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2. INOVAÇÃO

2.2. VISÕES CLÁSSICAS DA INOVAÇÃO

2.2.2. FONTES E DIFUSÃO DE INOVAÇÃO

2.2.2.1. Fontes de inovação

Von Hippel (1988) apud Afuah (1998) identificou duas fontes básicas de inovação: funcional e circunstancial, que se subdividem conforme ilustrado no Quadro 6.

Quadro 6. Fontes de inovações FONTES DE INOVAÇÕES

FUNCIONAIS FONTES DE INOVAÇÕES CIRCUNSTANCIAIS

Cadeia de valor interna Atividades internas planejadas Transbordamento de concorrentes Ocorrências inesperadas Fornecedores, clientes e inovadores

complementares Destruição criativa

Universidades, Governo e Institutos de Pesquisa

Outros países e outras regiões Fonte: Von Hippel (1988)

As fontes de inovações funcionais dizem respeito ao local onde a empresa pode encontrar as inovações; essas fontes foram subdivididas pelo autor em cinco categorias:

• Cadeia de valor interna. Todas as funções que compõe a cadeia de valor de uma organização podem ser fontes de inovação. Freqüentemente as idéias novas surgem as atividades de P&D, mas ao desenvolver atividades que agreguem valor, a produção e o marketing, têm oportunidade de gerar idéias inovadoras; até mesmo as atividades financeiras podem gerar inovações que tragam reduções de custos. • Transbordamento de Concorrentes. A empresa pode se beneficiar das atividades de

P&D de seus concorrentes seja aproveitando-se do que “transborda” daquelas atividades, seja pela divulgação dos resultados de pesquisas de concorrentes que podem representar fontes de inspiração e para novas idéias, para novos desenvolvimentos.

• Fornecedores, clientes e inovadores complementares. Um fornecedor pode inovar quando ele cria um novo produto que use um determinado componente que ele fabrique. Um cliente pode solicitar desenvolvimentos em um produto que representem inovações incrementais ou mesmo radicais. Os inovadores complementares são as empresas que, apesar de não estarem sob controle nem contato direto com a empresa, têm o poder de influenciar o sucesso de uma

empresa; o inovador complementar pode propor inovações no produto de modo a aumentar as vendas de seu próprio produto.

• Universidades, Governo e Laboratórios de Pesquisa. Pesquisas científicas desenvolvidas por estas organizações, em geral, não têm como objetivo um produto ou serviço, mas elas podem ser fontes de invenções que, posteriormente, venham a se transformar em produtos introduzidos no mercado por empresas com fins comerciais.

• Outros países e regiões. Diferentes países podem ser melhores fontes de certas inovações do que outros, porque alguns se mostram melhores em certos tipos de pesquisa e desenvolvimento do que outros.

As fontes de inovação circunstanciais dizem respeito ao momento em que a empresa pode encontrar inovações e foram subdivididas por Von Hippel (1988), em três categorias:

• Atividades internas planejadas. Quando a empresa obtém inovações de atividades que forma planejadas com esse fim específico, como as novas idéias resultantes de investimentos em P&D, que devem amadurecer e gerar novos produtos.

• Ocorrências inesperadas. Drucker (1991) mostra que muitas vezes pesquisas fracassadas podem resultar em novos produtos bem sucedidos, quando os resultados inesperadamente encontram aplicações em outras funções ou em outras indústrias.

• Criação destrutiva. Descontinuidade tecnológica, regulamentação e desregulamentação governamental, globalização, mudanças bruscas nas expectativas dos consumidores, mudanças bruscas no ambiente macroeconômico, social e demográfico, catástrofes naturais, podem ser fontes de inovação, como mostrou Schumpeter (1946). Afuah (1998) descreve o exemplo da indústria de telecomunicações, na qual, após a desregulamentação, surgiram inúmeras oportunidades de inovação, pois os operadores de redes de comunicações, prestadores de serviços de telefonia local, fabricantes de computadores, operadoras de comunicação a longa distância e outras prestadoras de serviços públicos puderam oferecer serviços de transmissão de voz, texto e imagens a seus clientes.

2.2.2.2. Transferência de inovação

Independentemente da origem da inovação, ela tem que ser transferida para que possa ser aproveita pelas empresas. A transferência pode se dar através dos limites funcionais

internos à organização, entre diferentes organizações ou mesmo cruzando fronteiras entre diferentes países. O grau de efetividade com que a transferência pode ser feita, conforme ilustrado na Figura 4, depende de quatro fatores identificados por Afuah (1998):

Figura 4. Efetividade na transferência de inovações.

Fonte: adaptado de Afuah (1998).

Diferenças entre as culturais organizacionais. Considerando-se que a cultura

organizacional envolve um conjunto de valores e de crenças comuns aos membros da organização, envolve uma estrutura organizacional e normas de procedimentos, dentro de uma mesma organização podem existir diferentes grupos que apresentem diferenças cultuais marcantes que podem afetar a transferência de inovações.

Capacidade de absorção e de transferência. Como a absorção de um

conhecimento requer a existência de conhecimento acumulado pela organização recebedora, a efetividade da transferência depende da intensidade do conhecimento apresentado pela entidade recebedora.

Natureza das inovações.A transferência da inovação depende de sua natureza: se

se trata de uma inovação radical ou incremental, se se trata de uma inovação simples sou complexa, se o conhecimento subjacente à inovação é tácito ou explícito, e de outra características (WINTERS, 1987, apud AFUAH, 1998).

