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Da exclusiva identificação do critério material da hipótese de incidência

5. DA COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

5.3 Da Distribuição da Competência Tributária

5.3.1. Da exclusiva identificação do critério material da hipótese de incidência

Primeiramente, cabe a tarefa de esclarecer o significado da expressão

“critério material da hipótese de incidência”, ainda que em breves termos.

Para tanto, de grande utilidade e didaticamente viável a citação dos ensinamentos de ALFREDO AUGUSTO BECKER181, que analisa a estrutura lógica da regra jurídica, para afirmar que seus elementos são a hipótese de incidência e a regra (conduta), ao passo que em seu aspecto dinâmico são a realização da hipótese de incidência; a incidência da regra jurídica sobre a mesma hipótese; juridicização da hipótese de incidência; irradiação dos efeitos jurídicos ou eficácia jurídica, predeterminados pela regra de conduta (vinculação do pólo ativo ao passivo;

surgimento do direito à prestação e correlativo dever de prestá-la; determinação da prestação jurídica – conduta, tempo e lugar – e do seu objeto); realização da prestação jurídica.

Acerca do tema “Hipótese de incidência tributária”, BECKER182 defende que a hipótese de incidência poderá ser qualquer fato, desde que lícito, econômico ou jurídico, caso contrário estar-se-ia diante de uma sanção. E ainda, seria composta por uma multiplicidade de fatores, jurídicos ou não, dentre os quais há o núcleo (base de cálculo), ao redor do qual circundam os elementos adjetivos.

180 MORAES, Allan. Leis Complementares em Matéria Tributária: aspectos práticos atuais. Org.

Fabiana Lopes Pinto, Ricardo Berzosa Saliba. São Paulo: Manole, 2003. p. 268/274.

181 BECKER, Alfredo Augusto. Ob. cit. p. 120

182 BECKER, Alfredo Augusto. Ob. Cit. p. 124

Para sua realização, a hipótese de incidência exige dado espaço e tempo, além dos aspectos substanciais do fato, que o delineam e o caracterizam como fato jurídico tributário, estabelecendo, a partir de tais premissas, os diferentes critérios conformadores da hipótese de incidência tributárias.

Quanto ao tema, oportuna a lição de SACHA CALMON NAVARRO COÊLHO:

A norma tributária encontrou em Paulo de Barros Carvalho o seu melhor expositor na literatura luso-hispanoamericana. O Professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, aderindo à terminologia de Carlos Cóssio, vê a norma tributária dividida classicamente em duas partes:

hipótese endonormativa e conseqüência endonormativa. O renomado professor paulistano define as hipóteses das normas tributárias, a que chama de endonormas tributárias, como o conjunto de critérios necessários à identificação do fato lícito, que não acordo de vontades, gerador do dever jurídico. Define, por sua vez, as conseqüências das normas tributárias como o conjunto de critérios esclarecedores da relação jurídica que se forma com a ocorrência in concreto de fato jurígeno.

Nas hipóteses, ele aponta três critérios: o material, o fato em si; o temporal, determinando as circunstâncias de tempo que envolvem o fato jurígeno, já materialmente descrito; o espacial, indicativo das condições de lugar em que o fato deva ocorrer. Nas conseqüências, enxerga dois critérios, a saber:

a) o pessoal, que determina os sujeitos ativo e passivo da relação jurídica decorrente da realização da suposta hipótese de incidência);

b) o quantitativo, que esclarece o modo pelo qual será estabelecido o conteúdo do dever jurídico (base de cálculo e alíquotas).183

Especificamente quanto ao critério material, versando acerca do IPTU, com base nas lições de PAULO DE BARROS CARVALHO184, CINTIA ESTEFANIA FERNANDES185 ensina que não se pode confundir referido critério com a descrição do fato, sob pena de estar-se definindo a parte pelo todo, já que é a hipótese de incidência que se refere a tal descrição.

Convém lembrar que, como bem asseverado por MARCELO CARON BAPTISTA, o critério material somente pode ser definido como comportamento humano

183 COELHO, Sacha Calmon Navarro. Comentários à Constituição de 1988 - Sistema Tributário.

Forense, 6.ed., p. 15.

184 CARVALHO, Paulo de Barros. Teoria da Norma Tributária. 3.ed. São Paulo, Max Limonad, 1998.

185 FERNANDES, Cintia Estefania. Imposto Predial e Territorial Urbano. Texto e Contexto. Curitiba, 2003. p. 26.

representado por meio de um verbo pessoal transitivo, identificando-se, em um primeiro momento, com a ação voltada a uma finalidade, ainda que em benefício do próprio agente. E ainda, que para o Direito Tributário, a ação há que revelar uma riqueza186 .

Feitas essas considerações, a modalidade de outorga de competência que se vale da análise do critério material da hipótese de incidência é largamente utilizada nos casos dos impostos187, taxas e contribuições de melhoria.

Com relação aos impostos, assim o fazem os enunciados dos artigos 153 (impostos da União), 155 (impostos dos Estados e Distrito Federal) e 156 (impostos dos Municípios) ao acolherem o auferimento de renda, a realização de importação, o ser proprietário de imóvel territorial rural, a realização de circulação de mercadorias, o ser proprietário de veículo automotor, o prestar serviços , entre outros, como dados do mundo fenomênico de conteúdo econômico a ensejarem a incidência tributária.

O mesmo ocorre com as taxas e contribuições de melhoria, cujos critérios materiais foram qualificados constitucionalmente nos artigos 145, II e III188 da Carta Magna de 1988.

Pelo exposto, pode-se afirmar que a liberdade que dispõe o legislador infraconstitucional para definir a hipótese de incidência dos tributos a que se refere a modalidade de outorga em voga é restrita e limitada, uma vez que os demais critérios da hipótese deverão guardar íntima relação com o aspecto material descrito constitucionalmente.

Ou seja, a definição constitucional do critério material da hipótese de incidência acaba também por definir quase que a totalidade dos aspectos da regra-matriz de incidência do tributo.

186 BAPTISTA, Marcelo Caron. Ob. cit. p. 122.

187 Com exceção dos impostos previstos no artigo 154, I e II da CRFB/88. Art. 154. A União poderá instituir:

I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição;

II - na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação.

188 Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:

(...)

II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;

III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.