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Estudos Acadêmicos do ponto de vista Narrativo

No documento [ – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 128-139)

3. OS DOCUMENTOS OFICIAIS E OS REGIMES DE VERDADE

5.1 DISCURSOS SOBRE A FORMAÇÃO PROFISSIONAL

5.1.2 Estudos Acadêmicos

5.1.2.1 Estudos Acadêmicos do ponto de vista Narrativo

O discurso dos enunciadores sinaliza que aqueles que já tinham estudado a língua em momento anterior ao ingresso na Faculdade sentiram mais facilidade que aqueles “iniciantes” em Língua Francesa, que o relacionamento com os professores da Faculdade foi motivo de perseverança ou abandono dos estudos e que muitos concluíram o curso pelo desejo de aprender e que outros sentiram tanta dificuldade que abriram mão dele. Assim, podemos dizer que as falas não retomaram o aprendizado ou o objeto de estudo em si durante a academia. Aliás, vale a pena ressaltar que os entrevistados restringiram o curso de Letras à disciplina de Língua Francesa visto que apenas o enunciador B, conforme relato abaixo, menciona a bagagem de aprendizagem adquirida ao longo da Faculdade. O que se vê são relatos sobre a confirmação ou não das expectativas e da relação com os professores de francês.

Pensando nos papéis atribuídos ao professor e ao aluno segundo os imaginários sócio- discursivos, vimos no item 2.5 dessa tese que é esperado do aluno dois objetivos: que ele aprenda o conteúdo e que prove que o aprendeu. Assim, o aluno precisa se colocar no lugar de agente desse aprendizado para que o mesmo aconteça e nesse contrato espera-se que o professor desempenhe o papel de aliado a esse aprendizado. Paralelamente, o professor atuará como agente no contrato de ensino. Caso os agentes não desempenhem com sucesso seus respectivos “papéis”, o duplo contrato de comunicação poderá ser ameaçado.

Esse modelo de contrato encontra-se em consonância com as preconizações das metodologias modernas voltadas para o ensino, tais como metodologia comunicativa e a abordagem acional, descritas nos documentos oficiais citados no capítulo três. Elas preconizam que o professor leve em consideração o conhecimento pré-construído pelo aluno e o faça interagir com os novos conhecimentos. Dessa forma, entendemos que não cabe mais ao aluno o papel passivo no processo de ensino/aprendizagem como outrora em que o professor somente verificava o conhecimento do aluno através de trabalhos e provas. As novas abordagens metodológicas colocam ênfase no desenrolar do processo de aprendizagem e apontam os alunos como co-construtores de sua aprendizagem.

Trazendo essa reflexão para a análise do nosso corpus, constatamos que apenas os

enunciadores N, B e W, enquanto alunos, se colocaram em posição de agentes do aprender, ou seja, apenas eles se mostram cumpridores do papel que lhes é atribuído. Nas palavras dos enunciadores, observemos os excertos 9,10 e 11:

ACTANTES AGENTES:

Exemplo 9: Na realidade eu não tive muita dificuldade com o francês porque eu investi em

aprender e já conhecia a Língua Portuguesa.” (enunciador N)

Exemplo 10: Olha, na faculdade. Bom, a realidade era: o aluno numa faculdade pública é que faz o

seu curso. Então aqueles que queriam só ter um diploma faziam o mínimo necessário para ser aprovado depois ia acontecendo. Mas para mim não era o suficiente. Eu buscava o conhecimento, eu ia aos locais, eu tentava falar, eu tentava me comunicar. Se eu sabia que tinha algum evento, eu procurava me encaixar naquele evento. Para mim, o meu aprimoramento foi quando eu consegui

viajar e aí in loco consegui realmente usar a língua.”

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Exemplo 11: Quando eu cheguei lá eu não esperava que fosse do jeito que era. A professora de

francês falando francês, coisa que eu nunca tinha visto”; foi muito mais o meu querer do que propriamente a faculdade ajudando.” (enunciador W)

Por outro lado, nos relatos dos enunciadores E e V (ex. 12 e 13) não notamos essa mesma atitude sobre a ação de aprender. As falas se voltam para a confirmação ou não das expectativas que tinham em relação ao curso de Letras Português-Francês. Então, consideramos que esses enunciadores se veem no papel de actantes pacientes do contrato de ensino cujo agente é o professor. A fim de visualizarmos o que estamos dizendo, seguem os dois trechos dos relatos concernentes ao aprendizado desses enunciadores:

ACTANTES PACIENTES:

Exemplo 12: Eu adorava”; “a faculdade foi ótima”; “a maioria dos colegas tinha muita

dificuldade e alguns abandonaram. Outros se formaram mas atuam como professores de português .

