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3 REVISANDO PARADIGMAS

3.4 Diálogo emancipador

Como pondera Correia (2005, p. 226), a “proximidade do senso comum e do mundo da vida”, ou seja, a força do cotidiano, do trabalho, das crenças e representações comuns, presente na cultura, traz “potencialidades democráticas para o jornalista e para a totalidade da indústria midiática”. Ele recomenda que os profissionais, inspirados em

80 Schutz, absorvam a abordagem etnometodológica da sociedade, “tornando possível a busca de novos ângulos, de outras formas de olhar e de outros âmbitos de significado que não sejam apenas os dominantes da cotidianeidade”. Nesse sentido, não só um profissional de livros-reportagem, que conta com mais controle de sua produção, mas qualquer jornalista mais esforçado pode lutar pela autonomia de organização midiática de um sistema de relevâncias e tipificações menos preconceituoso, esquemático, mercadológico, ou ainda mais afeito ao papel do jornalismo como produção de conhecimento e reflexão crítica.

Os escritores de livros-reportagem mencionados e entrevistados nesta tese, alguns mais do que outros, parecem estar atentos às vozes muitas vezes silenciadas pela grande mídia. Alsina (2009, p. 269) ressalta o “papel social institucionalizado e legitimado na transmissão do saber cotidiano” do jornalismo, bem como o seu posicionamento de “tradutor do saber dos especialistas para o grande público”. Por sua vez, Rogé Ferreira Jr. (2004, p. 405) percebe, em algumas obras de jornalistas brasileiros e internacionais, a “tentativa de perceber o Outro, de compreendê-lo e fazê-lo compreensível aos demais, tornando público e discutível o que talvez existisse somente em seu interior ou no de determinadas esferas privadas”.

Com Rota 66: a história da polícia que mata, lançado em 1992, Caco Barcellos orquestrou uma denúncia contundente ao sistema repressivo da polícia militar paulista, buscando observar a problemática pelo ângulo de suas maiores vítimas: as pessoas comuns, muitas vezes sem ficha criminal, assassinadas sumariamente por policiais descontrolados e corruptos. Organizou, com esforço, um banco de dados abrangente a partir do qual pôde apontar, citando nomes, quem eram os policiais assassinos. Procurou, ainda, dar rosto a tantos jovens mortos nas ruas e que, nos jornais sensacionalistas e programas de rádio histriônicos, eram previamente condenados como “bandidos” que “merecem morrer” nas mãos de uma polícia “eficiente”.

Na apresentação da obra, o jornalista Narciso Kalili (1997, p. 7) já começa afirmando que “Caco Barcellos é um jornalista que tem lado. Um lado que continua o mesmo – o do mais fraco, das vítimas”. Kalili lembra que Caco segue o exemplo de outros profissionais que não se “aquecem na própria vaidade nem proclamam uma visão cínica de mundo, quase sempre um horizonte que não vai além do próprio umbigo”. E ressalta que os jornalistas que escolhem ter um lado “acabam tendo comportamentos parecidos: sofrem as mesmas pressões, lutam pelos mesmos princípios”.

81 Kalili (1997, p. 8) também compreende bem a postura de objetividade deflacionada de Caco Barcellos, ressaltando que, para este repórter, “estar de um lado não significa distorcer a realidade, mas aprofundar discordâncias, radicalizar diferenças”. Analisando a ética do repórter, percebe que suas marcas principais são “a dedicação, a paciência e o talento para descobrir onde ficam as pontas que ligam todas as histórias”, sempre levando em conta “o mesmo respeito pelas pessoas e por suas histórias”. Conclui reforçando que Caco Barcellos é um jornalista que está do lado da maioria: “O lado dos desgraçados, dos miseráveis. Gente sem privilégios, indefesa, e para quem o seu trabalho representa a porta de entrada em relação à vida”.

