• Nenhum resultado encontrado

2 ONTOLOGIA E TELEOLOGIA PREAMBULARES

2.4 Do conceito de dano moral

2.4.5 Do dano estético

Explicado o que vem a ser o dano moral, é necessário que se teçam algumas considerações sobre o chamado dano estético, que é fruto de uma construção notadamente doutrinária e jurisprudencial, responsável por alçar tal categoria como forma de prejuízo passível de autônomo sancionamento indenizatório, conforme insculpido no enunciado da súmula n° 387 do Superior Tribunal de Justiça, assim ditada: “É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.”139.

Tal noção está relaciona a hipóteses em que o agente lesiona o corpo da vítima, maculando-a em sua integridade física. Esclarece-se que a razão do dano estético não está vinculada com “a vergonha que possa ficar exposta a vítima em face de terceiros, pois, ainda que ocultas as deformidades, tais danos ensejam indenização, se causa de sofrimento.”140.

Urge salientar que o embasamento legal para o enaltecimento do dano estético à condição de instituto próprio consiste na norma positivada no art. 949141 do CCB/02, no qual, da parte em que se reporta a “algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido”, concluiu-se pelo enquadramento dos danos estéticos142.

Apesar de a jurisprudência considerar o prejuízo estético uma forma específica de dano, parece assistir maior razão a Sérgio Cavalieri Filho, ao considerar que o dano estético “é

Gustavo Corrêa de. Op. cit, p. 44).

139 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 387, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/08/2009, DJe

01/09/2009.

140 NADER, Paulo. Op. cit, p. 93. Interessante notar nas palavras do autor referência ao sofrimento da vítima como

causa do dano estético. Com tal posição, contudo, não se concorda, haja vista que o sofrimento é uma consequência não necessária, cingindo-se a causa do dano na violação ao bem jurídico em tutela, em equivalência à teoria abordada sobre os danos morais.

141 BRASIL. CCB/02. Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das

despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.

modalidade de dano moral e que tudo se resume a uma questão de arbitramento143. Em razão de sua gravidade e da intensidade do sofrimento, que perdura no tempo, o dano moral deve ser arbitrado em quantia mais expressiva quando a vítima sofre deformidade física.”144.

Ainda sobre tal assunto, é interessante o raciocínio de Rui Stoco ao esclarecer que, diante de uma deformidade física, dois podem ser os caminhos: primeiramente, se o dano físico for reversível, o dano estético será solucionado em dano material (preço da cirurgia reparadora), contudo, na hipótese de a mácula ser permanente, o dano estético dará ensejo a uma indenização por danos morais145.

Ao pensamento retromencionado, adiciona-se que não se devem olvidar eventuais danos morais surgidos, mesmo que possível a reparação da lesão estética através de cirurgia, afinal a cláusula da dignidade humana pode ser atacada em decorrência da própria exposição da vítima a procedimento médico, que, se não fosse a conduta do ofensor, seria desnecessário146, configurando-se, assim, caso de cumulação de danos materiais e morais147.

De toda sorte, como espécie de dano moral ou não, é cediço que o regime jurídico ao qual está submetido o denominado dano estético é equivalente àquele, já que pautado nos mesmos parâmetros de liquidação e voltados à proteção de idêntico interesse (dignidade humana), razão pela qual não se faz necessário, para este trabalho, maior aprofundamento a respeito da temática148.

143 Em mesmo sentido é a lição de Rui Stoco: “A discussão que se deve travar, data venia, não é propriamente

conceitual, acerca da autonomia do dano moral in genere e do dano estético enquanto espécie, quando estes são separáveis ou inconfundíveis, mas quantitativa, pois em casos tais deve-se considerar a repercussão da dupla agressão moral no quantum a ser fixado a título de compensação.” (STOCO, Rui. Op. cit, p. 1410).

144 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Op. cit, p. 114. 145 STOCO, Rui. Op. cit, p. 1411.

146 Em demonstração de tal raciocínio, já decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo, veja-se a ementa:

“INDENIZAÇÃO DANOS MATERIAIS E MORAIS - ERRO MÉDICO Autora operada em membro saudável Ausência de sequelas em razão da cirurgia Não provado que do erro médico decorreu incapacidade para o trabalho SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA - Realização de cirurgia desnecessária em membro saudável caracteriza dano moral indenizável. [...].” (BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. 62162420038260114 SP 0006216- 24.2003.8.26.0114, Relator: Flavio Abramovici, Data de Julgamento: 31/07/2012, 2ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 01/08/2012).

147 A possibilidade de cumulação de danos materiais e morais e pacifica na jurisprudência pátria, na forma da

sumula n° 37 do STJ, leia-se: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.” (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 37, CORTE ESPECIAL, julgado em 12/03/1992, DJ 17/03/1992 p. 3172, REPDJ 19/03/1992 p. 3201).

148 Ilustrando a forma equivalente de tratamento entre ambos os tipos de dano, cita-se a seguinte ementa de julgado

do STJ: “AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. AMPUTAÇÃO DE MEMBRO INFERIOR. VIOLAÇÃO AOS ARTS. 393 E 944 DO CC/2002. SÚMULA 7/STJ. INDENIZAÇÃO. DANO ESTÉTICO E DANO MORAL. CUMULAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. Alterar as conclusões do julgado quanto à ocorrência de responsabilidade da empresa ora recorrente demandaria reexame de provas, o que é vedado pela Súmula 7/STJ. 2. Observando o enunciado da Súmula 387/STJ, o juízo de piso fixou danos morais e estéticos em montante global razoável, nem exorbitante nem irrisório, o que obsta a revisão por esta Corte Superior 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no AREsp 646.804/RJ, Rel. Ministro RAUL

Vista a base conceitual dos danos morais, importa ingressar no curso histórico em que desenvolvida tal ideia no Brasil.