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10 ESTUDO DE CASO 2: QUEM SOLTOU O PUM?

Quando a Companhia das Letrinhas ligou para o casal de autores Blandina Franco e José Carlos Lollo propondo transformar Quem Soltou o Pum? em livro digital, o primeiro da editora, queria apostar em algo que já fazia sucesso entre as crianças. O livro em papel sobre o cachorro chamado Pum era um sucesso de vendas, uma boa aposta. O que ninguém previa era que, naquele ano de poucas tentativas com a nova plataforma e muitas dúvidas sobre que linguagem seguir com ela, o livro brasileiro ganharia menção honrosa no Bologna Ragazzi Digital Award 2012, ficando entre os três melhores de 125 candidatos. Era uma vitória. E uma boa indicação de que, se não havia ainda “um jeito certo” de fazer livro digital para tablet, a editora e os autores haviam encontrado uma maneira de apresentá-lo.

Mas que maneira é esta? Antes de mais nada, é importante dizer que o Pum digital tem exatamente o mesmo texto que a obra no papel. Não houve mudanças, a não juntar mais frases à mesma tela. Por isso, os desenhos também sofreram leves acréscimos ou junções. A maior diferença, portanto, diz respeito a algumas animações simples e, principalmente, às interações, a começar pela possibilidade de escolher entre ler o texto com ou sem narração. Há passagens com brincadeira dentro, porém, nunca a brincadeira sai da história, já que essa era uma preocupação de todos os envolvidos na elaboração do livro digital. “E se a brincadeira for mais importante do que a história, não é um livro, você perde a qualidade de um livro. O que é importante num livro? Tem que ter a ver com a história”, conta Blandina69, sobre as perguntas que se fizeram no início do planejamento do livro.

Passemos, agora, à explicação tela a tela sobre as possibilidades e diferenças entre as versões “analógica” e digital.

Tela 0

A própria capa já começa interativa, com uma música acionada automaticamente, e a reprodução quase igual da capa em papel, com a diferença de que o cachorro é animado e o menino, que se segura à coleira, pode ser mexido para lá e para cá pelo leitor. Na versão impressa, Pum, o personagem, corre atrás de um pássaro.

                                                                                                               

Figura 15 – Capa do livro digital Quem Soltou o Pum? Reprodução

Tela 1

É dada a opção para o leitor de acompanhar a história com ou sem narração. Um menino faz a voz do personagem principal, o dono do Pum – vale a pena ouvir uma vez com narração, pois a leitura-contação de história fica divertida na voz de Enrico Espada. Nesta tela, a cada toque uma patinha vermelha surge na página.

Tela 2

Ao abrir a tela, o barulho de um brinquedo já faz os olhares do leitor procurarem pelo objeto, que pode ser jogado para um lado e outro, sempre fazendo o som que lhe é peculiar. Na lavanderia, onde se passa a primeira cena, há uma porta fechada que “pede” para ser aberta, ainda mais quando o texto diz “Nada me deixa mais feliz do que soltar o Pum”. Ao tocá-la, o menino aparece e o cachorro levanta, derrubando seu pote e abanando o rabo e movendo a língua numa animação automática.

Figura 16 – Cachorro Pum, triste, na lavanderia fechada. Mas basta tocar a porta para ela se abrir e Pum pular de alegria. Há recursos escondidos na página: no ferro, na lavadora...

O leitor pode explorar o ambiente, que é uma junção das páginas 4-5 e 6-7 do livro de papel. Se tocar no ferro, uma fumaça e o som de objeto sendo queimado logo aparecem. Se a criança tocar nas máquinas de lavar e secar, vai fazer o tambor se movimentar e fazer um barulho característico.

Tela 3

Ao virar esta página, Pum pula sobre uma senhora na cadeira, derrubando-a e fazendo todos os utensílios do chá caírem no chão, com barulho de cerâmica sendo quebrada. Após a leitura, a criança pode bagunçar um pouco mais a cena, jogando os objetos para lá e para cá e, se apertar o rosto do menino, vai ver ele soltar uma onomatopeia

de quem lastima pelo ocorrido.

Tela 4

Basta virar a página, apertando a patinha vermelha no canto inferior direito, para ver o cachorro cavando um buraco no jardim do prédio, emitindo som correspondente. Na cena, a síndica balança automaticamente o pé, dando uma bronca no menino. No texto, ela diz: “Quantas vezes eu vou ter que repetir que não quero o Pum aqui? Vou falar com a sua mãe”. Mas, se a criança tocar em qualquer parte da síndica, vai ouvir algo semelhante a isso: “Uaruaruaruaa”, uma onomatopeia de bronca típica de desenho animado. E, se tocar na guarita do porteiro, um telefone vai tocar. Ainda na cena, a criança pode explorar a interação com o anão de jardim, que mais parece uma brincadeira de joão-bobo, também com recurso audiovisual.

Tela 5

Nesta tela, só o rabo de Pum se move silenciosamente ao abri-la. A dica para o leitor arrastar o cachorro para um lado e outro é a indicação de que, quando soltava o cão no quintal da casa para onde foram morar, era uma festa. A criança pode arrastar o animal para o vaso e, assim, derrubá-lo; para a árvore e, desta forma, fazer o passarinho levantar voo; ou para a mangueira, na qual ele se enrola inteiro.

