• Nenhum resultado encontrado

2. Submersão demorada no contexto: Moldura Metodológica

2.3. Do método científico: abordagem e procedimentos

a) Abordagem

Se considerarmos método como um “procedimento ou caminho para alcançar determinado fim e que a finalidade da ciência é a busca do conhecimento, podemos dizer que o método científico é um conjunto de procedimentos adotados com o propósito de atingir o conhecimento” (Prodanov & Freitas, 2013, p.24). Assim sendo, a presente pesquisa segue um caminho cuja finalidade é a interpretação como método (Stake, 2007), ou seja, idealizamos um percurso caracterizado por um conjunto de atitudes e de tomadas de decisões que visam a interpretação da realidade e que facilitam a compreensão do objeto de estudo, como se poderá ver na Figura 5.

Fonte: Estruturado pela autora Figura 5 – Interpretação como método culturalmente sensível ao contexto

Ao iniciar este procedimento é essencial, numa primeira fase, que o investigador desenvolva uma reflexão cívica, ou seja, que procure perceber a relação decisiva a todos os níveis de ação e interação, entre o eu ou mais precisamente o nós identidade de um certo grupo, classe, etnia, nação ou área civilizacional e os outros, os outros grupos, classes, etnias, nações e civilizações (Silva & Pinto, 2009) pertencentes ao contexto que iremos estudar. Conscientes de que existem relações de etnocentrismo107 identificadas

entre civilizações do ocidente e as periferias do Sul (relações inter-civilizacionais), ou mesmo entre grupos diferentes de uma mesma sociedade (relações intra-civilizacionais),

107 O etnocentrismo “designa duas atitudes intimamente relacionadas, por um lado, a sobrevalorização do

grupo e da cultura, local, regional nacional ou transnacional a que pertencem os sujeitos - e a correlativa depreciação das culturas e organizações sociais diferentes, por outro lado, a universalização dos valores próprios do grupo e da cultura de pertença, assumindo que esses valores constituem as normas de referencia para avaliação de estruturas e praticas sociais diversas” (Silva & Pinto, 2009, p.45).

pretende-se assumir que haverá um cuidado conceptual e metodológico que evite formas não elaboradas e inconscientes de etnocentrismo (Silva &Pinto, 2009) na pesquisa. Ou seja, pretende-se evitar pensamentos baseados em preconceitos – ideias feitas que se tornem absolutas, indiscutíveis e que, por um lado, possam contribuir, não só para que o investigador possa cair no anacronismo108, assim como, possam ser obstáculos à

elaboração de um conhecimento efetivo.

Para tal, num segundo momento, ainda da primeira fase o investigador procura ser sensível à cultura do contexto que irá estudar. Para tal à luz de uma metodologia culturalmente sensível (Berryman, SooHoo & Nevin, 2013) o investigador procura o (1) pluralismo cultural e epistemológico, (2) a desconstrução de tradições coloniais ocidentais de pesquisa e a (3) primazia das relações nos encontros dialógicos e culturalmente sensíveis. O investigador pretende clarificar o desejo de base que é o de estudar, de forma atenciosa e humilde, com os Outros e não apenas sobre os Outros. Apesar desta ideia poder parecer ligeiramente utópica, acreditamos que é necessária uma certa utopia de pensamento, como diz Boaventura Sousa Santos & Meneses (2010), que nos impulsione a caminhar na construção de uma civilização para além do capital e do colonialismo, que aprendamos com o Sul, a ir ao Sul, a partir do Sul e com o Sul. Neste sentido, emerge a necessidade de um posicionamento do discurso (Berryman, SooHoo & Nevin, 2013), por parte do investigador, de acordo com esta metodologia culturalmente sensível. Trata-se de um discurso construído através do diálogo entre investigador e participante, um discurso realizado por um investigador que está por dentro do que está a ser estudado, desenvolvido por métodos ajustados, por pesquisas que são “situated cultural practices” (Berryman, SooHoo & Nevin, 2013, p.398), em suma, por práticas que poderão contribuir para evitar o enviesamento do pensamento, da prática e da construção do conhecimento.

