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2. INOVAÇÃO

2.1. SCHUMPETER E AS MUDANÇAS ECONÔMICAS

2.1.2. A INOVAÇÃO E A CONCENTRAÇÃO DE MERCADO

Neste item será tratada da influência que existe entre a concentração de mercado e o processo de geração de inovação, como pesquisado por alguns autores. Lima (1999) demonstra em seu estudo que a taxa de inovação varia exponencialmente com a concentração de mercado, comprovando afirmação de Schumpeter de que a influência da estrutura de mercado sobre a propensão a inovar das empresas não é uma função linear.

Quando uma mudança tecnológica ocorre, as inovações permitem usar menos mão de obra, reduzindo o custo unitário do trabalho. De fato, segundo Kalecki (1940) apud Lima (1999), os avanços tecnológicos, que melhoram a produtividade do trabalho, exercem uma influência fundamental sobre a acumulação de capital e crescimento, tanto porque eventualmente, exige instalações de novas máquinas e equipamentos, quanto porque afeta a distribuição de renda. A influência torna-se maior e mais complexa quando a inovação tecnológica é endógena do que quando é resultado de ações externas.

Stoneman (1991) apud Lima (1999, p. 4) de forma muito enfática afirma que “freqüentemente mudanças tecnológicas geram estruturas de mercado baseadas em competição imperfeita e os incentivos para a inovação em grande parte se apóiam em estruturas de mercado imperfeitos, de modo que os modelos que incorporam mudanças técnicas devem ser oligopolísticas por natureza (...)”. Quando a mudança tecnológica foi tratada como um fenômeno endógeno na literatura pós-keynesiana (KALDOR, 1956), a competição tecnológica através da inovação é vista como mais importante do que a competição de preço, por ser uma ferramenta mais poderosa para as empresas que procuram conquistar e manter vantagens competitivas. Apesar de a mudança tecnológica ser considerada endógena, não se pode negar a estrutura de mercado é uma força determinante na direção das mudanças tecnológicas. Nelson & Winter (1982) admitem a existência de uma multiplicidade de fatores envolvendo essa relação, que aparenta ter duplo sentido entre a estrutura de mercado e a mudança tecnológica:

• intensidade de competição entre as empresas e a propensão a inovar;

• efeito do grau de difusão do novo conhecimento tecnológico sobre a premência de investir em P&D;

• competição por inovações em produtos e em processos de produção; • influência de ameaças de novos entrantes sobre a propensão à inovação.

Lima (1999) apresenta duas possibilidades para que as mudanças tecnológicas possam influenciar a estrutura de mercado. A primeira possibilidade ocorre através da influência sobre a escala ideal de produção de uma empresa típica da indústria. À medida que o tamanho mínimo eficiente de uma fábrica aumente (ou diminua) em conseqüência de mudanças tecnológicas, aumenta (ou diminui) a tendência de indústria se tornar mais concentrada. Em outras palavras, quanto maior o investimento necessário para tornar a operação minimamente eficiente, maior será a tendência de eliminação da empresas com poucos recursos financeiros. A segunda possibilidade ocorre através das barreiras à entrada: as empresas pioneiras na introdução de inovações podem conseguir vantagens significativas em relação aos concorrentes, gerando lucros extraordinários que possibilitam pesquisas adicionais e desenvolvimento de competências que não poderão ser facilmente copiadas. O autor mostra ainda que as duas formas estejam bastante correlacionadas, pois o aumento da escala de produção representa exigência de capitais volumosos, que torna praticamente impossível o surgimento de novos entrantes com poucos recursos financeiros e que são em geral pouco eficientes operacionalmente, aumentando a concentração de mercado. Entretanto, à medida que a tecnologia torna-se madura, os conhecimentos necessários sendo difundidos entre os

participantes do mercado, as barreiras à entrada tornam-se menos críticas e novos entrantes surgem, reduzindo o grau de concentração do mercado.

Para Nelson & Winter (1982) o efeito mais significativo das mudanças tecnológicas é o aumento do grau de concentração em torno dos líderes de oligopólios; seu modelo empírico mostra ainda que a rápida introdução de inovações também aumente o grau de concentração. Esta posição é contrariada por Mansfiled (1983) e por Blair (1972) apud Lima (1999), que apresentaram estudos a respeito do impacto da mudança tecnológica sobre a economia de escala em diversas indústrias inglesas desde o fim do século XIX até meados do século XX, concluindo que, em dois terços das observações, a mudança tecnológica aumentou o grau de concentração da indústria. Porém Lima (1999) estudou as indústrias inglesas na década de 1970 e concluiu que a introdução de inovações tecnológicas diminuiu o grau de concentração das indústrias.

Freeman (1982) apud Lima (1999) afirma que existem poucas evidências empíricas conclusivas sobre a relação entre inovação tecnológica e estruturas de mercado e que as generalizações devem ser cuidadosamente interpretadas. A razão desse cuidado prende-se ao fato de que a estrutura de mercado específica pode variar muito de um setor para outro, de um período de tempo para outro, do tipo de inovação e principalmente das oportunidades tecnológicas e das condições de apropriabilidade do conhecimento e das inovações. Dosi et al. (1994) admitem que uma empresa que inova com sucesso pode crescer e aumentar sua participação de mercado, levando a um aumento da concentração de mercado. Por outro lado, esses mesmos autores admitem que uma inovação que possa ser facilmente imitada pode atrair novos entrantes, tornando o mercado mais competitivo e diminuindo a concentração de mercado. Estas evidências colocadas por esses autores mostram que a concentração de mercado não pode ser tomada como uma variável independente de uma eventual relação causal com a inovação.

O modelo teórico desenvolvido por Lima (1999) para explicar a relação entre inovação e grau de concentração da indústria, partindo do pressuposto de que a mudança tecnológica na interpretação neo-schumpeteriana é endógena, permitiu concluir que a taxa de inovação é determinada pela estrutura de mercado através de uma função não linear, em que a taxa de produtividade do trabalho cresce ao quadrado com a concentração de mercado. Esta especificação tem a intenção de capturar uma possível não linearidade neo-schumpeteriana na influência da estrutura de mercado sobre a propensão à inovação observada nas empresas: inovação é baixa para o elevados níveis de concentração, bem como para os baixos níveis de concentração. A inovação é alta apenas para os níveis intermediários de concentração. As

conseqüências dos estudos de Lima (1999) são importantes para as decisões de investimentos em capacidade de produção, crescimento e distribuição de recursos, pois a direção e a intensidade do efeito das mudanças tecnológicas sobre o nível de concentração vão depender do nível de concentração predominante.