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124 DESCRIÇÃO GERAL DO REINO DO PERU, EM PARTICULAR DE LIMA Abacates

DESCRIÇÃO GERAL DO REINO DO PERU, EM PARTICULAR DE LIMA

124 DESCRIÇÃO GERAL DO REINO DO PERU, EM PARTICULAR DE LIMA Abacates

Lucumas Pepinos da terra Batata-doce Iúcas Batatas

centenas de bananas, pelo menos, que têm um terço de alna de compri- mento e são grossas como o braço de um menino de oito anos, e redon- das e são um pouco torcidas, em forma de arco, e de muito bom58 gosto.

A sua carne tem cor de manteiga amarela, e tão mole quando estão bem maduras. Estas árvores ou planta são cortadas assim que dão fruto e depois ao pé nascem outros muitos. E há cerrados e grandes bananais. São as árvores mais formosas e mais agradáveis à vista que o mundo tem, e sempre perpetuamente as há, sem nunca faltarem. Nestes bananais, por serem tão cerrados, escondem-se os negros cimarrões. Depois de cortada, esta árvore desfaz-se tudo em correias como correias de couro de boi, fortes e duras. Com elas atam a erva, o trigo, a lenha e outras coisas.

Os abacates são tão grandes como pêras, do seu feitio e muito maiores, porque há abacates que pesam mais de uma libra59. São como

manteiga por dentro. O caroço que têm é tão grande como um ovo de galinha. Esta é fruta mui sadia e saborosa, e sempre a há, sem nunca faltar. As suas árvores são tão grandes como grandes pereiras e são as folhas do tamanho das suas.

As lucumas são tão grandes como os abacates e do mesmo feitio, e, por dentro, da mesma cor do pêssego; por fora, são meio verdes e amarelos. Têm bom olor e dois caroços, que são aquilo a que chamamos castanhas das Índias60. É fruta que nunca falta.

Dos pepinos do Peru semeiam-se grandes campos. Criam-se nuns arbustos pequenos como aqueles em que se criam as beringelas. Estes pepinos são a fruta de que há maior abundância em Lima, e em todo o tempo, sem nunca faltar, os há. O seu feitio é a modo de um ovo grande e estreito nas pontas, mas são maiores e de cores diversas, mui saborosos e sãos, e tiram muito a sede; são baratos e há deles grande abundância.

É a batata-doce o que nós chamamos batata. Há muitas e muito grandes, doces e baratas, e continuamente os campos estão cheios delas.

As iúcas61 são aquilo de que se faz o casabe, do qual, diz-se, se produz

a farinha de pão. Cria-se debaixo da terra uma raiz branca, longa como cenoura, e sai dela uma cana alta. Comem-se assadas e cozidas, e faz-se delas uns bolos delgados que, postos em caldo gordo de carne, crescem como arroz. Sempre as há.

As batatas semeiam-se e criam-se debaixo da terra. São da cor da mesma terra, terra avermelhada, do tamanho de maçãs e igualmente

58 «Bom» no original, possível lusitanismo.

59 Medida de massa correspondente a 0,4536 quilogramas.

60 A lucuma, uma fruta nativa do mundo andino, é identificada no texto como

castanha-das-índias, uma espécie do género aesculus que não tem nenhuma relação com a

lucuma. No entanto, o caroço deste fruto assemelha-se muito a uma castanha, o que pode

explicar a relação estabelecida pelo autor.

61 A iúca é utilizada como árvore de decoração na Europa. Na América Latina, o seu

DESCRIÇÃO GERAL DO REINO DO PERU, EM PARTICULAR DE LIMA 125 Goiabas Pacajes Ananases Ameixas Palos Guanabas Tunas Maracujás

redondas. Comem-se cozidas e assadas, e nuns locros62 que se fazem com

elas, milho e outras coisas. Secam-nas como castanhas e fazem delas

chuno63, da qual se confeccionam mezinhas para os doentes e gentes

regaladas. Sempre se encontram verdes e secas, e são mui sadias e de grande sustento.

As goiabas são uma fruta que se parece muito com a maçã, e a árvore parece-se com as árvores de maçãs. De muitas sortes as há. Têm sabor diferente das maçãs. As melhores são umas que se dizem do mato e outras que têm um ácido mui gostoso. Há delas muitas.

As pacajes são árvores tão grandes como o castanheiro, e a sua fruta é longa como a bainha de uma espada, com diferentes compartimentos; e, dentro tem uma fruta do tamanho de uma alna, branca como a neve e doce como açúcar.

Os ananases têm aparência semelhante à dos pinheiros na casca e na cor, a sua casca é mui tenra e molda-se com um cutelo. A sua comida é mui saborosa. Fazem-na em talhadas redondas e põem-na em água com sal, e depois comem-na, tem o gosto como de boas ginjas. E fazem com elas ricas conservas, em particular em Havana, onde há muitas.

De ameixas há duas espécies, umas a que chamam da Nicarágua, que são amarelas e vermelhas, do tamanho das de Espanha, sãs e sabo- rosas, e, por serem boas, as dão aos doentes, e há muitas. Outras que dizem pardas têm dois caroços e são por dentro vermelhas como grená e saborosas.

Os palos são semelhantes a pêras pequenas e têm outro sabor. As árvores parecem-se com as das pêras.

As guanabas são tão grandes como melões. A sua comida é branca e mui saborosa. Colhem-se em grandes árvores.

As tunas são o que chamam figos das Índias. Tem por fora muitos espinhos e cria-se numa coisa que tem as folhas muito grossas e muito grandes, de uma cor como verde-mar. E a planta é muito pequena e boa para estar nas vedações dos jardins, que com seus espinhos defende a entrada.

O maracujá é uma planta que sobe pelas árvores, como as parreiras, e faz latadas onde se enrola. Dá uma fruta do tamanho de um ovo de pata,

62 O «cozido de carne» a que o autor faz referência é o locro, um ensopado tipica-

mente andino, embora tenha algumas variações regionais. Identificam-se como ingredientes principais os referidos batata, milho e carne, embora se possam incluir muitos outros.

63 Chuño na ortografia actual: batatas que, de acordo com o método de produção

tradicional, após colhidas são expostas durante três dias a temperaturas negativas durante a noite e ao calor do sol e pisadas de forma a que toda a água seja removida durante o dia. Posteriormente, são uma vez mais congeladas com recurso ao frio de duas noites. Esta seca- gem tem a vantagem de preservar as batatas por um longo período de tempo. Para além de diversas utilizações alimentares, estas serviam ainda, como o texto refere, para a produção

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