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1. Equipamento de mergulho: Diálogo situado para (co)operar para o desenvolvimento

1.2. Do subdesenvolvimento ao pós-desenvolvimento – um trilho resiliente

1.2.2. Sociedades a Sul uma visão diacrónica do conceito de desenvolvimento e

O conceito de desenvolvimento tem estado na agenda de África desde há muito tempo. Os maiores desafios deste continente assentam, essencialmente, num desenvolvimento desigual dentro e entre os países e nas prementes questões de pobreza extrema na África Austral e do continente como um todo (Müller, Mekgwe & Mhloyi, 2013). Como referem os autores a pobreza tem sido uma das grandes causas do subdesenvolvimento, pois contribui para que as suas vítimas sofram exclusão social e repressão política, assim

12 Michel Chossudovsky (2003). A globalização da Pobreza e a nova ordem mundial. Editorial Caminho:

como, são também vítimas de desastres ecológicos e doenças. As pessoas pobres são cidadãos atormentados pela perda de dignidade e liberdade, muitas vezes incapazes de participar efetivamente nos processos políticos, económicos, legais e sociais dos seus países.

São necessários esforços pró-ativos de forma a construir novas capacidades e recursos para o desenvolvimento em África, muita da convencional e exibida sabedoria a respeito do desenvolvimento africano e da pobreza a ela associado, é muitas vezes um equívoco e prejudica uma possível evolução (Sundaram, 2008). Desta feita, segundo este autor é necessário um maior espaço político para os governos africanos escolherem/conceberem, as suas próprias estratégias de desenvolvimento, bem como desenvolver e implementar políticas de desenvolvimento mais adequadas.

O conceito de desenvolvimento foi assumido pelo ocidente de forma científica no pós 2ª Guerra Mundial (1945), não só devido à necessária reconstrução europeia do pós-guerra, assim como, devido ao processo de independência das ex-colónias, aparecendo como um conceito eurocentrado ou ocidentalizado, baseado em revoluções materiais e nos valores da revolução industrial.

Nesta altura, por influência das sociedades industriais, através de uma abordagem economicista, o conceito de desenvolvimento estava associado à inovação tecnológica, ao aumento da produtividade, ao industrialismo, ao enriquecimento a partir da acumulação de capital, ao progresso material, ao consumismo, ao etnocentrismo, ao antropocentrismo, ao urbanismo, ao individualismo e ao racionalismo (Ribeiro, 2013). Em suma, o conceito de desenvolvimento era tomado como sinónimo de crescimento económico e de rendimento nacional.

Foi este o conceito base que em tempos foi apropriado pelos nacionalistas e independentistas na década de sessenta/setenta no quadro da situação colonial, revestido de um forte carácter emancipatório e de esperança. Aliás o desenvolvimento e o crescimento foram vistos pela Conferência de Bandung, pelo movimento dos não - Alinhados e pelos movimentos de libertação como uma forma de emancipação e direito ao desenvolvimento (Sansone & Furtado, 2014).

Foi nesta altura que os países industrializados passaram a ser considerados como países desenvolvidos e os não industrializados como países subdesenvolvidos. Uma classificação concretizada pelos países do ocidente que tinham como objetivo principal

resolver os problemas económicos dos países subdesenvolvidos. Há uma distinção entre estes países no âmbito desta abordagem economicista, pois no que refere aos países subdesenvolvidos estes apresentam abundancia de fatores produtivos e mão-de-obra (não qualificada), relacionada com o setor primário, cuja produção é dirigida, essencialmente, ao mercado externo sem produzir poupança nem investimento no país (Ribeiro, 2013), mas que acaba por atrair os países do ocidente.

Assim a análise destes países subdesenvolvidos baseava-se, nesta altura, nas ideias de Rostow (1960), ou seja, todas as sociedades seguiriam um percurso padrão de desenvolvimento económico e que os países em desenvolvimento estariam numa primeira fase da sua linha de progresso e os desenvolvidos numa fase posterior. Esta era a base da Teoria da Modernização. As “sociedades ocidentais foram consideradas como estando no topo da civilização, enquanto outras, consideradas atrasadas, eram convidadas a emular para atingirem o mesmo topo” (Milando, 2013, pp.47-48). As críticas acusam a teoria de ser desatualizada, eurocêntrica e que apresenta um modelo de desenvolvimento para nações ricas, embora os próprios países do ocidente tenham realizado percursos de desenvolvimento distintos. Consequentemente, os países mais pobres teriam de abandonar os seus modos de agir e pensar, acomodando-se à modernidade, seguindo o exemplo dos países ocidentais. Assim, nesta altura o conceito de desenvolvimento, no que refere aos países subdesenvolvidos, caracterizava-se por uma “economia estancada e da sua sociedade tradicional passaria pelo estímulo ao crescimento. Desenvolvimento equacionava-se, então, como crescimento económico” (Gómez, Freitas & Callejas, 2007, p.20).

