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Relações entre o “efeito repristinatório” e o efeito vinculante

D. Da possibilidade de aditamento do pedido

4.2. O denominado “efeito repristinatório” e o efeito vinculante

4.2.2. Relações entre o “efeito repristinatório” e o efeito vinculante

O problema que ora se põe diz com o impacto que o efeito vinculante exerce sobre o denominado “efeito repristinatório”. Ou seja, qual a influência

307 Foi o que quis exprimir o STF na seguinte ementa, apesar do exagero em afirmar que não existe o

instituto inconstitucionalidade formal superveniente” : “PROCESSO - REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - DISCIPLINA - PERSISTÊNCIA NO CENÁRIO NORMATIVO. As normas processuais insertas no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, relativas a ações e recursos situados na respectiva competência, foram recepcionadas pela Constituição de 1988, no que com esta harmônicas. Inexistindo o instituto da inconstitucionalidade formal superveniente, o conflito entre normas processuais, sob o ângulo material, resolve-se mediante a consideração da revogação tácita.”(RE 212455 ED-EDv-AgR. Pleno. Rel.: Min. MARCO AURÉLIO. DJU: 11.04.2003, p. 27.) No mesmo sentido: RTJ 133/995; RTJ 139/373.”

308 A jurisprudência consolidada no STF sobre a impossibilidade de controle abstrato da legislação pré-

constitucional não constituiria óbice à cumulação de pedidos, já que ela se fulcra no argumento da revogação da legislação pré-constitucional pela Constituição posterior, revogação esta inocorrente na situação específica sob exame.

do efeito vinculante sobre o “efeito repristinatório”? O efeito vinculante da decisão do STF em ADIn e ADC tem o condão de “repristinar” a legislação anterior que teria sido revogada pelas normas semelhantes à norma declarada inconstitucional pelo STF?

Afigura-se-nos que não, já que a decisão do STF restringe-se a determinar que os juízes e a Administração Pública decidam questões análogas à que o STF decidiu em ADIn ou ADC em consonância com a decisão do STF. Mas o STF não decidiu especificamente sobre essas normas semelhantes. Por conseguinte, se não proferiu decisão específica sobre a inconstitucionalidade dessas normas semelhantes, não restaurou a presunção de vigência e de constitucionalidade da legislação

pretérita que teria sido revogada por essas mesmas normas semelhantes.

A decisão do STF só restaura a presunção de vigência e de constitucionalidade da legislação pretérita que teria sido revogada pela norma objeto de decisão específica do STF na ADIn ou na ADC, a saber, da legislação pretérita que teria sido revogada pela norma expressamente declarada inconstitucional pelo STF na ADIn ou na ADC.

Conseguintemente, para que seja restabelecida a presunção de vigência e de constitucionalidade da legislação pretérita que teria sido revogada por norma similar à norma especificamente declarada inconstitucional na ADIn ou na ADC, é necessário que haja decisão específica ––– judicial (no controle difuso ou no concentrado) ou administrativa ––– sobre a norma que teria revogado a legislação pretérita.

Tal decisão específica pode ser judicial porque qualquer juiz, ao declarar incidentalmente a inconstitucionalidade de uma norma, restitui automaticamente à norma anterior que teria sido por ela revogada a presunção de vigência e de constitucionalidade, dentro dos limites da lide, obviamente309. Por isso, para evitar a aplicabilidade da norma que recupera a presunção de vigência, o juiz teria de proferir nova decisão sobre essa outra questão incidental no processo, já que, do contrário, diante do seu silêncio, presume-se vigente e aplicável a legislação anterior. Ademais, se proposta outra ADIn ou ADC sobre norma análoga à declarada

309 Na mesma linha, adverte ainda JULIANO BERNARDES: “Outrossim, é válida a regra do ressuscitamento

do dispositivo anterior também no controle difuso. Por conseguinte, diante dos obstáculos processuais derivados do princípio da correlação entre a lide e a sentença (Código de Processo Civil, arts. 128 e 459), o autor deverá atentar-se ao problema da revigoração da legislação anterior – se também inconstitucional -, porquanto nem sempre é possível a utilização do princípio do iura novit curia no reconhecimento

ex officio da inconstitucionalidade das normas pretéritas.” (Efeitos das normas constitucionais..., p.

inconstitucional pelo STF com efeito vinculante em ADIn ou ADC precedente, o STF proferiria, no controle concentrado, decisão específica que ressuscitaria a presunção de vigência e de constitucionalidade da legislação pretérita que teria sido por ela revogada.

Outrossim, tal decisão específica pode ser administrativa porque a Administração Pública tem o dever de negar aplicação, por inconstitucionalidade, a normas semelhantes à norma declarada inconstitucional pelo STF em ADIn e ADC porque jungida ao efeito vinculante da decisão do STF. E não apenas o Chefe do Poder Executivo, mas todos os servidores integrantes da Administração Pública, direta ou indireta, têm esse dever, porque igualmente assujeitados ao efeito vinculante pela CF- 88.