A segunda fase deste método exige que o próprio investigador, a pessoa que irá realizar a interpretação dos dados esteja no campo “a exercitar uma capacidade crítica subjectiva, a analisar e a sintetizar e durante todo esse tempo a aperceberem-se da sua própria consciência” (Stake, 2007, p. 56). Desta forma, obter-se-á afirmações muito mais contextualizadas dos dados, mas também mais subjetivas, daí a necessidade de recorrer a

108 O anacronismo no sentido de “analisarmos uma época projetando nela quadros mentais da nossa,

quando aplicamos os nossos conceitos sem curar de testar a sua adequação à especificidade da sociedade que estudamos” (Silva & Pinto, 2009, p.47)

diversas estratégias com o objetivo de a minimizar, tais como: entrevistas individuais, coletivas, narrativas episódicas e análise documental. Numa abordagem interpretativa há a preocupação “em compreender o mundo social a partir da experiência subjetiva (…) [e pela análise] da realidade social a partir do interior da consciência individual e da subjetividade, no contexto da estrutura de referência dos atores sociais e não na estrutura de referência do observador da ação” (Afonso, 2014, p.34). Assim são conseguidas as primeiras asserções de tudo que é observado e analisado e descrito intensivamente, no entanto, no sentido de compreender melhor o objeto de estudo devidamente contextualizado, nesta pesquisa é essencial voltar ao terreno e à luz dessas asserções, observar o objeto de estudo e a sua posição/relação num quadro contextual ligeiramente diferente para identificar semelhanças e diferenças nas respetivas descrições. Assim na posse das segundas asserções o investigador pretende com elas compreender o objeto de estudo numa terceira fase e simultaneamente estimular a reflexão posterior proporcionando aos leitores uma aprendizagem experiencial ou uma generalização naturalista (Stake, 2007), pois o que pretendemos com esta investigação não é alcançar a verdade, como atrás se afirmou, mas sim “sofisticar a contemplação” (Stake, 2007, p.58) da realidade.

Considera-se que a abordagem interpretativa deste estudo apresenta características etnográficas, uma vez que se pretende estudar em profundidade um grupo de pessoas em contexto organizacional, sendo a etnografia o “método privilegiado para o estudo da cultura organizacional” (Horta, s.d. p.1). Para a presente pesquisa, contestamos não o estatuto de método etnográfico na íntegra, mas apenas algumas características a evidenciar, tais como: (1) o uso dos mesmos instrumentos de recolha de dados; (2) a estrutura de uma proposta de pesquisa sobre um programa, as partes organizacionais que o concretizam através das suas relações, sobre as pessoas beneficiárias do programa com as quais se pretende entender a eficácia/ineficácia do mesmo e como os resultados poderão ou não ser um contributo para o desenvolvimento local no contexto da sua cultura; (3) assim como, permanecer o máximo de tempo que se consiga terreno. Por um lado, esta permanência tem vindo a concretizar-se fisicamente, através de oito anos consecutivos de vivência em Luanda, por parte da investigadora (2003-2010), através do trabalho de consultoria realizado na área de educação esporadicamente e recentemente com a presença física no terreno durante um mês em duas datas distintas (em 2013 e 2015) já com o objetivo de recolher dados de forma sistematizada. Por outro lado, de forma não física, a investigadora tem-se mantido conectada online, através de redes de informação

com a sociedade angolana e a sua cultura, partilhando dos seus problemas e conquistas, dos seus valores e práticas no terreno e tem mantido contato com as pessoas que conceptualizaram, realizam e frequentam o PAAE o que possibilitou uma descrição mais densa da situação. Pretende-se assim, com esta investigação não só conhecer os arranjos organizacionais que se estabelecem no âmbito do PAAE, os parceiros e os indivíduos beneficiários, como também, a comunidade, a cultura onde estes se encontram inseridos e os respetivos impactos do programa. Tal como refere Geertz (1989)

praticar etnografia não é somente estabelecer relações, selecionar informantes transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um diário e assim por diante. Mas não são estas coisas, as técnicas e os procedimentos determinados, que definem o empreendimento. O que define é o tipo de esforço intelectual que ele representa: um risco elaborado para uma descrição densa (p. 15). Em suma, é desta forma que se pretende: (1) realizar uma análise holística ou dialética da cultura entendida, (2) considerar os atores sociais participantes, ativos e dinâmicos na modificação das estruturas sociais para o desenvolvimento e (3) revelar as relações e interações significativas de modo a desenvolver a reflexividade sobre a ação.

