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Exercício físico e envelhecimento feminino

Com relação ao exercício físico, Caspersen, Powell e Christenson (1985) o descrevem como sendo toda atividade física planejada, estruturada e repetitiva que tem como objetivo a melhoria e a manutenção de um ou mais componentes da aptidão física, definida como conjunto de atributos relacionados à saúde ou à habilidade (Caspersen et al., 1985).

Gomes Júnior, Brandão, Almeida e Oliveira (2015) realizaram um estudo que buscou analisar a compreensão de um grupo de idosos praticantes de exercícios físicos sobre os po­ tenciais efeitos proporcionados pelas atividades realizadas. Os indivíduos pesquisados, em sua maioria, foram incentivados a praticar exercícios físicos por recomendação de um pro­ fissional de saúde, por amigos ou outros participantes. Outros fatores motivadores relatados foram a socialização e o sentimento de bem­estar. De acordo com os achados da pesquisa, a prática de exercício físico previne as doenças desencadeadas pelo sedentarismo, além de propiciar valiosos recursos sociais na terceira idade. Portanto, tem­se o envelhecimento ativo como um fator primordial para o prolongamento da vida com qualidade para idosos, uma vez que ele proporciona o afastamento da dependência funcional, da falta de autonomia e de comprometimentos cognitivos e emocionais (Gomes Júnior et al., 2015).

Copatti, Kuczmainski, Ferreti e Sá (2017), em revisão de literatura acerca da imagem corporal e autoestima em idosos, atentam para a importância de o idoso conhecer bem a sua relação com seu próprio corpo, que envelhece, e como isso afeta sua autoestima. Outro aspecto importante evidenciado no estudo refere­se ao fato de que a população feminina apresenta níveis inferiores de satisfação com imagem corporal e autoestima, em comparação à população masculina. Como conclusão da pesquisa, foi constatado o efeito positivo da prá­ tica de atividades e/ou exercícios físicos sobre a autoimagem e autoestima em idosos de ambos os sexos (Copatti et al., 2017).

Ao avaliar a capacidade funcional e a percepção de bem­estar de idosas praticantes de exercícios físicos nas academias da terceira idade, Oliveira et al. (2016) afirmam que velhices como essas, a que chamam de velhice bem­sucedida, envolvem, entre outros fatores, inde­ pendência, autonomia e percepção de bem­estar, e está intimamente relacionado ao modo como a idosa se sente em meio a relacionamentos com familiares, amigos e trabalho.

Coradini, Silva, Comparin, Loth e Kunz (2012) analisaram a satisfação com a imagem corporal entre idosas ativas, em busca de compreender sua visão sobre a relação do exercício físico com sua imagem corporal. Os dados sugerem que grande parte das idosas do estudo, que praticam exercícios físicos, não estão satisfeitas com sua imagem corporal, visto que a maioria gostaria de ter silhuetas mais magras do que as que consideram ter. A maior parte das idosas relacionou sua imagem corporal à prática de exercícios físicos, reconhecendo os

97 benefícios físicos, psicológicos e sociais adquiridos pela prática, o que se reflete naquilo que para os discursos médicos e psicológicos se trata de um envelhecimento saudável e satisfa­ tório em relação ao corpo: prevenindo e/ou retardando a deterioração dos processos físicos e psicológicos (Coradini et al., 2012).

Ao estudar alterações na sintomatologia do climatério em mulheres praticantes de exer­ cícios físicos aeróbicos, Avelar et al. (2012) verificaram que a prática regular de exercícios fí­ sicos proporciona alívio dos sintomas, com resultados notáveis mesmo a curto prazo. A inatividade física pode ocasionar piora dos sintomas e surgimento de patologias.

