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1. Equipamento de mergulho: Diálogo situado para (co)operar para o desenvolvimento

1.6. Traços de um modelo integrado de análise da problemática em estudo

Os padrões sociais de comportamento resultam da ação individual dos cidadãos, pois a unidade elementar da vida social é a ação humana individual, neste sentido, para se conseguir analisar instituições e políticas públicas é necessário mostrar como elas emergem e resultam da ação e interação entre indivíduos (Fortis, 2010) e das liberdades que estes evidenciam para atuar para o desenvolvimento.

O fenómeno da cooperação tal como o da educação são sistemas extremamente complexos, uma vez que contam com a envolvência de pessoas, de grupos, de relações entre pessoas. Neste sentido, é a natureza do objeto que obriga a elaboração de um sistema/paradigma de análise mais complexo (Sousa, 1997) de modo a examinar todas as dimensões que o constituem.

No âmbito de um paradigma complexo na qual a realidade que se pretende analisar se insere, assume-se que, uma maior eficácia da sua análise será conseguida com o cruzar de diferentes conceitos e perspetivas teóricas, nomeadamente: (1) a de desenvolvimento situado concertado na capacidade humana (Sen, 2003; Zaoual, 2006); (2) a de cooperação dialógica (Sennett, 2012) e a de (3) governança pública (Kissler & Heidemann, 2006). Desta forma pretende-se conseguir uma interpretação mais holística dos fenómenos sociais que fundamentam e legitimam as políticas de desenvolvimento, nomeadamente, as práticas de CD pós-2015.

Estamos em condições, portanto, de tracejar um modelo integrado de análise que permita a leitura e análise da realidade com base em contributos das referidas lentes teóricas. Perante atores e filosofias de ação distintas, este modelo é também regulado pelo princípio dialógico de Edgar Morin (2005) que afirma que há forças opostas ou contrárias que atuam e que são, por necessidade de funcionamento do real, ao mesmo tempo, complementares, isto para dizer que, apesar de áreas e atores distintos que parecem ser concorrentes (Estado, sociedade e mercado), na realidade quando dialogam, eles se complementam na ação e nos respetivos resultados.

Fonte: Estruturado pela autora Figura 4 – Modelo teórico integrado de análise

Imbuídos num pensamento glocal (Ngoenha & Castiano, 2011) capaz de responder à diversidade e desigualdade de cada contexto, partimos do pressuposto que a conceção e progresso de políticas públicas de desenvolvimento nacional são influenciadas por um nível superior através de injunções internacionais, assim como, por um nível inferior através de demandas locais, remetidas pelas suas gentes e instituições.

Com base numa primeira leitura flutuante, análise de alguns dados e respetiva revisão de literatura, considera-se que a análise das políticas públicas de desenvolvimento pós-2015 assenta numa noção de desenvolvimento situado sustentável concertado na capacidade humana. Esta noção permite a análise do Homo Situs como um compositor que resiste a diversas pressões de desenvolvimento externo e as recompõe no seu local, adapta não só determinadas influências como se adapta a si próprio de acordo com o seu contexto e sua cultura. Neste sentido, o Homo Situs (a) conhecedor profundo do seu local, (b) ao ser devidamente capacitado (c) reforça o seu conjunto capacitário constituído pelas liberdades instrumentais, fator decisivo para que este venha a ser a alavanca de um desenvolvimento situado sustentável. Um desenvolvimento que contribuirá ou, no mínimo, influenciará o nível nacional e global, assim como o global influenciará o local. De referir que estas relações devem ser analisadas à luz de um pensamento complexo,

pois (1) as relações macro/micro, base/topo, topo/base não são lineares, mas sim paradoxais e caóticas, (2) há interações que acontecem ao mesmo tempo, nos dois sentidos e (3) o local contém em si o global e o global contém em si o local, como refere Santos (2006) ao definir globalização hegemónica como o processo através do qual um dado fenómeno ou entidade local consegue difundir-se globalmente e ao fazê-lo, adquire a capacidade de designar um fenómeno ou uma entidade rival como local.

