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Mobilidade

No documento OUTROS TEMPOS, OUTROS ESPAÇOS (páginas 151-159)

No processo de ensino-aprendizagem por meios informatizados, a interação homem-máquina faz do homem não apenas um ser que está no mundo, mas que, também, está com o mundo. Deste modo, ele pode estar em diferentes ambientes num “tempo que é um e é múltiplo. Ele é contínuo e descontínuo, factual, agitado por rupturas, sobressaltos, que rompem o seu fio e eventualmente recriam, em outros lugares, outros fios”.

(MORIN apud SILVEIRA, 2004, p.142). Essa categoria foi elaborada a partir de fragmentos de diversos artigos que apresentam a EaD como uma forma de transcender barreiras espaciais, aproximando pessoas geograficamente distantes e capaz de, eventualmente, torná-las mais próximas do que aquelas que convivem no mesmo espaço presencial. A EaD mediada pela internet, segundo esses enunciados, parece ser uma forma de conferir mobilidade ao sujeito, permitindo que ele esteja onde jamais poderia estar de outro modo. A experiência da educação já não estaria restrita a uma convivência com outros sujeitos que compartilhem o mesmo lugar. Estaria se constituindo uma educação virtual, no sentido que Lévy (1999) atribui ao termo: a educação passa a ser uma forma de êxodo. A EaD ofereceria uma oportunidade de lugarização, essa capacidade de trocar de lugar voluntariamente, de atingir novos lugares antes dos outros e de criar novos lugares, que, cada vez mais, se constitui em uma forma de poder.

De acordo com o que desenvolvi no capítulo 3, a capacidade de trocar de lugar voluntariamente, isto é, a mobilidade, constitui-se na Contemporaneidade como uma forma de poder de crescente importância. A lugarização é o que vem separando os consumidores do supranumerário. Suspender a possibilidade de determinados sujeitos se colocarem em movimento, confinando-os em determinados lugares, significa colocá-los em situação de exclusão. Na maioria das vezes, os lugares a que esses sujeitos encontram-se amarrados também passam pelo esquecimento e pela desvalorização, não sendo qualificados para a produção ou para o consumo. São lugares onde se deposita o refugo humano. Num mesmo movimento, as comunidades que habitam esses depósitos se vêem privadas de valorização e desvalorizam o lugar. O esforço para manter os redundantes separados dos úteis tem sido

permanente na Contemporaneidade. Entretanto, as fronteiras dos depósitos de refugo humano são cada vez mais instáveis, abrangendo áreas cada vez maiores e sendo cada vez mais vazadas por redundantes que conseguem escapar e conviver com consumidores válidos (BAUMAN, 2005).

Segundo os artigos analisados, a EaD estaria permitindo que, por meio de suas interações on-line, os participantes de atividades a distância criem novos lugares no ciberespaço e visitem tantos quantos desejarem. Utilizando ferramentas de comunicação, podem contatar colegas distantes e obter informações que de outro modo seriam inacessíveis. Baseando-se nessa compreensão, se poderia pensar que os alunos de cursos a distância não estão mais amarrados a suas localidades, mas virtualmente podem agora mover-se por todo o mundo. Eles escapariam aos guetos a que possam estar ligados e resgatariam o direito de mover-se.

Procurou-se apresentar o potencial da Internet como um meio facilitador na busca não só de informações, mas também de pessoas com as quais seja possível a criação de vínculos colaborativos/cooperativos durante o processo de aprendizagem (TIJIBOY; OTSUKA; SANTAROSA, 1998, p.33)

Como conseqüência, eles ganham não só conhecimento, mas também novas habilidades sociais, incluindo a habilidade de comunicar e colaborar com colegas distantes, a quem eles podem nunca ter visto (MARCHETTI; BELHOT; SENO, 2005).

