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Capítulo 3 – A dinâmica dos investimentos em infraestrutura no Brasil

3.3. A tentativa de retomada do planejamento a longo prazo e o seu fracasso (2003-2015)

3.3.2. Energia Elétrica e Saneamento Básico (EESB)

Para o caso dos investimentos nos setores de Energia Elétrica e Saneamento Básico (EESB), o seu comportamento é similar ao setor de infraestrutura (Tabela 10). Esta mesma dinâmica será constatada nos demais setores, fazendo com que outros aspectos mereçam ser reiterados, como a composição dos investimentos por setor. As Tabelas 11 e 12 retratam tal ponto, visto que demonstram, respectivamente, o vetor de investimento demandado pelo setor e a participação das atividades na oferta de investimento. Pode-se notar que o setor de Construção Civil se sobressai aos demais, representando, em média, cerca de 82,7% dos investimentos. A importância desse setor decorre da incorporação dos gastos em obras de infraestrutura no próprio, assim, grande parte dos dispêndios nas expansões dos serviços do setor de EESB se encontram em Construção Civil. A queda dos investimentos no setor está completamente atrelada à queda da oferta de investimento por parte de Construção Civil, como ocorre nos anos de 2002, 2005 e 2006.

Tabela 10: Taxa média da variação anual dos investimentos em EESB nos períodos selecionados.

Setor 2000-2002 2002-2010 2010-2015 2000-2015

EESB -25,20 18,97 -8,55 2,44

Fonte: Elaboração própria; com base nos dados fornecidos por Miguez (2016) e Passoni e Freitas (2018). Após o início do milênio e o término do processo de privatização, o setor de EESB apresentava uma significativa queda dos investimentos (BIELSCHOWSKY, 2002). O sincronismo de uma transição conturbada, fim dos investimentos emergenciais no setor de energia e o Efeito Lula ocasionaram esse desfecho (MONTES e REIS, 2011). A retomada do crescimento dos investimentos apenas ocorreu com a melhora da conjuntura do país (2003 e 2004) e, posteriormente, com a implementação do PAC em 2007.

Outros fatores fundamentais para a inflexão dos investimentos no setor foram as mudanças institucionais e de regulação pelo qual o setor passou. Inicialmente, com o setor de energia, de acordo com Espósito (2012), a criação da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e as modificações no marco regulatório em 2004 impactaram positivamente. A EPE incorporou a missão de efetuar planejamentos para o crescimento sustentável da infraestrutura energética do setor, realizando estimativas sobre a tendência do crescimento do consumo de energia e efetuando projetos de investimentos nos segmentos de geração, transmissão e distribuição de energia e, por conseguinte, indicando a necessidade de expansões na oferta.

As alterações no marco regulatório foram igualmente importantes, implementando mudanças na comercialização de energia entre as concessionárias e estimulando novas inversões. Como consequência, nos anos subsequentes o Setor Elétrico Brasileiro (SEB) verificou a retomada da liderança da Eletrobrás. A empresa definiu as diretrizes do setor e de seus investimentos, mantendo uma relação complementar com as demais empresas estatais e privadas que o compõem. O sistema atual possui uma composição mista entre público e privado, fato derivado das mudanças institucionais desde o processo de privatização. Em conformidade com Espósito (2012, p. 227):

Essa conformação híbrida da propriedade dos ativos é integrada e é resultado de uma simbiose com o processo de construção do arcabouço institucional no qual entes públicos conciliaram dois aspectos relevantes: a retomada da indução dos investimentos pelo planejamento do governo e a inserção do mercado e da concorrência como meio de promover eficiência econômica e a modicidade tarifária.

