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Entregar o trabalho no prazo determinado

CAPÍTULO IV: Análise e Discussão dos Resultados

4.1 Regras da formação de tutores a distância

4.1.1.5 Entregar o trabalho no prazo determinado

Também é possível perceber que regras são criadas para que o trabalho seja entregue no prazo determinado. São as regras que envolvem o tempo de ação dos participantes e que parecem ser combinadas e convencionadas segundo o contexto em que atuam, estando sempre relacionadas às demais atividades das quais os sujeitos participam.

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[14] Daniela.V.C[18:20]: sábado, 23 fevereiro 2008

Estamos aguardando o envio do seu trabalho em grupo até amanhã 24/02. OK?! Abraços,

D.Abraços, Daniela.

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A entrega do trabalho também está relacionada às regras da atividade da formação, pois Engestrom (1987) diz que a atividade é conduzida por meio de regras, divisão de trabalho e pela interconexão entre todos os seus elementos. Em relação à consciência sobre as ações praticadas, Vygotsky (1989) já dizia que essa consciência se constrói de fora para dentro, a partir das relações sociais entre participantes de um grupo.

Pode-se perceber que a regra entregar trabalho no prazo determinado é uma regra organizadora para direcionar o alcance do objetivo. Se analisadas as mensagens como interligadas uma às outras, é possível perceber que essa regra parece não ter sido cumprida pelo grupo, uma vez que em uma das mensagens uma aluna-tutora líder do grupo afirma provavelmente vou entregar o trabalho no dia 20, e em

outra, afirma até pedi mais prazo pra gente entregar o trabalho.

Sabe-se que há grupos que entregam trabalhos no prazo determinado e outros não, reafirmando o significado das regras na atividade: elas regulam a ação dos sujeitos no sentido de organizar a atividade, porém, podem ou não ser por eles cumpridas. Se a aluna líder já havia solicitado novo prazo, entende-se que não conseguiram entregar o trabalho no prazo determinado pela equipe multidisciplinar, o que pode ter levado à renegociação da regra.

Esse prazo teve uma nova data determinada pela formadora, o que indica uma flexibilidade nos prazos em geral. Também nesse sentido, é possível pensar a regra como sócio-historicamente situada, uma vez que em nossa cultura, prazos são

frequentemente extrapolados e renegociados. O objeto que está sendo construído está ligado a essa forma de agir, o que significa que os tutores a distância, em relação aos prazos, serão possivelmente flexíveis. A alteração do prazo de entrega é outra indicação de que as regras de uma atividade são violadas em vários momentos. Nada ocorre exatamente como as regras prescritas prevêem, e o que de fato acontece é que o sujeito tende a violar as regras que a comunidade impõe. O grau de criatividade na produção do objeto da atividade se encontra na relação do sujeito com os instrumentos e na frequência com que ele cumpre com as regras propostas para a atividade.

Ainda com relação aos prazos de entrega de tarefas e trabalhos, vejamos as mensagens a seguir:

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[17] Daniela. V.C. [17:26]: segunda, 3 março 2008

Tereza., fui verificar suas notas e realmente não consta nenhuma atividade entregue. Por favor me dê um retorno!

Abraços, Daniela.

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[18] Tereza.R.B. [19:34]:

Daniela, eu mandei um recado para Y. hoje e falei pra ela que posso entregar até o dia 05. ela ainda vai me dar uma resposta! Abraços!

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[19]Daniela. V. C. [14:24]: terça, 4 março 2008

Olá C.,

Aumentei o prazo para atividade que deveria ter sido realizada em grupo. Você tem até o dia 07/03 para realizá-la, caso seja de seu interesse. Me dê um retorno!

Abraços, Daniela

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Por meio da voz da formadora, a mensagem 17 fui verificar suas notas e realmente não consta nenhuma atividade entregue indica que a aluna-tutora, até essa

data, ainda não havia entregue nenhuma tarefa solicitada. A regra relacionada ao cumprimento de prazos é prescrita no ambiente e também pelos formadores. Ela existe porque existe uma comunidade, e as regras, na atividade, constituem a base das relações entre o sujeito e essa comunidade, estabelecendo indiretamente uma

relação entre o sujeito e o objeto da atividade. Não se consegue atingir uma meta caso não haja um procedimento a seguir. Como se trata de uma regra para entrega de tarefa individual, o sujeito precisa observar as datas determinadas no ambiente.

