Embora tenhamos dado essas informações como um monólogo, para ilustrar todos os pontos que queremos mencionar, na prática clínica há um diálogo temperado pelas per­ guntas e reações do cliente.

Com base em tudo o que você me con­ tou até o momento sobre sua luta com a ansiedade e sobre como já tentou me­ lhorar sua vida, pensei algumas coisas a respeito do que poderia estar lhe atra­ palhando e como poderíamos trabalhar juntos para fazer algumas mudanças. Parece que as sensações físicas (p. ex., palpitações, excitação), os pensamentos ("Sou um fracasso") e os impulsos com- portamentais (de escapar ou evitar) que você tem quando está em uma situação ameaçadora ou a imagina aumentam ainda mais a sua perturbação. Em al­ guns dos questionários que preencheu, você diz que o que mais teme são as suas emoções e que prefere evitar situa­ ções que possam evocar emoções fortes. Você também descreve como a sua fa­ mília fica pouco à vontade com as suas expressões de ansiedade e como, desde tenra idade, foi incentivado a parecer forte e competente em todas as intera­ ções sociais.

Você tem tentado se livrar da ansie­ dade desde que consegue se lembrar, e acredita que nunca terá uma vida signi­ ficativa e gratificante se não conseguir aprender alguma estratégia para con­ trolar sua ansiedade. No passado, ten­ tou estratégias de relaxamento, táticas de distração, medicação e diálogo inte­ rior para modificar seus pensamentos e sentimentos. Embora tenha tido certo sucesso com essas abordagens, não teve a melhora significativa que esperava. Às vezes, suas tentativas de controle parecem funcionar no momento, mas

os pensamentos e sentimentos ansiosos sempre voltam. E você também descre­ veu algumas situações durante as quais achou ser essencial controlar sua ansie­ dade, mas não conseguiu. Também ten­ tou tomar alguns copos de vinho antes de cada interação social para ficar mais à vontade e, embora isso tenha ajudado um pouco, você começou a se preocu­ par por depender do álcool para viven- ciar situações sociais. Você realmente não tem nenhuma amizade íntima, sa­ tisfatória e gostaria de se sentir menos ansioso para poder começar a namorar e fazer amizades íntimas. E também teme se prejudicar no trabalho por ter recusado promoções que envolveriam apresentações ou contatos sociais signi­ ficativos.

Você tem pensado muito em seus problemas e lhe parece que a melhor maneira de resolver suas dificuldades é aprender a controlar m elhor suas experiências internas. Por outro lado, parece que as suas experiências lhe dizem que essa abordagem talvez não seja a resposta. Então, por mais que te­ nha esperanças com esta terapia, bem no fundo teme não conseguir fazer as mudanças de vida significativas que espera fazer.

Isso lhe parece estar certo? Será que deixei de fora alguma coisa que você acha importante tratarmos aqui?

Tudo o que você me contou faz muito sentido e se ajusta ao conheci­ mento que eu tenho sobre a ansiedade e sobre como ela interfere na vida das pessoas. Compreendo por que acha que controlar com pletam ente esses pensamentos e sentimentos ansiosos é o melhor que pode fazer por si mesmo. Essa crença é muito comum na nossa sociedade, mas atualmente estão sendo feitas pesquisas que confirmam o que a sua experiência já lhe mostrou. Espe­ cificam ente, algumas pesquisas des­ cobriram que quanto mais tentamos suprimir nossos pensamentos ou sen­

timentos, mais fortes e perturbadores eles se tomam. E as tentativas de resol­ ver os problemas de modo ativo (como beber vinho e se manter distante das pessoas) e suprimir seus pensamentos e sentimentos parecem estar afastando você ainda mais do tipo de vida que realmente quer.

Se trabalharmos juntos, vou lhe pe­ dir para considerar uma abordagem di­ ferente da que vem tentando há tempo. Minha sugestão seria que começásse­ mos examinando, especificamente, em que quer que a sua vida seja diferente e como a sua forma de lutar com a ansie­ dade tem impedido que viva como quer viver. Parece que você tem uma ideia geral do que quer, mas não pensou real­ mente sobre como quer que a sua vida melhore, pois muitos dos seus objetivos lhe parecem inalcançáveis.

