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5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.2. ESTUDO QUALITATIVO

O problema de pesquisa considerado neste estudo envolve um fenômeno que se apresenta de forma ampla e ainda carente de objetividade. Para que o fenômeno possa ser mais bem compreendido e observado no contexto em que ele ocorre, fez-se necessária uma pesquisa de cunho exploratório. Para Vergara (1998), as pesquisas exploratórias são utilizáveis em área na qual existe pouco conhecimento acumulado e sistematizado. Por sua natureza de sondagem, não comporta hipóteses, sendo que estas poderão surgir durante ou no final da pesquisa, sendo a preferência da sua utilização em métodos qualitativos.

Para a condução dos estudos qualitativos, os objetivos específicos (relacionados na Introdução deste trabalho) foram associados aos temas a serem discutidos nas entrevistas, como exibido no Quadro 13.

Quadro 13. Matriz de amarração: temas para as entrevistas e objetivos específicos.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS TEMAS PARA AS ENTREVISTAS

(1) Identificar como os agentes usam a inovação tecnológica para desenvolver a convergência. (2) Identificar que aspectos da inovação tecnológica

contribuem para que os consumidores percebam que os produtos e serviços inovadores têm valor agregado.

Origem do conhecimento tecnológico aplicado ao Setor. Processos de desenvolvimento, de escolha e de introdução de inovações tecnológicas (produtos e serviços inovadores).

Monitoramento da satisfação do consumidor em relação às inovações.

(5) Identificar como os fatores econômicos, sociais e culturais estão influenciando a inovação

tecnológica e assim contribuem para o processo que leva os agentes à busca de vantagens competitivas.

(6) Identificar como os agentes podem gerar vantagens competitivas a partir da convergência digital e da percepção de valor pelos

consumidores.

Geração de vantagens competitivas; sustentabilidade das vantagens; estratégias de longo prazo.

Compreensão dos agentes sobre a importância das vantagens competitivas e da sua sustentabilidade. Barreiras à entrada de concorrentes; relações com fornecedores e com agentes de outros setores; possibilidades de integração vertical e de alianças estratégicas.

(4) Identificar em que medida a atuação reguladora do Governo está incentivando a inovação tecnológica e assim contribuindo para o processo que leva os agentes à busca de vantagens competitivas.

Evolução dos agentes após a privatização; mudanças estruturais e novos modelos de negócios; percepção da atuação da agência reguladora na nova estrutura setorial. Influência sobre a introdução de inovações tecnológicas para o desenvolvimento setorial. (3) Identificar de que modo a convergência digital

pode gerar a percepção pelos consumidores de valor agregado nos produtos e serviços inovadores.

Importância e da evolução da convergência digital para que a inovação tecnológica leve à geração de vantagens competitivas.

Percepção do consumidor em relação à geração de valor agregado, gerado pela inovação tecnológica.

Estes temas constituem o Roteiro básico usado para conduzir as entrevistas e que está exibido no Apêndice. O Roteiro foi adaptado para as entrevistas com cada especialista, conforme o estrato setorial a que pertence sua empresa e que originou o seu conhecimento do assunto.

A escolha da entrevista em profundidade como forma de coleta de dados, em oposição a entrevistas não estruturadas, entrevistas em grupo e observações, baseia-se no pressuposto de que existe uma postura ontológica que sugere “que o conhecimento, a compreensão, as interpretações, as experiências e as interações das pessoas são propriedades significativas da realidade social que a questão da pesquisa pretende explorar” (MASON, 2002, p.63). Maykut & Morehouse (1994) complementam afirmando que, através de entrevistas em profundidade, é possível obter informações que melhoram a compreensão do fenômeno em estudo, através de conversas informais e não estruturadas com pessoas envolvidas no fenômeno. A principal característica deste tipo de entrevista é a profundidade da conversa, que se move da fala superficial para uma rica descrição de pensamentos e de sentimentos.

Para Stevenson (1981), os termos população e amostra se referem a um conjunto particular de circunstâncias. Conceituando os termos em questão, Vergara (1998) entende que população é um conjunto de elementos que serão objeto de estudo, enquanto que amostra é uma parte dessa população. A definição da população foi feita considerando as empresas que constituem o Setor de Telefonia Celular, subdivididas em cinco estratos, correspondentes às cinco Camadas da Indústria de Info-comunicação, conforme Quadro 14.