Com esta ideia de desenvolvimento, emergem autores como Andre Gunder Frank13que

decide estudar a realidade do subdesenvolvimento, nomeadamente na América Latina opondo-se à modernização e tentando compreender o tipo de impacto que os fatores externos teriam nas economias do chamado terceiro mundo. Era uma visão assente na ótica de exploração, na relação que se estabelece entre centro-periferia e defendia que a causa do subdesenvolvimento dos países da periferia estaria na sua relação dependente estabelecida com os países mais desenvolvidos, os países do centro. As críticas assentavam na ideia de que em vez de apoiar a indústria dever-se-ia apoiar as

13 O autor apresenta esta perspetiva no prefácio de um livro de economia intitulado Reflexões sobre a Crise

necessidades básicas dos cidadãos ou financiar as infraestruturas. Estas críticas, entre outras, apontam para as consequências do terminar com as barreiras comerciais a nível mundial que poderia contribuir para o aumento do custo de vida do cidadão. Os países subdesenvolvidos com base nesta teoria ficaram por desenvolver porque os recursos eram explorados a baixo custo e os lucros se destinavam aos países desenvolvidos (Ribeiro, 2013).

Contudo os africanos nomeadamente, Wilmot Blyden um dos fundadores do pan- africanismo14, se mostrou convicto de que a “modernização” seria fundamental para que

os países colonizados pudessem deixar de ser colonizados e pudessem almejar a condição de autodeterminação e de independência (Sansone & Furtado 2014). Tal desejo por independência é elucidado na literatura africana da época por Amílcar Cabral e ou Agostinho Neto, poetas, guerrilheiros e estadistas, que usaram a sua inspiração poética como “meio mobilizador do povo (…) para o empreendimento maior que obrigaria, finalmente, o colonizador a ceder a independência tão almejada” (Esperança, 2002, p.56), assim como, paralelemente, servia para ludibriar a vigilância do regime fascista15. Os dois

poetas, guerrilheiros e estadistas africanos, sofridos da sangrenta luta16 e de longas

esperas, nos seus poemas recorrem à imagem de “mãe” para representar a sua pátria,

14 Pan-Africanismo é mais do que uma ideia, não nascida em África, mas idealizada e dirigida, nos

primeiros anos por negros norte-americanos e negros antilhanos, em 1900, com o intuito de apoiar algumas comunidades africanas na altura vítimas de expropriação das suas terras. Este movimento foi extremamente importante na altura pois era o único meio de transmitir os idealismos africanos. Seu grande mérito foi ter proporcionado aos africanos a oportunidade de tomar uma iniciativa na busca de soluções para seus problemas. O seu erro à partida foi ter pensado alcançar um tipo de união africana impossível de se concretizar, pois os partidos da altura queriam constituir os Estado Unidos da África, unindo o continente num só país. O que é certo depois de uma boa parte dos governos, após os anos 60, conseguirem o poder dos seus países independentes não quiseram abdicar dele para constituir uma só África. Não obstante, foi a primeira vez através deste movimento que o mundo ficou a saber que os negros também têm direitos e que sabem lutar pelos mesmos, embora ainda hoje exista quem pense o contrário que os africanos mostraram ao mundo. Os seus fundadores foram Edward Wilmot Blyden (1832-1912), William Burghardt du Bois (1868-1963) e Kwame Nkrumah (1909-1972). Retirado de http://rjoliveira.blogspot.pt/2011/02/o- movimento-pan-africanista.html

15 “Adeus à Hora da Largada” - “Minha mãe/(todas as mãe negras/cujos filhos partiram)/ tu me ensinaste a esperar/ como esperaste nas horas difíceis (…). Amanhã/ entoaremos hinos à liberdade/ quando comemorarmos/ a data da abolição desta escravatura” (Agostinho Neto).