Ainda de acordo com os artigos, a mobilidade conferida pela EaD permite que os sujeitos estejam em lugares longínquos, mesmo sem deixar seu lugar. Os moradores de cidades distantes dos centros educacionais já não necessitam deixar a localidade em que moram para poder estudar. Pensando a partir das idéias de Bauman (1999, 2001), a possibilidade de acesso à educação (bem como à comunicação e à informação) que a internet vem trazer poderia tornar esses lugares remotos menos inóspitos. Se muitas vezes seus habitantes tiveram que partir quando queriam ficar, pois havia a necessidade de realizarem a formação profissional, única possibilidade de tentarem construir uma vida melhor, esse quadro poderia se modificar com as tecnologias de informação e comunicação. Hoje é possível supor que EaD (e, de modo mais amplo, a própria internet) integrará os lugares remotos aos grandes centros, oferecendo melhores oportunidades para seus habitantes. Afinal, como afirma Bauman (1999), muitos prefeririam ficar parados, mas acabam sendo forçados a se moverem, pois o lugar onde vivem não lhes dá oportunidades. A tecnologia que hoje se desenvolve teria potencialidade para mudar as condições de vida nas localidades isoladas.

Os cursos a distância, baseados na plataforma da Internet, são meios viáveis para levar o treinamento e a educação especializada e continuada em áreas remotas (SANTOS, 2002, p.106).

Seu principal objetivo é atender a necessidades de pessoas que não podem freqüentar cursos regulares por residirem em locais distantes e terem limitações de horário (MEDEIROS et al., 2001, p.15).

Entretanto, ao mesmo tempo em que ela torna a educação acessível para alguns que não podem e não querem sair de suas localidades, ela também pode inibir alguns movimentos físicos daqueles que gostariam de partir e tinham na educação uma justificativa. Em contraponto com o que se encontra nos fragmentos anteriormente apresentados, entendo que se por um lado a EaD tem a potencialidade de tornar os lugares inóspitos mais acolhedores, ela também pode contribuir para fixar e imobilizar alguns segmentos da população.

O gueto é onde os supranumerários são confinados. O refugo humano está relacionado com parcelas da população que foram excluídas do consumo e, portanto, da produção (BAUMAN, 2005). Ainda que se encontre refugo humano em todos os países e entre todas as etnias, existe uma maior concentração de depósitos de refugo nas regiões mais pobres e entre etnias não-hegemônicas, como negros e latinos. “A guetificação é parte orgânica do mecanismo de disposição do lixo” (BAUMAN, 2003, p.108). A segregação de determinados grupos em guetos é uma forma de imobilizá-los. Algumas vezes os depósitos de refugo podem ser reciclados e transformados em produtos culturais para consumo. Todavia, o mais comum é deixá-los à própria sorte.

O gueto é um lugar onde não existe o movimento: ao mesmo tempo em que serve para “prender os indesejáveis ao chão” (BAUMAN, 2003, p.109), não recebe visitas. Ninguém que não seja um morador entraria num gueto. E é por isso que penso ser possível que a EaD torne-se uma condição para aprofundar os processos de guetificação e tornar o gueto mais impermeável. A mobilidade que parece ser concedida àqueles que moram nos guetos através da EaD pode ser uma estratégia para intensificar sua fixação. A oferta de educação aos moradores do gueto em nada assegura a transformação do depósito de refugo humano, se não vier acompanhada de outras mudanças capazes de dinamizar a vida dessas comunidades.

Ainda dentro da categoria Mobilidade percebi, em diversos trechos selecionados, a noção de que a EaD poderia promover a interação entre diferentes culturas, trazendo para os artigos uma temática bastante atual no campo da Educação. Para dar continuidade às minhas

análises, farei uma breve problematização das questões decorrentes das relações entre distintas culturas.

A emergência daquilo que vem sendo chamado de multiculturalismo está relacionada com a convivência de diversas culturas em espaços geograficamente próximos, mas desfrutando de condições de vida completamente distintas e, freqüentemente, tratando-se mutuamente de forma beligerante. Se a definição de cultura já é problemática, a luta em torno dos significados para o termo multiculturalismo apresenta ainda maior complexidade. De forma genérica, significa as formas de compreender e representar a heterogeneidade cultural, política, religiosa, étnica, racial e econômica dos distintos grupos que constituem a sociedade. Conforme Hall (2003, p.52), “refere-se às estratégias e políticas adotadas para governar ou administrar problemas de diversidade e multiplicidade gerados pelas sociedades multiculturais”. Para esse mesmo autor, existem diversas concepções de multiculturalismo. Entre essas, ele destaca algumas noções que estão mais fortemente disseminadas. O multiculturalismo conservador assume uma postura colonialista, tomando a cultura hegemônica como superior e fazendo esforços para assimilar as outras culturas. O multiculturalismo liberal baseia-se numa cidadania universal e tolera certas práticas de determinados grupos apenas no âmbito privado, construindo a idéia de que todos são portadores das mesmas capacidades e podem concorrer em igualdade de condições, mesmo numa sociedade constituída a partir de uma cultura dominante. O multiculturalismo pluralista apresenta a tendência de essencializar as diferenças, sugerindo que a melhor alternativa seria a segregação das diversas culturas. O multiculturalismo comercial delega ao mercado a mediação da convivência das diferentes culturas. O multiculturalismo corporativo tem como preocupação central que as culturas marginalizadas não venham a interferir nos interesses da cultura hegemônica. O multiculturalismo crítico apresenta um entendimento das diferenças como constituições históricas, empenhando-se em criticar e buscar alternativas para superar a exclusão em que se encontram os membros de grupos minoritários (HALL, 2003). Essas categorias não esgotam as distintas noções de multiculturalismo, mas assinalam as posturas mais freqüentes na atualidade.

