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1.4. As características do setor de infraestrutura e de seus investimentos

1.4.1. Os quatro prismas dos investimentos em infraestrutura: macroeconômico,

Os investimentos em infraestrutura se desdobram por diversas dimensões/prismas, tornando-se, como já citado previamente, único em virtude de suas características, posto que sua abrangência é sem igual, atingindo amplamente a esfera econômica, política e social. Todavia, antes de adentrarmos, de forma aprofundada a importância de cada prisma, faz-se necessário enfatizar que esses estão correlacionados, seja ao amplificar ou ao atenuar os efeitos positivos das inversões em infraestrutura.

Posto isso, primeiramente com a relevância macroeconômica do investimento de infraestrutura, verifica-se que, antes de mais nada, bem como o investimento, a inversão de infraestrutura é demanda e, por conseguinte, vital para a determinação do produto, tanto no curto como no longo prazo, conforme retratado previamente pelo PDE. Em outros termos, por ser demanda e, ainda, um componente autônomo, os investimentos em infraestrutura conservam a qualidade de ser um sustentador e indutor do investimento e da demanda efetiva, fomentando a atividade econômica por meio dos encadeamentos de seus investimentos

intensivos em capital, ocasionando efeitos multiplicadores de renda e de emprego. Portanto, verifica-se a importância desses investimentos enquanto demanda, não se limitando a uma mera expansão do produto potencial. Certamente, a dualidade do investimento é o elo para a determinação da estrutura produtiva por parte da demanda, e os investimentos em infraestrutura não escapam dessa lógica. Apesar dos investimentos em infraestrutura não expandirem diretamente a capacidade produtiva, são fundamentais para sua ampliação, impactando assim, indiretamente por meio das externalidades que ocasiona e a produtividade que eleva nas demais atividades (HIRSCHMAN, 1958). Por certo, a atividade econômica conserva um vigoroso vínculo com os serviços de infraestrutura, tornando-se verossímil uma relação complementar entre a taxa de investimento em infraestrutura e a taxa de investimento total e, por conseguinte, com o crescimento da economia. Nesse sentido, um patamar precário de investimentos em infraestrutura pode desdobrar-se em restrições à expansão do PIB a longo prazo32 (PINTO JUNIOR, 2010; ROZAS & SÁNCHEZ, 2004).

Ao observarmos esse dinamismo no prisma microeconômico, torna-se possível constatar que as elevações de demanda e dos encadeamentos produtivos, citadas de forma generalizada no prisma macroeconômico, ocorrem entre atores mais atomizados, como setores e firmas. O aumento da demanda e dos encadeamentos interindustriais fomentam as vendas entre empresas e setores e assim a expansão de sua capacidade, sendo este um processo que se retroalimenta. De acordo com Rozas e Sánchez (2004), as externalidades positivas advindas do setor de infraestrutura acarretam elevações da produtividade dos demais insumos no processo de produção e nas firmas existentes. Também possibilitam uma maior facilidade para a realização de inovações e a propagação do progresso técnico para a economia, reduzindo custos fixos na produção de uma nova variedade de bens e insumos intermediários33 (AGENOR, 2013). Tal fato retrata a função e as características do setor da infraestrutura, de elevada intensidade de capital e difusor do progresso técnico para os demais setores ao elevar suas produtividades34. De acordo com Fleury (2009), dentre os setores que compõem a infraestrutura, o setor de telecomunicações é aquele que apresenta um maior impacto no crescimento econômico. Provavelmente isso se deve a suas características de TIC

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Entretanto, ressalva-se que outros fatores podem ser um limitador para o crescimento, não recaindo apenas nos investimentos de infraestrutura essa responsabilidade.

33 Dentre os segmentos que compõem a infraestrutura, os setores de transporte e telecomunicações são os que possuem maior intensidade de propagação.

34 Os investimentos em infraestrutura ocasionam um crescimento mais elevado da produtividade no setor industrial que no setor de serviços (FLEURY, 2009).

(Tecnologias da Informação e Comunicação), sendo o segmento com maior capacidade disruptiva.

A ampliação dos serviços de infraestrutura, como no caso da rede de transportes, facilita a distribuição e armazenagem, o que promove o acesso a novos mercados, melhor gerenciamento dos estoques e ganhos de escala. Tal fato está relacionado com os aspectos espaciais/territoriais da indústria de infraestrutura. Ademais, a elevação da produtividade dos fatores de produção, conjuntamente aos elementos elencados, possibilita reduções de custos, elevações da receita e do lucro, estimulando a expansão das demais atividades e de suas inversões35. Nesse sentido, torna-se plausível esperar a atenuação dos preços relativos à produção local e o aumento da produtividade, o que favorece maiores interações com o mercado internacional. No caso das exportações, por possuírem uma maior sensibilidade quanto ao mercado externo graças aos maiores níveis de produtividade e custos mais baixos. Para o caso das importações, a obtenção de custos de transporte mais baratos e, ainda, como estas, em alguns casos36, são insumos essenciais no processo produtivo, acabam impactando positivamente a economia. Todos esses fatores listados permitem a instauração de elevações sistêmicas de competitividade na economia, refletida no comércio do país e a sua taxa de

crescimento37 (LEDERMAN, MALONEY E SERVÉN, 2004; ROZAS & SÁNCHEZ, 2004).

