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Capítulo 3 – A dinâmica dos investimentos em infraestrutura no Brasil

4.4. Evolução da estrutura do setor de infraestrutura

4.4.3. Renda

No que diz respeito aos encadeamentos para trás, no âmbito do valor adicionado, nota- se idêntica trajetória nos três segmentos. Posteriormente à queda, a qual vigorou até 2002, os patamares permaneceram estáveis no decorrer do intervalo. Houve certa recuperação do indicador, nos anos de 2014 e 2015, o que acarretou patamares acima da média no intervalo, mas inferiores ao seu início. Apesar de os setores terem pioras de suas classificações entre 2000 e 2015, ainda assim, apresentam-se levemente acima da média (Tabela 46). No ano de 2000, os setores de EESB, Transporte e Telecom possuíam, respectivamente, vigésimo, décimo sexto e sétimos maiores backward linkages, passando, em 2015, para o vigésimo terceiro, décimo sétimo e oitavo.

Tabela 46: Encadeamentos para trás (backward linkages) dos setores de Infraestrutura referentes à Renda (VA). Média referente ao período de 2000 a 2015.

Descrição da atividade nível 40

2000 2005 2010 2015 Média

BL Ord. BL BL Ord. BL BL Ord. BL BL Ord. BL BL Ord. BL

EESB 1,81 22 1,63 23 1,60 23 1,66 23 1,64 23,06

Transporte 1,86 15 1,68 19 1,66 17 1,78 14 1,69 17,38

Telecom 1,95 6 1,77 7 1,73 10 1,84 8 1,78 7,63

Fonte: Elaboração própria; com base nos dados fornecidos por Miguez (2016) e Passoni e Freitas (2018). De acordo com os coeficientes de variação da Tabela 47, os benefícios do estímulo da renda, providos pelos encadeamentos para trás são, por sua vez, concentrados em poucos setores. É perceptível que, tal fato é uma tendência em todos os resultados referentes aos encadeamentos para frente, havendo apenas algumas exceções.

Tabela 47: Coeficientes de variação (backward linkages) dos setores de Infraestrutura referentes à Renda (VA). Média referente ao período de 2000 a 2015.

Descrição da atividade nível 40

2000 2005 2010 2015 Média

Cv Ord. Cv Cv Ord. Cv Cv Ord. Cv Cv Ord. Cv Cv Ord. Cv

EESB 2,59 5 2,75 4 2,76 7 2,43 8 2,65 6,56

Transporte 2,12 17 2,08 17 2,40 12 2,32 11 2,25 14,38

Fonte: Elaboração própria; com base nos dados fornecidos por Miguez (2016) e Passoni e Freitas (2018). Analisando o trajeto de cada setor, individualmente, primeiramente com EESB, o coeficiente de variação exibiu deterioração no início do intervalo, sendo que, apenas a partir de 2011, a concentração das interações foi reduzida, o que possibilitou a sua conclusão, tanto abaixo de sua média como de seu ponto de origem. Para o caso de Transporte, a datar de 2006, observou-se a elevação da concentração de suas interações com atividade econômica, apresentando uma queda entre 2013 e 2015. Por fim, em Telecom, após um aumento de seu coeficiente de variação até 2008, o setor transcorreu por uma trajetória declinante, fechando o intervalo em um grau inferior de sua média. No tocante ao desenrolar de seus posicionamentos em relação a todas as atividades da economia, o setor de EESB apresentou avanços nesse quesito, partindo da quinta colocação, em 2000, para a décima, em 2015. No caso de transporte, houve o cenário oposto, com sua piora no período, de décimo sétimo em 2000, para décimo primeiro em 2015. Em Telecom, ocorreu basicamente a permanência de seu posicionamento, alcançando, em 2015, o sétimo lugar (era o sexto, em 2000).

Retomando o impacto no valor adicionado, por meio do indicador de poder de dispersão, os segmentos de infraestrutura demonstram uma capacidade em torno da média neste quesito (Tabela 48). Esse cenário evidencia uma proximidade dos impactos dos outros setores da atividade econômica, posto que, suas ordens são consideravelmente distantes, comparativamente aos seus poderes de dispersão. No que se refere a suas dinâmicas no período, o setor de EESB tem uma tendência ligeiramente declinante e, Transporte e Telecom, apresentam um curso estável.

Tabela 48: Poder de dispersão e sensibilidade de dispersão dos setores de Infraestrutura referentes à Renda (VA). Média referente ao período de 2000 a 2015.