Mesmo sob a perspectiva dos procedimentos narrativos, outro destaque dos livros-reportagem, Medina (2003, p. 52) aponta que pesa para o leitor o grau de identificação com os anônimos e suas histórias de vida: “De certa forma a ação coletiva da grande reportagem ganha em sedução quando quem a protagoniza são pessoas comuns que vivem a luta do cotidiano”. Em seus livros e mesmo em seu trabalho na televisão, Caco Barcellos parece estar atento ao receituário considerado ideal por Medina (2003, p. 53): “Descobrir essa trama dos que não têm voz, reconstituir o diário de bordo da viagem da esperança, recriar os falares, a oratura dos que passam ao largo dos holofotes da mídia”.

No seu primeiro e menos lembrado livro, Nicarágua: a revolução das crianças, lançado em 1982, Caco Barcellos já colocava o leitor no interior da revolução popular sandinista, que, entre junho e agosto de 1979, derrubou a ditadura de Anastasio Somoza. Na apresentação da obra, o jornalista Emílio Chagas (1982, p. 5) elogia a coragem de Caco, não a física, mas a “inerente à dignidade humana”: “Narrando essa luta, uma revolução que avança, conquistando ruas, bairros, cidades – está o repórter. Vivendo situações trágicas, dramáticas, líricas e até, curiosamente, engraçadas”.

Durante toda a obra Caco Barcellos fala dos seus medos e toma posição clara com relação aos revolucionários, que contam com grande contingente da população ao seu lado. Chagas (1982, p. 5) analisa a postura do repórter, destacando que ele se mostra “perplexo com a violência, emocionado com o genocídio somocista e confiante porque tem consciência: está numa revolução libertária”. O colega também destaca a característica de “relato de fôlego inesquecível” e chega à conclusão de que o leitor tem em mãos um “documento/reportagem de um repórter que está no front. Aliás, onde todo bom repórter deve estar”.

82 Teórico da área de Letras e Literatura, Bulhões (2007, p. 45) explica, ao analisar livros-reportagem como os de Caco Barcellos, que a “concessão ao desempenho de uma atitude individualizada, do eu que reporta” garante à grande reportagem o lugar simbólico de “ambiente mais inventivo da textualidade informativa”. Assim, levando em conta que o jornalista escritor opera com formas de “dilatação do evento noticioso”, a reportagem “pode estender-se como uma realização descritiva, na composição astuciosa de um personagem ou na coloração de um cenário”. Esses aspectos, além de demonstrarem uma contraposição aos formatos tradicionais do jornalismo, atraem o leitor pela perspectiva da identificação.

Tanto em Rota 66 como em seus dois outros livros, Abusado: o dono do morro

Dona Marta e Nicarágua: a revolução das crianças, Caco Barcellos desafia o

receituário da imparcialidade e neutralidade e sempre se coloca na narrativa. Em vários momentos fala de suas angústias, indecisões éticas, formas de aproximação com os personagens nos bastidores, além de analisar o seu papel diferenciado com relação a uma mídia dominante vigente. Essa postura coerente, honesta e constante agrada bastante o leitor, pelo que se pode constatar a partir das várias edições esgotadas nas livrarias (menos do pioneiro Nicarágua, mais raro, publicado por uma pequena editora). Para além da sua persona televisiva, que também segue o mesmo caminho de abordagem de temas polêmicos e de dar voz aos anônimos, ele conseguiu consolidar sua personalidade profissional de autor de livros que incomodam, provocam uma reflexão visceral no leitor e seus conceitos arraigados.

No capítulo 31 do livro Abusado, o repórter “entra” na narrativa para deixar claro ao leitor como foi o seu processo de aproximação com os traficantes da comunidade Santa Marta, no Rio de Janeiro, particularmente seu personagem principal, Marcinho VP, chamado de Juliano na obra. O curioso é que o próprio traficante é que convocou Caco para uma conversa em seu esconderijo na favela, no período em que estava sendo procurado pela polícia, no final da década de 1990. Foi o início de uma série de contatos clandestinos que culminaram com a proposta de Márcio de que o jornalista escrevesse um livro sobre a sua vida, uma biografia.