Mas a minoria trabalha como professor de francês”; “eu sempre ouvia que era moleza para passar no vestibular, ainda mais português-francês. Se ainda fosse português-inglês ou literaturas que era

mais concorrido...” (enunciador E)

Exemplo 13: Gostei muito do curso”; eram poucos alunos mas interessados, mais ou menos 20

alunos. 18 se formaram comigo; na minha época ainda tinha um status o curso de português-francês, mas isso em 1978. Tanto é que agora a PUC nem tem mais o curso de português-francês.” (enunciador V)

Acabamos de expor exemplos de enunciadores que se colocam como agentes do aprender, ou seja, que mostram esforços para adquirir um saber e exemplos de enunciadores que não mencionam esse esforço, ao exprimirem seus pontos de vista sobre a Faculdade como se ocupassem um lugar de “recebedores do saber”. Nos exemplos que seguem, perceberemos discursos ambíguos que nos fazem pensar que os enunciadores desempenham ora papel de agentes ora de pacientes.

ACTANTES AGENTES E PACIENTES:

Cabe um comentário voltado aos enunciadores M e A, cujos relatos serão apresentados logo abaixo, em relação à categoria que lhes foi atribuída. Há certa ambiguidade

em torno de ambos os discursos que nos fizeram refletir bastante e perceber que ora os enunciadores relatavam desempenhar um papel de agente ora de paciente. Por isso optamos por incluí-los em uma nova categoria. O enunciador M se utiliza de verbos que expressam ação de sua parte (superar, estudar) mas em alguns momentos faz uso do verbo aprender em sentido passivo (fui aprender e tive o aprendizado), como por exemplo em sua fala: tive o aprendizado da línguamas não da prática docente”. O enunciador M se mostra “recebedor” do aprendizado da língua. Por outro lado, como o aprendizado da prática docente não lhe foi dado, segundo seu próprio relato, ele parece ter tido que se esforçar para buscá-lo nos estágios obrigatórios do curso de Licenciatura, embora preferisse ter desempenhado o papel de paciente. Não foi diferente com o enunciador A. Sua fala: eu descobri tudo sozinha, a faculdade não me deu nada não”, revela implicitamente que na concepção do enunciador, a Faculdade deveria ter-lhe dado ensinamentos sobre a prática docente. Como sua expectativa não foi correspondida, precisou se empenhar na busca desses ensinamentos por si só. Vejamos o que dizem esses enunciadores nos excertos 14 e 15:

Exemplo 14: Senti muita dificuldade no primeiro semestre de francês na faculdade, mas consegui

superar e passei a gostar”; tudo o que eu estudei no curso durante um ano eu vi em um semestre na

faculdade” ; “fui aprender prática quando fiz o estágio no Cap-UFRJ ”; “tive o aprendizado da língua mas não da prática docente ”; “eu acho que a faculdade de educação não dá muito respaldo

; “aprendi muito nos estágios mas as realidades são diferentes ”; “não posso adaptar o que eu vejo no estágio do Cap em outros lugares. São realidades totalmente diferentes” ; “fiz o estágio no CAp e no Estado, que apesar de cansativo foi muito rico” ; “eu tive que dar uma aula, mas o dia a dia com as professoras, o conselho de classe, a sala dos professores. Eu via o quanto de coisas a gente tinha

que preparar” ; “no Estado era totalmente diferente da realidade do CAp, mas a professora ainda conseguia levar o francês apesar de todas essas questões sociais.” (enunciador M)

Exemplo 15: “Antigamente a gente fazia para ser professor. Não se pensava em pesquisa”;“a gente

saía visando sala de aula e já saía para o mercado mesmo”;“a prática você vai adquirindo assim, descobrindo sozinha, porque a faculdade mesmo não me preparou para a sala de aula” ; “eu descobri tudo sozinha, a faculdade não me deu nada não”; “sua (referindo-se a formação do enunciador M) formação foi boa, porque meu estágio foram 5 aulas e depois eu dei uma aula” ;“E a

gente ficava feliz, muito feliz.” (enunciador A)

Diferentemente de todos os outros enunciadores acima citados, o enunciador R não se posiciona em seu discurso em relação ao seu processo de aprendizagem, ou seja, não desempenha um papel relacionado à ação de aprender. Por essa razão, não pudemos

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considerá-lo como agente. Também não foi possível incluí-lo na categoria de paciente. Confirmando nossa análise, segue um trecho da entrevista acerca dessa temática:

Exemplo 16: “Eu quando fazia faculdade, eu entrei em 73, mas a minha faculdade era particular.

