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Todavia, há exceções à regra da adstrição do STF ao pedido deduzido na inicial da ADIn ou da ADC253. Uma delas é a possibilidade, reconhecida atualmente pelo próprio STF, de declaração de inconstitucionalidade por arrastamento (também denominada inconstitucionalidade “conseqüente”, ou “conseqüencial”, ou “por atração”).

Assim, se houver uma relação de dependência entre o dispositivo de lei ou ato normativo objeto da ADIn ou da ADC e outro dispositivo que não tenha sido objeto da ADIn ou da ADC, de modo que a inconstitucionalidade do primeiro acarrete necessariamente a inconstitucionalidade do segundo, o STF deve declarar a inconstitucionalidade de ambos: o dispositivo de lei ou ato normativo que não foi objeto da ADIn ou da ADC é declarado inconstitucional por arrastamento, gerando tal declaração os mesmos efeitos da declaração de inconstitucionalidade de dispositivo

253 Os precedentes conhecidos do STF versam sobre declaração de inconstitucionalidade por arrastamento

no âmbito de ADIn. A doutrina também não tem tratado da declaração de inconstitucionalidade por arrastamento no âmbito da ADC, nem da possibilidade de declaração de constitucionalidade por arrastamento no âmbito da ADC e da ADIn. A nosso viso, esses dois fenômenos são possíveis, em virtude da natureza dúplice ou ambivalente da ADC e da ADIn. Na segunda hipótese (declaração de constitucionalidade por arrastamento no âmbito da ADC e da ADIn), quer-nos parecer que seja prescindível a existência de “controvérsia atual relevante” sobre a norma declarada constitucional por

arrastamento: basta que a norma especificada pelo autor na inicial da ADC seja controvertida (do

contrário, a ADC não seria conhecida); se se curar de ADIn, não há sequer essa necessidade de demonstração de existência de controvérsia judicial relevante sobre a norma efetivamente impugnada, pois essa demonstração não é requisito de admissibilidade da ADIn. Em qualquer caso, porém, é preciso que exista uma relação de dependência entre a norma objeto da ADIn ou da ADC e a norma que será declarada constitucional ou inconstitucional por arrastamento (i.e., a norma objeto da ADIn ou da ADC só será inconstitucional se a outra norma relacionada também o for, ou a norma objeto da ADIn ou da ADC só será constitucional se a outra norma conexa também o for).

especificado pelo autor na inicial da ADIn ou da ADC, ou seja, produzindo coisa julgada erga omnes, eficácia erga omnes e efeito vinculante, conforme o caso.

Insta ressaltar que o entendimento anterior do STF era no sentido de que a ADIn não deveria ser conhecida se o autor não declinasse na inicial os dispositivos dependentes, pois não poderia declarar a inconstitucionalidade destes se declarasse a inconstitucionalidade dos dispositivos objeto da ADIn254.

Ulteriormente, evoluiu a jurisprudência do STF para admitir o conhecimento e o julgamento de tais pedidos não deduzidos explicitamente255.

Pode haver declaração de inconstitucionalidade por arrastamento de qualquer norma passível de controle em ADIn ou ADC. Não é necessário que a inconstitucionalidade por arrastamento recaia sobre a totalidade de dispositivo legal ou normativo: pode haver declaração de inconstitucionalidade por arrastamento de determinada parte de um dispositivo legal ou normativo. A nosso ver, pode ser declarada a inconstitucionalidade por arrastamento de dispositivo legal ou normativo sem redução de texto, porquanto aplicável à inconstitucionalidade por arrastamento a teoria da divisibilidade das normas.

De outra parte, não é necessário que as normas dependentes pertençam à mesma lei ou ao mesmo ato normativo: normas dependentes integrantes de lei ou ato normativo diverso da lei ou ato normativo objeto da ADIn ou da ADC também podem ser declaradas inconstitucionais por arrastamento. O que não pode haver, a nosso aviso, é a declaração de inconstitucionalidade por arrastamento de lei ou

254 “Não se conhece de ação direta de inconstitucionalidade que ataca, em determinado sistema

normativo, apenas alguns dos preceitos que o integram, deixando de questionar a validade de dispositivos que com eles se acham em mútua relação de dependência. Entendeu-se, na espécie - ação direta ajuizada

pelo Procurador-Geral da República contra os arts. 14 e 15 da LC 76/93, sob alegação de ofensa ao art. 100 da CF - que as normas impugnadas formam com os arts. 16 e 17 da mesma lei um único sistema, que ficaria desfigurado caso a ação fosse julgada procedente” (ADIn 1.187-DF, rel. desig. Min. Maurício Corrêa, j. 27.3.96; transcrição de notícia do Inf. STF 25/2).

255 Não se nos afigura adequado explicar o fenômeno como se de pedido implícito se tratasse (assim como

o pedido de condenação em juros legais, correção monetária, honorários advocatícios sucumbenciais e prestações periódicas nos processos subjetivos ––– CPC, arts. 20, 290 e 293, e súmula no 254 do STF). É que poderia haver incompatibilidade entre o pedido de declaração de inconstitucionalidade efetivamente deduzido e o “pedido implícito” de declaração de inconstitucionalidade dos dispositivos dependentes, o que impediria a sua cumulação (CPC, art. 292, § 1o, I). Como justificar, v.g., que, numa ADC, o autor

pedisse a declaração de constitucionalidade da norma “X”, e o STF declarasse a inconstitucionalidade da norma “X” (em razão da natureza dúplice da ADC) e, por conseqüência, da norma “Y”, dependente daquela? Além disso, poderia ocorrer que o próprio autor da ação não desejasse a declaração de inconstitucionalidade dos dispositivos dependentes, não se podendo, portanto, considerar que implicitamente deduziu tal pedido. Ademais, à diferença dos exemplos retroaludidos (juros, correção monetária, honorários sucumbenciais, prestações periódicas), não há base legal para essa presunção ou ficção no caso da ADIn ou da ADC. Portanto, parece-nos mais apropriado entender que há, simplesmente, uma mitigação do princípio da adstrição ao pedido, possibilitando ao STF o julgamento de pedido de declaração de inconstitucionalidade não deduzido, quando houver a referida relação de dependência.

ato normativo de norma não passível de controle na via da ADIn ou da ADC. Exemplo: suponha-se que a lei objeto da ADC é federal; a improcedência do pedido deduzido na ADC não poderá conduzir à declaração de inconstitucionalidade por arrastamento de lei estadual, pois esta não pode ser objeto de ADC.