Tabela 11: Vetor de investimentos demandados no período de 2000 a 2015 pelo setor de Energia Elétrica e Saneamento Básico (Preços básicos e relativos a 2010 em milhões de reais). Descrição da atividade nível 40 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Média Produtos de metal 373 476 499 395 472 554 554 580 572 519 661 628 611 554 531 539 532 Máquinas e equipamentos 1 594 2 447 2 058 1 863 1 788 2 263 1 888 2 056 2 417 2 752 2 957 2 851 2 507 2 738 2 074 2 397 2 290 Construção civil 25 815 27 753 12 090 40 385 37 131 16 913 12 754 30 918 37 998 49 815 59 532 59 107 49 690 43 487 32 939 35 421 35 734 Serviços de informação 1 310 1 421 1 332 1 246 1 531 1 719 1 902 1 987 1 925 2 057 2 113 2 447 2 520 2 509 2 770 3 177 1 998 Restante 1 044 1 468 882 1 787 1 956 1 210 1 020 1 428 1 803 2 250 2 403 2 603 3 329 2 420 1 994 1 748 1 834 Total 30 136 33 564 16 860 45 676 42 877 22 659 18 118 36 968 44 715 57 392 67 666 67 636 58 657 51 708 40 309 43 281 42 389

Fonte: Elaboração própria; com base nos dados fornecidos por Miguez (2016) e Passoni e Freitas (2018).

Tabela 12: Participações (%) das atividades no vetor de investimentos demandados no período de 2000 a 2015 pelo setor de Energia Elétrica e Saneamento Básico.

Descrição da atividade nível 40 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Média Produtos de metal 1,24 1,42 2,96 0,87 1,10 2,44 3,06 1,57 1,28 0,90 0,98 0,93 1,04 1,07 1,32 1,24 1,46 Máquinas e equipamentos 5,29 7,29 12,20 4,08 4,17 9,99 10,42 5,56 5,41 4,79 4,37 4,22 4,27 5,29 5,15 5,54 6,13 Construção civil 85,66 82,69 71,71 88,42 86,60 74,64 70,40 83,63 84,98 86,80 87,98 87,39 84,71 84,10 81,72 81,84 82,70 Serviços de informação 4,35 4,23 7,90 2,73 3,57 7,59 10,50 5,37 4,30 3,58 3,12 3,62 4,30 4,85 6,87 7,34 5,26 Restante 3,46 4,37 5,23 3,91 4,56 5,34 5,63 3,86 4,03 3,92 3,55 3,85 5,67 4,68 4,95 4,04 4,44 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Por sua vez, no caso do saneamento básico, a criação do Ministério das Cidades em 2003, e da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA) que é acoplada ao ministério, finalmente preencheu a lacuna de uma entidade federal voltada ao setor (ALBUQUERQUE e FERREIRA, 2012). A SNSA possuía dois eixos centrais de atuação: a execução de um planejamento setorial; e a procura por novas fontes de financiamento para os investimentos. Os esforços da SNSA foram transladados para a formulação da Lei de Saneamento em 2007, que possuía, como meta, a universalização dos serviços de saneamento e definiu uma agencia reguladora no setor. Após um início de década desafiador92, em virtude do histórico quadro extremamente precário do setor, possuía-se a percepção de inflexão da situação. Segundo Albuquerque e Ferreira (2012), o abundante volume de recursos para inversões, a expansão dos serviços e sua qualidade, e a superação de alguns entraves institucionais, eram indícios que corroboravam tal suposição. Os desdobramentos do novo marco regulatório são perceptíveis pela ascensão da iniciativa privada no setor. Embora os investimentos ainda sejam predominantemente calcados em empresas estatais, o setor privado apresenta aumentos, tanto na atuação (número de concessões) como na elevação do volume e participação de seus investimentos no setor (PIMENTEL et al, 2017).

Sob essa conjuntura, os investimentos em EESB, então, cresceram significativamente entre 2006 e 2011. Dessa forma, existia certa percepção de obtenção de um marco regulatório maduro no setor de energia, com a capacidade de sustentar o patamar dos investimentos no setor. Esse otimismo também era notado no setor de saneamento básico com as mudanças promovidas pela Lei de Saneamento. Todavia, tal fato não procedeu-se totalmente. Embora os ganhos relevantes advindos do estabelecimento de diretrizes e adequações dos agentes a estas, os investimentos em EESB diminuíram fortemente entre 2011 e 2015, em uma taxa média de 10,57 % ao ano.

