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1. ANÁLISE SETORIAL

1.1. A EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA GLOBAL DE TELECOMUNICAÇÕES

1.1.4. A INDÚSTRIA DA INFOCOMUNICAÇÃO

A Internet surgiu como uma força comercial no início da década de 1990, apesar de ter sido introduzida no mercado no final da década de 1970. A força da emergência da Internet está na possibilidade que ela passou a representar no transporte de informações, como alternativa aos processos convencionais que usavam as redes físicas formadas por circuitos e comutadores. A possibilidade de incorporar uma grande quantidade de outros serviços à Internet, além de ser simplesmente uma nova plataforma de comunicação, representou um novo paradigma nas áreas da informação e da comunicação, chegando a mudar radicalmente a forma com que os problemas das pessoas e das organizações passaram a ser solucionados. A convergência da Internet com a Indústria da Telecomunicação deu origem ao que Fransman (2003) e outros autores passaram a denominar de Indústria da Infocomunicação.

A Internet começou a ser idealizada no fim da década de 1950, quando o Governo dos EUA incentivou pesquisadores a desenvolver sistema para interligar computadores de Universidades, de órgão do Governo e de laboratórios de pesquisa, como forma de facilitar a troca de informações e acelerar o desenvolvimento científico, fazendo frente ao visível desenvolvimento que os russos vinham apresentando em diversos campos científicos. A disseminação da Internet ao redor do mundo, entretanto só foi possível a partir de 1990, quando Tim Berners Lee e outros pesquisadores do laboratório de uma organização suíça denominada CERN, conseguiram configurar a rede mundial de comunicações, que passou a

ser conhecida por World Wide Web – www. Em 1993, pesquisas realizadas na Universidade de Illinois, de acordo com Cerf (1996), desenvolveram programas (brousers) que permitiam fácil acesso à rede mundial, www. A partir destes fatos, o uso da Internet adquiriu proporções globais, a uma velocidade de adoção muito grande.

A Internet representa um exemplo da criação destrutiva de Schumpeter (1946). A partir de 1995, a difusão do uso da Internet pelas pessoas e pelas organizações transformou de forma indelével a estrutura da Indústria de Telecomunicações, que, desde meados da década anterior, vinha sofrendo transformações radicais, originadas por forças internas á própria Indústria. A convergência entre a Internet e a Nova Indústria da Telecomunicação resultou em um modelo que Fransman (2003) descreve através de cinco camadas superpostas (Quadro 2).

Quadro 2. Modelo da Indústria da Info-comunicação.

CAMADA 5: APLICAÇÕES

Computação gráfica, serviços de informação on-line, serviços de difusão de conteúdos, etc.

CAMADA 4: NAVEGAÇÃO

Brousers, portais, dispositivos de busca, segurança, comércio eletrônico,

provedores de conteúdo, serviços financeiros on-line, etc.

CAMADA 3: CONECTIVIDADE

Provedores de acesso à Internet, sites de hospedagem, etc.

CAMADA 2: REDE

Cabos de fibra ótica, redes locais, redes de microondas, Ethernet, ATM, etc.

CAMADA 1: HARDWARE E SOFTWARE

Comutadores, equipamentos de transmissão, routers, servidores, computadores, sistemas de informação, etc.

Fonte: Adaptado de Fransman (2003)

Fransman (2003) ressalta que as mudanças introduzidas pela Internet e que levaram à transformação das Camadas 1 e 2 originam-se na tecnologia aplicada no tratamento dos pacotes de informação que é superior à tecnologia aplicada aos comutadores de circuitos da Antiga Indústria de Comunicação e que permitiu a criação do novo paradigma para a compreensão e para a solução de problemas de tratamento de informações de comunicação. Os protocolos de comunicação IP’s facilitaram e tornaram economicamente acessíveis as operações entre diferentes redes que usam tecnologias diferentes (ROBERTS, 1978). A comunicação global entre um grande número de redes interconectadas tornou-se possível,

fácil e de baixo custo, devido ao uso dos IP’s. As práticas relacionadas com a Internet foram padronizadas globalmente e possibilitaram a disseminação de conhecimentos, o desenvolvimento de novos conhecimentos e a intensificação da competição entre as redes, entre as tecnologias e entre os serviços oferecidos através das redes.

A Camada 3 da Antiga Indústria de Telecomunicações, entretanto foi profundamente alterada, sofrendo forte impacto da inovação trazida pela Internet e sendo subdividida em três novas Camadas. A partir das plataformas criadas nas Camadas 1 e 2, surgiu uma ampla gama de serviços espalhados nas Camadas superiores (ROBERTS, 1978).

O sistema de inovação presente na nova Indústria da Infocomunicação foi profundamente modificado. No Quadro 3, estão exibidas as comparações entre os aspectos relevantes existentes nos sistemas de inovação nos dois períodos.

Quadro 3. Comparação entre os sistemas de inovação. ANTIGA INDÚSTRIA DE

TELECOMUNICAÇÕES INFOCOMUNICAÇÕES INDÚSTRIA DE

Sistema de inovações fechado Sistema de inovações aberto Barreiras à entrada elevadas Barreiras à entrada baixas

Poucos inovadores Muitos inovadores Bases de conhecimento restrito e

fragmentado. Bases de conhecimento comum, difundido amplamente. Incentivos à inovação fracos Incentivos à inovação fortes Difusão de inovações seqüencial e lenta:

pesquisa, protótipo, experimentação e produção.

Difusão de inovações concomitante e rápida: novas formas concomitantes, através de

pesquisas cooperativas e remotas.

Fonte: adaptado de Fransman (2003)

Na Antiga Indústria de Telecomunicações, o sistema de inovação era fechado devido à existência de elevadas barreiras à entrada em todas as Camadas, exceto entre os operadores monopolistas de redes e seus fornecedores exclusivos. Na Indústria da Infocomunicação, a entrada é bastante facilitada pelo fato de que existe um conhecimento disseminado entre todos os participantes sobre os sistemas operacionais, as linguagens dos softwares e dos protocolos usados nas diferentes camadas da Indústria.

Os padrões definidos globalmente facilitaram a difusão do conhecimento, contrariamente ao que era comum na Antiga Indústria de Telecomunicações, em que os padrões e as práticas diferiam de país para país, resultando em uma base de conhecimento fragmentada. A digitalização da informação, que permitiu a transmissão de imagens e de vídeos através da Internet, é resultado das inovações, que se tornaram viáveis devido ao baixo

custo de desenvolvimento de softwares e da existência de bases comuns de conhecimento, como afirmou Fransman (2003).

Na Indústria da Infocomunicação existem forte estímulos para a inovação, pois a Internet representa um potencial global para que as inovações bem sucedidas seja recompensadas. Os inovadores competem a um ritmo acelerado, muito mais rapidamente do que na Antiga Indústria de Telecomunicações. As inovações podem ser desenvolvidas de forma concomitante e não mais na forma seqüencial, como era na Antiga Indústria de Telecomunicações. Segundo Fransman (2003), na Antiga Indústria de Telecomunicações, era necessário que um novo equipamento fosse exaustivamente testado antes de ser colocado em operação na rede, pois uma falha significava uma interrupção de toda a rede. Por isso a confiabilidade era um requisito extremamente necessário, o que inevitavelmente aumentava os custos dos desenvolvimentos de novos produtos. Na Indústria da Info-comunicação, os pacotes de informação podem ser enviados através de diferentes rotas, garantindo confiabilidade aos serviços oferecidos através da rede e permitindo que muitos novos equipamentos possam ser testados on line, mesmo que estejam nas fases iniciais do processo de desenvolvimento tecnológico.