Naquela época, a faculdade era parte do dia e eu trabalhava porque eu já era formada em contabilidade. Resolvi fazer Letras, entendeu? Então eu trabalhava e não tinha como estudar de dia porque a faculdade de Letras era diurna naquela época. Então eu fui para a Souza Marques e fazia à noite. Quando eu cheguei, não era nada básico não. Já era aquele quem sabe, sabe, quem não sabe

se vira.” (enunciador R)

Decerto que os entrevistados encontraram ao longo de suas trajetórias aliados e oponentes que de alguma forma influenciaram suas escolhas acadêmicas e profissionais. Curioso é constatar que, em alguns casos, pessoas que, segundo os imaginários sócio- discursivos circulantes, deveriam se mostrar parceiras no processo de formação dos futuros professores acabam se tornando verdadeiras adversárias. Em contrapartida, conforme os relatos abaixo, notamos que o que deveria ter sido motivo de desânimo, de abatimento se tornou motivo de luta e de vontade de vencer os obstáculos, pelo menos para os participantes dessa pesquisa. Por essa razão, eles se atribuem o papel de vitoriosos nesse desafio. A seguir, exporemos trechos das entrevistas em que nossos enunciadores falam sobre aspectos dificultadores (exemplos de 17 a 22) e facilitadores (exemplos de 23 a 29) de seus respectivos processos de formação profissional.

OPONENTES AO PROCESSO DE FORMAÇÃO:

Exemplo 17: “Cheguei no primeiro dia de aula, a professora falou em francês e eu não sabia nem o

que era “MOI””;“eu creio que a parte mais difícil mesmo tenha sido a fonética”; “eu tranquei o primeiro semestre na UERJ por causa dessas coisas. A professora falava a mesma coisa (que quem

não tinha o nível deveria trocar a matéria)”; “eu observo que os colegas que seguiram a faculdade foram aqueles que tinham mais dificuldades . Os que tinham mais facilidade foram fazer outras

coisas”; “quem tinha dificuldade continuou carregando pedra, tentando chegar até o final, pois estavam querendo fazer aquilo, gostava da coisa”; “quando eu entrei tinham duas turmas de 20 alunos. No final do semestre tinha uma turma de 20 alunos e depois quando eu me formei nós éramos

15 mas somente 4 formandos eram da turma original.” (enunciador N)

Exemplo 18: “Agora as aulas da faculdade eram decepcionantes porque o francês 1, por exemplo,

começava no verbo AVOIR e no ÊTRE; “no princípio era tudo muito chato. Depois foi melhorando”;

“eu não queria ser professora porque professora sempre teve esse estigma, né? De ganhar mal, trabalhar muito, então não era a minha primeira opção. Mas enfim, passei e fui fazer Letras.” (Enunciador B)

Exemplo 19: Disse (a professora) que aquilo ali não era primário nem secundário e que não tinha o nível deveria trocar a matéria . Essas foram as nossas boas vindas”; “o que eu vi foi uma debandada da minha turma, porque nós éramos 28 de começo e muita gente mudou para Literatura,

para Latim, desistiu e minha turma se reduziu muito”; “Quando eu entrei eram 3 turmas mas que

logo depois foram reduzidas a duas. Da turma que entrou comigo só eu me formei dentro dos 4 anos. (Enunciador W)

Exemplo 20: No início eu fiquei meio entediada porque eu tive que começar do início porque não

consegui abonar nenhuma disciplina.” (Enunciador E)

Exemplo 21: o ritmo era bem corrido” ; “acho que a faculdade de Letras tá ali mais preparando

para ser pesquisador; “eu entrei pensando que queria sair professora de português e de francês, o conteúdo não foi um aprendizado para te preparar para ser professora.” (Enunciador M)

Exemplo 22: “A prática você vai adquirindo assim, descobrindo sozinha...” (Enunciador A)

ALIADOS AO PROCESSO DE FORMAÇÃO:

Exemplo 23: “Tive uma professora muito exigente, que também me ajudou muito . Ela gostava

especialmente de mim e me ajudou muito na carreira de docente de língua francesa.” (enunciador N)

