Meios de comunicação (ou interação)

O quarto e último elemento da estrutura é composto pelos meios de comunicação a serem utilizados: Vídeo conferência, fórum e encontro presencial. Em função da natureza essencialmente prática da Oficina de Violão a Distância, estabelecemos que a vídeo conferência seria o principal instrumento de interação, que serviria para encerrar o ciclo de estudos de cada semana. Basicamente, depois de os alunos estudarem a lição semanal, no tutorial, teriam a oportunidade de discutirem quaisquer tópicos da lição por meio do fórum e, finalmente, participariam de uma vídeo conferência coletiva, na qual poderiam interagir com o professor para aprofundarem a compreensão e a prática daquela lição. Ao final de cada módulo, teríamos encontros presenciais para revisão de conteúdos e

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Além da literatura relatar muito essa questão, tenho atestado isso freqüentemente em cursos a distância de que participei e, sobretudo, na experiência como professor-autor da disciplina Violão, no Curso de Licenciatura em Música da UAB coordenado pela UnB.

para simulação de apresentações musicais. A seguir, detalhamos melhor a natureza e a função que cada um desses três meios de interação teria no curso. Como o objeto principal de nosso estudo são as interações, os meios de interação estão no cerne do que nos propomos a analisar.

2.2.4.1 Vídeo conferência

Moore e Kearsley (2008) sintetizam a relevância da vídeo conferência para cursos a distância, e prevêem a evolução pela qual essa tecnologia deve continuar passando em um futuro próximo:

O uso de teleconferência por computador de mesa (...) está se tornando cada vez mais importante. Os sistemas de vídeo em computadores de mesa oferecem a possibilidade de realização de vídeoteleconferências, bem como softwares de colaboração multiponto. (...) À medida que as redes migram para uma capacidade de largura de banda até maior, os educadores irão se deparar com uma qualidade superior de áudio e vídeo e de possibilidades multimídia que são desejáveis para muitas soluções de aprendizado a distância (2008, p. 90).

De fato, a vídeo conferência é um recurso da maior importância, especialmente em cursos cujo foco esteja em desenvolver habilidades práticas, como em nosso caso. Que outro recurso permitiria avaliar o estudante em uma atividade prática a distância de forma tão completa? Áudio conferências ou mesmo a troca de gravações foram recursos aventados, mas certamente não proporcionariam os mesmos resultados. Só a vídeo conferência torna possível que alunos e professores se escutem e vejam tocando, de modo que nosso grande interesse era em observar como as interações ocorriam através desse recurso. Por isso, a viabilidade de realizar vídeo conferências foi um fator primordial na escolha da escola onde realizaríamos o curso de violão mediado por computador.

A vídeo conferência é um meio de enorme potencial no sentido de propiciar diálogo e trabalho colaborativo em alto nível. Em 1992, Kaye (apud GARRISON; ANDERSON; ARCHER, 2003, p. 114) já reconhecia que a vídeo conferência

“representava uma nova forma de aprendizagem colaborativa, que ia além da troca de informações e que necessitava de um discurso crítico moderado para gerar um entendimento novo e válido”.

Sendo a Oficina de Violão da UFBA um curso coletivo e colaborativo e, considerando que nosso propósito era criar uma versão da Oficina que fosse mediada por computador, a alternativa mais eficaz, segundo nossa avaliação, seria estruturar um curso em que os alunos se reunissem uma vez por semana para participar de uma vídeo conferência e, assim, tivessem a oportunidade de interagir com o professor de modo semelhante ao que acontece numa aula presencial. Pelas razões expostas, a vídeo conferência foi definida como principal meio de interação do curso planejado. Uma implicação dessa decisão é que a vídeo conferência também foi o espaço de interação mais considerado no processo de análise.

2.2.4.2 Fórum

O fórum eletrônico é um recurso que permite uma conexão virtual mais constante entre o professor e os alunos, dentro de um ambiente virtual14, servindo para levar informações importantes para o grupo, orientação bibliográfica, de pesquisa, para dirimir dúvidas, trocar sugestões, enviar textos e trabalhos (MORAN, 2008, p. 46). Além de propiciar esse contato intenso entre professor e estudantes, o fórum de discussão é uma ferramenta assíncrona largamente utilizada em comunidades colaborativas de aprendizagem, justamente por proporcionar comunicação entre todos os participantes de um curso (AZEVEDO, 2005, p.21). No planejamento de como o fórum funcionaria na Oficina de Violão a Distância, concebemos sua função como sendo a de complementar as

