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LIÇÃO 9 Frase e motivo musical

3.6 ENCONTRO PRESENCIAL 3 – ENCERRAMENTO DO MÓDULO

Assim como no encontro presencial que encerrou o primeiro módulo, o formato planejado para esse terceiro encontro foi basicamente o de uma master class, pois assim podíamos trabalhar mais detalhadamente as dificuldades individuais que, por algum motivo, não tivessem sido possíveis de se abordar nas vídeo conferências. Os objetivos traçados para esse encontro foram: Aprimorar, através do formato de master class, aspectos técnicos e musicais em duas músicas a serem executadas individualmente: uma peça em partitura e uma canção popular; executar pequenas melodias compostas individualmente, primeiramente junto com o aluno que a criou e depois, se possível, integrando outros colegas na performance. Sintetizamos, na seqüência, o que aconteceu nessa aula:

a) Peça em partitura16 (dinâmica tipo master class)

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É importante registrar que as peças apresentadas pelos alunos nesse encontro foram justamente as que eles decidiram fazer no recital final.

Tayrone foi o primeiro a apresentar a peça solo que havia estudado, o Andantino, de Matteo Carcassi. Ele já vinha praticando regularmente essa peça desde o início do segundo módulo, o que favoreceu uma boa desenvoltura na execução, inclusive no uso de dinâmica e variação de sonoridade. No entanto, a execução ainda era um tanto quanto mecânica. Para que Tayrone se conscientizasse mais ainda a respeito de como fazer contrastes entre as partes, fiz perguntas a ele e aos colegas sobre o caráter conclusivo ou suspensivo das frases, explicando que o reconhecimento desse caráter seria muito importante para que se aplicasse dinâmica e sonoridade distintas em cada frase. Também revisei, tocando a parte A da peça, como a variação da posição da mão direita pode auxiliar na variação da sonoridade e na própria dinâmica. Como Tayrone já estava tocando a peça com segurança, e demonstrou estar compreendendo as observações que fazíamos, então não foi solicitado que ele tocasse a peça novamente. O seu trabalho ficaria para casa.

Na seqüência, Emanuel foi à cadeira da frente para tocar a peça Espanhola I, de compositor anônimo. Ele executou a peça em andamento bastante rápido, mas tocando como se houvesse fermatas nos acordes que finalizavam algumas frases. Então minha primeira pergunta, para Emanuel e para os colegas, foi se eles haviam percebido alguma diferença de nota ou ritmo entre a partitura e a execução. Como ninguém respondeu, comentei que Emanuel estava demorando mais do que devia em algumas notas ou acordes. Ele logo respondeu que estava consciente disso, de que estava parando no final das frases. Expliquei que isso era ruim porque estava quebrando, tirando o sentido de ritmo ternário da peça. Também chamei atenção para o rallentando que estava indicado na partitura e ele não fizera e, por fim, mostrei que o toque mais metálico, feito com a ponta das unhas, seria o mais indicado para essa peça. Ao final dessas explicações, Emanuel executou a peça mais uma vez. Apesar de não ter feito todas as mudanças que haviam acabado de ser recomendadas, o que era natural, ele já conseguiu, nessa última execução, melhorar o

ponto que fora mais enfatizado, ou seja, não parar nos finais de frase. Além disso, ele próprio reconheceu que havia esquecido de fazer o rallentando.

Teófilo foi o último a apresentar a peça em partitura, a melodia de Green Sleeves, também de compositor anônimo. Ele ainda estava com bastante dificuldade no final da parte A. Então aproveitei para explicar a ele e aos colegas que eles precisavam aprender a estudar aproveitando melhor o tempo. Ou seja, eles deveriam aprender a identificar o trecho exato onde estava o problema e repetir somente aquele ponto, sem voltar ao início da música. Em seguida, mostrei o compasso exato onde começava o problema, o antepenúltimo da parte A. Mostrei a digitação da mão esquerda e chamei atenção para o fato de que também era preciso atentar para a mão direita, que estava tocando sem alternar os dedos “i” e “m”. Depois tentamos passar a parte B, mas Teófilo ainda estava com muita dificuldade nela. Por isso, para finalizar, decidi passar a parte A mais uma vez, fazendo o acompanhamento enquanto Teófilo tocava a melodia. Mesmo tendo havido dificuldade para que ele executasse o final da parte A, ele acabou conseguindo fazê-lo e, no geral, o resultado musical foi bem melhor do que aquele que verificamos no início da aula.