Neste sentido será útil arquitetar a estrutura constituída por três sítios (Panhuys, 2006) (a) o mega sítio onde se alocam as instituições internacionais, política mundializada, políticas de cooperação internacional para o desenvolvimento; (b) o macro sítio onde se encontram as instituições governamentais, macropolíticas – ação do Estado e (c) o meso sítio onde se alocam diversas cidadanias ativas (instituições religiosas; ONG; empresas), de natureza diversificada, com intuitos diversos e que interagem em parcerias sociais para trabalhar em conjunto num assunto e/ou para resolver um problema comum que os afeta. Assim sendo, a instituição governamental Estado que se situa a nível macro (1) ascende ao nível mega e dentro do seu programa e enquadrado pelas políticas globais assume compromissos internacionais, neste caso, compromissos na área da educação (Educação Para Todos, ODS, entre outros); (2) estes compromissos, agora num nível macro acabam por influenciar o Estado na conceção e evolução de políticas de desenvolvimento quer a curto e/ou a longo prazo. Com o intuito de concretizar as mesmas políticas, a instituição governamental Estado desdobra-se ao nível meso e através das direções provinciais de educação, passa a trabalhar horizontalmente, com os demais parceiros num projeto comum em constante diálogo sobre a ação desenvolvida e sobre a melhor forma de agir. Às funções do Estado, comuns a todos os parceiros, acrescem apenas a função regulatória de todo o processo no sentido de assegurar a governação do bem comum público que é o acesso e a qualidade da educação de todos os jovens e adultos.

Nesta ação de cooperação dialógica entre esta rede local de parceiros, exige-se simultaneamente, da parte dos mesmos, uma ação digna, ética e comprometida, desenvolvendo para tal as: (1) habilidades dialógicas; (2) uma disposição ética; (3) o respeito pelo compromisso, responsabilidade e preocupação com respetivos impactos; (4) que desenvolvam uma ação coordenada e eficaz e que tenham (5) um pensamento e disposição em Educação para o Desenvolvimento, tudo de forma a contribuir para o desenvolvimento num ato de envolvimento.

Através de uma perspetiva de governança pública analisa-se esta dinâmica de interação política entre os diferentes agentes de desenvolvimento, mas uma governança com governo, onde indivíduos, instituições públicas e privadas administram problemas comuns, de forma horizontal, com a participação e ação do Estado imbuído num papel cooperativo para além do regulativo. O Estado no seu papel de parceiro, atua através de parcerias sociais e/ou estratégicas, constituindo redes interorganizacionais e formando nós diversos que representam diferentes tipos de parceria com ou sem Estado como parceiro.

Por fim, neste modelo integrado de análise entende-se que os resultados de tais parcerias sociais e/ou estratégicas do desenvolvimento local são impulsionados a nível meso e mais tarde ao nível macro pela mão da instituição em comum (o Estado) que ambiciona cumprir os objetivos nacionais. Por sua vez, o Estado a nível macro levará tais resultados ao nível mega respondendo assim aos compromissos assumidos internacionalmente. Este modelo que interliga diferentes atores, alocados em diferentes níveis políticos e sociais que constituem diferentes arranjos organizacionais, evidencia um abrangente e integrador potencial esclarecedor do fenómeno em estudo. Considera-se um sistema complexo que poderá obter resultados significativos no âmbito da cooperação internacional em contextos semelhantes, desde que asseguradas as condições iniciais de base e culturais.

Num ano (2015) tão fecundo em reflexões, análises e conclusões no que refere, às temáticas do desenvolvimento, da educação e da CD, outras perspetivas poderiam ser selecionadas para a construção das nossas lentes teóricas, no entanto, considerando não só a atitude investigativa adquirida, assim como, a metodologia adotada, foram estas as selecionadas respeitando o objeto de estudo e os dados recolhidos e analisados provindos do terreno.

Capítulo II