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O Ensino de FLE no passado e no presente

No documento [ – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 146-151)

3. OS DOCUMENTOS OFICIAIS E OS REGIMES DE VERDADE

5.2 DISCURSOS SOBRE O ENSINO DE FRANCÊS COMO LÍNGUA

5.2.1 O Ensino de FLE no passado e no presente

Ao elaborar o primeiro questionamento, tínhamos como objetivo identificar as características do ensino de FLE no passado, que aliado à segunda pergunta – E hoje, o que mudou? E no futuro, o que poderá mudar? – nos levaria a recuperar a história do ensino de

Língua Francesa e estabelecer possíveis comparações desse ensino nos dias atuais. Previmos encontrar nas falas dos enunciadores referências à estrutura das aulas, ao material didático, aos conteúdos ministrados, ao status da disciplina, entre outros. Acreditávamos que os enunciadores organizariam seus discursos de modo predominantemente narrativo, uma vez que iriam discorrer primeiramente sobre as respectivas experiências enquanto aprendizes de Língua Francesa. Confirmando nossa hipótese, os discursos foram organizados de modo predominantemente narrativo. Por essa razão, nossa análise será realizada segundo a lógica narrativa.

Os enunciadores apresentam características concernentes à distribuição dos papéis desempenhados pelos professores e alunos no passado e as comparam com os papéis desempenhados por eles nos dias atuais, ressaltando pontos que sofreram modificações no ensino, tais como: o tipo de aula, a postura do professor, as abordagens metodológicas, etc, tentando assim justificar a existência de possíveis fatores que tenham trazido mudanças significativas no cenário do ensino/aprendizagem de Língua Francesa.

Estado Inicial Busca Estado Final

Enunciadores N, M, W, B, R, A e E. Referências sobre o papel desempenhado pelos professores e alunos no passado. Comparar o papel desempenhado pelos professores e alunos no passado e no presente. Êxito

Vejamos a seguir trechos das entrevistas (exemplos de 39 a 45) com as narrativas dos enunciadores acerca da primeira questão elaborada nesse bloco temático seguidos de nossa análise:

Exemplo 39: A professora lia os textos e trabalhava. Era muito exigente e cobrava de verdade; “era

outro perfil de cliente.” (enunciador N)

Exemplo 40: “Os professores sempre foram muito rígidos e isso ajudou muito de certa forma. Sempre

tive ótimos professores, uns ou outros que eu não me identificava com a prática. O método, o primeiro

que eu usei na faculdade foi a “Gramática Progressiva de Francês”. Eu comecei com o método comunicativo “Panorama” em um curso de línguas. Na faculdade a gente só via gramática. Bom, de

memória sobre os professores é isso.” (enunciador M)

O enunciador N (ex. 39) faz referência tanto à postura de sua professora quanto ao seu trabalho. Ao expressar que sua professora “cobrava de verdade”, revela a possibilidade de existência de professores que o façam de uma maneira menos enérgica, “de faz de conta”. Ele

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menciona ainda uma mudança no tipo de público alvo. O enunciador M (ex. 40) também menciona a rigidez de seus professores como ponto positivo ao seu aprendizado. Além disso, cita os manuais utilizados nas aulas do curso livre onde teve o primeiro contato com a língua e com o manual adotado na faculdade, alegando que no curso teve acesso à metodologia comunicativa e que na faculdade o ensino da gramática prevalecia.

Exemplo 41: “Eu acho que a escola sempre foi em cima da mesma coisa. Era mais o escrito, né? A

compreensão do escrito e a produção escrita”; “Era uma turma de mais de 40 já naquela época . Apesar do comportamento ser diferente do comportamento de hoje. Os alunos não eram tão agitados, não tinha tanto reboliço na sala. Mas 40 é sempre muita coisa, então não havia essa prática do falar. Era aquela leitura que todo mundo lia junto, ela lia as frases e a gente repetia. Essa prática oral era muito pouca. Era mais ler o textinho do livro e fazer os exercícios. Ela trabalhava a gramática, a gente tinha um caderno para organizar a matéria e fazia os exercícios do G. Mauger que eram voltados para o uso da gramática, com um monte de verbos para conjugar.” (enunciador W)

O enunciador W (ex. 41) recupera a estrutura de suas aulas de francês na escola ao mencionar o manual didático utilizado, conta que a parte escrita se destacava em relação à oral parcialmente por conta do número expressivo de alunos em sala e confessa que o comportamento dos alunos era bastante distinto daquele encontrado em sua sala de aula enquanto professor.

Exemplo 42: “No meu colégio, quando o professor entrava. Aliás, ele não entrava, ficava esperando

na porta. Os alunos tinham que se levantar em silêncio. Aí o professor entrava na sala e autorizava os alunos a sentarem. Eu vivi isso e eu não sou assim tão velha. Isso aí foi nos anos 80.” (enunciador B)

Exemplo 43: “Os alunos respeitavam mais os professores do que atualmente.” (enunciador R)

Exemplo 44: O professor não é respeitado como antigamente.” (enunciador A)

Os enunciadores B, R e A atribuem essa mudança ao comportamento dos alunos em relação ao professor alegando que havia uma relação de respeito entre eles que se perdeu ao longo dos anos.