Admite-se que a realização de um estudo qualitativo apresenta diferentes limitações e cabe ao investigador ter consciência das mesmas de forma a minimiza-las. Como refere Stake (2007) uma investigação qualitativa possui um elevado (1) grau de subjetividade, pois muitas vezes a ânsia de encontrar respostas às questões iniciais acabamos por encontrar razões para formular mais questões adicionais. A subjetividade acaba por ser um elemento essencial para a compreensão do objeto de estudo, pese o facto de que estamos a lidar com humanos, no entanto, poderá ser erradamente conduzida quando não há consciência da limitação intelectual do próprio investigador e/ou dos fracos métodos selecionados para a condução da investigação. De forma a minimizar este risco há a preocupação de se concretizar um processo alargado de triangulação no que respeita a: métodos, estratégias de recolha de dados, dados, fontes de dados, sujeitos e respetivas asserções. Os contributos que um estudo qualitativo pode vir a dar podem ser (2) lentos e tendenciosos uma vez que, por vezes, é necessário muito tempo para que o investigador se aperceba do que está realmente acontecer, quer a nível do contexto quer a nível de política nacionais e internacionais como é o caso. Tais (3) resultados compensam muito pouco o avanço da prática social, no entanto, é com pequenos passos, pequenas evidências, diminutas asserções que poderão indicar o início de outros caminhos, de tomadas de decisões, de formas de pensar com efeitos a longo prazo, são estes pequenos contributos que poderão manter a chama acesa da esperança e levantar-nos da inércia apatia social. Os (4) riscos éticos são substanciais pois, por vezes, por exemplo, no

terreno procedimentos de proximidade entre o investigador e participantes não coincidem com uma narrativa final distante, a divulgação das entidades participantes ou o não respeito pelo próximo. Desta feita cabe ao investigador ponderar a sua ação, desenhar de forma respeitosa a sua intervenção, quer no terreno na observação e recolher dos dados, quer a ação de análise dos dados e respetivas fontes.

b) Procedimentos

Neste sentido as “metodologias qualitativas privilegiam dois modos de investigação: o estudo de casos e a comparação, ou estudo multicasos” (Lessard-Hébert, Goyette & Boutin, 2005, p.167) processo decorrido nesta pesquisa. No Quadro 5 apresenta-se o quadro geral do trabalho de campo, ou seja, a estratégia de investigação em harmonização com as técnicas da recolha de dados.

Quadro 5 – Quadro geral do trabalho de campo

Objetivos da pesquisa Questões de Investigação Estratégia / modos de

investigação

Técnicas de recolha de dados e participantes 1ºM omento (2 01 3) Pretende-se conhecer em profundidade o objeto de estudo e o que ele tem de específico de forma a documentar essa singularidade

(1) Identificar as primeiras dimensões e categorias de análise deste caso a ser usado na pesquisa extensiva; (2) Responder a uma questão de partida;

- Como é que as parcerias que se têm vindo a estabelecer entre o governo angolano e as empresas, no âmbito do PAAE, poder-se-ão caracterizar como práticas de cooperação para o desenvolvimento?

Estudo Exploratório (Estudo de caso intrínseco) -Entrevistas semiestruturadas (1) Governo nacional; (2) Governo local; (1) Coordenadora (Empresa); (2) Alfabetizadoras do PAAE 2ºM omento (2 01 5) Pretende-se compreender em profundidade o objeto de estudo tendo em vista o desenvolvimento de uma Teoria. (1) Estabelecer um percurso padrão que represente o episódio escola na vida dos adultos que agora têm interesse na alfabetização. (2) Identificar os obstáculos/contratempos no acesso da escola na voz dos adultos.

- Quais os obstáculos que, em tempos, se afiguraram aos participantes no acesso à escola?

Estudo das Narrativas

(Narrativas de Episódio)

- Entrevistas narrativas de episódio (15) Adultos interessados na alfabetização

A – Identificar em que consiste a parceria instituição- Estado para o desenvolvimento, aferir o tipo de trabalho e respetivos entendimentos dos atores envolvidos.

B – Reunir contributos que permitam conceptualizar linhas referenciadoras, enraizadas culturalmente, que melhor possam explanar a dinâmica de cooperação para o desenvolvimento pós-2015.

A.a – O que é o PAAE, que políticas de funcionamento, de sustentabilidade, métodos, instrumentos de trabalho e resultados é que se destacam nas diferentes instituições parceiras?

A.b – Quem são os atores envolvidos e quais as intenções subjacentes ao concretizar tais parcerias?

A.c – O que é a parceria instituição-Estado no âmbito do PAAE, que entendimentos existem sobre a mesma e quais as vantagens e desvantagens no desenvolvimento desta dinâmica para cada instituição?