Diversos trabalhos mostram que os livros didáticos e outros artefatos culturais ligados à educação muitas vezes representaram (e ainda representam) determinados grupos como portadores de algumas características essenciais, marcadas como deficiências em relação ao padrão hegemônico, justificando políticas de submissão, o que aponta para um multiculturalismo conservador. Negros indolentes, índios incivilizados (COSTA, 1999) e mulheres com déficit de raciocínio (WALKERDINE, 1995) são alguns exemplos desse tipo de

postura. Outras vezes, esses artefatos assumem um multiculturalismo pluralista, narrando e, até mesmo, exaltando características que seriam inerentes a determinados grupos étnicos, para se colocarem a favor da fixação desses grupos “no seu lugar de direito”. Entretanto, possivelmente na maioria das vezes, a escola simplesmente silencia sobre essas outras culturas, promovendo uma assimilação cultural. Mesmo sem referências explícitas, isso denota tacitamente o reconhecimento da superioridade da cultura hegemônica, numa manifestação implícita de multiculturalismo conservador.

Atualmente esse tipo de posicionamento vem sendo criticado. Os discursos sobre multiculturalismo hoje mais evidenciados no campo da Educação tendem a assumir uma posição que se poderia chamar de liberal, defendendo que todos os grupos têm a mesma capacidade e o mesmo direito à cidadania, bastando alguns ajustes sociais para que exista igualdade de oportunidades. A criação de cotas para negros na universidade ilustra esse tipo de concepção. Nesse caso, não se estaria levando em conta que a sociedade tal como hoje se constitui privilegia fortemente a cultura do grupo hegemônico, a saber, homens brancos, de classe média e letrados. Aqueles que, de alguma forma, se acham excluídos desse padrão estarão em flagrante desvantagem, pois se encontram fora da normalidade instituída e necessitarão esforços muito maiores para se ajustarem.

Alguns estudos vêm problematizando essa visão simplificada do multiculturalismo, buscando compreender como a diferença foi e é produzida. Nessa perspectiva, compreende- se que a diferença entre os grupos é produzida discursivamente, sendo arbitrária e contingente. Falar nas condições dos negros para acesso à universidade é esquecer que não existe um “negro padrão”, mas múltiplas formas de negritude. Os negros são muitos, são mulheres negras, são homens negros, são negros pobres, negros remediados, negros ricos, negros muito ricos, negros casados, negros solteiros, negros que vivem no Sul e negros que vivem no Norte. Essa lista infindável se torna singular nas suas múltiplas combinações. A própria noção do que seja um negro é uma construção social, já que nenhuma evidência genética possa ser invocada. Alguns serão negros na Europa e brancos no Brasil...

Mesmo reconhecendo-se as infinitas culturas e as dificuldades e limitações decorrentes dos recortes, esses estudos continuam recorrendo a categorias, mais ou menos abrangentes, pois estas se mostram úteis para determinadas análises, pois, no limite, haveria tantos grupos quantos fossem os sujeitos.

Os textos que trazem algum padrão prescritivo de como lidar com o multiculturalismo em termos educacionais, em geral, recomendam que se reconheçam as diferenças entre os grupos, ensinando a respeitá-las e promovendo sua integração, visando a

reversão de processos de exclusão historicamente enraizados em nossa sociedade, sem uma problematização de como se dão as construções das diferenças e as hierarquizações.