“Regresso” - Mamãe Velha, venha ouvir comigo/ O bater da chuva lá no seu portão./ É um bater de amigo/ Que vibra dentro do meu coração (…). / Dizem que o campo se cobriu de verde/ Da cor mais bela porque é a cor da esperança/ Que a terra, agora, é mesmo Cabo Verde./ - É a tempestade que virou bonança.../ Venha comigo, Mamãe Velha, venha/ Recobre a força e chegue-se ao portão/ A chuva amiga já falou mantenha/ E bate dentro do meu coração! (Amílcar Cabral)

16 Para o presidente Agostinho Neto a luta armada era a resposta dos nacionalistas angolanos contra a

colonização portuguesa. Estava profundamente convencido de que o colonialismo português não cairia sem luta (Esperança, 2002, p.57)

Angola ou Cabo-Verde, para ovacionar a tão desejada boa nova pela qual tanto lutaram - a independência, certos de que com ela viria o desenvolvimento.

Embora todos os nacionalistas e independentistas africanos solicitassem o progresso/ desenvolvimento para os seus países, o certo foi que “a forma de materializar esse desiderato, ou seja as políticas económicas e as teorias económicas que sustentavam tais políticas não eram as mesmas” (Sansone & Furtado, 2014, p.99). Facto que contribuiu para que se constituíssem estados pós-coloniais, uns que afloraram mais cedo do que outros, mas que a maioria se reuniu no quadro da Organização da Unidade Africana (OUA), não só para conseguir as condições para que o desenvolvimento se desse, assim como, trabalhar para a construção da respetiva nação.

Ao desenvolvimento poder-se-á acrescentar um outro produto do ocidente, como refere um estudo de Capoco (2013), o nacionalismo a partir do qual se expandiu através do domínio euromundo dos Estados e Nações da Europa, no âmbito do domínio colonial. Em África o nacionalismo acabou por originar o principal sentimento que motivou revoltas, fundamentou atitudes e em vários casos despoletou violência praticadas contra os domínios e jurisdição europeus, para a constituição dos novos Estados no continente. Segundo este autor, se na Europa o processo evoluiu no sentido de a nação ser criadora do Estado e este, por sua vez, desenvolveu o nacionalismo sublinhando os seus valores históricos e interesses nacionais, em África o processo foi inverso e teve variações de acordo com as especificidades de cada povo. Desta forma, rapidamente, a construção da unidade nacional passou a ser uma prioridade, tanto a nível dos discursos, como elemento legitimador de golpes de estado que foram sucedendo pelo continente conseguindo mesmo um significativo desenvolvimento económico que se traduziu também em melhores condições de vida dos cidadãos. Com a crise mundial nos anos 80, os problemas internos de muitos Estados pós-coloniais, que originaram golpes de estado e guerras civis, contribuiu para um retrocesso nas economias e nas condições de vida para níveis anteriores à independência (Sansone & Furtado, 2014).

Muito antes da conquista da independência política e devido aos laços com o movimento pan-africanista, recorrendo à história de África (UNESCO, 2010), verifica-se que a cooperação e a integração regionais haviam sido reconhecidas como indispensáveis a qualquer estratégia de descolonização económica. Assim, foi na primeira conferência dos Estados Africanos Independentes (na cidade de Acra – Gana em 1958) que decidiram fundar um Comité para a Economia e Pesquisa em cada país, assim como uma Comissão