14 _{Na verdade, inicialmente não pensávamos em promover um fórum, mas apenas em utilizar uma lista de}

discussão, ou seja, discutir através de mensagens enviadas e recebidas via e-mails. Como essa estratégia não funcionou bem durante o primeiro módulo, decidimos usar o fórum do Orkut, site de relacionamentos que faz muito sucesso no Brasil e com o qual os adolescentes e jovens têm grande familiaridade.

interações que deveriam acontecer nas vídeo conferências. Se a turma se habituasse a participar de discussões durante as vídeo conferências, possivelmente o fórum de discussão também se tornaria bastante dinâmico. A esse respeito, Moran comenta que um fórum de discussão pode se tornar uma espécie de extensão da sala de aula, pois:

É um novo campo de interação que se acrescenta ao que começa na sala de aula, no contato físico e que depende dele. Se houver interação real na sala de aula, a lista acrescenta uma nova dimensão, mais rica. Se no presencial houver pouca interação, provavelmente essa interação também não ocorrerá no virtual (MORAN, 2000, p. 46).

A interação que teríamos nas vídeo conferências não seria “real”, no sentido de ser presencial, mais se assemelharia a isso. Desde o início da fase de planejamento, quando pensávamos a respeito do espaço que o fórum deveria ocupar no curso, uma questão sempre vinha à tona: Até que ponto, ou em que profundidade, é preciso haver discussão, via fórum, em um curso de violão para iniciantes? Essa pergunta nos parece mais pertinente ainda se considerarmos que o curso era voltado para alunos adolescentes, com cerca de 15 ou 16 anos de idade. Se em cursos para alunos adultos é bastante comum que aconteça pouca interação via fórum, devido a fatores como o desinteresse e a dificuldade para se expressar por escrito, imaginávamos que esse risco seria maior ainda com um público de adolescentes. Diante dessa realidade, decidimos que a melhor estratégia15 seria propor questões que instigassem à turma a partir das experiências que tivéssemos nas vídeo conferências.

2.2.4.3 Encontros presenciais

Se o fórum de discussão funcionaria como um complemento às vídeo conferências, estimulando a turma à reflexão, os encontros presenciais seriam uma forma

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Como discorreremos no capítulo de análise, essa estratégia não surtiu muito efeito, especialmente no primeiro módulo do curso.

de garantir um atendimento mais eficaz em relação a problemas práticos, que eventualmente não fossem passíveis de solução pelos meios de interação a distância. Para que esses encontros atendessem a esse propósito, decidimos que seria importante estabelecer um roteiro de cada reunião presencial, e que esse roteiro deveria ser feito ao término de cada módulo, considerando as dificuldades dos alunos no conteúdo abordado, sobretudo em termos de músicas estudadas. Assim, o roteiro serviria apenas para que priorizássemos aquilo que realmente precisava ser corrigido ou melhorado, não era um plano de aula.

Nesses encontros, nossa atenção sempre deveria se concentrar mais nas músicas, até porque teríamos um recital de encerramento do curso, no qual cada aluno deveria tocar pelo menos duas músicas. Um formato de aula que decidimos adotar especialmente nos encontros presenciais foi o master class colaborativo, pois ele permitiria abordar problemas específicos da técnica e da compreensão musical de cada aluno e, ao mesmo tempo, gerar avaliação mútua entre os estudantes, com troca de sugestões e discussão de alternativas, assim como auto-avaliação de cada um.

O Gráfico 3 sintetiza o conjunto de elementos que compõem a macro-estrutura de ensino planejada para a Oficina de Violão a Distância.

Para finalizar esse tópico, fazemos dois destaques. Primeiro, em relação à avaliação dos alunos, estabelecemos apenas o objetivo de dar um retorno constante a eles, utilizando linguagem clara para lhes informar no que estavam indo bem e no que precisavam melhorar. Como se tratava de um curso livre, não demos nota nem mesmo demos conceitos do tipo “insatisfatório”, “regular”, “bom” ou “muito bom”. No entanto, sempre procuramos dar reforços positivos quando os estudantes realizavam qualquer tarefa a contento. Segundo, quanto às formas ou padrões de interação, esclarecemos que não planejamos, pelo menos não em conjunto, nem registramos por escrito, de que maneira isso deveria se processar. Enquanto professores da Oficina de Violão a Distância, tínhamos como balizador de nossas ações o princípio de que deveríamos buscar promover o máximo de trabalho em grupo e colaborativo, o que é essencial na filosofia do ensino coletivo de violão (TOURINHO, 2003, 2006).