b) Canção popular (dinâmica tipo master class)

Nessa segunda parte da aula, Tayrone foi o primeiro a executar a música que escolhera, Aquarela, de Toquinho. Ele tocou o acompanhamento com muita segurança, no mesmo andamento do vídeo explicativo, e só teve dificuldade para fazer uma troca de acordes17 no final do refrão. Elogiei a Tayrone por fazer a música tão bem, inclusive cantando ao mesmo tempo em que tocava. Primeiramente, comentei que o dedilhado

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A dificuldade aconteceu na troca do G (sol) para E7 (mi com sétima), sendo esse o único trecho da música em que aparecia o acorde de E7.

estava muito consistente e, depois, chamei atenção para dois problemas: A omissão do acorde de dó maior, que ele havia deixado de tocar no meio da estrofe, e o posicionamento de alguns dedos da mão esquerda longe dos trastes, como no acorde de sol maior, o que comprometia a sonoridade, deixando algumas notas do acorde “sujas”.

Continuando esse momento, Emanuel apresentou a canção “Não chores mais”, versão de Gilberto Gil para uma música de Bob Marley. Enquanto ele tocava o acompanhamento, eu cantava a melodia. Ele demonstrou uma desenvoltura notável, fazendo variações no dedilhado, acrescentando melodias na parte do baixo. No refrão, também comecei a tocar fazendo contracantos, intervalos de sexta e ornamentos variados. Terminada a execução, elogiei a Emanuel pela criatividade no uso dos baixos e aproveitei para fazer observações sobre como improvisar, fazer variações no acompanhamento. Basicamente, expliquei que é preciso manter um certo padrão, saber como dosar as variações, que em geral acontecem no final das frases. Emanuel já estava fazendo isso na primeira vez em que tocou o acompanhamento, possivelmente de maneira inconsciente, mas enfatizei isso para que ele passasse a refletir mais a esse respeito. Depois de explicar isso, ele experimentou fazer as variações conforme orientei e mostrou mais fluência ainda ao improvisar no acompanhamento, nos finais de frase. Esse foi um momento muito proveitoso da aula.

Mais uma vez, Teófilo foi o último a apresentar a canção popular. Ele também escolhera fazer “Não chores mais”. Ele conseguiu tocar a música completa logo em sua primeira execução, empregando o mesmo dedilhado que gravamos no vídeo explicativo. De fato, não houve problemas significativos, e eu elogiei Teófilo pela sua execução. No entanto, recomendei que ele procurasse tirar mais som do instrumento, procurando melhorar a posição da mão e do pulso direito. Para tanto, fiz demonstrações e o corrigi colocando sua mão e pulso numa posição mais adequada. Ainda chamei atenção para dois

outros aspectos técnicos nos quais percebi que Teófilo precisava melhorar: O posicionamento do polegar da mão esquerda, que deve ficar sempre atrás do braço do violão, e o uso do peso do braço esquerdo para conseguir pressionar as cordas, especialmente em acordes com pestana. Ele experimentou tocar pestanas usando só o peso do braço e demonstrou que conseguira entender bem esse princípio.

c) Execução de pequena composição dos alunos

Tayrone foi o único a trazer a tarefa de composição para tocarmos nesse encontro presencial. Um dado muito interessante é que ele a compôs utilizando somente papel e caneta, como relatara no fórum de discussão18. Se por um lado isso pode ser considerado negativo, por ele não ter partido da experiência sonora para criar sua pequena melodia, por outro lado, mostra que ele se desenvolveu bem em termos da compreensão da escrita, tanto que foi capaz de fazer o exercício sem precisar de um violão. Ele levou a melodia escrita à mão numa folha de papel pautado. Inicialmente, li a melodia, pensei em um possível acompanhamento para ela e depois pedi que ele a tocasse enquanto eu experimentava a base harmônica. Tocamos várias vezes, ele a melodia e eu o acompanhamento, até que as duas partes ficaram bem compreendidas e começaram a soar de forma realmente bem musical. A atenção dos outros alunos era notória, apesar deles não estarem participando dessa dinâmica diretamente. Um fato curioso é que, enquanto estávamos tocando, Emanuel pegou a partitura da melodia, que estava em meu colo, e começou a tentar tocá-la no mesmo instante. Ao final de nossa execução, a expressão facial de Tayrone demonstrava o quanto ele estava satisfeito em ter tocado e verificado um resultado musical tão interessante em algo que havia sido criado por ele. Infelizmente, Tayrone precisou ir embora logo em seguida e não pudemos continuar a trabalhar a