Descrição da atividade nível 40 2000 2005 2010 2015 Média Pd Sd Pd Sd Pd Sd Pd Sd Pd Sd EESB 1,01 1,79 0,99 1,88 0,98 1,66 0,98 1,44 0,99 1,66 Transporte 1,04 1,52 1,02 1,50 1,02 1,78 1,05 1,86 1,03 1,66 Telecom 1,09 1,91 1,07 1,95 1,06 1,70 1,09 1,45 1,08 1,77

Fonte: Elaboração própria; com base nos dados fornecidos por Miguez (2016) e Passoni e Freitas (2018). Quanto ao indicador de sensibilidade de dispersão, as atividades têm um impacto significativo. De fato, a evolução dos encadeamentos para frente (Tabela 49) corroboram esse resultado por conservarem semelhantes dinâmicas. Sobre essas dinâmicas, o setor de Transporte exibe um trajeto contrastante a EESB e Telecom, com uma ascensão de suas repercussões desde 2004. De fato, tal conjuntura foi transmitida para o seu ordenamento,

deslocando-se de oitavo, em 2000, para sexto, em 2015. Em Telecom, seu curso é decrescente no percorrer do período, o que indica uma perda de sua capacidade de indutor na geração de renda. O seu impacto encontra-se consideravelmente abaixo de sua média. Todavia, tal situação não ocasiona alteração relevante do posicionamento do setor, ao decair apenas uma colocação entre 2000 e 2015. No caso de EESB, esse foi o que exibiu a maior volatilidade do intervalo. Embora existam ciclos ascendentes e declinantes, indubitavelmente, os movimentos decrescentes sobrepõem-se. Mesmo assim, o setor não apresentou uma perda de sua relevância; seu posicionamento permaneceu em níveis altos.

Tabela 49: Encadeamentos para frente (forward linkages) dos setores de Infraestrutura referentes à Renda (VA). Média referente ao período de 2000 a 2015.

Descrição da atividade nível 40

2000 2005 2010 2015 Média

FL Ord. FL FL Ord. FL FL Ord. FL FL Ord. FL FL Ord. FL

EESB 3,21 7 3,09 7 2,70 8 2,43 8 2,74 7,75

Transporte 2,72 8 2,47 8 2,88 6 3,14 6 2,74 7,13

Telecom 3,42 6 3,20 6 2,75 7 2,45 7 2,93 6,56

Fonte: Elaboração própria; com base nos dados fornecidos por Miguez (2016) e Passoni e Freitas (2018). Um fator o qual é digno de ênfase é o elevado grau de dispersão e homogeneidade de estímulos, que ao serem conciliados com os intensos forward linkages do setor, acarretam um mecanismo poderoso de proliferação de externalidades positivas. Em outros termos, esses resultados fortalecem a capacidade de indutor da demanda agregada e do investimento, por efetuar grandes volumes de transbordamentos por toda atividade produtiva.

4.5. Considerações Finais

Este capítulo avaliou os impactos socioeconômicos dos investimentos em infraestrutura no Brasil entre 2000 e 2015, utilizando o instrumental de insumo-produto para sua concretização. Particularmente sobre esses impactos, foram empregadas duas perspectivas de análise. A primeira, se refere ao choque bruto de investimento ao longo do período, e a segunda, ao choque unitário médio, burlando as variações de volume e de composição dos investimentos.

No caso do choque médio, observou-se, no período analisado, impactos decrescentes dos investimentos nos três âmbitos. Essa tendência declinante vigorou até 2010. Nos anos posteriores, os desdobramentos demonstraram uma tímida retomada, mas ainda inferiores a 2000. As variações nos âmbitos da produção, emprego e renda, entre 2000 e 2015, foram todas negativas, sendo, respectivamente, 3,58%, 10,3% e 4,11%. Esses resultados expressam

que as repercussões e relações intersetoriais desses investimentos com a atividade produtiva se reduziu. Dessa forma, transcorrendo idêntico percurso dos encadeamentos produtivos da economia brasileira.

No que diz respeito aos impactos brutos dos investimentos, quanto a suas variações nos âmbitos da produção, emprego e renda, de 2000 a 2015, foram, respectivamente, 47,3%, 43,5% e 51,6%. É pertinente observar um movimento contrastante entre o choque unitário médio e os impactos dos investimentos. Tal fato, é visualizado de forma mais satisfatória ao se decompor o período em dois subciclos, de 2005 a 2010 e de 2011 a 2015. No caso dos impactos dos investimentos em infraestrutura, no primeiro subciclo, seus impactos socioeconômicos elevaram-se significativamente, enquanto no segundo, exibiram uma dinâmica declinante. Logicamente, esse desenrolar é idêntico ao descrito no capítulo três, sobre os investimentos do setor. Entretanto, para o caso do choque médio, no subciclo de 2005 a 2010, os impactos desses têm tendência decrescente, enquanto no segundo, como citado, apresentaram uma breve recuperação.