No caso do SEB, os entraves ocasionados pela mudança do sistema de concessões citados anteriormente e uma política de redução de preços de energia, diminuíram a capacidade de financiamento próprio e de endividamento, desdobrando-se negativamente na efetuação de investimentos93. A deterioração do ambiente político impactou negativamente as inversões e o crescimento econômico. Além desses elementos elencados, para Espósito

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Conforme Albuquerque e Ferreira (2012), os desafios podiam ser resumidos em três: o volume de investimento, desempenho operacional (baixa produtividade) e um ambiente institucional conturbado (falta de um marco regulatório adequado).

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Esse era o cenário confrontado pela Eletrobrás, empresa líder do SEB. É interessante notar que, embora os investimentos no setor sejam pouco sensíveis as mudanças macroeconômicas de curto prazo e possuírem um elevado período de maturação, os aspectos políticos impactaram fortemente (BNDES, 2014).

(2017), outros dois fatores explanam a desaceleração dos investimentos: (i) as despesas extraordinárias advindas da crise hídrica, acarretando o acionamento de termoelétricas e a elevação dos custos de geração94; (ii) uma sobrecontratação de energia graças a erros de previsão decorridos da crise econômica e do declínio do crescimento do consumo de energia.

A situação do setor de energia elétrica é ainda agravada por um crescente déficit comercial de bens de capital no decorrer dos últimos anos. Tanto nas elevações das importações de bens de capitais nos três segmentos o SEB, geração, transmissão e distribuição, como na tendência de investimentos em Redes Elétricas Inteligentes (REI), ou seja, incorporando as Tecnologias de Informação e Comunicação e elevando a eficiência do setor (ESPÓSITO, 2012). Ainda sobre as tendências do SEB, nota-se uma modificação da capacidade instalada e perspectivas de diversificação da matriz energética. Essa diversificação já vem ocorrendo e parece que será intensificada ao longo dos anos (BNDES, 2014).

Tabela 13: Capacidade instalada de geração elétrica por segmento no Brasil em anos selecionados (GW).

Fontes Anos 2000 2006 2010 2017 Usinas Hidrelétricas - 74,9 77,1 94,7 Usinas Termelétricas - 20,4 29,7 41,6 PCH - 1,6 3,4 5,0 CGH - 0,1 0,2 0,6 Usinas Nucleares - 2,0 2,0 2,0 Usinas Eólicas - 0,2 0,9 12,3 Solar - - 0,0 0,9 Total 85,5 96,3 113,3 157,1

Fonte: EPE, Anuário Estatístico de Energia Elétrica e Espósito (2012).

A Tabela 13 demostra a evolução da capacidade instalada de geração elétrica no Brasil e indica a tendência de maior diversificação da matriz energética, especialmente com a ascensão de usinas eólicas e termelétricas. De acordo com Espósito (2017), as adversidades encontradas nas grandes hidrelétricas, como impacto ambiental, perda de capacidade ao longo dos anos e as sazonalidades climáticas, fazem com que sua atratividade e investimento sejam menores. Portanto, espera-se um crescimento das energias renováveis heterogêneas (eólica e solar), tendo as fontes fosseis como complementares.

Retomando sobre os impactos negativos da conjuntura política e econômica e as alterações no modelo de concessões, essas também afligiram o setor de saneamento básico. As adversidades não se delimitam a esse âmbito, existindo, ainda, outros aspectos que

desestimulam novas inversões. Segundo Assalie e Machado (2014), mesmo que a situação da disponibilidade de recursos tenha melhorado com o PAC, ainda existiam gargalos à execução dos investimentos como: (i) a imprevisibilidade do acesso ao crédito, extremamente calcado e dependente das chamadas de projetos do PAC; (ii) por serem projetos de grandes obras e, assim, de longo período de duração, a iniciativa privada concede um baixo financiamento ao setor, em virtude das incertezas e riscos elevados que permeiam seus investimentos; (iii) a existência de relevantes deficiências de planejamento, elaboração e execução dos projetos, escancarando a carência de um corpo técnico qualificado no setor.

