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Motivação para estudar a Língua Francesa na Faculdade de Letras

No documento [ – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 124-128)

3. OS DOCUMENTOS OFICIAIS E OS REGIMES DE VERDADE

5.1 DISCURSOS SOBRE A FORMAÇÃO PROFISSIONAL

5.1.1 Motivação para estudar a Língua Francesa na Faculdade de Letras

Como primeiro procedimento de análise, levantamos no corpus as falas dos enunciadores em relação à motivação para o estudo da Língua Francesa no curso superior. Ao formular a pergunta Como se deu a sua motivação para estudar a Língua Francesa na Faculdade de Letras?, esperávamos ouvir dos enunciadores relatos acerca de suas experiências de vida que determinaram a escolha pela carreira profissional. Seguindo a lógica narrativa, uma vez que os discursos analisados foram organizados predominantemente pelo modo narrativo, todos os enunciadores estariam em Busca de uma realização que poderia ser

satisfatória ou não. Nossa expectativa era encontrar traços que justificassem a escolha profissional dos entrevistados e que essa tivesse sido suscitada pela “afeição pela língua”, “influência de algum professor” e até mesmo “facilidade em ingressar no vestibular”. Confirmando nossas expectativas, vejamos os relatos abaixo:

Exemplo 1: “Eu era muito grudada nessa minha tia. Eles falavam dentro de casa muito em francês.

Então eu sempre achei muito bonito, lindo”; “Mas o que despertou foi ficar ouvindo minha tia .Ela colocava muita música francesa, então eu fiquei apaixonada.” (enunciador E)

Exemplo 2: O diferente” ;“a curiosidade de querer saber como se diz aquela língua”;“as

professoras eram muito legais” ;“a aula era mais leve que as outras.(enunciador V)

Exemplo 3: “Eu era aluna do ensino fundamental e adorei a aula de francês. Fiquei encantada”;

pedi para meu pai me colocar num curso de línguas, que no caso foi a Aliança. Dali me apaixonei e não parei mais.” (enunciador A)

Exemplo 4: Quando eu era pequena, uma vez encontrei um livro de um tio meu e era francês. Eu

abri, olhei e vi que entendia umas coisas e pedi para minha mãe e ela disse que tinha estudado francês na escola e que lembrava umas frases. Então aquilo já foi uma história da vida inteira”; “e me lembro muito bem dela (da prof. de francês do ginásio). Ela foi um modelo de professora . Eu quis

ser professora de francês por causa da minha professora de francês”; “Então aquilo tinha todo um

lado afetivo, minha mãe estudou aquilo, eu entendia o que era aquilo, apesar de nunca ter visto”; “E aquela coisa da curiosidade que leva a gente a ter vontade de aprender ”; “é uma coisa que sempre

me atraiu muito.”(enunciador W)

Exemplo 5: Surgiu no colégio o interesse porque no colégio onde eu estudava, no Pedro II, a gente

tinha desde a 5ª série inglês e francês; poxa, eu tenho um pouquinho do francês da escola e não queria deixar perder. (enunciador B)

Exemplo 6: “Quando eu fui estudar no ginásio tinha inglês, francês e latim; e comecei a me

identificar com o francês; O que me levou? Me identifiquei muito, não sei. Adoro esse idioma. Acho que a minha professora me incentivou porque... Ela percebeu que eu comecei a me identificar com francês aí ela começou a me empurrar.” (enunciador R)

Segundo os trechos acima, a língua, para esses enunciadores, era fonte de fascínio, paixão, afetividade. Todos eles já haviam tido alguma experiência bem sucedida com o francês, o que os teria levado a esse encantamento pela língua e a essa busca pela continuidade dos estudos. Nossa afirmação provém das marcas linguísticas de apreciação impressas nesses discursos, tais como: “eu sempre achei muito bonito, lindo”; “as professoras eram muito legais”; “adorei a aula de francês. Fiquei encantada”; “é uma coisa que sempre me atraiu muito”. Os enunciadores expõem seus próprios sentimentos em relação

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ao contato com a Língua Francesa, qualificando-o segundo um julgamento baseado na afetividade.