Conjunta para Pesquisa Económica. “A tarefa destas organizações era a de consolidar as políticas nacionais de desenvolvimento económico, promover as trocas comerciais e criar uma política industrial comum, bem como coordenar o [planeamento] (…) económico dos diferentes Estados, incluindo alcançar um mecanismo de cooperação económica em escala continental” (UNESCO, 2010, p. 489). Mais tarde, a maioria dos Estados independentes recomenda a formação de um Conselho Africano de Cooperação e Economia, de um Banco Africano de Desenvolvimento e de um Banco Comercial Africano. Neste sentido, foram-se formando grupos para trabalharem em propostas com o intuito de contribuir para a concretização de tais recomendações, sendo a primeira organização multinacional africana (criada em abril de 1958) a Comissão Económica para a Africa (CEA) da ONU, cuja missão consistia em lançar o processo de desenvolvimento económico africano, inclusive nas suas dimensões sociais, facilitando e integrando-se a ele. A Comissão deveria acompanhar e reforçar as relações económicas dos países e territórios do continente, tanto entre si como com outros países do mundo. Cinco anos mais tarde, era fundada a OUA com o objetivo de coordenar e intensificar a cooperação, intuindo oferecer melhores condições de vida aos povos da África, eliminar o colonialismo em todas as suas formas e corroborar a cooperação internacional (UNESCO, 2010, p. 490). As duas instituições foram convidadas a trabalhar em conjunto, mas foi a CEA da ONU que ficou de promover a cooperação e integração das economias do continente. Com este intuito logo se dividiu o continente africano em quatro sub- regiões – África Oriental e Austral, África Central, África Ocidental e África do Norte – atribuindo a cada região um escritório sub-regional atuando como antena propagadora do seu secretariado. Não obstante, a CEA acabou por encontrar muitas dificuldades de atuação, com a sua assistência técnica especializada, uma vez que não estavam reunidas as condições para esse trabalho, não só pela falta de recursos, pelo fardo das estruturas colonialistas, pela inexistência de mecanismos institucionais que assegurassem a participação dos governos locais. Neste sentido, os resultados foram escassos comparado com a dinâmicas das sub-regiões, que atuaram essencialmente no sentido do desenvolvimento económico e que acabou por não se espelhar no bem-estar comum e numa verdadeira melhoria das condições de vida dos seus habitantes (UNESCO, 2010). Evidencia-se aqui, portanto, uma primeira tentativa falhada de cooperação para o desenvolvimento, um desenvolvimento que residia num frágil crescimento sem bases institucionais e governamentais asseguradas pelo parceiro.

Nesta reflexão diacrónica sobre África constata-se que o período que se seguiu à proclamação da independência, foi conturbado do ponto de vista político, económico e social17 o que afeta o desenvolvimento sobretudo caracterizado por crescentes

dificuldades económicas. Os obstáculos a esse desenvolvimento são, por um lado, de ordem externa nomeadamente sob um quadro de mundialização crescente da economia internacional que condiciona cada vez mais diretamente a vida de cada país e por outro lado, de ordem interna referentes às características próprias de cada estrutura social que não é apenas o mero reflexo do exterior (Torres, 1986). Segundo o professor, a principal causa não foi só a deterioração dos termos de troca, mas sim relacionado com a década anterior e a diminuição do volume das exportações. É de referir que, também as novas teorias protecionistas e sobretudo as restrições comerciais impostas pelos países industrializados em crise, teriam dificultado a colocação dos produtos africanos nos mercados europeus e que mais tarde foram amenizadas pelos acordos de Lomé18.

Esta discussão, de que as causas do não desenvolvimento de África seriam internas, externas, assim como formas de convergência e a formulação de soluções para o desenvolvimento africano, acabaram por ser particularmente, debatidas nos grandes balanços internacionais elaborados a partir de 1980, em que o primeiro terá sido registado no Plano de Ação de Lagos (PAL). Um plano de ação para o desenvolvimento económico e social que, passamos aqui a designar por PAL. Este desenhou um quadro não muito otimista sobre a obra realizada em África no período 1960-1980, concluindo que o continente teria sido incapaz de atingir qualquer taxa de crescimento significativa ou a um nível de bem-estar satisfatório durantes esses vinte anos (Torres, 1986). Sendo assim, seria necessário reestruturar a economia, com base numa autonomia que implicasse a organização comum dos recursos e um desenvolvimento autónomo e autocentrado, ideia esta que cinco anos mais tarde foi reforçada pelos chefes africanos em Adis Abeba (1985)19, agora com a tónica assente na responsabilidade interna.

17 Para mais informação sobre estas matérias consultar Meyns, 1984; Galli, 1987; Schoor, 1989; Correia,

1991 e 1996; Ferreira, 1992, 1993 e 1999; Kajibanga, 1996; Anstee, 1997; Anjos, 1998; Guimarães, 1998; Hare, 1998; Jorge, 1998; Sousa, 1998; Carvalho, 2002; Carvalho et al. 2006; Vidal & Andrade, 2008.

18 Onde se “acaba por considerar parcialmente esta situação ao criar um fundo especial de estabilização de

exportações, o STABEX” (Ferreira, Faria & Cardoso, 2015, p.14).

