• Nenhum resultado encontrado

1.2 EDUCAÇÃO NA ERA DA CIBERCULTURA

1.2.3 Da auto-instrução à aprendizagem colaborativa

Conhecer e analisar cada situação antes de se optar por uma abordagem mais auto- instrucional ou mais colaborativa é parte central do processo de construção de cursos. Encontrar o ponto de equilíbrio entre esses modelos de ensino-aprendizagem é um grande dilema para aqueles que planejam cursos on-line. No entanto, muitos educadores preferem adotar uma postura radical em favor de uma ou outra abordagem, por questões ideológicas, deixando de levar em conta aspectos importantes de cada contexto, como o perfil dos estudantes e os objetivos educacionais pretendidos. A verdade é que o processo de aprendizado parece depender, na maioria das vezes, tanto de atividades auto-instrucionais quanto de coletivas, como será discutido mais adiante. Assumindo-se essa premissa, toda atividade pedagógica deveria prever um percurso de mão dupla, em que experiências individuais e coletivas se contrapusessem e se complementassem.

É preciso reconhecer que, apesar da grande revolução que os meios interativos causaram e continuam a deflagrar, a auto-aprendizagem continua a ter um espaço importante no campo da educação on-line. Segundo Rowntree (1986, apud FISCINA, 2004, p. 6-7) a auto-aprendizagem tem como base materiais didáticos produzidos ou, pelo menos, especialmente selecionados e adaptados para os cursos e públicos com que se pretende trabalhar. Basicamente, o aluno é visto como um indivíduo autônomo, auto-motivado e, portanto, capaz de gerir seu próprio processo de aprendizagem. Trindade (1992) enxerga a EaD como um modelo pedagógico essencialmente auto-instrucional, especialmente voltado para a educação de adultos:

EaD é uma metodologia desenhada para aprendentes adultos, baseada no postulado que, estando dadas sua motivação para adquirir conhecimento e qualificações, e a disponibilidade de materiais apropriados para aprender, eles estão aptos a terem êxito em um modo de auto-aprendizagem (1992, p. 52)

Essa é uma visão que coloca o auto-aprendizado como um processo adequado aos “aprendentes adultos”, pois estes teriam a motivação e responsabilidade necessárias para administrarem seu próprio aprendizado, mesmo sem a presença e direcionamento de um professor, de um orientador. Esse conceito de Educação a Distância voltada para um público adulto e autônomo é denominado de Andragogia (AZEVEDO, 2005; BELLONI, 2006). Essa concepção não exclui, necessariamente, a possibilidade de crianças e adolescentes aprenderem de forma auto-instrucional. Nesse ponto, entra em jogo uma questão importante: Seja qual for a estrutura de um curso e o público-alvo, a forma de apresentação e discussão do conteúdo deve ser congruente com estilos de aprendizagem diferenciados:

A busca por um equilíbrio faz com que pensemos sobre as ações pedagógicas mais democráticas que considerem os estilos de aprendizagem dos alunos (...)

e que incluam as TIC´s como ferramenta mediadora da aprendizagem (CARVALHO, 2006).

A auto-instrução e a aprendizagem colaborativa podem ser consideradas dois estilos básicos de aprendizagem. A combinação desses estilos no escopo de um curso on-line pode garantir melhores resultados, até porque, como professores experientes podem atestar, a heterogeneidade é uma regra. Somente professores iniciantes costumam sonhar em trabalhar com turmas homogêneas (PERRENOUD, 2000, p. 58).

Se de um lado a auto-aprendizagem ainda tem seu espaço garantido no cenário educacional, a aprendizagem baseada em ambientes colaborativos também é uma tendência também muito forte em Educação a Distância e on-line. Nesse sentido, os ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), programas que aglutinam uma série de recursos para o gerenciamento de cursos a distância, configuram-se como um dos principais meios de se trabalhar colaborativamente. Nesses ambientes virtuais:

Além da auto-aprendizagem, as interfaces (...) permitem a interatividade e a aprendizagem colaborativa, ou seja, além de aprender com o material, o participante aprende na dialógica com outros sujeitos envolvidos – professores, tutores e principalmente outros cursistas –, através de processos de comunicação síncronos e assíncronos (fórum de discussão, lista, chats,

blogs, webfólios entre outros). (SANTOS, 2005, p. 113).

Ambientes que permitem o diálogo e uma participação mais efetiva possível dos educandos no processo de ensino-aprendizagem estão em acordo com propostas pedagógicas que prezem pela autonomia do indivíduo e que, além disso, também considerem a capacidade e necessidade de todos construírem o conhecimento coletivamente. Como ressalta Azevedo:

Mais do que o sujeito “autônomo”, “autodidata”, a sociedade hoje requer um sujeito que saiba contribuir para o aprendizado do grupo de pessoas do qual ele faz parte, quer ensinando, quer mobilizando, quer respondendo, quer perguntando. É a inteligência coletiva do grupo que se quer pôr em funcionamento, a combinação de competências distribuídas entre seus integrantes, mais que a genialidade de um só (AZEVEDO, 2003, p. 13).

Segundo essa perspectiva, as novas tecnologias – especialmente os ambientes virtuais – podem ser utilizadas como máquinas estruturantes de novas formas de pensar, agir e sentir, contribuindo, conseqüentemente, para profundas mudanças na concepção e prática pedagógicas (PRETTO, 1996). Essas mudanças estão em plena efervescência, com a busca de uma educação que propicie a formação de sujeitos autônomos, mas que também saibam compartilhar suas experiências e trabalhar em função de uma equipe.

Apontando os prós e os contras de diversos recursos tecnológicos, Klemm (2006) descreve sua experiência na elaboração de cursos on-line. Um ponto que merece atenção especial é exatamente a escolha entre a utilização de softwares avulsos ou de AVA‟s14

, especificamente os ambientes denominados de Sistemas de Gerenciamento de Cursos (CMS)15. Segundo o referido autor, há algumas desvantagens importantes em relação ao uso desses sistemas (Klemm cita, dentre outros, o Blackboard e o First Class): A pouca flexibilidade das ferramentas disponibilizadas no pacote, a escassez de opções de design, o desempenho não satisfatório de certas funções e o reforço da conformidade (já que os recursos vêm prontos para usar). Klemm relata que, para construir seus cursos, ao invés de usar os AVA‟s ou CMS, prefere utilizar um editor de hipertexto e outros programas avulsos que lhe permitem criar um ambiente com as ferramentas apropriadas às suas necessidades. Outros professores-pesquisadores da Educação a Distância concordam que é preferível estruturar um curso on-line utilizando ferramentas avulsas (AZEVEDO, 2005; SIEMENS, 2004). De fato, para aqueles que desejem criar um ambiente com características realmente adequadas às particularidades da realidade onde aplicarão um curso, o ideal é aprender a lidar com alguns

14

Ambientes Virtuais de Aprendizagem.

15 Além de CMS (Course Management System), outra denominação desses softwares é LMS (Learning

softwares para construir tal ambiente. Essa constatação foi decisiva para que escolhêssemos construir um tutorial multimídia específico para o curso que pretendíamos oferecer, ao invés de utilizarmos algum ambiente virtual de aprendizagem pré-existente.