Quadro 14. Estratificação da população para a pesquisa qualitativa. Camada 1: fornecedores de hardware e de software Camada 2: operadores de redes Camada 3: provedores de conectividade Camada 4: provedores de navegação Camada 5: fornecedores de serviços

Alcatel-Lucent (*) Embratel Terra Google Telefónica (*) Ericsson (*) Telefónica UOL Yahoo TIM (*)

Sansung Sky IG Skype Claro (*)

Motorola AES (*) Yahoo Vivo (*)

NEC Primesys (*) Br Telecom (*)

Nokia Oi (*)

Siemens NET

LG TVA

Avaya (*)

Para a definição da amostra, baseou-se em Maykut & Morehouse (1994), que recomendam que a amostra seja constituída por pessoas que tenham se distinguido em suas atividades e que tenham informações que possam ser úteis para a compreensão do problema e

para a formulação de hipóteses. Neste estudo, as pessoas escolhidas têm ocupação profissional que as destacam no universo de pessoas em condições de contribuir e que, por conveniência, pudessem ser encontradas nas empresas que compõem o universo da pesquisa e que pudessem ser entrevistadas. Não houve definição a priori da quantidade de entrevistas a serem realizadas, pois como recomenda Mason (2002, p.134), devem ser realizadas entrevistas até que se tivesse “certeza de ter atingido um volume de dados suficientes para gerar uma explicação apropriada ao problema”, ou seja, até ser atingido o “ponto de saturação teórica”. No Quadro 7, estão assinaladas com (*) as empresas de onde foram escolhidos os entrevistados e que fizeram parte da amostra.

Para a análise dos documentos (transcrições das entrevistas) foi aplicada a técnica de análise de conteúdo, que, segundo Bardin,

(...) representa um conjunto de técnicas de analise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 1977, p.42).

Conforme sugestão desta autora, a análise de conteúdo foi feita em três etapas: pré- análise, exploração do material e tratamento dos resultados. Na pré-análise foi feita uma leitura “flutuante” das transcrições, de modo a organizar as idéias contidas nas transcrições, visando os procedimentos das etapas posteriores. Na etapa seguinte, para a exploração do material, foi feita a codificação e a categorização dos assuntos tratados nas entrevistas. A última etapa, a do tratamento dos resultados, compreendeu a identificação do Modelo, que compreende as relações entre os construtos compostos por variáveis relacionadas à inovação tecnológica e a vantagens competitivas sustentáveis, bem como entre as variáveis intervenientes.

Mason (2002) denomina “codificação” à identificação de “unidades de significado” nas transcrições das entrevistas e que representam a massa de dados das quais se procura obter significado. Os códigos resultantes devem, portanto, estar associados a “pedaços” de texto, de tamanho variado (palavras, frases ou parágrafos). Segundo Miles & Huberman (1994), os códigos devem ser usados para organizar e compartimentar as idéias que se apresentam de forma desordenada nas entrevistas, de modo que fosse possível a análise feita na etapa posterior. Nesta fase, as unidades de codificação foram classificadas em blocos que expressam determinadas “categorias”, que, por sua vez, confirmam ou modificam conceitos relacionados e identificados no referencial teórico. No início da análise do conteúdo, os dados se acumulam e crescem de forma geométrica, obrigando o pesquisador a adotar uma estrutura

que introduza um procedimento seletivo e a escolher o que faz sentido para a interpretação do fenômeno (MILES & HUBERMAN, 1994). Os códigos foram, então, agrupados em categorias, que compreendem códigos de conteúdos similares.

Estes grupos de códigos devem ser identificados por uma palavra ou frase que contenha a idéia principal comum ao grupo de códigos (MAYKUT & MOREHOUSE, 1994). Seguem os mesmos autores afirmando que as conclusões obtidas da análise de conteúdo devem se basear na discussão do conteúdo dos códigos contidos nas categorias e de como essas categorias podem apresentar algum relacionamento. A técnica aplicada para a categorização foi a da “comparação constante”, conforme sugestão de Glaser & Strauss (1967). A comparação constante começa pela identificação das categorias, que Taylor e Bogdan (1998) chamaram de “descoberta”. Cada novo código identificado deve ser comparado com os demais existentes e associado a uma categoria, que tenha outros códigos similares. Este processo supõe constantes refinamentos, redefinindo categorias, juntando ou eliminando categorias. O objetivo do processo é também explorar possíveis relacionamentos entre as categorias e eventuais padrões de comportamento. Quando diversos códigos tenham sido associados a uma dada categoria, pode-se definir a “regra de inclusão”, que é uma descrição das propriedades genéricas que os códigos incluídos naquela categoria particular possuem. Taylor & Bogdan (1998) referem-se a esta regra como sendo uma “declaração de propósitos”, que evidencia o que o pesquisador está aprendendo a cerca do fenômeno sob estudo e representa um ponto crucial para a obtenção de conclusões da análise qualitativa.