Momento adequado. As inovações, em geral, apresentam um momento adequado

para serem introduzidas no mercado, que é chamado de “janela de oportunidade”. Durante a fase inicial da introdução de uma inovação, o projeto pode ser

EFETIVIDADE DA TRANSFERÊNCIA DE INOVAÇÕES DIFERENÇAS DE CULTURAS ORGANIZACIONAIS MOMENTO ADEQUADO Quando e quanto NATUREZA DAS INOVAÇÕES

Tácita ou explícita Radical Complexidade CAPACIDADE DE ABSORÇÃO E DE TRANSFERÊNCIA Experiência

modificado, mas depois que o projeto dominante se consolida, é difícil introduzir inovações, exceto as incrementais e as de processo.

Em se tratando de transferência feitas através de fronteiras nacionais, além dos quatro fatores que influencias a transferências entre empresas, Afuah (1998) indica que um quinto fator é de grande importância: o papel dos "coopetidores". Este termo foi inicialmente proposto por Brademburger & Nalebuff (1996) e se refere ao conjunto formado pelos fornecedores, consumidores, concorrentes e inovadores complementares, que são as entidades do ambiente externo à empresa, com os quais ela deve colaborar ou competir para que ela consiga ser bem sucedida. O país recebedor da inovação deve apresentar uma rede de fornecedores e uma infra-estrutura adequada (incluindo os inovadores complementares) ao recebimento da tecnologia e do conhecimento necessário para que a transferência seja efetiva. Os consumidores devem apresentar demanda suficiente para absorver as inovações introduzidas no país. A importância da existência de coopetidores em condições de facilitar a transferência depende da complexidade da inovação, ou seja, quanto mais complexa for a inovação, mais crítico é o papel dos coopetidores no recepção da inovação pelo pais recebedor.

2.2.3. MODELOS ESTÁTICOS

O primeiro grupo de modelos de inovação a ser examinado apresenta uma visão das capacidades e do conhecimento que servem de base às inovações, bem como os incentivos para que sejam feitos investimentos, em um determinado momento. Representam, portanto, uma visão estática do processo inovador, que não considera a evolução do processo inovador ao longo do tempo.

2.2.3.1. Modelo organizacional

Uma inovação tem dois tipos de impacto sobre a organização, quando considerada a extensão com que as capacidades da empresa são afetadas. Esta visão oferece duas alternativas: inovação radical ou incremental. Ela é considerada radical quando o conhecimento tecnológico necessário para gerar a inovação é muito diferente do conhecimento existente, que se torna obsoleto. Tais inovações são conhecidas por serem destruidoras de competências, segundo Tushman & Anderson (1986). Elas são consideradas

ainda drásticas, pois produzem novos produtos tão superiores aos anteriores, que se tornam não competitivos. As inovações são consideradas incrementais, segundo os mesmos autores, quando o conhecimento requerido para oferecer novos produtos se apóia em conhecimentos existentes; a inovação é considerada como capaz de enfatizar competências. Os resultados de inovações incrementais, que são as mais freqüentes, permitem que produtos antigos continuem sendo competitivos; por isso, esta inovação é também chamada de não-drástica.

2.2.3.2. Modelo de Abernathy-Clark

Em 1985, Abernathy e Clark propuseram um modelo que levou seu nome, baseado, em interpretações que eles deram a razões pelas quais as empresas existentes podem superar o desempenho dos novos entrantes. O modelo considera dois tipos de conhecimentos: conhecimentos tecnológicos e de mercado, que podem ser preservados ou destruídos (tornarem-se obsoletos). No Quadro 7 estão representadas as quatro combinações possíveis para os diferentes papéis do conhecimento, comentadas a seguir

Quadro 7. Modelo de Abernathy-Clark.

CONHECIMENTO TÉCNICO CONHECIMENTO

DE MERCADO PRESERVADO OBSOLETO

PRESERVADO Regular Revolucionária

OBSOLETO Nicho Arquitetural

Fonte: Adaptado de Abernathy & Clark (1985)

inovação regular, quando tanto o conhecimento tecnológico quanto de mercado

são preservados;

inovação de nicho, quando o conhecimento tecnológico é preservado, mas o de

mercado torna-se obsoleto;

inovação revolucionária, se o conhecimento tecnológico torna-se obsoleto,

enquanto o de mercado é preservado e,

inovação arquitetural, quando se tornam obsoletos os conhecimentos tecnológico

e os de mercado.

2.2.3.3. Modelo de Handerson-Clark

Henderson & Clark (1990) pesquisando as razões possíveis para as firmas existentes apresentarem dificuldades em lidar com as inovações que pareciam ser incrementais, notaram que, desde que os produtos são normalmente feitos a partir de componentes montados, o

processo produtivo requer dois tipos de conhecimentos: conhecimento de componentes e conhecimento arquitetural. No Quadro 8 estão representados os diferentes tipos de inovações resultantes das combinações dos tipos de conhecimentos identificados pelos autores.

Quadro 8. Modelo de Henderson-Clark

CONHECIMENTO ARQUITETURAL CONHECIMENTO

DE

COMPONENTES VALORIZADO DESTRUÍDO

VALORIZADO Incremental Arquitetural

DESTRUÍDO Modular Radical

Fonte: Adaptado de Henderson & Clark (1990)

inovação incremental, quando tanto o conhecimento de componentes quanto o

arquitetural são valorizados;

inovação arquitetural, quando o conhecimento de componentes é valorizado, mas

arquitetural é destruído;

inovação modular, se o conhecimento de componentes é destruído, enquanto o

arquitetural é valorizado e,

inovação radical quando são destruídos tanto o conhecimento de componentes

quanto o arquitetural.