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3. O PAPEL DO SENADO FEDERAL NO CONTROLE DE

4.1. A natureza objetiva do processo constitucional e suas implicações

4.1.6. Limites objetivos e subjetivos da coisa julgada erga omnes

A coisa julgada formada nos processos subjetivos possui limites objetivos e subjetivos. Cumpre, então, perquirir acerca dos limites objetivos e subjetivos da coisa julgada erga omnes.

248 Nesse caso, não há incompatibilidade alguma entre o dever de decidir resultante do efeito vinculante e

a determinação cautelar de não decidir. A medida cautelar deferida determina que não se profira decisão sobre o mérito de questão constitucional idêntica ou análoga à questão objeto da ADIn (quer no sentido da constitucionalidade, quer no da inconstitucionalidade). Assim, nos processos sobre questão constitucional semelhante, o juiz deverá proferir decisão sobre a aplicação ao caso dos autos da decisão cautelar do STF (pois a decisão do STF não recaiu sobre a mesma questão, que, portanto, ainda não foi apreciada), e não sobre o mérito da questão constitucional. Se o juiz entender que a questão constitucional versada nos autos é semelhante à questão objeto da ADIn, deverá proferir decisão afirmando essa

aplicabilidade (dever de decidir derivante do efeito vinculante), mas não proferirá decisão sobre a constitucionalidade ou inconstitucionalidade da norma (dever de não decidir dimanante da decisão

cautelar do STF). Por conseguinte, se houver, v.g., um pedido antecipação de tutela fundado na declaração incidenter tantum de inconstitucionalidade de norma de conteúdo análogo ao da norma objeto da decisão cautelar do STF, o juiz deverá proferir decisão afirmando a aplicabilidade da decisão cautelar do STF e, conseqüentemente, indeferindo, por ora, a antecipação de tutela pela impossibilidade momentânea de declarar a inconstitucionalidade da norma. Mas não poderá indeferir a antecipação de tutela porque considera a norma constitucional, nem deferi-la por reputar a norma inconstitucional, haja vista a vedação emanada da medida cautelar do STF. O juiz, no caso, tem o dever de decidir dessa forma, porque, do contrário, haveria negativa de prestação jurisdicional. Não há negativa de prestação jurisdicional quando o juiz extingue o processo sem resolução do mérito (pois proferiu decisão, ainda que para afirmar que não pôde examinar o mérito do pedido), mas há negativa de prestação jurisdicional quando o juiz simplesmente não decide, omitindo-se sobre o mérito do pedido ou sobre sua admissibilidade.

4.1.6.1. Limites objetivos

Para desvendar os limites objetivos da coisa julgada erga omnes, deve-se indagar: O que faz coisa julgada erga omnes? Sobre que objeto recaem a imutabilidade e a indiscutibilidade que caracterizam a coisa julgada erga omnes?

4.1.6.1.1. Vinculação de todos à parte dispositiva do acórdão definitivo

A coisa julgada erga omnes tem por limite objetivo a parte dispositiva do acórdão definitivo do STF em ADIn e ADC. Somente a parte dispositiva249 do acórdão definitivo faz coisa julgada. A fundamentação do acórdão, ainda que indispensável para a compreensão e delimitação do alcance da parte dispositiva, não é coberta pela autoridade da coisa julgada erga omnes (CPC, art. 469, I).

Os acórdãos que não dispõem, em caráter definitivo, sobre o mérito do pedido na ADIn ou na ADC não fazem coisa julgada. Portanto, os acórdãos terminativos, que extinguem o processo sem resolução do mérito não produzem coisa julgada. Talqualmente, os acórdãos que têm natureza de decisão interlocutória não fazem coisa julgada250. As decisões e os despachos monocráticos em ADIn e ADC igualmente não produzem coisa julgada. Somente a parte dispositiva dos acórdãos que põem fim ao processo da ADIn ou da ADC, com resolução de seu mérito, produzem coisa julgada erga omnes.

Como já referido, há uma correlação necessária entre o pedido na inicial da ADIn ou da ADC e a parte dispositiva do acórdão respectivo: é na parte dispositiva do acórdão definitivo que o STF dispõe sobre o que constou do pedido inicial. Se dispuser sobre algo diverso do que foi pedido, a decisão será, no ponto,

249 Prescreve o art. 165 do CPC que tanto as sentenças, quanto os acórdãos sejam proferidos com

observância do disposto no art. 458 do CPC (que enumera como “requisitos essenciais” da sentença o relatório, a fundamentação e o dispositivo). Na práxis dos tribunais pátrios, os acórdãos são estruturados em relatório e voto, condensando-se no dispositivo do acórdão a conclusão a que chegou a maioria dos votos, com eventual referência às conclusões individuais constantes nos votos vencidos.

250 CPC: “Art. 163. Recebe a denominação de acórdão o julgamento proferido pelos tribunais”. As

decisões colegiadas dos tribunais são denominadas de acórdãos, que podem ter natureza de sentença, de decisão interlocutória ou de despacho, quando, respectivamente, puserem fim ao processo, resolverem questão incidente (processual ou de mérito), ou impulsionarem o processo mediante ato de conteúdo não- decisório (cfr. art. 162 do CPC).

havida como inexistente (por extra petita); se conceder ou negar mais do que foi pedido, será, no ponto, tida por nula (por ultra petita); se decidir aquém do que foi pedido (julgamento insuficiente da lide), será igualmente nula (por citra petita). Trata-se do princípio da correlação (também conhecido como princípio da congruência ou da adstrição ao pedido).

Como o pedido na ADIn e na ADC cinge-se à declaração de (in)constitucionalidade da norma objeto da ação, o que fará coisa julgada erga omnes será tão-somente a declaração de (in)constitucionalidade da norma objeto da ADIn ou da ADC. A conseqüente nulidade da norma declarada inconstitucional não precisa constar expressamente do dispositivo, pois é efeito natural da própria inconstitucionalidade, igualmente coberto pela autoridade da coisa julgada. Nos casos extraordinários em que há declaração de inconstitucionalidade mas não há nulidade da norma251 ou em que a nulidade tem seus efeitos limitados pelo STF, tais circunstâncias, em razão de sua própria excepcionalidade, precisam constar expressamente do dispositivo do acórdão.