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CAPÍTULO III: Metodologia da Pesquisa

3.1. Natureza da Pesquisa

Esta pesquisa tem como base metodológica a pesquisa etnográfica qualitativa. Segundo Goldenberg (1999), os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa se opõem àquela que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. Na abordagem qualitativa, o pesquisador procura aprofundar-se na compreensão dos fenômenos que estuda – ações dos indivíduos, grupos ou organizações em seu ambiente e contexto social –, interpretando-os segundo a perspectiva dos participantes da situação enfocada, sem

42O curso de capacitação de tutores a distância é composto por um conjunto de disciplinas e tarefas

didático-pedagógicas que têm como objetivo principal oferecer uma formação sobre acompanhamento e monitoramento de alunos que fazem cursos a distância. Criou-se uma estrutura de disciplinas responsáveis pela formação tanto pedagógica quanto tecnológica. O curso teve como objetivo capacitar profissionais graduados em áreas específicas para atuarem como tutores a distância em cursos de EaD.

se preocupar com representatividade numérica, generalizações estatísticas e relações lineares de causa e efeito.

Ressalto que o estudo etnográfico, com base na abordagem qualitativa, possui características próprias. A observação e a entrevista são elementos que fazem parte dos procedimentos de coleta de dados. Nesta pesquisa, especificamente, será considerada a observação. Como aponta Halloway (1997), além da observação e entrevistas, o estudo etnográfico se valida de documentos, cartas, diários e fatos históricos de um determinado grupo em que os participantes e suas ações são observados. Esse autor destaca a ação do pesquisador que implica estudar as regras de uma cultura e as mudanças que podem ocorrer em um determinado contexto, com o decorrer do tempo.

A dificuldade de escolha por uma metodologia coerente com o contexto da EaD ocorre por ela ainda não possuir teorias próprias e técnicas etnográficas consolidadas. Uma discussão metodológica ainda flui entre os pesquisadores, e optei por observar as articulações do processo inicial da implantação do EaD no contexto local da pesquisa, para, após isso, decidir como coletar dados significantes. Para Halloway (1997), a observação é uma estratégia de coleta de dados em que a ação do pesquisador é observar o lugar e as pessoas em seu ambiente natural e ainda ouvir as pessoas envolvidas no estudo. O ambiente a observar pode ser aberto, em que outras pessoas podem estar presentes, ou fechado, em que apenas os sujeitos envolvidos aparecem no contexto. Em particular, o ambiente educacional é considerado um ambiente fechado, haja vista o número limitado de pessoas no contexto, ou seja, apenas alunos e tutores ou professores especialistas autorizados fazem parte do ambiente pesquisado.

Para que eu pudesse observar o processo de implantação da educação a distância no Ifes e estar presente às reuniões de coordenadores, foi necessária uma autorização do Diretor de Ensino da instituição. Na qualidade de pesquisadora, segundo Halloway (1997), meu papel foi de observadora. Essa condição significa que não tive participação ativa no processo investigado. O autor usa uma metáfora para classificar esse tipo de observador. Na visão dele, esse observador é uma “fly

on the wall”, metáfora apropriada à minha atuação de apenas observar o contexto da

pesquisa. Outra metáfora apropriada a essa abordagem metodológica é aquela em que o pesquisador observa o contexto de pesquisa através de um espelho de dois lados, que não são visíveis e não têm impacto na situação, ou seja, nossa imagem

não se reflete na pesquisa.

Diferentemente das pesquisas tradicionais em ambientes de sala de aula presencial, as técnicas etnográficas aplicadas à comunicação online, segundo Braga (2006, p.1), apresentam um grande desafio metodológico. Ela sugere que

um primeiro ponto importante que deve estar no horizonte metodológico da pesquisa diz respeito ao momento histórico em que ela se realiza. O processo de interação social ocorrente no interior dos ambientes proporcionados pela internet é recente, e parte das estratégias individuais e grupais não herdadas, mas adquiridas por apropriação e adaptação de regras já estabelecidas, próprias de outros contextos relacionais.

A autora usa o neologismo “netnografia” (nethnography = net + ethnography), termo cunhado por um grupo de pesquisadores norte-americanos em 1995, para se referir à observação em contexto digital. Apesar de ser uma pesquisadora do tipo “fly

on the wall”, Braga (2006, p.5) me chamou a atenção para um tipo de observação

participante, mesmo que invisível. Ela usa o termo “lurking” e afirma que, nessa condição, a observação na pesquisa

irá viabilizar a apreensão de aspectos daquela cultura, possibilitando a elaboração posterior de uma descrição densa, que demanda uma compreensão detalhada dos significados compartilhados por seus membros e da rede de significação em questão.

As categorias que formam a unidade do fazer etnográfico, segundo Braga, incluem participar, observar e descrever; e a condição que possibilita o ofício do etnógrafo se caracteriza pela imersão e pela experiência da efetiva participação no ambiente pesquisado. Neste trabalho, tive a possibilidade de acessar várias salas do ambiente Moodle, ambiente de aprendizagem desta pesquisa, sem que o usuário o percebesse. Isso me tornou uma participante invisível; não interagi com nenhum dos alunos ou professores, tanto que na categoria participante, no ambiente Moodle, ocupei a posição ‘oculto’, decisão tomada pela coordenadora do projeto UAB/Ifes, uma vez que não fiz parte da equipe responsável pelo processo de desenvolvimento do curso.

A pesquisa qualitativa de base etnográfica é caracterizada, na opinião de Moita Lopes (1996), pela preocupação com todo o contexto social da sala de aula e com a visão que os participantes desse contexto têm sobre o que está acontecendo. Mesmo que a pesquisa não tenha a sala de aula tradicional como ambiente central

de observação, é relevante dizer que ela se enquadra na tradição interpretativista de pesquisas nas ciências sociais. Moita Lopes (op cit., p.167) afirma: “A observação é

guiada pelos próprios dados que se apresentam ao pesquisador, que vai, então, construir, através de instrumentos de pesquisa específicos (notas de campo, diários, gravações, entrevistas etc.)”.