No entanto, como visto na metodologia deste trabalho, o aluno de EaD no CEAD/Ifes, é considerado, com base na concepção de Paulo Freire, como o centro do processo de ensino-aprendizagem, portanto, a ele serão dadas todas as chances que precisar, com relação a flexibilizar esses prazos, para o bom resultado de sua aprendizagem. Essas chances de prorrogação de prazo podem ser vistas como uma contribuição, portanto, para a aprendizagem do aluno.

Observando a mensagem 16, a seguir, o prazo da entrega do trabalho é alterado para viabilizar a entrega da aluna-tutora. A formadora, a partir do papel assimétrico que lhe é atribuído pela própria função que exerce na atividade e, portanto, investida de um poder de decisão sobre o andamento das tarefas propostas no curso, determina essa flexibilidade e concede uma nova chance à aluna, de concluir e enviar o trabalho. Para Engeström (1999), um sistema de atividade é sempre heterogêneo e multifocado e existe uma constante construção e renegociação das regras em que as tarefas são redesenhadas e as regras reinterpretadas.

Na mensagem a seguir, outra aluna-tutora demonstra não haver conseguido concluir suas tarefas. Observemos:

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[16] Ana.A.Z.A. [18:44]: D. domingo, 24 fevereiro 2008

O texto cobrado eu postei no ambiente 2 vezes. Na primeira acho que fiz besteira. Enviei também para a E., que é a coordenadora do grupo.

Qualquer problema aguardarei um retorno.

Não consegui fazer todas as minhas atividades pois quando fui fazê-las já havia encerrado o prazo, infelizmente.

Abraços! Ana.

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O interessante, como se pode notar na mensagem 16, é que a aluna-tutora diz ter postado o texto (tarefa a ser enviada) duas vezes, porém, sem sucesso. A aluna acaba, portanto, enviando a tarefa para a líder do grupo, denominada por ela de coordenadora. Evidentemente, o sistema havia encerrado o prazo de envio e ela perde a oportunidade de entregar a tarefa. Esse tipo de tarefa (individual) é controlado, no ambiente Moodle, por um comando que bloqueia o envio após a data

determinada, diferentemente da situação do trabalho em grupo. O descumprimento da regra sobre prazos de entrega de tarefa, provavelmente, acarretou consequências relacionadas ao resultado final da aluna-tutora, pois suas tarefas devem ter sido computadas no sistema como não completas. É nesse sentido que é possível destacar que o papel das regras é, de fato, o de regular as ações do sujeito na atividade.

A regra da atividade, na verdade, é esticar o prazo para que o aluno tenha chance de entregar a tarefa. Assim como na modalidade presencial, essa regra de prazo será sempre negociada entre tutor e aluno o tempo todo, sempre procurando dar ao aluno, a chance de entregar o trabalho. Isso é sócio-histórico na educação. A regra da formação é, portanto, flexibilizar, ou seja, alterar os prazos determinados e aceitar o trabalho do aluno, independentemente de quando ele vai entregar.

Essa flexibilização do prazo de entrega do trabalho é uma regra que, dificilmente vai deixar de existir. A aluna-tutora, escolhida para liderar o trabalho, optou pela solicitação de novo prazo logo que percebeu que as colegas não enviaram suas contribuições a tempo. A maioria dos alunos pede prazo maior ao professor para entregar seus trabalhos. Essa ação nos permite visualizar como ocorre a violação das regras estabelecidas pelo sistema e como, na realidade, elas são negociadas e recriadas ao longo da atividade. O prazo de entrega do trabalho foi determinado pelo formador por meio da regra prescrita no ambiente, mas, no entanto, houve a possibilidade de alteração desse prazo por conta da necessidade do grupo. Toda a discussão em torno da alteração da regra constitui-se uma regra implícita na atividade.