No livro, Caco Barcellos revela a sua contrapartida para o personagem, propondo uma obra não sobre ele, mas a respeito da quadrilha inteira e do modo de operação do sistema de tráfico no morro em todos os seus detalhes. Diante do aceite, o repórter começou a perceber os limites que enfrentaria ao abordar um mundo de vida de

83 “personagens fora-da-lei, condenados e foragidos da justiça. Era sem dúvida um desafio cheio de implicações éticas, morais e legais” (BARCELLOS, 2003, p. 459). Ou seja, o jornalista aceitou, com consciência, a incumbência de relatar – revendo os conceitos pré-concebidos ou sensacionalistas – os acervos de conhecimentos daqueles personagens, suas relações intersubjetivas e formas particulares de representação social.

Ainda nesse capítulo esclarecedor, o repórter relata que teve que estabelecer “contratos” com os seus vários personagens para não incorrer em deslizes éticos no papel de jornalista e cidadão. Desde o início deixou claro para todos os entrevistados que não queria saber dos planos criminosos futuros ou do presente, o que o tornaria imediatamente cúmplice. Apenas estava interessado nos relatos do passado. Quem estivesse vivo no lançamento do livro seria identificado sob pseudônimo e quem já tivesse morrido teria seu nome verdadeiro revelado.

Mesmo assim, Caco Barcellos percebeu muita relutância nas primeiras entrevistas, só superada depois que adotou a estratégia de começar o livro entrevistando parentes e amigos de pessoas envolvidas no tráfico que já haviam morrido. A tática lhe permitiu reconstituir com precisão todo histórico de guerras que marcava aquela comunidade. A partir de então, ganhou confiança dos sobreviventes e passou a coletar depoimentos de uma perspectiva mais privilegiada do que um repórter de redação da editoria de Polícia. Pouco antes da publicação do livro, já na prisão, Marcinho VP pediu uma leitura antecipada e o autor negou, alegando que já havia submetido à sua análise a transcrição de todas as suas entrevistas, que somavam quase 300 páginas. Acrescentou que agiria da mesma forma se estivesse fazendo um livro a respeito do presidente da República.

Assim como a nossa pré-compreensão do mundo é moldada pela história, na concepção de Gadamer (1999), o ato de compreender não deve ser entendido como “uma simples reconstituição dos pensamentos ou vivências de outrem, mas como um processo de entendimento e como uma procura de acordo sobre determinado assunto” (SILVA, 2011, p. 225). Por isso, para Gadamer, no encontro com o outro, que aqui pode ser interpretado como o diálogo profissional com os personagens que farão parte dos livros-reportagem, deve estar prevista uma fusão de horizontes, ou a hermenêutica de integração.

“O resultado de uma fusão de horizontes não é a explicitação de um sentido prévio, mas a emergência de algo (uma nova perspectiva sobre o mundo ou um

84 determinado assunto) que anteriormente não existia”, pondera Gadamer (1999, p. 310). Essa postura desafiadora pode ser adotada pelo escritor de livros-reportagem, adaptando o que diz o autor. Comunicar-se não seria impor uma opinião sobre a dos outros, nem mesmo a soma de visões subjetivas de mundo, mas algo novo, a “transformação de ambas”. Não é mais a minha “nem a tua opinião, mas sim interpretação comum do mundo”, o que gera a “solidariedade moral e social” (GADAMER, 1999, p. 188).

