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LEI DE DIRETRIZES E BASES (LDB 9394/96)

No documento [ – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 95-98)

3. OS DOCUMENTOS OFICIAIS E OS REGIMES DE VERDADE

3.4 LEI DE DIRETRIZES E BASES (LDB 9394/96)

Pesquisamos nos sites das Secretarias Estadual e Municipal bem como no site do ministério da educação documentos que retratassem o “modelo” de professor almejado pela instituição, o que se espera dele e/ou como deve ser o perfil do profissional da educação integrante dessas redes. O resultado não foi entusiasmante visto que os documentos que orientam o ensino nessas redes apontam diretamente para o trabalho do professor, ou seja, o profissional encontra uma gama de eixos temáticos/conteúdos que deveria incluir em suas aulas, uma breve explicação sobre a importância do desenvolvimento de um trabalho que priorize a leitura e, muitas vezes, como ele poderia executar o seu trabalho.

Encontramos uma referência ao trabalho do professor no título IV da Lei de Diretrizes e Bases:

TÍTULO IV

Da Organização da Educação Nacional Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:

I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;

III - zelar pela aprendizagem dos alunos;

IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional;

VI - colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade.

Vimos aqui alguns compromissos que o professor tem obrigação de assumir ao fazer parte do corpo escolar. Logo no primeiro item já esbarramos com um problema discutido anteriormente em um episódio particular. Como não há PPP para língua estrangeira na escola e nem há possibilidade de tê-lo devido a sua estrutura, o segundo item também fica prejudicado, pois não é tarefa fácil pensar em um ano de trabalho sem um direcionamento mais profundo sobre a filosofia do estabelecimento de ensino, sobre suas metas e objetivos.

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É notório que a lei não será cumprida na íntegra já que os problemas começam na própria estrutura da rede de ensino e são repassados para a unidade escolar. Parece-nos, para nós professores de línguas estrangeiras, que nossa disciplina não é tida como séria ou que mereça uma maior atenção. Os próprios alunos se queixam do descaso com o aprendizado de línguas estrangeiras na escola. Eles percebem que não há uma organização para que eles consigam, de fato, aprender algo. Essa reclamação está pautada em dois eixos: seja porque em cada série ao alunos aprendem uma língua diferente e não conseguem ampliar seus estudos em nenhuma delas, seja porque o aprendizado de línguas na escola ainda precise passar por muitas mudanças, muitas delas pautadas nos PCNs, visto que muitos alunos passam a vida escolar inteira estudando uma língua e ao término da educação básica tenham a impressão de nada terem aprendido.

Todavia, as atribuições descritas nos itens III, IV, V e VI são pertinentes e passíveis de serem cumpridas. Achamos que todo professor traz consigo, em seu interior, o desejo de contribuir para a formação de alguém, de ver seu aluno progredir. Para isso, não medirá esforços e buscará se integrar à “vida” da escola.

No título VI da LDB é apresentado o requisito mínimo para se ocupar o posto de professor. No artigo 62, exige-se que o profissional possua o diploma de graduação plena da disciplina em que pretende lecionar bem como o de licenciatura, exigindo, no artigo 65, que essa compreenda uma extensa carga horária de prática de ensino:

TÍTULO VI

Dos Profissionais da Educação

Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.

Art. 65. A formação docente, exceto para a educação superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas horas.

No artigo a seguir, trazemos o compromisso que as instituições de ensino devem assumir junto ao profissional de educação.

Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público:

II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim;

III - piso salarial profissional;

IV - progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação do desempenho;

V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho;

VI - condições adequadas de trabalho.

Não podemos esboçar nossa opinião sobre o (não) funcionamento das “regras” citadas a não ser através do olhar que temos sobre a instituição em que trabalhamos. Não podemos generalizar e concluir que a realidade de uma escola é igual à de outra. Então, com base nas escolas em que trabalho posso revelar que o licenciamento para aperfeiçoamento profissional pode até ser conseguido, dificilmente este será remunerado (II); o piso salarial do professor costuma ser baixíssimo se comparado a outras profissões, conforme veremos no item 3.7 (III); o professor raramente cumpre em sala de aula a carga horária completa que lhe foi estipulada no contrato de trabalho mas não se pode dizer que o tempo “excedente” seja suficiente para preparar aulas, corrigir trabalhos, etc (V); as condições de trabalho dos professores também não costumam ser boas, principalmente para os professores de língua estrangeira que se utilizam de músicas, clips, filmes, imagens, data-show, etc, visando tornar suas aulas “atraentes” (VI).

Em contrapartida, com base nesses excertos retirados da LDB, podemos afirmar categoricamente que o ingresso do professor na rede pública de ensino da educação básica se dará através de concurso público (I). Essa é a única exigência feita para que um professor integre o quadro da rede pública, desde que apresente um diploma que confirme a conclusão em curso de licenciatura, de graduação plena. Vale lembrar que na maioria dos concursos o professor não é testado em situação real de trabalho, não há uma avaliação de sua prática, somente de seu saber intelectual.

Voltando ao diploma, podemos apreender que qualquer professor detentor de um documento com as características descritas acima e aprovado em concurso poderá compor o quadro funcional das redes públicas de ensino, o que denota a não existência de um perfil de profissional previamente estabelecido por essas redes ou, ao inverso, que essas redes não possuam um perfil definido a ponto de vislumbrarem o que realmente entendem por ensino. Assim, parece-nos que as instituições não têm uma identidade, uma “personalidade”.

Daí advém outra inquietação. Hall (2000) nos diz que embora possamos nos ver, seguindo o senso comum, como sendo a “mesma pessoa” em todos os diferentes encontros e

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interações, não é difícil perceber que somos diferentemente posicionados, em diferentes lugares, de acordo com os diferentes papéis sociais que estamos exercendo. Isso nos leva a pensar que o professor atua de maneira diferente dentro de cada espaço em que circula. No momento em que está à frente de uma turma, ele representa a instituição e seus valores. Mas nesse caso, que valores ele representaria? Como ele deveria se portar/agir?

Voltemo-nos então para a questão do ingresso nas redes públicas já que sabemos que esse aspecto é comum a todas as escolas. Fazemos um breve parêntese para a contratação de professores nas esferas públicas. Essa prática vem sendo bastante recorrente nesse meio. Muitas vezes o profissional é submetido a um processo seletivo para ser incorporado temporariamente ao quadro funcional da escola. Essa modalidade acaba sendo conveniente para o governo pois protela por mais tempo a abertura de concursos, pagam ao contratado um salário mais baixo que o do professor concursado para ocupar a mesma carga horária de trabalho e ao findar o contrato não há vínculo algum entre o governo e o profissional.

Retomando o assunto dos concursos públicos, uma ideia nos vem à mente. Para que o profissional venha a ser aprovado, ele deve ser submetido a um exame formal. Talvez, ao se confeccionar esse exame, um perfil de candidato seja idealizado. Até mesmo os editais desses exames podem trazer informações sobre as atividades que o candidato desempenhará, seu local de trabalho, salário, carga horária, etc.

A seguir, faremos um breve percurso sobre os documentos que regulamentaram os últimos concursos públicos para o cargo de professor de francês no Rio de Janeiro com vistas a conhecer o perfil do profissional almejado para integrar as redes de ensino federal, estadual e municipal.

No documento [ – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 95-98)