Reconhecendo-se a importância do espaço escolar ser utilizado para fortalecer e dar voz aos grupos oprimidos da sociedade, impõe-se como tarefa primordial dos educadores trabalhar no sentido de reverter essa tendência histórica presente na escola, construindo um projeto pedagógico que expresse e dê sentido à diversidade cultural (SANTOS; LOPES, 1997, p.36)

Para que haja respeito à diversidade na escola é necessário que todos sejam reconhecidos como iguais em dignidade e em direito. Mas para não nos restringirmos a uma concepção liberal de reconhecimento, devemos também questionar os mecanismos sociais, como a propriedade, e os mecanismos políticos, como a concentração do poder, que hierarquizam os indivíduos diferentes em superiores e dominantes, e em inferiores e subalternos [...]. A política do reconhecimento e as várias concepções de multiculturalismo nos ensinam, enfim, que é necessário que seja admitida a diferença na relação com o outro. Isto quer dizer tolerar e conviver com aquele que não é como eu sou e não vive como eu vivo, e o seu modo de ser não pode significar que o outro deva ter menos oportunidades, menos atenção e recursos (PRAXEDES, 2004).

Desse modo, o multiculturalismo comumente vem sendo compreendido no campo da Educação como uma oportunidade de reconhecer grupos excluídos e promover sua integração social. Mesmo reconhecendo a importância dessas discussões e iniciativas, quero assinalar que todo movimento de inclusão também traz junto a exclusão, conforme mostra Veiga-Neto (2001). “Até mesmo o mais zeloso e diligente dos assimilados voluntários carrega consigo na ‘comunidade de destino’ a marca de suas origens alienígenas” (BAUMAN, 2003, p.87).

Entendo que o discurso multiculturalista hoje hegemonicamente disseminado no campo da Educação pode ser compreendido como uma tentativa de conferir mobilidade a grupos que historicamente carregaram o estigma da inferioridade e da exclusão. Relegar um grupo a uma condição de inferioridade é fixá-lo numa identidade subalterna, é confiná-lo no depósito dos refugos. As tentativas de inclusão de determinadas culturas nos processos educacionais são engendradas como formas de valorização. Parece-me que promover a troca entre diversos grupos e dar condições de acesso à educação para aqueles a quem sempre foi negado é procurar conferir-lhes mobilidade, é tentar empoderá-los por meio da possibilidade de movimento.

Em diversos momentos, os artigos analisados para essa pesquisa apresentam como uma das vantagens da EaD a possibilidade de entrar em contato com outras culturas, conhecer outras formas de viver e de pensar. A EaD seria um aprendizado de convivência entre diferentes culturas e beneficiaria os alunos na medida que essas trocas agregariam

novos saberes e novas percepções do mundo. Mais uma vez percebo o entendimento de que estudar na modalidade a distância é desamarrar-se do local, sem a necessidade de abandonar o lugar. Ainda que a palavra multiculturalismo não apareça em nenhum dos artigos, essa é a noção que perpassa diversos trabalhos, como se pode ver nos seguintes excertos:

Isso conjuntamente a diversos espaços virtuais, que colaborariam de forma distinta para a aprendizagem, trazendo elementos que, do ponto de vista prático, espaços presenciais não poderiam prover, tais com uma convivência com uma diversidade temporal, cultural, ética e cognitiva muito mais ampla (NOVA; ALVES, 2002, p.59).

Teoricamente, e sob uma perspectiva educacional, a Internet pode expandir horizontes; ela transcende limites geográficos, temporais, lingüísticos e culturais, estimulando novas percepções a nível individual e cultural de alunos e professores (TIJIBOY; OTSUKA; SANTAROSA, 1998, p.31)

No caso de trabalhos envolvendo várias escolas de lugares diferentes, há uma possibilidade maior de explorar as diferenças regionais e promover o acolhimento entre perspectivas culturais diversas (MARTINS; AXT, 2004, p.48).

Os excertos anteriores indicam uma compreensão sobre a convivência entre diferentes culturas alinhada com aquilo que anteriormente mostrei ser, no campo da Educação, a tendência hegemônica atual para lidar com o tema, assumindo uma postura liberal de tratar com o multiculturalismo, o que implica em estimular um convívio pacífico e respeitoso entre culturas, representando a interação com a diversidade como uma oportunidade de crescimento, sem questionamentos sobre as condições que tornam possível sustentar as diferenças.