Com efeito, se há certa dubitação na doutrina e na jurisprudência310 sobre a possibilidade de um simples servidor da Administração Pública negar cumprimento a uma lei sob o fundamento de inconstitucionalidade dela, numa decisão de natureza administrativa311, é fora de dúvida que, nas situações em que haja decisão do STF em ADIn ou ADC com efeito vinculante, o próprio servidor, independentemente de qualquer autorização prévia da sua Chefia312, não só pode, como deve afastar a

310 O STF tem entendido que o Chefe do Poder Executivo goza da prerrogativa de negar cumprimento à

lei que repute inconstitucional e de determinar aos seus subordinados que lhe neguem cumprimento, assumindo os riscos daí derivantes. Cfr. ADIn no 221, in: RTJ 151/331.

311 Cfr., por todos, a resenha de BINENBOJM, Gustavo. A nova jurisdição constitucional..., pp. 232-249. 312 De feito, não faria sentido condicionar o cumprimento do dever que promana diretamente da CF-88

(art. 102, § 2o) à autorização prévia da respectiva Chefia administrativa, possibilitando a esta retardar ou impedir por completo o imediato cumprimento desse dever constitucional simplesmente não emitindo a autorização expressa aos seus subordinados ou emitindo-a tardiamente. O mesmo se diga a respeito das súmulas vinculantes, haja vista o disposto no art. 103-A da CF-88 e nos arts. 56, 64-A e 65-B da Lei no

9.784-99 (a qual trata do processo administrativo federal), introduzidos pela Lei no 11.417-2006: “Art.

56. [...] § 3o. Se o recorrente alegar que a decisão administrativa contraria enunciado da súmula

vinculante, caberá à autoridade prolatora da decisão impugnada, se não a reconsiderar, explicitar, antes de encaminhar o recurso à autoridade superior, as razões da aplicabilidade ou inaplicabilidade da súmula, conforme o caso.” (NR) “Art. 64-A. Se o recorrente alegar violação de enunciado da súmula vinculante, o órgão competente para decidir o recurso explicitará as razões da aplicabilidade ou inaplicabilidade da súmula, conforme o caso. Art. 64-B. Acolhida pelo Supremo Tribunal Federal a reclamação fundada em violação de enunciado da súmula vinculante, dar-se-á ciência à autoridade prolatora e ao órgão competente para o julgamento do recurso, que deverão adequar as futuras decisões administrativas em casos semelhantes, sob pena de responsabilização pessoal nas esferas cível, administrativa e penal.” Aliás, a “responsabilização PESSOAL” da autoridade prolatora e dos integrantes do órgão competente para julgamento do recurso “nas esferas cível, administrativa e penal” constitui o mais poderoso instrumento para compelir tais autoridades administrativas a cumprir o comando da súmula vinculante, na própria esfera administrativa, sem necessidade de recurso ao Poder Judiciário. Em verdade, é no dever de observância da súmula vinculante na própria órbita administrativa que reside a sua maior vantagem em relação à denominada “súmula impeditiva de recursos” (CPC, art. 518, § 1o: “O juiz não receberá o

recurso de apelação quando a sentença estiver em conformidade com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal”), a qual não obriga diretamente a Administração Pública, já que só atua em processos judiciais, e não em processos administrativos. Portanto, a súmula vinculante tem a virtude de impor-se diretamente à Administração Pública, sem a necessidade de prévia intervenção do Poder Judiciário. Ademais, segundo a Lei no 11.417-2006, embora o Poder Judiciário possa ser provocado

aplicação, por inconstitucionalidade, de norma análoga à norma declarada inconstitucional pelo STF em ADIn ou ADC. Se assim não fosse, de nada adiantaria a previsão constitucional de produção do efeito vinculante em relação à Administração Pública. É de observar que o art. 102, § 2o, da CF-88 não circunscreveu o efeito vinculante apenas à Chefia da Administração Pública, mas o estendeu indiscriminadamente a ela como um todo313.

De outra banda, aplicando ao efeito vinculante as noções atrás expostas acerca do “efeito repristinatório”, só será necessária a formulação de pedido cumulativo de inconstitucionalidade da legislação pretérita que seria “repristinada” pela legislação posterior especificamente declarada inconstitucional na ADIn ou na

ADC. Assim, a legislação pretérita que teria sido revogada por norma similar à norma especificamente declarada inconstitucional na ADIn ou na ADC precisará de decisão específica, judicial ou administrativa, para recuperar sua presunção de vigência e de constitucionalidade.

4.3. A impossibilidade de renovação de prazos decadenciais e prescricionais já