Benavente, Sanchez, Sanchez, Cerezuela, Noguera e Abellan (2018) realizaram uma pes­ quisa com vistas a identificar dificuldades e motivações para a prática de exercícios físicos em mulheres acima de 65 anos. Os resultados apontaram que, dentre as dificuldades estão a percepção de saúde precária e falta de tempo livre. Ambas as circunstâncias resultam da obrigação de assumir o papel de cuidar, sendo representadas como uma imposição de gê­ nero. Algumas mulheres manifestaram uma percepção de sua saúde como ruim, o que gerou falta de autoconfiança para a realização de exercício físico. Observou­se também que os pró­ prios estereótipos negativos associados à velhice geram insegurança devido à preocupação com as próprias habilidades. E dentre as motivações para a prática estão relacionadas a per­ cepção de força, necessidade de socialização e percepção de autonomia e liberdade. Por fim, estes autores perceberam que as representações ideológicas do gênero são um fator impor­ tante que influencia as mulheres no que se refere à prática de exercícios físicos, à sua decisão de exercitar­se, assim como em sua execução.

Considerações

O presente texto apresentou como objetivo identificar a produção acadêmica acerca do empoderamento de mulheres idosas a partir da prática de exercícios físicos na contem­ poraneidade. Com esse fim, foi realizada uma revisão sistemática de literatura sobre a te­ mática nas bases de dados Scielo, LILACS e PePsic.

Este caminho nos possibilitou a identificação de 33 textos, em que percebemos a ve­ lhice, em nossas sociedades, ainda perpassada por estigmas, e o idoso percebido como al­ guém improdutivo, decrépito e próximo à morte. E isso contribui para a manifestação de sofrimentos destes sujeitos, como expressa na tentativa de negação do envelhecimento.

Nesse contexto, as mulheres, na condição de idosas, são atravessadas por uma inter­ secção de discursos hegemônicos: os que dizem sobre o corpo­mulher e os que dizem sobre o corpo­velho. É o que pode ser percebido quando voltamos o olhar para as apreensões de idosas sobre seu corpo físico, visto que este corpo já não cumpre os padrões culturalmente estabelecidos para a mulher, quando jovem. Disso não apenas resulta, mas se explicita a busca por um corpo culturalmente idealizado para a mulher e, o sabemos, inalcançável, de que deriva sofrimentos, traduzidos, por exemplo, em questionamentos internos e não acei­ tação de si própria, do próprio corpo e do seu processo de envelhecimento nessa fase da vida, refletindo em sensações de baixa autoestima, da imagem que apresenta sobre si pró­ pria, assim como sentir­se sem autonomia, sentindo­se inatrativas.

É interessante que a partir da prática de exercício físico idosas apontam maior sensação de benefícios, que se refletem em sensações como autonomia e bem­estar, assim como per­

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cepções sobre seus corpos que não aquelas preponderantes pelos discursos hegemônicos. No entanto, há casos de idosas que, ao realizar as práticas de atividades físicas, se sentem insatisfeitas, pois as realizam na busca por estabelecer um corpo como o imposto e valorizado pela cultura, e propagado pelas mídias.

Percebemos, dessa forma, o exercício físico enquanto prática atravessada pelo poder, em que se evidenciam hegemonias e resistências. Se por um lado, contribui para novos olha­ res sobre si próprias por parte das idosas, indo de encontro ao discursos culturalmente apre­ goados e internalizados sobre a velhice de mulheres; por outro, pode se fazer um caminho para que idosas tentem alcançar o ideal de um corpo culturalmente imposto, fazendo­se assim uma prática a partir da qual se fortalecem e evidenciam a internalização de hegemo­ nias, de que resultam sofrimentos.

É importante também frisar que parte dos estudos encontrados nesta pesquisa aponta a prática do exercício físico apenas levando em consideração suas consequências biológicas e cognitivas, sem ressaltar questões culturais e sociais e sua importância para os processos de envelhecimento. Disso se sugere a necessidade de estudos mais aprofundados sobre as questões que perpassam o envelhecimento feminino, inclusive de estes próprios saberes realizarem interdisciplinaridades.

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INQUÉRITO COM A COMUNIDADE URSINA DE SÃO PAULO