B.a – Que evidências se destacam, no âmbito da alfabetização, produzidas por este tipo de parceria que possam ser entendidas como catalisadoras da eficácia do desenvolvimento?

B.b – Que característica definirão uma prática de cooperação para o desenvolvimento Pós-2015? Estudo Extensivo (Estudos múltiplos de caso) - Entrevistas semiestruturadas (1) Governo nacional; (3) Governo local;

(3) Coordenadora (Igreja, ONG e Empresa);

(1) Sociedade Civil (EPT) (1) Consultora do MED

- Entrevistas coletivas

(2 grupos) – Alfabetizandos

- Análise documental:

-Documentos sobre as instituições e organizações estudadas

A presente investigação decorre em dois momentos distintos quer em tempo de realização, quer em objetivos atingir. Por um lado, num primeiro momento, realizou-se em 2013 a recolha de dados para um estudo de caso intrínseco (Stake, 2007) sabendo que o que estava em causa era

o conhecimento aprofundado de uma situação concreta no que ela tem de específico e único. Não se estuda o caso em apreço pelo que ele representa ou ilustra, nem se trata de compreender uma construção abstrata ou um fenómeno geral. O que interessa é a análise de uma situação singular justamente no sentido de documentar essa singularidade (Afonso, 2014, p.75).

Para além deste objetivo, pretendia-se dar um passo exploratório sobre uma situação real e sobre as quais há pouca informação e investigação, nomeadamente, compreender as parcerias constituídas entre o governo e os seus parceiros no âmbito do PAAE. Pretende- se assim percorrer um percurso qualitativo coerente com a ideia de Stake (1999), quando diz que a realidade não pode ser descoberta, como é nos estudos de lógica quantitativa, mas sim interpretada e construída. Desta forma aspira-se construir conhecimento sobre o caso que se caracteriza: (1) por um fenómeno contemporâneo situado no contexto da vida real, (2) cujas fronteiras entre o fenómeno estudado e o contexto são ténues/não demarcadas e (3) onde se utilizarão fontes múltiplas de dados (Yin, 1975, p.23 apud Lessard-Hébert, Goyette & Boutin, 2005, p.170). O estudo de caso exploratório, neste caso, teve como finalidade definir e/ou afinar as questões para a investigação posterior, fornecendo um certo suporte para a teorização (Meirinhos & Osório, 2010).

Num segundo momento, em 2015, elaborou-se o protocolo de estudo múltiplo de caso, onde o mesmo objeto de estudo é analisado em diferentes contextos/unidades de análise. Como refere Afonso (2014) a “multiplicação dos contextos em estudo destina-se a assegurar uma maior abrangência e plausibilidade na construção de teorias ou generalizações aproximativas mais sólidas” (p.76). Desta forma o caso acaba por adquirir uma perspetiva instrumental (Stake, 2007) pois o estudo pretende alcançar algo mais do que compreender as parcerias constituídas entre o governo e os seus parceiros no âmbito do PAAE, mas pretende também identificar convergências e divergências padrão, formular uma explicação genérica ou se possível uma teoria enraizada (Bogdan &Biklen, 1994). Neste caso, optou-se por analisar as parcerias, no âmbito do PAAE, constituídas entre o governo e três tipos de organizações não estatais, tais como: sector privado (a mesma empresa analisada no estudo de caso intrínseco), uma ONG e uma instituição religiosa.

A presente investigação, tendo o estudo de caso como estratégia, não é uma investigação por amostragem (Stake, 2007), pois não se estuda um caso para perceber outros, o que se pretende é conhecer bem esse caso. Aliás num primeiro momento de pesquisa, o estudo de caso intrínseco foi pré-selecionado, pretendia-se que fosse um caso que: (1) acontecesse em Angola; (2) estivesse relacionado diretamente com a área da educação; (3) estivesse relacionado direta ou indiretamente com a área da cooperação para o desenvolvimento e (4) que os seus resultados fossem pertinentes, não só para as partes envolvidas (por um lado, o investigador e sua academia, por outro, os participantes e os seus governantes) assim como, em certa medida, pudesse contribuir para o enriquecimento dos atuais debates sobre políticas nacionais e internacionais de cooperação para o desenvolvimento. Situação semelhante teve por base o estudo de caso múltiplos, onde a seleção por amostragem não foi considerada, mas houve a preocupação de estabelecer um equilíbrio, variedade de contextos/unidades de análise e que possibilitasse a oportunidade de aprender (Stake, 2007). Neste sentido, foram escolhidas as unidades de análise de acordo com os seguintes critérios: (1) unidades que constituíssem parceria com o governo angolano no âmbito do PAAE; (2) unidades que não fossem organizações/instituições públicas e (3) unidades que não tivessem qualquer espécie de carácter político.