A análise sobre o setor de infraestrutura torna-se mais aprofundada por meio da evolução da participação do setor de infraestrutura no valor de produção, emprego e valor adicionado. Verifica-se uma ligeira queda do valor de produção e valor adicionado até 2013, com uma breve recuperação em 2014 e 2015. Apenas o emprego exibe aumento no período. Entretanto, ao observar-se o desenvolvimento dos setores de forma individual, suas dinâmicas são bem distintas. Inicialmente, com EESB, esse exibe um trajeto semelhante ao setor como um todo, mas com uma recuperação mais acentuada, nos âmbitos da renda e produção, a partir de 2015, graças à recomposição tarifária. Para o caso da atividade de Transporte, nota- se a elevação das participações a partir de 2009 em todos os âmbitos, especialmente no valor adicionado. A expansão do setor de Transporte e a manutenção de elevada demanda interna até 2014, possibilitou que os serviços prestados não fossem prejudicados (fretes) pela deterioração da estrutura produtiva brasileira. O setor de Telecom, por sua vez, vivenciou uma conjuntura antagônica. A redução de sua participação nesses âmbitos, desde 2009, é explanada pela regressão produtiva, que os setores de média-alta e alta tecnologia transcorrem, sendo esta, agravada após a crise do subprime e do atual contexto econômico (SARTI & HIRATUKA, 2017; MORCEIRO, 2018; DRACH, 2016). Assim, o ganho de participação em Transporte no decorrer do intervalo e de EESB no seu final, é explicado por elementos intrínsecos de seus setores, respectivamente, serviços de fretes e recomposição

tarifária, bem como pela redução das participações das outras atividades que compõem a economia.

Outro modo de investigar possíveis modificações estruturais no setor de infraestrutura foi por meio de suas ligações intersetoriais. De fato, como forma de encorpar a análise, foram calculados indicadores síntese para produção, emprego e renda. Esses dados baseiam-se na MIP, ou seja, na estrutura produtiva dos setores. Em outros termos, os resultados obtidos nesses indicadores não são os mesmos dos choques de investimento, fundamentados pela MAI. Portanto, os choques em EESB, Transporte e Telecom, não terão resultados idênticos aos demonstrados no Capítulo 4 e 5, por causa da configuração do vetor de investimento demandado. De todo modo, esses indicadores permitem, portanto, um melhor entendimento da dinâmica dos setores da infraestrutura e, assim, dos choques.

Quanto aos resultados desses indicadores, tanto no âmbito da produção como no da renda, os setores de infraestrutura demonstram significante protagonismo, especialmente como indutores da demanda agregada. A combinação de seus intensos forward linkage na renda e um elevado patamar de interações com os demais setores da economia, acarreta um mecanismo poderoso de proliferação de externalidades positivas. A expansão dos investimentos em infraestrutura ocasiona uma maior oferta de insumos, serviços e renda para a economia e, por conseguinte, uma maior produção e geração de renda por parte dos setores demandantes. Por certo, enquanto os indicadores síntese reforçam que a expansão da infraestrutura é relevante na produção e no valor adicionado, no âmbito do emprego o mesmo não ocorre, sendo um aspecto negativo para o seu desempenho na atividade econômica. Todavia, mesmo que os setores de infraestrutura não demonstrem um grande desempenho no âmbito do emprego, enquanto atividade produtiva, os seus investimentos são um grande vetor de dinamismo para a criação e sustentação de novos postos de trabalho, especialmente no setor de EESB.

Em relação à evolução desses indicadores, o que se observou foi uma tendência de queda de seu impacto, entre 2000 e 2015. Se por um lado, os setores que compõem a infraestrutura exibiram ganhos de importância na atividade econômica ao longo do período, como os casos de Transporte, nos âmbitos do valor adicionado e valor de produção (forward linkage, em ambos), por outro, o setor de Telecom obteve redução de seu impacto na geração de renda (forward linkage). Há outros casos semelhantes a esses, como do próprio setor de Telecom, angariando maiores repercussões no emprego. Dessa forma, observa-se uma

dinâmica de contrabalanceamento na indústria de infraestrutura, o que indica uma preservação, embora declinante, do impacto desse setor na atividade econômica.

Esse cenário que o setor de infraestrutura atravessa é semelhante à trajetória das ligações intersetoriais da economia brasileira, possuindo as mesmas tendências de baixa e de alta. O que se verifica, desse modo, é uma redução das relações intersetoriais por toda economia no decorrer do período (especialmente nos setores de maior intensidade tecnológica). Assim, com base nos indicadores síntese do setor de infraestrutura, tal resultado pode indicar que seus investimentos não foram capazes de impulsionar a atividade a outro patamar. Em contraponto, as análises individuais das participações dos segmentos de infraestrutura, no valor de produção, emprego e valor adicionado, podem sinalizar um avanço dos setores de EESB e Transporte, e um retrocesso de Telecom. Como consequência, o que se apresenta mais verossímil é que, enquanto o setor de Telecom e as demais atividades produtivas tiveram uma sistêmica e acentuada queda de seus desdobramentos (desindustrialização), a política pública, por meio do PAC, inibiu ou atenuou tal acontecimento nos setores de EESB e Transporte. Então, tanto o segmento de EESB, como o de Transporte, não demonstraram um genuíno avanço, mas sim, um ganho relativo de sua importância, em virtude da redução das outras atividades.

Capítulo 5 – Os impactos de uma elevação dos investimentos em