Figura 17 – Folia no quintal. Nesta parte, Pum pode ser arrastado para a planta, e derruba o vaso, para a mangueira, se enrolando nela, ou para a árvore. Reprodução

“A gente tinha uma preocupação de não fazer nada, nenhuma animação ou brincadeira, que não estivesse dentro da história. Por exemplo, tem uma hora em que o Pum está no quintal e a gente pensou em fazê-lo seguir uma mosca”70, conta Lollo. Ao que Blandina complementa: “A brincadeira com a mosca, seria divertida para a criança, mas não tinha nada a ver com a história, com o que estava acontecendo aquela hora”71. E foi assim que ela não entrou para a história, muito embora na ilustração da versão de papel seja exatamente isso o que o cão esteja fazendo: perseguindo uma mosca.

Tela 6

Ao virar a página, o leitor ouve um som de metal: é um balde caindo. Obra da bagunça de Pum, que derruba tudo e faz muito barulho, gerando a reclamação do vizinho. Só pelo braço animado que aponta sem parar o dedo para o cachorro, já dá para perceber o quão bravo ficou o vizinho, assim como o texto conta. E, se a criança tocar o vizinho, vai ouvir uma reclamação irreproduzível, comparada a da síndica páginas antes.

Tela 7

Assim que a tela muda, o leitor tem uma surpresa: está tudo apagado, mal dá para ver o contorno dos objetos. Só um item se sobressai nesta escuridão, o abajur. É preciso tocar nele para acender a luz e proceder a leitura. Na ilustração, Pum já está embaixo do lençol do menino, porém, a parte traseira para fora da cama desperta a vontade no leitor de puxá-lo dali – e ele se move! Mas corre de volta para a cama assim que o dedo não o segura mais. Além disso, a criança ainda pode descobrir, tateando, que o relógio faz barulho de despertador.

                                                                                                               

70  LOLLO, São Paulo, 2012   71  FRANCO, São Paulo, 2012  

Figura 18 – Segredos no escuro. Na tela em preto, destaca-se um abajur. Tocar nele é instintivo: a luz se acende e vê-se Pum na cama. Para tirá-lo dali, basta arrastá-lo para a esquerda. Mas ele volta para ela!

Reprodução

Tela 8

O barulho de chuva recepciona o leitor nesta página. Está chovendo, e Pum corre sem parar (sem sair do lugar) pela chuva. Há poças por ali e não é difícil pensar para onde um cachorro correria? Se a criança conduzir Pum a três poças diferentes, vai ver o cachorro se sacudir em todas as posições possíveis – e esparramar água para todo lado, com direito a onomatopeia.

Figura 19 – Brincadeira na chuva. Basta empurrar Pum para uma das três poças para a festa começar. Ele se esbalda e o leitor ouve até o barulho do cão se remexendo na água. Reprodução

Tela 9

É claro que os dois levariam bronca da mãe, que fica apontando o dedinho para lá e para cá, em sinal de bronca. O barulho dos pingos caindo do menino no chão estão presentes o tempo todo durante a leitura. E se a criança tocar a mãe, vai ouvir aquela onomatopeia tradicional para a bronca – mas pode tocar nas poças que ficaram no chão e escutar um sonoro

splash, daquele gostoso de quando se pula na poça d’água.

Tela 10

Nesta página, uma festa reproduz personagens animados e barulho de conversa, bem como o menino olhando pela janela do quarto para ver se Pum está bem. O cachorro está em

primeiro plano, triste. E basta tocar nele para ter certeza: ele faz aquele barulho típico de choro dos cães.

Tela 11

Neste trecho, o menino lembra do Natal passado, quando o cão escapou e emporcalhou a calça da tia Clotilde. O que o leitor logo descobre, é que dá para emporcalhar muito mais do que isso, pintando patinhas a cada toque pela página toda.

Figura 20 – Efeito carimbo. Utilizado por alguns aplicativos, este recurso funciona como a impressão de um carimbo. A cada toque, uma patinha a mais surge. Reprodução

Enquanto isso, o garoto tenta colocar a culpa de o Pum ter escapado no irmão menor, apontando o dedo com uma animação automática. O bebê, por sua vez, suga a chupeta quando tocado.

Tela 12

Tia Clotilde aparece também nesta página – diz o garoto que ela adora soltar o Pum escondido de todo mundo e depois faz cara de santa, dizendo que não foi ela. Aqui, um Pum bem agitado lambe sem parar a imagem congelada da tia. E o menino vê tudo saindo pela porta. É o que diz o texto: o cachorro fica em volta dela fazendo o maior barulho. E basta tocar nos dois pra ouvir o som de uma lambida e uma risada escandalosa da mulher.

Tela 13

O cachorro está na maior algazarra, todo enrolado em papel higiênico e fazendo a maior barulheira no banheiro quando o leitor chega a este trecho. Aqui, a criança pode explorar o ambiente. Se apertar a pia, um barulho de água escorrendo aparecerá, se tocar o

botão do vaso sanitário, o som será o de descarga. Dá ainda para jogar os papéis soltos para cima e abrir a porta para ver o menino entrar.

Figura 21 – Pum no banheiro. Novamente, há o recurso de abrir a porta, além de jogar alguns papéis pela tela. O leitor também pode tatear para descobrir outros recursos sonoros, como o som da descarga. Reprodução

Tela 14

Esta página não tem interação possível, mas a animação vai seguindo enquanto cachorro passa derrubando tudo. É porque, como diz o menino, ele não consegue segurar o Pum.

Tela 15

Reproduz os textos informativos sobre os autores. Tem a ilustração do cachorro abanando o rabo.

Tela 16

Junto aos créditos finais, há um vídeo que, na verdade, é um teaser da Companhia das Letrinhas para divulgar o livro de papel.