• Nenhum resultado encontrado

Do ponto de vista dos alunos (segundo os enunciadores)

No documento [ – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 164-167)

3. OS DOCUMENTOS OFICIAIS E OS REGIMES DE VERDADE

5.2 DISCURSOS SOBRE O ENSINO DE FRANCÊS COMO LÍNGUA

5.2.3 O Status da Disciplina de Língua Francesa

5.2.3.2 O Status da Disciplina de Língua Francesa do ponto de vista

5.2.3.2.2 Do ponto de vista dos alunos (segundo os enunciadores)

Para muitos dos enunciadores, os alunos não demonstram tanto interesse e empenho pela disciplina por não identificarem sua importância e por terem certeza de que a mesma não

lhes trará qualquer ônus, ainda que não apresentem um resultado satisfatório. A tese que circula nos imaginários sociais e, portanto, corroborada por nossos enunciadores é de que poucos alunos se comprometem com a disciplina de Língua Francesa. Os argumentos que sustentam essa tese classificam-se semanticamente no domínio de valor concernente ao campo do Pragmático. Apenas um relato faz alusão explícita ao campo do Hedônico.

Ilustraremos nossas análises com os trechos das entrevistas transcritos logo abaixo.

Domínio do Pragmático:

Exemplo 66: Eu acho que 50% gostam”; “alguns não entendem a lógica da língua”; “eu tento falar

da cultura e eles se interessam”; “ infelizmente e os alunos percebem que se ele não passa em francês

ele sabe que vai acabar sendo aprovado”; “os alunos percebendo isso (que o francês não reprova)acabam não tendo muito comprometimento.” (enunciador E)

O enunciador E ressalta que apresentar aspectos culturais aos alunos pode levá-los a se interessar pela disciplina, talvez por essa razão estime que a metade de seus alunos goste das aulas. Relata que o aluno somente atribuirá algum valor àquela disciplina que considerar como útil para sua vida profissional ou pessoal ou que possa impedi-lo de concluir seus estudos, no caso da reprovação. Constata que o fato de a disciplina não reprovar o aluno faz com que ele se esforce e se comprometa menos com os estudos dessa da mesma. Logo, o domínio de valor concernente ao Pragmático parece ganhar força nessa e nas quatro próximas falas.

Exemplo 67: Alguns (alunos) falam comigo que não sabem por que estão aprendendo essa coisa e

dizem que não sabem nem o português”; “os (alunos) que querem aprender vão se esforçar. (enunciador N)

Exemplo 68: Essa aqui eu estudo e essa aqui não serve para nada”; “o aluno sem querer ele

passa”; “eles não gostam de estudar porque não entendem o que estão fazendo ali”; “eles vão e vem

sem nada no caderno”; “muitas vezes o próprio aluno não dá muito valor”; “na própria escola você

escuta: “Poxa, francês”! “O inglês é mais importante!” (enunciador W)

Os enunciadores N e W, ambos da rede municipal, trazem em seus autorrelatos falas reproduzidas por seus alunos em situação de sala de aula em que exprimem a total irrelevância do francês em suas vidas, reiterando assim uma avaliação concernente ao domínio de avaliação Pragmático. O enunciador N relata que seus alunos se queixam de não

164

possuírem amplos conhecimentos de Língua Portuguesa, então, questionam a validade de aprender outra língua.

Podemos fazer um elo entre o que nos diz Bourdieu sobre o conceito do capital cultural e da violência simbólica. Para esse autor, conforme vimos anteriormente, a escola tende a reproduzir os valores da classe dominante. Logo, os alunos provenientes de classes menos favorecidas terão mais dificuldades em se adaptar aos ensinamentos escolares do que os provenientes das classes favorecidas. Os próprios Parâmetros Curriculares apontam para o ensino de Língua Portuguesa voltado para as habilidades de leitura e compreensão de textos e prezam pela apresentação das variantes regionais e das diferentes normas (coloquial, padrão, culta) para que todo aluno tenha acesso a elas e possa utilizá-las em consonância com cada situação de comunicação. Esses mesmos enunciadores acreditam que alguns alunos vão se interessar pelo estudo da Língua Francesa. Todavia, o enunciador W afirma que a própria estrutura da rede municipal leva o aluno a se desmotivar pela aprendizagem devido à facilidade em ser aprovado. Em sua concepção, o aluno não precisa levar caderno nem se esforçar para tirar boa nota, visto que a disciplina não reprova. Esse enunciador retoma ainda marcas dos discursos de nossa sociedade nos alunos e na comunidade escolar em que a Língua Inglesa é a de maior importância.

Exemplo 69: “São poucos aqueles que se interessam.”(enunciador B)

Exemplo 70: “Muitos não se interessam”; “eu acho que as minhas turmas se interessam pelo

francês, uns 50% gostam.” (enunciador R)

Os enunciadores B e R são mais sucintos e somente afirmam que grande parte dos alunos não se interessa pelo estudo da Língua Francesa. Provavelmente, essa falta de interesse esteja baseada nos argumentos citados acima. Todavia, o enunciador R salienta que apesar de os alunos em geral não demonstrarem interesse pela disciplina, pelo menos a metade de seus alunos (50%) se interessa. Talvez aí o domínio do Hedônico – domínio pautado no prazer ou na satisfação proporcionados pela utilização do produto, nesse caso a Língua Francesa – esteja presente implicitamente e esse engajamento dos alunos seja proveniente do fato de terem uma boa relação afetiva com o professor.

Para o enunciador V, conforme o exemplo 71, o despertar do aluno para a disciplina pode ter uma motivação diferente da apresentada por seus colegas. Vejamos o que ele tem a nos dizer.

Domínio do Hedônico:

Exemplo 71: “Eu acho que os alunos curtem mais do que antes”; “não é uma carga pesada como

matemática”; “acho que 40% gostam”; “dependendo da relação que ele (o aluno) tem com o

professor ele vai se dedicar mais ou menos na matéria”; “eles (os alunos) são muito ligados no afetivo, no relacionamento e isso faz com que eles prestem mais atenção na aula.” (enunciador V)

O enunciador V, do colégio da rede federal, estima que em média 40% dos alunos gostam da disciplina. A motivação para esse gostar estaria ligada ao afetivo, ao prazer proporcionado pela relação com a língua. Sendo assim, o julgamento de valor concernente ao domínio do Hedônico se faz presente uma vez que na concepção desse enunciador o engajamento do aluno à disciplina dependerá de quão agradável for sua relação com o professor e com a disciplina. Para ele, a relação professor-aluno será o diferencial para que o aluno se engaje mais ou menos na disciplina.

Avançando em nossas análises, faremos um recorte da opinião dos pais dos alunos em relação à disciplina de Língua Francesa segundo os nossos enunciadores.

No documento [ – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 164-167)