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126 DESCRIÇÃO GERAL DO REINO DO PERU, EM PARTICULAR DE LIMA Laranjas

DESCRIÇÃO GERAL DO REINO DO PERU, EM PARTICULAR DE LIMA

126 DESCRIÇÃO GERAL DO REINO DO PERU, EM PARTICULAR DE LIMA Laranjas

Cidras Flor de laranjeira Água de cheio Açúcar rosado Melões Melancias Sementes Trigo Milho Trigo das Índias

e a sua casca é tão fina como a do ovo e tão fácil de quebrar. A sua comida é doce e tenra, torna-se64 com um ovo.

Laranjas e limões, doces e ácidos, há em grandíssima abundância, tanto que nas hortas não se leva dinheiro por eles. E assim os limões como as laranjas são muito grandes e bons.

Há outros limões seutis do tamanho de ovos pequenos. A sua casca é fina, são muito sãos e de bom cheiro. Há limões reais e muitas outras espécies de limões, limas e muitas cidras. De toda esta fruta de cratego há grande abundância.

Da flor da laranjeira faz-se grande quantidade de água perfumada de flor da laranjeira e muita água de anjos. Há grandíssimos rosais, e faz-se muita água de rosas, muito açúcar rosado e favos de rosa com açúcar.

Há romarino65, a que chamamos alecrim, e muitas sortes de ervas

medicinais e de flores aromáticas e deleitosas.

Melões há muitos e bons. A força deles é em Março, Abril e na Quaresma, e em todo o ano não faltam, pela variedade e bondade da terra.

Melancias ou melancieiras ou melões de água há muitos e muito grandes. A sua carne é muito fresca e doce.

Há muitos tipos de sementes, tais como feijões, lentilhas, ervilhas verdes e secas de mil modos, amendoim saboroso, amêndoas, acelga, espinafre, beldroegas, alho-porro e llanones [sic], que se comem crus como nabos. Tamanha é a diversidade de sementes, hortaliças e manjares extraordinários, que dizem que o Peru se pode sustentar sem trigo.

Trigo semeia-se e colhe-se todo quanto é mister, e, se se quisera, pudera colher-se um ano para comer dez. Porém, não se semeia mais do que o necessário; pois que, ficando de um ano para o outro, o gorgulho e a traça o comem.

O milho é o melhor sustento do Peru, assim para os índios como para os negros, e também para os espanhóis, e para todo o tipo de bestas. As bestas comem o grão, e as que trabalham, com comê-lo uma vez ao dia, andam mui fortes e robustas; e, nesta vez que o comem, é mister que lhes dê primeiro a beber e que estejam bem fartas de água, porque se beberem duas ou três horas depois de comer, incham muito e pode- riam rebentar, como já se viu. Come-se a cana do milho que é de grande sustento. A esta cana chamam chala. Deste milho, que é o que chamamos trigo das Índias, fazem-se muitas coisas. Tosta-se no fogo e chama-se

cancha; e, deste modo, é mui saboroso e consome-se sobre a comida.

Coze-se e chama-se mote; os índios e os negros comem-no muito desta forma. Pisa-se em pilões de madeira e faz-se em farinha; e desta farinha preparam os negros bolos redondos como bolas, que cozem numa caldeira

64 «Se suelve» no original, interpretado como «se vuelve».

65 É nítido que o autor faz referência ao alecrim, mas esta pode ser uma designação

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Bebida

Cevada Alfafa

Pimentos

cheia de água, e assim os comem, que é o seu sustento ordinário. Da farinha fazem-se umas papas a que se chama masamorra66, em que se

deita mel das canas-de-açúcar; muitas pessoas comem esta masamorra, em particular as mulheres que criam, e toda se lhes transforma em leite; e sempre pelas manhãs a vendem na praça e por muitas ruas. Faz-se outra masamorra com açúcar e ovos, muito salutar, para gente regalada e doentes. Do milho torrado, que se chama cancha, faz-se farinha, a que se junta açúcar, e é de deleitoso gosto e sustento. Faz-se, sem picar a carne, uma espécie de pastéis a que se chama tamares67, com galinha e carneiro,

envolvem-se em folhas de bananeiras e cozem-se numa caldeira de água, e são mui bons. As espigas, a que se chama choclos, comem-se assadas e cozidas, e põem-se em locros, que é um assado ou ensopado que se faz de carne com outras coisas. Este é o mantimento mais comum que o Peru tem, e o milho é comido em cancha e mote pelos criollos e todas as gentes do Peru.

O principal alimento que se faz do milho é a chicha, que é uma bebida como a vira, e faz-se em grande quantidade. Nas planícies e na serra, os índios bebem-na e embebedam-se fortemente e também os negros, e também a bebem os espanhóis. Na cor e no paladar parece-se com a vira. Faz-se outra chicha de milho torrado, tão clara como vinho branco. Esta é mais apurada e é bebida pelos espanhóis, é muito fresca, faz-se com água e coze-se como a vira. Estas são as coisas que se fazem do milho; e com ele se cevam também muito as galinhas e perus e todas as aves.

Também se colhe muita cevada no Peru.

A alfafa é a melhor erva e de mais sustento que comem as bestas. É uma erva muito alta, que tem as folhas como trevos, a flor azul como a do linho, a vara grossa como um cálamo de escrever e a semente como a do linho. Vale uma fanega desta semente trezentos pesos, porque quem semeia uma fanega pode colher dez anos e cobrar dez mil pesos de rendi- mento. Com um feixe que custa um real, tem bem que comer um cavalo por um dia e uma noite, e é este o seu mantimento, pois que a palha não se estima e quase toda a queimam nas eras [sic], sendo as terras tão densas e nutridas que não têm mister de esterco.

De pimentos, a que se chama ajíes, semeiam-se vastos campos. Comem-se verdes, existem de muitas espécies, e não há comida a que se não juntem, nem mesa onde se não ponham. Depois de secos, os índios levam-nos a diferentes lugares como mercadoria. Deles se faz o achiote, que se deita nas panelas, usam-se como açafrão, desfazem-se em caldo, comem-se com carne e com peixe, e juntam-se ao chocolate. São muito

66 Actualmente, mazamorra. 67 Tamales.

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