Esse cenário adverso é simbolizado por meio do Plano Nacional de Saneamento Básico (PLASAB) finalizado em 2013. O PLASAB representava um dos exemplos do ensejo à retomada de um planejamento de longo prazo no Brasil e dos Planos Nacionais. O plano tinha a ambição de universalizar os serviços de saneamento básico no Brasil em 20 anos, ou seja, de 2014 a 2033. Isso requisitava um volume elevado de investimentos para a sua concretização, entretanto, como o PLASAB retinha uma forte vinculação com os programas de governo vigentes, os entraves políticos e econômicos minaram essa possibilidade e culminaram no fracasso do PAC 2 e, por consequência, do próprio PLASAB. Apesar do PLASAB não ter sido finalizado, os investimentos no setor se demonstraram aquém do necessário e a universalização dos serviços, ainda distante.

Tabela 14: Níveis de atendimento de água e esgoto no Brasil em 2016.

Região

Índice de atendimento com rede (%) Índice de tratamento dos esgotos (%)

Água Coleta de esgoto Esgotos gerados Esgotos coletados

Total Urbano Total Urbano Total Urbano

Norte 55,4 67,7 10,5 13,4 18,3 81,0 Nordeste 73,6 89,3 26,8 34,7 36,2 79,7 Sudeste 91,2 96,1 78,6 83,2 48,8 69,0 Sul 89,4 98,4 42,5 49,0 43,9 92,9 Centro-Oeste 89,7 97,7 51,5 56,7 52,6 92,1 Brasil 83,3 93,0 51,9 59,7 44,9 74,9

Fonte: SNIS (2018), Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos, 2016.

De fato, a Tabela 14 retrata esse cenário, com o Brasil tendo ainda um longo percurso a ser percorrido, especialmente na coleta e tratamento de esgoto95. O desafio também se apresenta no âmbito regional, com Norte e Nordeste num patamar muito mais precário que as

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A mudança de metodologia realizada pelo IBGE no Censo de 2010 impactou “negativamente” o índice de atendimento de água e esgoto ao conceder uma maior precisão dos reais resultados, fazendo com que ocorresse um retrocesso nos indicadores, comparativamente aos anos prévios a 2010.

demais regiões. Além do mais, verifica-se no setor de saneamento uma situação semelhante ao de energia elétrica, no que se refere ao déficit comercial. Tal fato ocorre especialmente nos equipamentos mais intensivos em tecnologias, seguindo a norma da estrutura produtiva brasileira (PIMENTEL et al., 2017). Esse déficit pode se elevar ainda mais no decorrer dos anos com a inclusão da tecnologia de Internet das Coisas (Internet of Things, IoT), visto que o Brasil não possui a capacidade de produzir essa tecnologia em território nacional.

Quanto as perspectivas de investimentos na atividade, o trabalho de Sarti e Ultremare (2018), que analisa o padrão de investimento do setor de saneamento básico no Brasil, revela- se pessimista. Os principais atores do setor, que são as grandes empresas públicas regionais, conservam uma estratégia conservadora: de baixo patamar de endividamento e de um financiamento majoritariamente calcado em recursos próprios96. Essas empresas adotam uma visão financeira e mercantilista, com uma significativa parcela dos lucros direcionado na forma de dividendos, o que acarreta a redução dos investimentos, visto que esses baseiam-se em recursos próprios. Como consequência, tal visão é atrativa para o capital em virtude de sua rentabilidade, promovendo assim, maiores investimentos privados para a atividade.

Contudo, essa perspectiva financeira e mercantilista, por parte das grandes empresas regionais, não propicia a criação de um volumoso ciclo de inversões, a qual possibilite uma significativa redução do extenso déficit estrutural no setor de saneamento básico. A aceleração dos investimentos requisita de modificações das estratégias dessas empresas, com um maior endividamento e menores distribuições de lucros e dividendos. Há, então, a necessidade dessas empresas perpassarem, de uma visão financeira e mercantilista, para uma visão social que considere o setor de saneamento básico como provedor de um serviço público essencial, constituindo um dever do Estado e um direito inalienável da população (SARTI & ULTREMARE, 2018, p.33). Somados a esses fatores, a municipalização descrita por Bielschowsky (2002) persiste, sendo um desdobramento da Constituição de 1988. Dessa forma, a municipalização se mantém forte e suas consequências também. As empresas são públicas, o poder concedente é municipal e o financiamento e federal, o que acarreta a continuidade dos conflitos de interesses municipais, estaduais e nacionais, elevando a complexidade e a incerteza que permeia o setor.