18 Tayrone relatou no fórum: “Já fiz minha composição, sem o violão, pois não tinha a 4ª corda. Segui as

composição dele, que ainda poderia ser tocada em conjunto com os outros colegas, como havíamos planejado. De todo modo, acreditamos que essa experiência deve ter servido para que os outros alunos fossem despertados para a riqueza e prazer que o trabalho de composição musical pode ensejar.

3.7 PADRÕES DE INTERAÇÃO NAS VÍDEO CONFERÊNCIAS – MÓDULO 3

Como o módulo 3 era aquele com menos conteúdo a se trabalhar, naturalmente também deveria ser aquele com o menor número de observações realizadas, o que veio realmente a se concretizar. A Tabela 15 apresenta a quantidade de vezes que cada um dos padrões foi identificado no total de dezesseis observações registradas nas quatro vídeo conferências do módulo 3.

Tabela 15: Quantidade de vezes que cada padrão ocorreu no módulo 3

Padrão encontrado Quantidade de

observações

Facilidade de expressão 1

Facilidade de expressão – Inclusão 2

Facilidade de expressão – Inclusão – Senso de

solidariedade 10

Facilidade de expressão – Inclusão – Senso de

solidariedade – Síntese de vários pontos de vista 1

Meta-observações 2

Esse foi um módulo direcionado principalmente para orientações a respeito das músicas que seriam tocadas no recital de encerramento do curso. Não obstante isso exigisse muitas intervenções dirigidas a um único aluno, sobretudo quando eles estudavam as peças solo que apresentariam, é muito significativa a quantidade e qualidade de trabalho colaborativo que conseguimos realizar. A maioria absoluta das observações, dez dentre o total de dezesseis, correspondia ao padrão “Facilidade de expressão – Inclusão – Senso de solidariedade”, o que impressiona logo à primeira vista. Como veremos na análise mais adiante, a explicação para isso está relacionada ao amadurecimento dos estudantes em termos de consciência da coletividade e, também, ao processo de aprendizado dos professores durante a experiência na Oficina de Violão a Distância.

É importante registrar que, durante todo o terceiro módulo, os momentos finais de cada vídeo conferência foram utilizados para discutimos sobre as peças que seriam tocadas no recital de encerramento do curso. Esses momentos não foram contabilizados como observações, mas representaram uma forma de inclusão importante, na medida em que os alunos podiam discutir a respeito do repertório e escolher, em acordo com o professor, as músicas que tocariam.

Assim como ocorreu nos módulos anteriores, não analisamos o padrão que ocorreu uma única vez (facilidade de expressão) neste terceiro módulo, mas, por outro lado, consideramos importante – pelo alto grau de conversação musical que envolve – o padrão mais complexo: “Facilidade de expressão – Inclusão – Senso de solidariedade – Síntese de vários pontos de vista”.

Apresentamos a seguir os três padrões significativos encontrados na análise do módulo 3, seguindo, como nos módulos anteriores, a ordem do processo cumulativo, do padrão mais simples ao padrão mais complexo.

3.7.1 Padrão: Facilidade de expressão – Inclusão

As duas vezes em que esse padrão apareceu no módulo 3 foram registradas na vídeo conferência da lição 13, ambas em observações referentes ao trabalho com a peça Andantino, de F. Carulli. Essa é a peça que estabelecemos como desafio do curso, tanto por ser consideravelmente mais complexa que as outras, quanto por ser a de maior tamanho. A partitura dessa peça pode ser consultada, na íntegra, na lição 13 da apostila do módulo 3, que pode ser encontrada no Anexo 1.

Vejamos o conteúdo da observação 1 da vídeo conferência da lição 13:

Facilidade de expressão: A ênfase do professor foi em aspectos técnicos da execução dos alunos. As demonstrações e explicações do professor auxiliaram os alunos, mas ao tentar demonstrar a diferença de sonoridade, o professor percebe que a qualidade de áudio estava comprometendo muito a compreensão dos alunos.

