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Desenvolvimento da Educação a Distância

No documento OUTROS TEMPOS, OUTROS ESPAÇOS (páginas 125-129)

Apesar da imprensa, inventada no século XV, ter tornado disponível o recurso que serviria como mídia para as primeiras iniciativas de EaD, será somente no século XVIII que aparecerá o primeiro curso que se conhece nessa modalidade e será no século XIX que essa forma de ensino irá se difundir. Até então, era difícil distribuir os materiais impressos, condição necessária para os cursos por correspondência. Os serviços postais da Europa e dos EUA tornam-se mais organizados e populares a partir do século XVIII, sendo, na maioria das vezes, realizados por instituições estatais. É nessa época que começam a ser oferecidos serviços regulares de entrega domiciliar de correspondências. O primeiro curso por correspondência de que se tem registro foi anunciado em março de 1728, na Gazeta de Boston. Tratava-se de um curso de taquigrafia. O anúncio prometia que qualquer um que desejasse aprender essa arte poderia receber lições por correspondência, que seriam enviadas semanalmente. Assegurava, ainda, que as pessoas de qualquer parte do país seriam tão bem atendidas quanto aquelas residentes em Boston (DEGREEINFO, 2005). No século XIX, são desenvolvidos outros cursos por correspondência de taquigrafia, além de cursos de música e língua estrangeira, nos EUA e Europa.

Em 1858, a Universidade de Londres concede os primeiros certificados a alunos que estudaram por correspondência. Entre 1880 e 1900, diversas instituições acadêmicas dos EUA passam a oferecer cursos por correspondência, inclusive a Universidade de Chicago, que iniciou esse tipo de atividade em 1892. Esses primeiros cursos universitários por correspondência ensinavam ofícios de pouco reconhecimento social e eram dirigidos, em sua maioria, a trabalhadores sem condições de estudar de forma regular (LITWIN, 2001). No século XX foram criados novos cursos de formação profissional por correspondência. Nos EUA, foram oferecidos cursos para adultos que não tinham tido a oportunidade de freqüentar a escola primária na infância. Em 1922, a Universidade da Pensilvânia ministra os primeiros cursos via rádio (DEGREEINFO, 2005). O que impulsionou o desenvolvimento desses primeiros cursos foi a necessidade de formação de mão-de-obra capacitada a exercer os ofícios de uma sociedade industrializada. Eles tinham por finalidade suprir as necessidades das classes populares, que não tinham condições de freqüentar cursos técnicos.

No Brasil, o primeiro curso por correspondência de que se tem notícia propunha-se a ensinar datilografia e foi divulgado através de um anúncio de jornal, no final do século XIX (NEAD, 2005). As primeiras experiências nacionais com êxito e abrangência foram a do Instituto Rádio-Monitor, em 1939, e a do Instituto Universal Brasileiro, em 1941. Ambos ofereciam cursos profissionalizantes. O primeiro desenvolvia seu trabalho por meio da

remessa de material impresso e transmissões de rádio. O Instituto Universal Brasileiro trabalhava com cursos por correspondência (KENSKI, 2005). Essas instituições existem até hoje e continuam trabalhando com EaD, agora utilizando o apoio da internet. O Instituto Rádio-Monitor chama-se, atualmente, Instituto Monitor e já não utiliza rádio. Elas continuam a oferecer cursos de formação profissional, além de cursos supletivos.

Na década de 40 é criada a Universidade do Ar, que utilizava programas radiofônicos para transmitir cursos de capacitação para professores e técnicas comerciais para empresários e trabalhadores. Entre 1961 e 1965, funcionou o Movimento Nacional de Educação de Base, que também utilizava o rádio, sendo que os alunos passavam por uma supervisão periódica. Esse projeto foi concebido pela Igreja Católica e patrocinado pelo Governo Federal. Na década de 70, foram criados o Projeto Minerva, também transmitido por rádio, e a Fundação Roberto Marinho, uma organização privada que oferecia cursos supletivos via TV, com apoio de material impresso (KENSKI, 2005).

Em meados do século XX, surgiram as primeiras instituições universitárias com foco na EaD. Em 1951, a Universidade da África do Sul passa a atuar somente com cursos a distância. Em 1969, é criada a Open University, na Inglaterra, até hoje considerada internacionalmente a mais importante universidade não-presencial. Na década de 70, surgem outras instituições que se tornaram referências em EaD: a Fern Universität, na Alemanha, e a Universidade Nacional de Educação a Distância (UNED), na Espanha. Pouco depois, são criadas na América Latina a Universidade Aberta da Venezuela e a Universidade Estatal a Distância, da Costa Rica (LITWIN, 2001). Desde então, foram criadas mais algumas outras universidades com a proposta de atuar predominantemente em EaD. Além disso, algumas universidades com tradição em educação presencial passaram a oferecer alguns cursos de graduação e pós-graduação a distância. No Brasil, até a década de 90, as atividades não-presenciais tinham pouca penetração na área acadêmica, contando-se com algumas poucas experiências isoladas.