96 De acordo com Sarti e Ultremare (2018), tal fato decorre da elevada rentabilidade que essas empresas possuem, como Sabesp, Sanepar e Copasa.

3.3.3. Telecomunicações

Dentre os setores que compõem a indústria de infraestrutura, o setor de Telecomunicações é aquele que apresenta a maior taxa de crescimento de seus investimentos (Tabela 15). Tal fato decorre das elevadas inversões durante o processo de privatização, sendo o único setor que apresentou um crescimento no intervalo de 2000 a 2002. Enquanto o setor de Telecom é o único que apresenta crescimento no primeiro subperíodo, no segundo é aquele com o menor aumento em seus investimentos (2002-2010). Os principais fatores para esse acontecimento eram: (i) sua modernização já havia ocorrido na década passada, não requisitando abruptos volumes de investimentos; (ii) apesar de o setor compor a indústria de infraestrutura, esta não fazia parte das prioridades do PAC. Ademais, enquanto os outros setores apresentavam uma dinâmica de atuação mista (empresas públicas e privadas), o setor de Telecom possuía apenas empresas privadas como os grandes players da atividade.

Tabela 15: Taxa média da variação anual dos investimentos em Telecom nos períodos selecionados.

Setor 2000-2002 2002-2010 2010-2015 2000-2015

Telecom 2,46 10,75 -6,43 3,62

Fonte: Elaboração própria; com base nos dados fornecidos por Miguez (2016) e Passoni e Freitas (2018). Analogamente ao período de privatização, a Anatel exerceu um papel central nesse período. As suas diretrizes regulatórias eram utilizadas para manutenção da concorrência e indução de novos investimentos (LIMA e MOREIRA, 2014). Os Leilões 3G em 2007 e 2010 e os Leilões 4G em 2012 e 2014 são exemplos de medidas regulatórias positivas para o setor, exigindo, em contrapartida, a expansão da rede e de sua qualidade. Conciliada essa política regulatória, o Estado empregou políticas públicas de fomento, como o renascimento da Telebrás, com a missão de ampliar a presença da internet de banda larga e difundir a tecnologia no país (LOPREATO, 2013). As transformações que a inclusão digital97 proporcionaram a aspectos estruturantes da sociedade nas últimas décadas, desdobraram-se por distintos segmentos como econômico, social e intelectual. Nessa perspectiva, o seu acesso torna-se essencial para o desenvolvimento e competitividade do país.

97 De acordo com Barros e Oliveira (2017) a importância da inclusão digital é tamanha que pode ser considerada um direito fundamental.

Tabela 16: Vetor de investimentos demandados no período de 2000 a 2015 pelo setor de Telecomunicações (Preços básicos e relativos a 2010 em milhões de reais). Descrição da atividade nível 40 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Média Máquinas e equipamentos 3 434 4 287 3 221 4 149 6 438 7 156 6 707 7 634 5 896 3 949 6 879 6 527 6 819 6 592 5 920 5 951 5 722 Construção civil 626 924 1 488 1 487 946 1 629 4 777 2 772 1 686 1 693 7 108 5 349 4 472 1 895 2 115 1 591 2 535 Serviços de informação 1 793 1 958 1 727 1 602 1 922 2 233 2 448 2 717 2 732 3 019 2 728 3 230 3 253 3 412 3 513 3 453 2 609 SPEF 2 655 2 777 2 561 2 261 2 284 2 488 2 605 3 108 3 300 3 767 3 980 4 188 4 213 4 178 3 919 3 770 3 253 Restante 672 677 639 580 576 752 839 918 960 909 1 114 2 078 1 116 2 910 937 875 1 035 Total 9 179 10 622 9 637 10 078 12 167 14 259 17 376 17 149 14 573 13 337 21 810 21 372 19 873 18 988 16 403 15 641 15 154 Fonte: Elaboração própria; com base nos dados fornecidos por Miguez (2016) e Passoni e Freitas (2018).