Exemplo 24: Toda essa bagagem que eu tenho eu atribuo a esse período da faculdade; Gostei muito

da faculdade, é uma faculdade que dá muita bagagem e... o que aconteceu foi que naturalmente as portas foram se abrindo para essa carreira. Apesar do meu não... assim... do meu não desejo inicial,

foi acontecendo dessa maneira.” (enunciador B)

Exemplo 25: “Foi muito mais o meu querer ...”(enunciador W)

Exemplo 26: “Eu adorava”; “a faculdade foi ótima.” (Enunciador E)

Exemplo 27: Gostei muito do curso.” (Enunciador V)

Exemplo 28: “Senti muita dificuldade no primeiro semestre de francês na faculdade, mas consegui

superar e passei a gostar”; “os professores sempre foram muito rígidos e isso ajudou muito de certa forma(na faculdade)”; “sempre tive ótimos professores (na faculdade).” (Enunciador M)

Exemplo 29: Tive bastante facilidade porque já trazia aquela bagagem da Aliança.” (Enunciador

A)

Diante de todos esses relatos, concluímos que do ponto de vista narrativo, todos os enunciadores colocam-se em Busca do aprendizado pela Língua Francesa, passando assim de

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um estado do não saber ao estado do saber, que se materializa na obtenção de um título que os qualifica dentro de uma profissão. Uma vez mais a realização do processo se mostra satisfatória visto que todos os entrevistados concluíram o curso de Graduação apesar dos obstáculos mencionados. Salientamos que alguns enunciadores se atribuem o papel de agentes benfeitores, ou seja, daquele que transmite um benefício, pelo fato de desenvolverem um esforço na aquisição do saber, e outros apenas no papel de beneficiários, ou seja, aquele que é afetado positivamente pela ação de um outro actante, pelo fato de se apresentarem como pacientes de uma ação de “ensino”. Nos quadros a seguir, encontraremos de forma simplificada os comentários realizados sobre os trechos das entrevistas referentes à formação acadêmica dos enunciadores.

Estado Inicial Busca Estado Final

Enunciadores E, V,

M, A,W, N, B e R

Falta de um saber Tornar-se profissional de Língua Francesa

Êxito

Conforme mostrado no quadro abaixo, os enunciadores N, B e W se colocam no papel de actantes benfeitores visto que eles se mostram como ativos na ação de aprender. Como essa ação lhes traz um benefício, também pudemos considerá-los como beneficiários, ou seja, como destinatários dessa ação de aprender que lhes recai positivamente na busca pela obtenção do diploma que os torna profissionais de Língua Francesa. Em contrapartida, os

enunciadores E e V não se mostram agentes da ação de aprender, o que foi suficiente para lhes atribuir o papel de pacientes. Cabe dizer que ambos (E e V) foram afetados positivamente pela ação de um outro actante, no caso deles, pelo curso de Graduação em Letras que lhes trouxe o benefício de uma formação profissional, razão pela qual inserimos essa informação na coluna benfeitor.

Actantes Agente Paciente

Agressor Benfeitor Aliado Oponente Vítima Beneficiário

N, B, W, E e V. N Professora que o ajudou; Desejo de aprender Fonética; Professora que desestimulava a permanência no curso N’ B Desejo de aprender Aulas decepcionantes; estigma da profissão B’ W Desejo de aprender Professora que desestimulava a permanência no curso W’

Curso Gosto pelo curso

Inexistência de prova de

nivelamento E

Curso Gosto pelo curso

V

Optamos por colocar os enunciadores M e A em um quadro separadamente dos outros pelo fato de desempenharem simultaneamente papéis tanto de agentes quanto de pacientes na ação de aprender. Conforme discutido anteriormente, os relatos desses enunciadores se apresentam de forma ambígua, o que nos fez optar por deixá-los em uma categoria à parte.

Actantes Agente Paciente

Agressor Benfeitor Aliado Oponente Vítima Beneficiário

M e A M Gosto pelo curso Ritmo corrido;

Falta de preparação para a prática docente M A Facilidade no aprendizado; Gosto pelo curso

Falta de preparação para a prática docente

A

Faremos a seguir algumas observações no que diz respeito às nossas expectativas em relação ao que encontraríamos nas falas dos enunciadores e o que nos foi apresentado de fato, tentando correlacionar essa massa de informação proveniente dos autorrelatos com aspectos teóricos discutidos no segundo capítulo dessa tese.