De acordo com a perspetiva de estudo de caso e com base numa metodologia qualitativa, emerge a necessidade de se discutir o carácter holístico do caso. Os estudos de caso à partida são holísticos pois herdam as características da investigação qualitativa, logo é necessário trabalhar o todo, para tentar compreender o fenómeno na globalidade e não tanto as particularidades de cada caso, assim a atenção que se deve dar ao contexto deve ser tanto maior, quanto mais intrínseco for o caso (Stake, 1999). No entanto, nesta pesquisa, consideramos que mesmo optando, numa segunda fase, por um estudo múltiplo de caso com carácter instrumental, considerou-se necessário valorizar o contexto e a opinião do público-alvo sobre o qual recai o nosso objeto de estudo. Isto porque se pretende investigar com os participantes de um contexto que não é o nosso, apesar de o conhecermos, um contexto complexo, um país em desenvolvimento. Assim, as condições contextuais, neste caso, poderão vir a ser pertinentes na investigação, pois tratam-se de fenómenos sociais complexos (Yin, 2005).

Tal como Stake (2007) afirma, o objetivo de um estudo de caso é a particularização e não a generalização, ou seja, seleciona-se um caso em particular e depois de estudá-lo

ficamos a conhece-lo bem, não por aquilo em que difere dos outros, mas pelo que é pela sua compreensão. Logo este tipo de estudo parece não ter bases para que se possam fazer generalizações, aliás este facto acaba por ser constantemente discutido na literatura a este respeito como sendo uma desvantagem desta estratégia. No entanto, Stake (2007) admite determinadas generalizações, por um lado, as micro-generalizações, que consistem em inferências internas que o investigador pode ir realizando sobre o caso e ao longo do seu desenvolvimento e por outro, as macro-generalizações que representam inferências mais gerais, mas que se limitam ao contributo que poderão assumir para a análise de outros casos não estudados ou para reforçar ou modificar generalizações já existentes.

O problema da generalização de um estudo qualitativo é que as suas declarações são sempre sobre determinados contextos (Flick, 2005). Neste sentido, “a questão deve pôr- se mais em termos de transferibilidade para outros contextos” (Meirinhos & Osório, 2010) uma vez que de acordo com a experiência de cada leitor, estes ao estarem a par de outros casos idênticos, poderão acrescentar o conhecimento deste caso a um outro sobre contextos idênticos e assim construírem as suas asserções que poderão, por exemplo, modificar antigas generalizações.

Quando as pessoas aprendem ao receber (…) generalizações explicadas de outras pessoas, como atrás foi referido, quando fazem generalizações com base na sua experiência, Stake (2007) identifica-as como sendo generalizações naturalistas. Portanto, as “generalizações naturalistas são conclusões tiradas através do envolvimento pessoal nos assuntos do quotidiano ou através de uma experiência vicária tão bem construída que a pessoa sente como se lhe tivesse acontecido a si própria” (Stake, 2007, p.101). Neste sentido, segundo o autor, o investigador deve saber o quanto deve organizar as suas análises e interpretações para produzir asserções, de modo a fornecer informação adicional às generalizações naturalistas do leitor. Com esta intenção, o presente estudo pretendeu seguir: (1) um caminho de pesquisa cuidado, procurando preservar as múltiplas realidades, mantendo as diferentes perspetivas dos participantes e respeitando uma disposição émica e sensível aos contextos; (2) descrever cuidadosamente todo este percurso realizado; (3) realizar um estudo múltiplo de caso, envolvendo várias replicações de um estudo de caso simples em outros contextos (4) procurou refletir e realizar tais asserções e (5) procurou desenvolver oportunidades de experiências vicárias ao leitor, nomeadamente: (a) proporcionar ao leitor a oportunidade de conhecer melhor o contexto na voz dos participantes, informação recolhida através de narrativas episódicas, que

relatam as suas experiências vividas em relação ao episódio escola; (b) como também, através de pequenas decisões de pesquisa sugeridas por Stake (2007) como: fornecer dados em bruto adequados anteriormente à interpretação para que os leitores possam considerar as suas próprias interpretações alternativas, entre outras, descrever os métodos