Tabela 17: Participações (%) das atividades no vetor de investimentos demandados no período de 2000 a 2015 pelo setor de Telecomunicações.

Descrição da atividade nível 40 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Média Máquinas e equipamentos 37,41 40,35 33,42 41,17 52,92 50,19 38,60 44,51 40,46 29,61 31,54 30,54 34,31 34,72 36,09 38,05 38,37 Construção civil 6,82 8,70 15,44 14,76 7,77 11,43 27,49 16,16 11,57 12,69 32,59 25,03 22,50 9,98 12,89 10,17 15,38 Serviços de informação 19,53 18,44 17,92 15,89 15,80 15,66 14,09 15,85 18,75 22,63 12,51 15,12 16,37 17,97 21,41 22,08 17,50 SPEF 28,92 26,14 26,58 22,43 18,77 17,45 14,99 18,12 22,64 28,25 18,25 19,60 21,20 22,01 23,89 24,11 22,08 Restante 7,32 6,37 6,63 5,75 4,74 5,27 4,83 5,36 6,58 6,81 5,11 9,72 5,61 15,33 5,71 5,60 6,67 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

O Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) simbolizava esse ensejo, visando à massificação do acesso à internet por banda larga, redução de preços e uma maior qualidade dos serviços. A implementação de desonerações em equipamentos e obras de redes de telecomunicações tinham o propósito de reduzir os custos do investimento e, por conseguinte, elevá-los. Essa medida não obteve o desempenho esperado, bem como os outros Planos Nacionais. A conjuntura política e econômica e um planejamento e execução inadequados acarretaram resultados adversos aos desejados. Os investimentos decaíram a partir de 2010 (- 6,43% ao ano), retratando o momento de declínio do setor e da economia. Embora o setor de telecomunicações no Brasil seja avantajado, posto que é dos maiores mercados de serviço do mundo, com elevadíssimo número de assinantes de planos de celular, este apresenta baixo índice de acesso à banda larga e uma velocidade precária. O setor passa, ainda, por uma perda de competitividade e elevação do déficit comercial como os demais setores.

Por meio da Tabela 16 e 17, torna-se possível notar a relevância das atividades dos Serviços de Informação e Máquinas e Equipamentos no setor, retendo a parcela majoritária da oferta de investimentos. Tal situação retrata o papel exercido pelos bens de capital, informática e telecomunicação na expansão dos serviços do setor. Entretanto, a estrutura produtiva brasileira de Telecom se consolidou como uma montadora dos equipamentos98, sendo que o valor agregado dos produtos está aglomerado em ativos intangíveis, acarretando grave deficiência da indústria (LIMA e MOREIRA, 2014). O Brasil possui um potencial a ser explorado no setor, graças ao seu amplo mercado interno e, também, ao se considerar em seus desdobramentos nas demais atividades.

As tendências tecnológicas que pressionam o setor a se transformar e se adequar à nova realidade99, também se mostram como uma oportunidade de desenvolvimento industrial e tecnológico. As crescentes conexões entre pessoas e sistemas interligados e conciliados a tecnologias disruptivas ao longo dos anos, fizeram com que um novo conceito de interações de comunicação e processamento se tornasse possível. Esse cenário de ampla interconectividade é a denominada internet das coisas (IoT). Portanto, em virtude dessa tendência, o setor de Telecomunicações será cada vez mais demandado por seus serviços e muito mais integrado nas demais atividades, elevando seu poder de arrasto na produção e na

98

Tal fato não se limita à Telecom, pois essa é a situação de todo o Complexo Eletrônico brasileiro. Ademais, o país abriga um dos maiores mercados mundiais de computadores e número de registros de internet, expondo um segmento com potencial latente (LIMA e MOREIRA, 2014; LIMA 2012).