Exemplo de uma postura aberta à riqueza de um personagem que seria, talvez, condenado previamente na rotina de uma editoria de Polícia, foi a do jornalista Klester Cavalcanti, na produção do livro O nome da morte: a história real de Júlio Santana, o

homem que já matou 492 pessoas (2006). No texto introdutório escrito pelo autor,

explica-se que foram necessários sete anos de conversas para que o assassino de aluguel autorizasse a colocar o seu nome verdadeiro no livro. Os contatos começaram em 1999 e prosseguiram, na média de uma conversa mensal, a princípio telefônicas e mais tarde presenciais. A intenção era buscar entender um assassino profissional que, em 35 anos, matou quase 500 pessoas. Mortes registradas em um caderno, com “data, local do crime, quanto ele recebeu pelo serviço e, o mais importante, os nomes dos mandantes e das vítimas” (CAVALCANTI, 2006, p. 13).

Como assumiu uma postura de não julgar previamente seu entrevistado, Klester Cavalcanti pode exercitar a fusão de horizontes, derrubando seus preconceitos à medida que o foi conhecendo melhor. Essa postura fica clara quando o jornalista relata a primeira entrevista telefônica: “Pela conversa e tom de voz, Júlio não me pareceu um sujeito violento nem agressivo. Falava de forma compassada, serena e tinha um carregado sotaque nordestino” (CAVALCANTI, 2006, p. 16).

O autor também contou com a paciência (2006, p. 17): “A cada ligação, nossa relação ficava mais estreita. Sentia que ele passava a confiar mais em mim e a contar suas histórias de forma cada vez mais sincera e emocionada”. Porém, só em 2006 o personagem aceitou que seu nome e mesmo uma foto com efeitos técnicos para tornar o seu rosto irreconhecível fossem publicados, finalmente permitindo a concretização do projeto do livro. “Júlio me disse que tinha decidido largar a vida de matador para viver com a mulher e os dois filhos em outro estado, longe do Maranhão”.

Mesmo com a autorização e anos de coleta de informações telefônicas, Cavalcanti fez questão de marcar um encontro presencial com o seu personagem. Outra atitude que demonstra a intenção de ampliar o diálogo e saber “que aparência ele tinha,

85 como andava, como se sentava, como sorria” (CAVALCANTI, 2006, p. 17). O relato mostra como o jornalista lutou para superar preconceitos arraigados na tradição. Ele passou três dias “ao lado de um homem calmo, bem-humorado, caseiro, carinhoso com a mulher e com os filhos. Perfil bem diferente dos assassinos que povoam a literatura e o cinema” (CAVALCANTI, 2006, p. 18).

Medina (2014, p. 75) considera que o repórter deve entender a rua “como espaço de cruzamentos coletivos”. Portanto, consciente de que está inserido no mundo da vida, precisa perceber o cidadão que encara como personagem de um mundo de referência, como alguém que “narra na cultura que lhe dá identidade comunitária”. O repórter transita em um locus “onde se mobilizam os sentidos para a observação e a escuta dos parceiros da contemporaneidade”.

Para a pesquisadora, o jornalista deve reportar os “movimentos da cidadania” e estar atento ao “protagonismo dos sujeitos, o contexto coletivo em que estão inseridos, as raízes histórico-culturais que os particularizam”, constituindo, assim, “a arte de tecer

o presente, em que se criam as narrativas da contemporaneidade” (MEDINA, 2014, p.

75). Deve estar consciente, ainda, de que, como “autor de uma narrativa da contemporaneidade recodifica o real imediato”, devendo procurar, portanto, uma “cosmovisão”. Essas questões foram abordadas pelos jornalistas entrevistados nesta tese, a partir de suas formas particulares de se expressar a respeito dos mecanismos de construção da realidade que engendram ao compor suas obras.