Inclusão: Colocar cada um dos alunos para tocar sozinho, enquanto o colega o observava, foi uma forma de incluir a todos na dinâmica. É um formato de master class, mas que ainda não chega a ser colaborativo (não envolve senso de solidariedade) porque os alunos apenas assistiram às intervenções do professor sobre a performance do colega e só procuraram resolver as suas próprias dificuldades, não as do outro.

Um ponto de extrema importância sobre o qual pudemos refletir analisando esse momento da vídeo conferência foi sobre o formato de aula master class. Quando registramos que a dinâmica utilizada teve “um formato de master class, mas que ainda não chega a ser colaborativo”, estávamos realçando a nossa concepção de que a aula nesse formato deve, idealmente, promover algum tipo de trabalho cooperativo. No entanto, no caso dessa observação, não houve senso de solidariedade, o que talvez seja o mais comum na maioria dos master class tradicionais, em que o professor dialoga apenas com um aluno de cada vez.

Por conta da má qualidade do áudio, essa dinâmica de inclusão não foi muito eficaz para resolver as dificuldades dos alunos em termos de sonoridade. Por isso, foi preciso realizar uma mudança na estratégia de interação. Ao perceber a dificuldade de me colocar como modelo para ajudar os alunos a aprimorarem sua execução em termos de

expressão musical19, decidi investir em outras formas de interação e demonstração: discutir sobre as frases e tocar pequenos trechos, sobretudo melodicamente, inclusive porque tocar melodias era menos problemático (em termos de sonoridade) do que tocar acordes (como a peça continha). Essa decisão de modificar a estratégia certamente teve influência de lições aprendidas nos módulos anteriores. Esse momento de mudança de estratégia foi registrado através da observação 2 da vídeo conferência da lição 13:

Facilidade de expressão: A percepção de que o som não estava bom o suficiente para que os alunos compreendessem como tocar as frases de forma expressiva, levou o professor a procurar explorar outra estratégia, de demonstrar apenas melodia tocada ou mesmo cantando (quanto menos som, melhor era a qualidade do áudio), aliada a explicações verbais (sobre frases, dinâmica, etc.) Inclusão: Como no momento anterior, o formato desse trecho é de um master class, mas sem o senso de solidariedade, pois os alunos tentam resolver apenas os próprios problemas.

Alguns trechos do diálogo de avaliação podem ajudar a compreender melhor o que foi registrado nesse momento da vídeo conferência. Logo no início desse momento, o foco das demonstrações passa a ser a melodia tocada ao instrumento:

Giann: Você agora vai tentar fazer eles entenderem apreciando. Paulo: Eu digo que um bom exercício é tocar somente a melodia. Giann: Então você toca (a melodia) de duas maneiras.

Paulo: Sim, e a melodia já dá para entender bem melhor. A qualidade do áudio não atrapalha quase nada. Pergunto qual a diferença entre as duas formas que eu toquei a melodia.

Giann: E eles ficam meio calados por um tempo. Primeiro Erico “chuta” dizendo “ritmo”. E depois “timbre”. Erico ainda diz que você “tocou com amor”, para tentar responder sua questão.

Paulo: Na verdade, na primeira vez toquei bem “no metrônomo”. E a segunda vez explorando a agógica e dinâmica. Erico ainda comentou que eu variei o local onde toquei com a mão direita. Giann: Isso.

Paulo: Eu digo que a diferença foi mais no som do que na posição da mão. Giann: Isso, você fala na “expressão”.

Paulo: Sim, que dava para perceber mais com os ouvidos. Então também comento que mudei o andamento, o que a gente chama de agógica.

19 Consideramos expressão musical segundo a concepção de Swanwick, que a define como a capacidade de

analisar ou produzir “efeitos expressivos relativos a timbre, altura, duração, andamento, textura e silêncio” (2003, p. 92).

Giann: Isso.

Paulo: Expliquei que o ápice da frase era onde a gente tocava mais forte, e que no final da frase dava uma acalmada no andamento e no volume também. Depois digo que é preciso tocar mais ligado, e não fazer as notas separadas.

Giann: Certo.