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A título de exemplo, os serviços de streaming e de nuvem que remodelaram toda a dinâmica setorial, impactaram diretamente o setor de Telecomunicação, por demandarem um elevado volume de processamento de dados (banda larga), sem qualquer obrigação de fornecimento de infraestrutura.

geração de renda. Em outros termos, conforme Barboza et al. (2017), as novas tendências tecnológicas afetaram ainda mais intensamente o setor de telecomunicações no decorrer dos anos, impondo ao Brasil um desafio ainda maior que requisitará não apenas volumosos montantes de investimentos para a modernização e ampliação dos serviços, mas de uma implementação de políticas direcionadas ao desenvolvimento industrial e tecnológico, que poderiam atenuar o crescente déficit comercial vigente e possibilitar uma atuação competitiva em determinados segmentos do setor.

3.3.4. Transporte

Conforme retratado anteriormente, as medidas realizadas na década de 1990 não foram capazes de alavancar os investimentos privados e públicos no setor de transporte. A potencialidade das concessões demonstrava um limite claro, sendo que as mais atrativas já haviam sido efetuadas (BIELSCHOWSKY, 2002). O setor se encontrava em situação precária no início do milênio, de investimentos decrescentes (Tabela 18) e um serviço de baixa qualidade, a qual detinha apenas algumas exceções. Os investimentos exibiam uma tendência oscilante, mas crescente, de 2003 a 2006. Isso indicava que as políticas de concessão adotadas (PPP) não surtiram o efeito desejado.

Tabela 18: Taxa média da variação anual dos investimentos em Transporte nos períodos selecionados.

Setor 2000-2002 2002-2010 2010-2015 2000-2015

Transporte -3,10 14,32 -9,70 3,37

Fonte: Elaboração própria; com base nos dados fornecidos por Miguez (2016) e Passoni e Freitas (2018). Apenas com a implementação do PAC os investimentos apresentaram crescimentos significativos, visto que o programa possuía o setor de transporte como um de seus enfoques. Embora os investimentos tenham se elevado, não alcançaram o volume necessário para promover a desejada alteração da infraestrutura logística brasileira. O setor de transporte era um dos pilares do programa de governo entre 2007 e 2014 (PAC 1 e PAC 2), que visava por meio de sua expansão os ganhos sistêmicos de competitividade tão necessário à indústria brasileira que apresentava sinais de degeneração.

Tabela 19: Vetor de investimentos demandados no período de 2000 a 2015 pelo setor de Transporte (Preços básicos e relativos a 2010 em milhões de reais). Descrição da atividade nível 40 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Média Máquinas e equipamentos 1 440 1 307 1 118 954 1 524 1 645 1 810 1 589 2 292 1 642 2 607 2 471 2 216 2 425 2 720 2 420 1 886 Automóveis e etc. 10 027 8 939 6 518 6 749 15 155 6 874 14 762 27 983 37 174 27 862 27 854 26 733 13 101 11 047 10 668 3 868 15 957 Peças e acessórios 6 284 6 596 5 791 6 567 11 121 7 723 7 718 8 693 12 098 9 876 14 172 13 445 9 982 11 177 9 487 5 403 9 133 Outros equipamentos de transporte 398 556 1 327 1 888 2 274 3 311 3 005 2 646 4 355 5 080 2 510 3 060 2 260 1 193 2 085 2 452 2 400 Construção civil 1 579 2 297 3 660 3 618 7 539 8 290 10 927 8 429 8 996 11 364 8 832 9 417 13 990 28 682 26 617 16 037 10 642 Serviços de informação 1 859 2 040 1 854 1 760 2 010 2 407 2 705 2 986 3 153 3 371 3 405 4 163 4 231 4 665 4 980 4 962 3 159 Restante 581 575 546 601 756 809 914 892 1 207 1 216 1 353 1 313 1 427 1 968 1 862 1 321 1 084

Total 22 167 22 310 20 815 22 136 40 379 31 060 41 842 53 217 69 275 60 412 60 732 60 601 47 209 61 157 58 418 36 463 44 262

Fonte: Elaboração própria; com base nos dados fornecidos por Miguez (2016) e Passoni e Freitas (2018).

Tabela 20: Participações (%) das atividades no vetor de investimentos demandados no período de 2000 a 2015 pelo setor de Transporte