A comercialização da internet redesenhou o cenário da EaD, promovendo uma grande expansão. Os chamados ambientes de aprendizagem, sites desenhados para serem utilizados como suporte para a EaD, tornam possível disponibilizar material para os alunos sem custos com impressão e postagem e são facilmente atualizáveis. Além disso, o uso de ferramentas de comunicação on-line torna mais fácil a interação com o professor, além de permitir também a interação com os colegas, o que não era possível até então. Nos ambientes de aprendizagem, o professor pode acompanhar a produção do aluno de forma bastante próxima, monitorando sistematicamente o que cada um produz textualmente ao longo do

curso. Essas produções textuais, que, em geral, são uma exigência a ser cumprida, funcionam como uma espécie de presença numa ciberclasse. Com o introdução dos recursos da internet na EaD, muitas instituições de ensino superior que operavam somente com educação presencial passaram a oferecer cursos a distância ou os chamados cursos semipresenciais, em que parte do curso se desenvolve presencialmente e parte a distância.

Segundo estatísticas do governo dos EUA, já em 2001, 56% das instituições de ensino superior daquele país ofereciam cursos a distância (NCES, 2005). O site Universities.com (2005), que tem por objetivo apresentar ofertas de EaD nos EUA, contabilizava, em 2005, 1164 cursos de graduação e pós-graduação a distância. Segundo esse mesmo site, os cursos mais procurados nos EUA eram:

1. Mestrado em Educação;

2. Doutorado em Educação;

3. Doutorado em Psicologia;

4. Bacharelado em Administração de Empresas;

5. Mestrado em Administração de Serviços de Saúde;

6. Mestrado em Psicologia;

7. Mestrado em Enfermagem;

8. MBAs;

9. Mestrado em Recursos Humanos;

10. Doutorado em Administração de Empresas;

11. Doutorado em Administração de Serviços de Saúde;

12. Bacharelado em Engenharia.

Talvez o mais importante na lista acima seja a absoluta predominância de cursos de pós-graduação. Entre os doze cursos mais procurados, aparecem apenas duas graduações. Esse dado vem comprovar o que alguns estudos já apontam: alunos mais velhos e cursos de níveis mais avançados, o que supõe uma maior maturidade intelectual, são fatores que propiciam melhores resultados na EaD.

No Brasil, segundo dados da Secretaria de Ensino Superior (BRASIL, 2006), até junho de 2006 havia 93 instituições de ensino superior credenciadas para oferecerem cursos de graduação a distância. Essas instituições também podem oferecer cursos de pós-graduação lato sensu nessa modalidade. Os dados apresentados permitem que se trace uma evolução do número de instituições credenciadas, conforme mostra a Figura 7.1. Observamos que desde 2004 o crescimento do número de credenciamentos foi bastante acentuado.

0 10 20 30 40 50 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006*

* Estou utilizando uma projeção para 2006. Até junho já haviam sido credenciadas 22 instituições.

Figura 7.1 — Evolução do número de instituições credenciadas para oferecer graduações a distância (BRASIL, 2006)

A Figura 7.2 mostra a distribuição dos cursos credenciados para serem ministrados a distância no ano de 2003 (nos últimos anos o MEC vem dando autorizações para instituições, sem especificar o curso). Observamos uma total hegemonia de cursos na área de Educação, onde incluímos cursos de Pedagogia e Normal Superior. Em seguida, aparecem cursos de Licenciatura de Biologia, Matemática, Física, Química e Letras, o que indica que, na época, os cursos para formação de professores compunham a quase totalidade de graduações a distância. 0 5 10 15 20

Adm Eng Edu Bio Mat Fís Qui Let

Figura 7.2 — Distribuição por área de conhecimento das graduações a distância credenciadas até 2003 (BRASIL, 2004)

A Figura 7.3 mostra a distribuição nas regiões do Brasil das instituições credenciadas para oferecer graduações a distância. Relacionando o número de habitantes com o número de instituições, observamos uma forte concentração destas instituições na Região Sul.

0 5 10 15 20 25 30 35

Sul Sudeste Norte Nordeste Centro-

Oeste

Figura 7.3 — Distribuição nas regiões do Brasil das instituições credenciadas para oferecer graduações a distância, em 2005 (BRASIL, 2006)

Os dados mostram uma grande ampliação na oferta de graduações a distância neste início de século. Do mesmo modo, cresceu bastante a oferta de pós-graduações a distância. A EaD via internet também tem sido bastante utilizada em programas de educação corporativa. A expansão dos cursos a distância trouxe consigo uma crescente preocupação dos órgãos governamentais com essa modalidade de ensino, o que pode ser percebido com o surgimento de legislação específica para a EaD e da criação da Secretaria da Educação a Distância do Ministério da Educação.

No documento OUTROS TEMPOS, OUTROS ESPAÇOS (páginas 125-129)