Quando entendermos de que ma­ neira específica você quer que sua vida seja diferente depois da terapia, lhe pe­ direi para considerar um jeito novo de responder aos seus pensamentos, sen­ timentos e sensações. Até agora, seu hábito tem sido percebê-los e repeli-los rapidamente, na esperança de que de­ sapareçam. Você os rotulou como peri­ gosos e um sinal de fraqueza, e fez tudo o que podia para fazê-los sumir. Eu vou sugerir um jeito diferente de responder a eles, que é observar a si mesmo com compaixão, pois isso pode lhe abrir mais opções. Embora eu não acredite que alguém consiga não sentir ansie­ dade ou qualquer outra emoção huma­ na, podemos trabalhar para diminuir o poder que a ansiedade tem sobre a sua vida. Especificamente, essa abordagem de terapia procura melhorar a qualida­ de da sua vida incentivando-o a buscar atividades que realmente são impor­ tantes para você e lhe ensinando habi­ lidades de mindfulness e outras, para lhe ajudar a aceitar mais as suas emoções e pensamentos. Aprender a se relacionar com pensamentos e emoções de uma

maneira diferente vai diminuir a inten­ sidade e a frequência da angústia.

Sei que você já fez terapia no pas­ sado e tentou muitas coisas para me­ lhorar a sua vida. Eu vou ser claro: esta abordagem de terapia exige um comprometimento significativo da sua parte. Como já mencionou, você criou uma maneira habitual de responder à ansiedade e a situações que despertam ansiedade. Para quebrar esses hábitos e criar novos, você precisa passar bas­ tante tempo fora da sessão praticando os novos métodos que aprender na te­ rapia. Se trabalharmos juntos, vou lhe pedir para se comprometer em criar um tempo no seu dia para se concentrar em si mesmo e nas mudanças que gostaria de fazer na sua vida.

Também quero que saiba que vou lhe pedir para fazer algumas coisas na terapia que despertarão emoções fortes e pensamentos dolorosos. É claro, você sempre vai poder escolher se quer fazer ou não as coisas que sugiro, mas pre­ cisa saber que é preciso assumir riscos para fazer as mudanças significativas que espera fazer. E também deve saber que trabalharemos juntos para desen­ volver habilidades que tomarão menos assustador assumir riscos do que no passado.

Esta abordagem de terapia é nova e, embora existam achados de pesquisa muito promissores, ainda estamos co­ meçando a testá-la. Conforme conversa­ mos, a terapia cognitivo-comportamen­ tal é outra forma de tratar a ansiedade social que também tem mostrado um progresso significativo. Eu sei que você já tentou a TCC com resultados mistos e está procurando uma alternativa. Se decidirmos trabalhar juntos, vou moni­ torar cuidadosamente o seu progresso e verificaremos, periodicamente, se é in­ dicada alguma mudança no seu plano de tratamento. E se em algum momento ficar preocupado com seu progresso na terapia, você deve me dizer.

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Tudo o que fiz hoje foi lhe dar uma visão geral do trabalho que penso que podemos realizar juntos. Gostaria de sa­ ber o que você acha disso e responderei a qualquer pergunta que quiser fazer. Também gostaria de lhe dizer que é per­ feitamente normal ter dúvidas e preo­ cupações em relação a qualquer aborda­ gem de tratamento. Você não precisa ter certeza de que esta vai funcionar para

você. É difícil ter certeza antes de come­ çarmos o trabalho e, portanto, gostaria que você me falasse sobre quaisquer preocupações ou temores que tenha. Se decidirmos seguir em frente, tudo o que lhe pedirei é que mantenha a mente aberta e experimente novas abordagens durante um certo tempo. Depois, vamos verificar os resultados para saber se de­ vemos mantê-las.

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