No que concerne ao enfoque espacial/territorial, a expansão das redes de infraestrutura constitui-se central à integração territorial e econômica das regiões de um determinado país, tornando-se o pilar para a estrutura econômica de seus mercados38 e de como estes interagem com o mercado internacional39. A prestação adequada dos serviços de infraestrutura são, em virtude de suas características, instrumentos de coesão territorial, econômica e social, integrando e articulando o território40. Isso possibilita uma maior interligação entre os

35 Isso se deve, também, pela elevação da confiança dos agentes, e da instauração de expectativas positivas para o ambiente econômico que os investimentos em infraestrutura geram.

36 Logicamente, isso se refere apenas a um caso específico, não podendo ser generalizado para a prática de uma abertura econômica, o que seria insensato para as economias periféricas. O caso explicitado é específico para as importações competitivas.

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Uma provisão inadequada de infraestrutura ocasiona uma situação antagônica, com elevados custos de produção e uma produtividade mais baixa.

38 O enfoque espacial/territorial expõe a relevância da infraestrutura na integração regional e, consequentemente, como fator condicionante para o desenvolvimento regional e local que, no caso brasileiro, demonstrou-se assimétrico.

39 De fato, a expansão dos serviços de infraestrutura ao longo da história brasileira cooperou para essa distribuição espacial do território brasileiro de forma desigual, principalmente com a predisposição interior-costa e a racionalidade produtiva exportadora.

40 Um entrave relevante à implementação de modificações da distribuição da organização espacial é a característica dos ativos da indústria de infraestrutura. A título de exemplo, uma vez realizada a construção de

residentes, e destes com o exterior, o que eleva as condições e a qualidade de vida dos indivíduos, além de abastecer a produção com serviços essenciais (PINTO JUNIOR, 2010). Portanto, a implementação das atividades produtivas será tanto mais facilitada e estimulada quanto mais abrangentes, e de qualidade, forem os serviços de infraestrutura vigentes. Tal fato é derivado das externalidades que proporciona, atenuando custos e aumentando a produtividade, ampliando, consequentemente, a atividade comercial, o emprego e a renda. Dessa forma, demonstra-se claro o ponto de intersecção entre os prismas microeconômico e espacial. A elevação da integração da economia e das atividades econômicas, cria novos mercados, melhora a acessibilidades dos demais, possibilita a redução de custos e a elevação da produtividade e competitividade, podendo reconfigurar todo o dinamismo entre as firmas e os setores em âmbito interno e externo (ROZAS & SÁNCHEZ, 2004).

De acordo com Rozas & Sánchez (2004), deve-se considerar diversas dimensões, como social, político e econômico para uma compreensão satisfatória da relação entre as inversões em infraestrutura, distribuição espacial e desenvolvimento local. De fato, os investimentos em infraestrutura possuem a capacidade de (re)definir o espaço territorial. Ao integrarem regiões e países, permitem maiores articulações e conexões entre os indivíduos e os mercados. Demonstra-se patente, então, seus impactos nos aspectos sociais e econômicos. Além do mais, tais investimentos conservam caráter político em sua distribuição, visto que expressam muitas vezes a disposição e a capacidade de articulação das autoridades do Estado na fundação e expansão da rede de serviços. Logicamente, essa disposição está plenamente associada às atividades econômicas a serem estimuladas e ao desenvolvimento de certas regiões, sendo que esta última pode acarretar atenuações ou agravamentos da heterogeneidade estrutural existente.

Por fim, no âmbito da concentração de renda, por aumentar a integração com as regiões desenvolvidas, a expansão da infraestrutura é um dos principais meios para maiores acessos de oportunidades, bens e insumos para as regiões menos desenvolvidas, (ESTACHE, 2003). A integração territorial promove o acesso à educação e à saúde das regiões mais pobres, fatores fundamentais na formação e desempenho dos indivíduos. Haverá maior capacitação, mais oportunidades de trabalho e maiores salários e, consequentemente, a redução dos custos de abstinência (ao trabalho) e de capital humano para a economia (AGENOR, 2011; CALDERÓN & SERVÉN, 2004). Ainda, a sua expansão acarreta reduções

uma rodovia, esta não pode ser transportada para outro lugar, tornando-se, em alguns casos, apenas um ativo a

na desigualdade de oportunidades entre os empreendedores, eleva a rentabilidade do investimento e a atividade empresarial entre os segmentos menos favorecidos da sociedade. A convergência destes fatores é, então, vital no processo de crescimento. Portanto, a infraestrutura desempenha uma função elementar para a atenuação das disparidades e a elevação do bem-estar social, especialmente dos indivíduos mais pobres. Tal fato não se limita apenas à renda, mas também à riqueza, visto que a ampliação da infraestrutura promove uma valorização dos ativos das regiões mais desfavorecidas ao integrá-las ao centro dinâmico. O acesso generalizado dos serviços de infraestrutura exerce, então, função crucial para a redução da concentração de renda. Há estudos como o de Estache, Foster e Wodon (2002), Estache (2003), Fleury (2009) e Calderón & Servén (2004)41 que constatam tal impacto.

Destarte, verifica-se que o gasto autônomo em infraestrutura proporciona diversos desdobramentos na economia, constituindo um mecanismo vital para o crescimento econômico e social. Todavia, pôr os investimentos em infraestrutura serem um gasto autônomo, outros elementos são influenciados pelo seu acontecimento e que precisam ser compreendidos, como o aspecto político-institucional.