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1. A SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO E A JURISDIÇÃO

1.6. Similitudes e dissimilitudes entre o controle abstrato e o concreto

1.6.2. Ofensa direta e ofensa indireta à Constituição

Como já foi mencionado (item 1.2.), em consonância com a jurisprudência do STF, a ofensa meramente indireta à Constituição (inconstitucionalidade indireta) não é passível de controle abstrato de constitucionalidade, nem de controle difuso na via do Recurso Extraordinário, mas só e unicamente a ofensa direta à Constituição (inconstitucionalidade direta).

Quanto a este aspecto, portanto, não há diferença entre o controle abstrato e o controle difuso. A diferença reside em que a ofensa indireta pode render ensejo ao controle difuso de constitucionalidade nas instâncias ordinárias: embora o STF não exerça controle difuso sobre a ofensa indireta à Constituição (na via do Recurso Extraordinário), os juízes e tribunais podem exercê-lo ao julgarem causas em que houver uma prejudicial de inconstitucionalidade (mesmo indireta). O que se veda é o conhecimento da questão de inconstitucionalidade indireta pelo STF em sede de Recurso Extraordinário.

Cumpre, ademais, registrar que mesmo nas hipóteses de invasão das faixas de competência delimitadas expressamente na Constituição, como sucede com a repartição de competências entre os entes federativos feita nos arts. 23 e 24 da CF-88, o STF não conheceu de algumas ADIns e alguns RREE sob o argumento de que a inconstitucionalidade nesses casos também seria meramente reflexa, por ser necessária a

94 “PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO. IMPETRAÇÃO DE MANDADO DE

SEGURANÇA POR PARLAMENTARES. POSSIBILIDADE. DIREITO PÚBLICO SUBJETIVO À CORRETA FORMAÇÃO DAS ESPÉCIES NORMATIVAS. APROVAÇÃO DA PROPOSTA DE EMENDA PELO CONGRESSO NACIONAL. HIPÓTESE CARACTERIZADORA DE PERDA SUPERVENIENTE DA LEGITIMIDADE ATIVA PARA O PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO MANDAMENTAL. PROCESSO EXTINTO, SEM JULGAMENTO DE MÉRITO. - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal - embora reconheça, ao membro do Congresso Nacional, qualidade para fazer instaurar o controle jurisdicional pertinente ao processo de elaboração normativa - nega-lhe, no entanto, legitimidade ativa para prosseguir no processo mandamental, quando, em decorrência de fato superveniente, a proposição normativa, em tramitação na esfera parlamentar, vem a transformar-se em lei ou a converter-se em emenda à Constituição. A superveniência da aprovação parlamentar do projeto de lei ou da proposta de emenda à Constituição implica a perda da legitimidade ativa dos membros do Congresso Nacional para o prosseguimento da ação mandamental, que não pode ser utilizada como sucedâneo da ação direta de inconstitucionalidade.” (MS no 22487. Rel.: Min. CELSO DE MELLO.

prévia análise do confronto entre as leis dimanadas dos entes federativos para aferir se há inconstitucionalidade:

“Ação direta de inconstitucionalidade. Lei no 9.056, de 02.08.89, do Estado do Paraná, e Decreto no 6.710/90 que a regulamentou. - O Plenário

desta Corte, ao julgar a ADIn 1540, decidiu que não cabe ação direta de inconstitucionalidade para se examinar a ocorrência, ou não, de invasão de competência entre a união federal e os estados-membros, porquanto,

nesse caso, para a análise da inconstitucionalidade argüida, há necessidade do confronto entre leis infraconstitucionais. No caso, tendo em vista o maior âmbito de competência concorrente e comum que os artigos 23 e 24 da atual Constituição deram aos Estados-membros no que diz respeito ao cuidado da saúde, à proteção ao meio ambiente, ao combate à poluição, às normas sobre produção e consumo, bem como à proteção e defesa da saúde, para se verificar se a lei estadual em causa é,

ou não, inconstitucional por invasão de competência da legislação federal, é mister que se faça o confronto entre as legislações infraconstitucionais. Ação direta de inconstitucionalidade no 252 não

conhecida, julgando-se, em conseqüência prejudicada a ação direta de inconstitucionalidade no 384, na parte concernente à mesma lei estadual, e

não conhecida na parte referente ao decreto que a regulamentou.” (ADIn 252. Pleno. Relator: Min. MOREIRA ALVES. DJU: 21-02-2003, p. 26. Cf.

Inf. no 93.)

Contudo, esse entendimento do STF talvez não consiga manter-se95, tanto pela sua fragilidade (pois, em regra, não é necessário analisar o conteúdo da norma

95 Em acórdão mais recente, decidiu o Plenário do STF: “AÇÃO DIRETA DE

INCONSTITUCIONALIDADE. LEI Nº 2.210/01, DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL. OFENSA AOS ARTIGOS 22, I E XII; 25, § 1º; 170, CAPUT , II E IV; 1º; 18 E 5º CAPUT, II E LIV. INEXISTÊNCIA. AFRONTA À COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE DA UNIÃO PARA EDITAR NORMAS GERAIS REFERENTES À PRODUÇÃO E CONSUMO, À PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE E CONTROLE DA POLUIÇÃO E À PROTEÇÃO E DEFESA DA SAÚDE. ARTIGO 24, V, VI E XII E §§ 1º E 2º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Sendo possível a este Supremo Tribunal, pelos fatos narrados na inicial, verificar a ocorrência de agressão a outros dispositivos constitucionais que não os indicados na inicial, verifica-se que ao determinar a proibição de fabricação, ingresso, comercialização e estocagem de amianto ou de produtos à base de amianto, destinados à construção civil, o Estado do Mato Grosso do Sul excedeu a margem de competência concorrente que lhe é assegurada para legislar sobre produção e consumo (art. 24, V); proteção do meio ambiente e controle da poluição (art. 24, VI); e proteção e defesa da saúde (art. 24, XII). A Lei nº 9.055/95 dispôs extensamente sobre todos os aspectos que dizem respeito à produção e aproveitamento industrial, transporte e comercialização do amianto crisotila. A legislação impugnada foge, e muito, do que corresponde à legislação suplementar, da qual se espera que preencha vazios ou lacunas deixados pela legislação federal, não que venha a dispor em diametral objeção a esta. Compreensão que o Supremo Tribunal tem manifestado quando se defronta com hipóteses de competência legislativa concorrente. Precedentes: ADI 903/MG-MC e ADI 1.980/PR- MC, ambas de relatoria do eminente Ministro Celso de Mello. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido se julga parcialmente procedente para declarar a inconstitucionalidade do artigo 1º e de seus §§ 1º, 2º e 3º, do art. 2º, do art. 3º e §§ 1º e 2º e do parágrafo único do art. 5º, todos da Lei nº 2.210/01, do Estado do Mato Grosso do Sul.” (ADIn 2396. Pleno. Relatora: Min. ELLEN GRACIE. DJU: 01.08.2003, p. 100.)

federal para dessumir que a norma estadual exorbitou da sua competência constitucional), como em virtude da nova composição da Suprema Corte96.