Paulo: Exagerei bem no exemplo de como tocar nota por nota. Giann: Isso.

Paulo: Expliquei tecnicamente como tocar ligado.

Giann: Tome cuidado com a expressão tocar ligado. É uma gíria jovem, tá ligado? (risos). Paulo: (risos) Mostro que é melhor tocar sem apoio para tocar “ligado”. Pergunto se está dando para entender. Erico diz que sim.

Giann: Rapaz você notou a expressão deles? Super ligados na aula, prestando atenção em tudo, os olhos nem piscam.

Paulo: É, acho que estavam mesmo.

O que se passa nesse momento da vídeo conferência ilustra muito bem como procuramos explorar questões mais musicais nesse terceiro módulo do curso. Na verdade, tocar somente a melodia foi uma forma não somente de minorar o problema da qualidade do áudio da vídeo conferência, mas também de permitir que os alunos voltassem sua atenção para elementos que eram mais essenciais à compreensão da expressividade musical. É evidente que o aspecto técnico está atrelado ao resultado expressivo que se quer produzir, e por isso continuamos abordando essa relação. No trecho relatado, o exemplo mais claro disso acontece no momento em que demonstramos como tocar as notas da frase de modo mais ligado ou mais separado.

O estímulo a que os estudantes escutassem as frases de maneira minuciosa ajudou a gerar um nível de atenção muito significativo, o que foi notado com entusiasmo pelo professor Giann, na parte final do trecho do diálogo relatado. Entretanto, é preciso reconhecer que, se por um lado a dinâmica gerou tanto interesse e participação dos alunos, por outro lado julgamos que as limitações impostas pela transmissão do áudio nos

impediram de alcançar um nível de interação e compreensão satisfatório. No próprio momento da vídeo conferência, e sobretudo ao assistirmos a gravação, percebemos que os estudantes não conseguiram compreender muito bem os detalhes expressivos que estávamos trabalhando. Por esse motivo, os encontros presenciais, especialmente os momentos de ensaio para o recital, seriam de fundamental importância para abordarmos questões que não tivessem sido bem esclarecidas nas vídeo conferências.

Dando seqüência ao trabalho expressivo nas frases, solicitei que Erico tocasse as duas primeiras frases da peça, e expliquei como as quatro primeiras notas da melodia deviam ser tocadas num crescendo, até que se atingisse a primeira nota do primeiro compasso, que deveria realmente soar mais forte. Outro trecho do diálogo de avaliação registra o que ocorreu nesse momento exato:

Paulo: Então pedi para Erico tocar primeiro. Ele toca, mas peço para mudar a postura. Giann: Isso.

Paulo: Essa parte foi muito interessante. Ele tocou super concentrado. Estava se esforçando para tocar bem ligado.

Giann: Isso.

Paulo: Eu peço para ele parar depois das duas primeiras frases.

Giann: Parece que ele não gostou de ter sido interrompido (risos) Até questiona: Precisa tocar mais não?

Paulo: (risos) Comento que o tempo mais forte do compasso é o primeiro.

Giann: Você comenta no sentido musical, mas ele comenta que seria ideal que tivesse a indicação dos crescendo.

Paulo: É, Erico diz que era pra ter a indicação de crescendo, piano, etc. Chamo atenção para o fato de que as quatro primeiras notas não deveriam ser tão fortes. A quinta nota era mais forte que as anteriores, ou seja, o início do primeiro compasso.

Giann: Isso.

Paulo: Eu canto pra exemplificar a forma de tocar. A voz funciona bem melhor do que o violão para mostrar.

O trecho inicial do Andante de Carulli, sobre o qual discutíamos, pode ser conferido na Figura 7.

Figura 7: Dois primeiros compassos da peça Andante, de F. Carulli

O que percebemos é que a voz é nitidamente mais eficaz para demonstrar a expressividade, o uso do crescendo e da agógica, do que o violão, cuja qualidade de som é muito prejudicada pela transmissão via web.

Mesmo com toda a variação de estratégias para interagir com os alunos e ajudá-los a compreender como executar as frases iniciais da peça mais expressivamente, é preciso que afirmemos claramente: Não conseguimos alcançar esse objetivo a contento. Isso ficou evidente nos momentos quando fechamos o trabalho sobre essa questão da