Curiosamente, em dois relatos que transcreveremos a seguir, presenciamos uma escolha aleatória pelo curso de francês no ensino superior. Todavia, os entrevistados demonstram ter ficado satisfeitos com a opção e revelam o prazer pelo aprendizado da língua (através das falas: Fiz, gostei”; eu gosto muito do francês. É a língua que eu mais gosto”; é uma língua e uma cultura encantadora” - enunciador M) e pela escolha profissional

(através da fala: um acidente que deu certo porque é a carreira que eu realmente deveria estar. Eu tô satisfeito- enunciador N).

Exemplo 7: Eu comecei em um curso de línguas na Faetec. Na verdade eu fui para ver curso de

inglês mas como as inscrições são por meio de senha eu não consegui vaga. Consegui a senha só para francês. Aí como eu tava com a senha na mão resolvi me inscrever, mas foi aquela coisa do impulso;.

Fiz, gostei”; “nesse ano que estava fazendo o curso eu estava prestando vestibular para ciências contábeis. Mas eu não passei. Fiquei frustrada; e aí depois eu resolvi tentar novamente o vestibular mas para Letras;. E como primeira opção coloquei francês. Aí a partir disso comecei a gostar”; “eu gosto muito do francês. É a língua que eu mais gosto”;” é uma língua e uma cultura encantadora. (enunciador M)

Exemplo 8: Foi um acidente de percurso”; “passei com nota para entrar em alemão mas o

vestibular errou minha cadeira e me colocou para francês”; “ um acidente que deu certo porque é a carreira que eu realmente deveria estar. Eu tô satisfeito. (enunciador N)

Logo, voltando nosso olhar para os princípios de organização do modo narrativo, somos levados a concluir que grande parte dos enunciadores partiu de uma motivação estética – beleza da língua – e/ou hedônica – prazer pela aprendizagem da língua – para dar continuidade aos estudos de Língua Francesa no ensino superior. Na maioria dos relatos não percebemos uma escolha por essa carreira baseada em fins pragmáticos ou visando o mercado de trabalho. Aliás, apenas o enunciador B faz menção a um aspecto objetivo que teria motivado sua escolha: poder dar continuidade aos estudos escolares (Através da fala: “poxa, eu tenho um pouquinho do francês da escola e não queria deixar perder”). Vale a pena salientar que todos os enunciadores se colocam em um Estado Inicial de carência no processo de aquisição de um saber e por isso o perseguiram. O resultado da Busca em relação ao objeto, seja qual tenha sido ele, foi de êxito segundo os relatos dos enunciadores.

Estado Inicial Busca Estado Final

Enunciadores E, V,

A,W, B e R

Falta de um saber Prazer pelo prazer Êxito Enunciadores M e N Falta de um saber Conhecimento pelo

conhecimento

Êxito

Dessa forma, ao nos debruçarmos sobre os diferentes participantes implicados nessa ação, ou seja, os actantes, poderíamos designar os papéis que eles desempenham no desenvolvimento da história narrada. Conforme o quadro a seguir, a maioria dos enunciadores se coloca no papel de actantes benfeitores, aqueles que agem transmitindo um benefício. Nesse caso, um benefício para si próprios, atuando também como beneficiários, uma vez que se colocam em busca de um conhecimento que os levará à obtenção de um diploma e os legitimará enquanto professores de Língua Francesa. Vejamos o quadro:

Actantes Agente Paciente

Agressor Benfeitor Aliado Oponente Vítima Beneficiário

E, V, M, A, N, W, R, B

E*, Tia E’

V* Curiosidade, professoras de francês V’ A* Aula de francês da escola A’ W* Livro do tio, professora de francês W’ R* Professora de francês R’ B* Aulas de francês da escola B’ M** Curso de línguas M’ Acaso N’

* - decisão feita de maneira voluntária, ou seja, os actantes estavam conscientes de seus atos ** - decisão feita de maneira involuntária, ou seja, o actante não estava consciente de sua escolha

Por conseguinte, à exceção do enunciador N, todos se colocam como agentes da ação, ou seja, todos escolheram estudar a Língua Francesa na universidade. Essa escolha certamente contou com o auxílio de aliados que de alguma forma influenciaram a mesma. O enunciador

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não havia escolhido estudar Letras opção Português-Francês. O equívoco ocorrido na administração do exame de ingresso à universidade recai involuntariamente sobre ele mas de uma forma benéfica, conforme seu relato (exemplo 8).

Na próxima seção, analisaremos as falas ainda referentes ao bloco temático Formação visando conhecer a trajetória acadêmica dos enunciadores.

No documento [ – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 124-128)