Dos autores contemporâneos de livros-reportagem, Klester Cavalcanti é um dos que mais parecem conscientes desse papel do jornalista-narrador inserido no mundo da vida. A começar pela opção que adota em suas obras de buscar entender as problemáticas brasileiras a partir dos oprimidos. Klester denunciou as mortes em conflito de terras em Viúvas da terra (2004), tentou entender a mente de um assassino de aluguel, como foi visto, em O nome da morte e, em seu livro mais recente, A dama

da liberdade (2015), acompanha o trabalho de Marinalva Dantas, que por dez anos

esteve à frente do grupo do Governo Federal que ajudou a libertar mais de dois mil trabalhadores escravos em pleno século XXI.

No prefácio de A dama da liberdade, o cineasta Fernando Meirelles (2015, p. 15) considera que, mais que um repórter, Klester Cavalcanti é um sobrevivente, pois parece nunca terminar um livro, mas sobreviver a cada um deles. “Klester deve ter algum tipo de compulsão ou distúrbio que o leva, a cada livro que escreve, a situações

86 mais extremas, sempre com o objetivo de relatar para quem o lê, no conforto de seus sofás, uma espécie de lado B do mundo.” Com olhar de cineasta, Meirelles percebe que seus livros não são apenas “reportagens de uma situação”, pois também trazem “personagens carismáticos, que, sem deixar de ser tridimensionais e humanos, nos colocam dentro do mundo apresentado, fazendo com que a leitura se assemelhe, às vezes, a uma ficção” (MEIRELLES, 2015, p. 16).

O próprio Klester Cavalcanti (2004, p. 15), ao apresentar seu livro Viúvas da

terra, sobre conflitos agrários no interior do Brasil, explica que teve a ideia de tratar do

tema ao perceber na imprensa cotidiana muitas matérias superficiais e com fontes oficiais, como a polícia, a respeito de “assassinatos de agricultores nos grotões paraenses exterminados por pistoleiros contratados por fazendeiros, madeireiros, políticos ou empresários da região”.

Resolveu, então, construir uma obra ouvindo a versão das famílias que perderam esses lavradores, atento a questões mais amplas e complexas que estavam praticamente esquecidas na cobertura tradicional: “Qual a verdadeira dimensão desse problema? Quem eram, de fato, os homens assassinados? A quem interessavam esses crimes? Como esses homicídios eram investigados? O que acontecia aos pistoleiros e aos mandantes dos crimes?” (CAVALCANTI, 2004, p. 15). Além de procurar um conjunto variado de personagens para entender essas problemáticas, Klester investiu em uma narrativa cinematográfica, que traz o leitor para dentro da realidade narrada, quase como em um documentário ou um docudrama, modalidade com pitadas de encenação.

Ao analisar os potenciais da reportagem em forma de livro, Bulhões (2006, p. 201) salienta que “cumpre à aventura do repórter atravessar o limiar que busca compreender uma lógica que nos escapa”. A observação da realidade in loco é essencial para entender os seus contornos. “Assim, o jornalismo afia suas armas pontiagudas para a amostragem dos contornos sociopolíticos deprimentes do país, dando ênfase às circunstâncias catastróficas e irrecusáveis de nosso quadro social.” Aliando rigor na apuração de temas muitas vezes ocultos, dando voz aos oprimidos e com uma narrativa fluente, que descreve ambientes, personagens e ação, Klester Cavalcanti aceita o pacto.

Na ótica de Gadamer, segundo a interpretação de Silva (2011, p. 230), o eu pode abrir-se “genuinamente ao outro, reconhecendo-o como um parceiro de conversação que nos interpela e nos obriga a discutir as verdades sobre um assunto e, eventualmente, a rever as nossas crenças”. Ao lidarem com realidades de violência e opressão ao ser

87 humano e mesmo de choque de valores, tanto Caco Barcellos quanto Klester Cavalcanti – ambos premiados por suas obras – encararam um desafio que poderia até mesmo ser mal interpretado pelo público final, o leitor. É comum a visão preconceituosa em relação a jornalistas de Polícia de que eles estariam dando voz a criminosos, perspectiva que acabou não se concretizando, já que houve boa acolhida nas livrarias e por parte da crítica.