Os enunciadores ratificam nossa hipótese de que entrar na Faculdade possuindo conhecimento prévio de Língua Francesa seria um “facilitador na aprendizagem”. O

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nivelamento e saltar os períodos iniciais da Faculdade: No início eu fiquei meio entediada porque eu tive que começar do início porque não consegui abonar nenhuma disciplina”. O

enunciador B também revela certa decepção em relação ao início do curso: as aulas da faculdade eram decepcionantes porque o francês 1, por exemplo, começava no verbo AVOIR

e no ÊTRE; “No princípio era tudo muito chato. O enunciador A ressalta essa facilidade:

tive bastante facilidade porque já trazia aquela bagagem da Aliança”. Os enunciadores E e

A faziam curso na Aliança Francesa há algum tempo e já tinham um certo domínio da língua

e o enunciador B já havia estudado a língua no decorrer do Ensino Fundamental e médio no Colégio Pedro II. Os enunciadores M e W, o primeiro iniciando os estudos de Língua Francesa em um curso privado e o segundo trazendo noções das aulas da escola, porém, ambos os estudos estavam em fase inicial, mostram que sentiram dificuldades: Senti muita dificuldade no primeiro semestre de francês na faculdade, mas consegui superar e passei a gostar” ; Tudo o que eu estudei no curso durante um ano eu vi em um semestre na faculdade” ; “Quando eu cheguei lá eu não esperava que fosse do jeito que era. A professora de francês falando francês, coisa que eu nunca tinha visto”. O enunciador M descreve sua necessidade em procurar um “reforço” para os estudos de Língua Francesa fora da Faculdade: eu tive que fazer curso fora. O enunciador N declara seu total desconhecimento da Língua Francesa ao entrar na Faculdade e como se sentiu nas primeiras aulas: “Cheguei no primeiro dia de aula,

a professora falou em francês e eu não sabia nem o que era “MOI””;“a professora vendo o

meu desespero, professora da UERJ, conseguiu uma bolsa para mim na Aliança Francesa”. Diante do exposto, constatamos algumas contradições nos discursos dos entrevistados. Aqueles que já possuem alguns anos de estudo de Língua Francesa se queixam do ensino começar no nível 0 nas aulas da Graduação. Todavia, aqueles que não estudaram a Língua Francesa em momento anterior ao ingresso na Faculdade ou que possuem pouco tempo de estudo dessa língua ficam descontentes por esse ensino começar em nível mais avançado e com um ritmo bastante acelerado.

Os relatos dos enunciadores E, W e N mostram que poucos alunos inscritos no curso de Letras Português-Francês concluem os estudos devido à dificuldade que sentem ao ingressar na Faculdade: a maioria dos colegas tinha muita dificuldade e alguns abandonaram ; o que eu vi foi uma debandada da minha turma, porque nós éramos 28 de começo e muita gente mudou para Literatura, para Latim, desistiu e minha turma se reduziu

turma que entrou comigo só eu me formei dentro dos 4 anos” ; Quando eu entrei tinham duas turmas de 20 alunos. No final do semestre tinha uma turma de 20 alunos e depois quando eu

me formei nós éramos 15 mas somente 4 formandos eram da turma original”. A única

exceção foi apresentada pelo enunciador V, o único cuja formação foi feita em universidade privada: Eram poucos alunos mas interessados, mais ou menos 20 alunos. 18 se formaram comigo.

Esses discursos enfatizam a dificuldade em dar continuidade aos estudos de Língua Francesa no curso de Graduação, seja pela falta de empatia com o professor da disciplina, seja pelo ritmo acelerado das aulas, o que importa é que oponentes não faltaram no caminho dos nossos entrevistados. Entretanto, eles se colocam como aqueles que conseguiram ultrapassar todos os obstáculos e chegaram ao fim do curso. Fica fortemente marcada a permanência de um interdiscurso sobre o fascínio pela Língua Francesa e sobre o status daqueles que a dominam como pessoas de classe, de cultura. Logo, para os nossos enunciadores, parece valer a pena vencer os obstáculos para tornarem-se participantes da comunidade imaginada dos falantes de Língua Francesa. Daí, concluímos que a identidade discursiva desses enunciadores é construída de forma a ressaltar os desafios enfrentados ao longo da formação acadêmica com o objetivo de consagrar a vitória alcançada e legitimar a identidade social servindo-se de uma máscara (conforma apresentado na seção 2.7 desta tese) que o representaria como aquele que sabe, aquele que é capaz, aquele que se esforçou, etc. Da imbricação entre identidade

No documento [ – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 128-139)