19 Declaração adotada na XXI Sessão Ordinária da OUA (julho de 1985) em Adis Abeba, onde “os chefes

de Estado reconhecem implicitamente a justeza de algumas críticas ao próprio processo interno africano e desde logo, à própria acção dos seus dirigentes. Apesar de referirem que África foi afetada pela «profunda recessão mundial», por «um sistema de relações económicas internacionais injusto» e por uma «seca

É também nesta década, essencialmente a partir de 1981, que surgem novas abordagens do problema do desenvolvimento africano, especialmente através das análises do Banco Mundial e os seus conhecidos relatórios anuais. O primeiro é conhecido por Relatório Berg (1981), elaborado a pedido dos ministros das finanças africanos, que pretendiam que este se inspirasse no PAL. Este relatório caracterizou-se por gerar muita polémica em torno das recomendações que emitiu e por consequência, os efeitos desta polémica refletiram-se em alguma autorreflexão, por parte dos países africanos, no sentido de analisarem o percurso realizado até então com base em quem eram e no que tinham, uma vez que, em Adis Abeba o discurso dos chefes de Estado acabou por ser diferente sendo um discurso mais autocrítico.

Nesta altura que o conceito de desenvolvimento começou a ser abordado através de uma perspetiva mais ampla, através do recurso a novos indicadores que não só o PIB, isto porque, não basta medir os incrementos constantes do nível de renda traduzido num aumento dos índices globais de produção para se criar as condições propícias para se atingir o desenvolvimento (Caetano, 2012). Parece fundamental avaliar também como tais incrementos são distribuídos, ou seja, o aumento da capacidade produtiva (economia do crescimento) não significa automaticamente um aumento do nível de bem-estar20 das

pessoas (economia do desenvolvimento) (Caetano, 2012).

Foi com base nesta ideia de desenvolvimento, considerando agora a influência na vida das pessoas e do seu bem-estar, que começam a emergir as Teorias do Desenvolvimento Alternativo na década de 90, na tentativa de resolver problemas que surgiam no contexto do desenvolvimento, anteriormente fundamentado numa base económica. São abordagens que vieram introduzir novos discursos21, novas práticas alternativas e

persistente», não deixaram também de admitir «certas insuficiências ao nível das políticas, o que conduziu a maior parte dos países à beira do colapso económico»” (Torres, 1986, s.p.)

20 Gabriel Mota (2009), seguindo esta ideia, realizou um estudo que demonstrou como a utilização de

indicadores de bem-estar subjetivo podem representar uma mais-valia face à análise tradicional do bem- estar na economia. Fazendo uma análise histórica, comparativa (com outras abordagens, nomeadamente com a ortodoxia e com a tese das “capabilities”) e empírica, concluiu que a felicidade (observada através de indicadores subjetivos) traz nova informação e permite obter novas conclusões, não sendo substituível por qualquer outra abordagem já existente no domínio do Welfare Economics.

21 Como é o caso da International Foundation for Development Alternatives com o seu principal projeto

“Third System Project” que coloca o foco na escala local e nas comunidades e vem questionando a desordem económica internacional ou a regeneração económica local dando primazia às pessoas. Um exemplo de um dos seus dossiers poderá ser consultado em

redefinir os objetivos do desenvolvimento com uma outra interpretação enfatizando padrões de vida como “redução de pobreza, distribuição equitativa de rendimentos, baixa mortalidade infantil, aumento da esperança de vida, acesso à educação, ao emprego e à habitação (…) um desenvolvimento que, sem negligenciar os factores materiais, centra- se sobretudo no potencial e nas capacidades do indivíduo e na sua interação com os seus semelhantes e grupos sociais” (Milando, 2013, pp.51-52).

Esta ideia de desenvolvimento deu lugar, entre outras, às seguintes adjetivações, profundamente baseadas nas críticas à prática do desenvolvimento económico, nomeadamente: o desenvolvimento humano22- que introduz a ideia de que o intuito do

desenvolvimento é melhorar a qualidade de vida das pessoas, principalmente, as mais vulneráveis; o desenvolvimento sustentável23 - que introduz a ideia que o homem tem de

cuidar da sua casa a terra, baseada numa dimensão ecológica e no saber satisfazer as necessidades humanas do presente não esquecendo as necessidades da futura humanidade; o desenvolvimento comunitário24 e participativo – que introduz a ideia de

22 No início da década de 90 o PNUD e o BM, introduzem no debate sobre o desenvolvimento o conceito

de desenvolvimento humano que defende a ideia de que o seu desafio “é melhorar a qualidade de vida. Especialmente nos países pobres do mundo, uma melhor qualidade de vida geralmente requer uma renda