Conforme vimos até aqui, a EaD está sendo compreendida como um modo de dar mobilidade sem o deslocamento do corpo físico. Entretanto, ela também é útil para aqueles que vivenciam situação oposta, ou seja, que têm dificuldade de estudar por estarem permanentemente deslocando o corpo físico. Ao mesmo tempo em que os artigos constituem um sentido de que a EaD poderá transformar lugares inóspitos em localidades onde haja oportunidades de sobrevivência, fazendo que seus habitantes não precisem partir, nem sofram uma guetificação, eles mostram que essa modalidade também é adequada aos que vivenciam a mobilidade em sua forma extrema. Ou seja, aqueles a quem Bauman (1999) chama de turistas também poderão estudar sem interromper a viagem.

É relevante destacar que optamos pelo projeto de um treinamento totalmente a distância, que pudesse atender às necessidades de capacitação dos gerentes da empresa, que pouco se engajavam em programas de treinamento e, os poucos que se engajavam, os abandonavam com freqüência (RODRIGUEZ, 2004).

De modo sucinto, o que vem sendo anunciado nos artigos é a noção de que a EaD tanto dá condições para os sujeitos permanecerem em lugares que antes teriam de ser abandonados sem que os mesmos sejam transformados em guetos isolados, quanto para oferecer uma espécie de reterritorialização para aqueles que vivem em movimento. Mas a mobilidade conferida pelas atividades a distância não está apenas relacionada com o espaço físico. Ela não se restringe a tornar possível dar continuidade aos estudos sem sair de uma pequena cidade, conhecer outras culturas a partir de sua própria casa ou freqüentar um curso mesmo tendo uma vida nômade. A EaD introduz o aluno numa outra espacialidade, como que o conduzindo a outro mundo que nenhuma sala de aula presencial poderia oferecer. As atividades a distância jogam o aluno no ciberespaço.

No entanto, a navegação oportunizou aos alunos estarem em ambientes diferentes de sua sala de aula: um presencial - laboratório de informática e outro virtual - um mundo desconhecido, sem localização física, porém no imaginário de cada um (SLOCZINSKI; SANTAROSA, 2004, P.73)

Dessa forma, a lista de discussão, um dos recursos disponibilizados pela tecnologia digital, contribui para que o sujeito reinvente o próprio modo de relacionar-se com um meio técnico -o computador- além de abrir passagem para um outro universo de relações sociais e culturais: o ciberespaço e a cibercultura (EIDELWEIN; MARASCHIN, 2000, p.153).

O ciberespaço é um outro mundo, que, como veremos posteriormente, muitas vezes tem se desdobrado num empíreo educacional. Conforme mostram os artigos, a experiência do ciberespaço parece não ter paralelo no espaço físico. São outras noções de lugar, de velocidade e de distância. Segundo as narrativas analisadas, o ciberespaço talvez seja a mais radical experiência de mobilidade oferecida aos estudantes de cursos com atividades a distância.

As representações presentes nos artigos analisados mostram uma grande valorização de estratégias para introduzir no processo educacional condições que confiram mobilidade aos sujeitos. No contexto do mundo contemporâneo, onde nada é estável e cuja velocidade de transformação não pára de crescer, estar imóvel é sinônimo de fracasso, de obsolescência. Estar imóvel é pertencer ao refugo. Pode-se, então, compreender a importância que assume a inter-relação entre mobilidade e educação, mesmo sem ser explicitada, levando-se em conta que a educação vem sendo narrada como um processo para inclusão e como fator de desenvolvimento. Essa importância pode ser depreendida não apenas pelas inúmeras manifestações contidas nos artigos, exaltando alguma forma de tornar os sujeitos presentes em locais outros diferentes daqueles que ocupam fisicamente, como também pelas reiteradas previsões de que no futuro não haverá distinção entre educação a distância e educação

presencial. A educação presencial, realizada numa sala de aula, amarra os alunos ao lugar, imobiliza-os. Nessa perspectiva, poderia-se entender que uma educação sem apelo a atividades realizadas no ciberespaço negaria a possibilidade do movimento, configurando-se então, ela própria, num mecanismo de exclusão e perdendo uma suposta capacidade de promover o desenvolvimento dos sujeitos.

No documento OUTROS TEMPOS, OUTROS ESPAÇOS (páginas 151-159)