Exemplo 45: “Eu preparo minhas aulas, coisa que a gente vê que muito professor não faz, que

enrola, que embroma. Eu procuro fazer uma atividade mais dinâmica, sair um pouco do livro”; “eu me esforço para propor atividades diferentes.” (enunciador E)

O enunciador E, ao relatar sua prática docente, ainda que implicitamente, parece querer revelar o quanto desejava que seus professores tivessem um comportamento diferente do que tiveram. Ele mostra como acredita que um professor deva trabalhar para cumprir seu papel. Por essa razão, retomaremos essa análise mais adiante quando discutirmos aspectos ligados ao trabalho do professor.

Os enunciadores fazem autorrelatos acerca de suas experiências enquanto alunos de Língua Francesa e apontam semelhanças e diferenças com a realidade encontrada em suas respectivas salas de aula. O Estado Final dessa Busca tem resultado satisfatório uma vez que os que se posicionaram sobre esse ponto do questionário da entrevista conseguiram estabelecer comparações pertinentes capazes de nos levar a refletir sobre o Ontem e o Hoje. Apenas o enunciador V deixou de expressar sua opinião sobre esse assunto.

Do ponto de vista narrativo, os enunciadores, em seus autorrelatos, desempenham o papel de paciente visto que a ação do comportamento de seus professores e da metodologia utilizada recaiu sobre eles de maneira passiva. Certamente que suas práticas docentes foram influenciadas, positiva ou negativamente, pela experiência que tiveram enquanto alunos. Por essa razão, alguns dos actantes pacientes serão classificados como vítima – aquele que é afetado negativamente pela ação de um outro actante – ou como beneficiário - aquele que é afetado positivamente pela ação de um outro actante. Os enunciadores que assumem o papel de actantes beneficiários se servem das experiências positivas que tiveram durante seu processo de aprendizagem de Língua Francesa e as colocam em prática em suas aulas. Por essa razão, acreditamos que eles também desempenham o papel de benfeitores, já que transmitem um benefício aos seus alunos com base nas experiências proveitosas que vivenciaram.

Por outro lado, os enunciadores que assumem o papel de actantes vítimas se mostram reféns de fracassos ocorridos ao longo de seus estudos escolares. Além de citarem a presença de oponentes, ou seja, de pessoas ou situações que tenham contrariado seus projetos e ações nos estudos, revelam ainda a existência de agressores, de actantes que tenham cometido malefícios e tenham de alguma forma influenciado negativamente sua formação acadêmica.

Pelo fato desses agressores não serem nomeados explicitamente, optamos por utilizar um termo amplo – sistema educacional – de modo a contemplar as críticas expostas pelos entrevistados. No caso específico dos enunciadores W e E, fica claro que o primeiro atribui a impossibilidade de um trabalho eficaz de produção oral ao número excessivo de alunos em

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sala, sendo essa uma realidade no sistema de ensino público na cidade do Rio de Janeiro, visto que nem mesmo a Lei de Diretrizes e Bases fixa um número máximo de alunos por turma. O

enunciador E parece atribuir a culpa à figura do professor que muitas vezes não prepara suas

aulas conforme as prescrições dos documentos oficiais por diversos fatores, porém, os mais conhecidos são: escassez de tempo para preparar as aulas e pensar em atividades dinâmicas em decorrência dos baixos salários que fazem com que o professor busque várias fontes de renda e chegue ao fim de sua jornada de trabalho esgotado física e mentalmente, a falta de motivação do professor devido ao pouco reconhecimento e ao desprestígio para com sua profissão, a ausência de estrutura física e de recursos didáticos adequados que permitam ao professor desempenhar atividades lúdicas e diferenciadas, dentre outros.

Vejamos no quadro a seguir os papéis desempenhados pelos actantes envolvidos nesse esquema narrativo.

Actantes Agente Paciente

Agressor Benfeitor Aliado Oponente Vítima Beneficiário

W, E, N, M, B, R, e

A .

Sistema educacional

Pouca prática oral; Excesso de alunos em sala W Sistema educacional Professores descompromissados; aulas monótonas E N’ Professores exigentes; N Bom trabalho do professor M’ Professores rígidos; ótimos M professores B’ Relação de respeito B R’ Relação de respeito R A’ Relação de respeito A

Seguiremos nosso trabalho analisando as falas dos nossos enunciadores sobre o ensino do francês no Amanhã. Assim como essa análise que acabamos de fazer acentuou aspectos

voltados para o ensino do francês no passado tendo como referência o momento presente, a próxima seção vislumbrará possíveis mudanças para o futuro do ensino da Língua Francesa tendo como ponto de comparação o momento presente.

No documento [ – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 146-151)