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LICENCIATURA EM FÍSICA NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS

3. Resultados e discussões

As primeiras perguntas do questionário foram destinadas à caracterização do espaço amostral. Dentre todas as informações obtidas, destacam­se o percentual de participação

de estudantes do sexo masculino e feminino (Tabela 1), a faixa etária dos entrevistados5 (Fi­

gura 1) e o período em que estão matriculados (Figura 2).

Observa­se que, para o IFF, há uma maior participação feminina no curso. Esses dados foram coletados durante a realização de atividades rotineiras, o que pode ser admitido como indicativo da porcentagem real do curso. Na UENF, os dados foram comparados com o nú­ mero de matriculados, informação cedida pela coordenação de curso, observando­se uma porcentagem semelhante. Ainda sobre esta universidade, destaca­se, também, a maior par­ ticipação de público jovem no curso.

Considerando a metodologia adotada para a coleta de dados, cabe destaque ao fato de que, na UENF, a Semana da Licenciatura em Física – local em que se deu a coleta de dados – é mais frequentada pelos alunos de períodos iniciais. No IFF, o curso surge a partir do quarto período da chamada Área Básica de Ingresso em Ciências da Natureza, o que justifica a ine­ xistência de estudantes nos períodos anteriores ao quarto.

Tabela 1

Perfil dos entrevistados

Sexo IFF (%) UENF(%)

Masculino 47 70

Feminino 53 30

5As classificações das faixas etárias estão em concordância com o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE,2018).

69 Figura 1. Faixa etária dos

entrevistados

Figura 2. Período no qual os candidatos estavam

matriculados

3.1. Sobre gênero e seus significados

A distinção entre os conceitos de gênero e sexo biológico foi abordada de duas formas distintas. Os entrevistados foram convidados a escrever, em uma pergunta aberta, qual seu gênero e, posteriormente e de forma objetiva, a marcar qual o seu sexo biológico. Em se­ guida, a pessoa deveria informar se julgava ambas as perguntas redundantes ou não. Aqueles e aquelas que assinalaram “não” como resposta reconheceram a distinção entre os conceitos. Os resultados estão representados na Figura 3.

Com base na Figura 3, pode­se observar expressiva a influência do determinismo bio­ lógico na compreensão do gênero de um sujeito. No IFF, a alta porcentagem de licenciandos que não reconhecem a diferença entre os significados pode ser interpretado como uma evi­ dência da abordagem tangencial dada à temática, corroborando com a construção de signi­ ficados que não abrangem a questão sob a ótica da diversidade. Pensar em gênero, na perspectiva da maioria dos entrevistados, exclui as identidades “trans” e todas aquelas que não se definem na lógica binária do masculino e feminino. Louro (2016) destaca, ainda, que essa diferenciação serve como argumento para justificar as desigualdades sociais produzidas a partir das diferenças baseadas no sexo biológico (Louro, 2016).

As respostas dadas a pergunta aberta, que questionava qual o entendimento do(a) en­ trevistado(a) sobre o significado de gênero foram categorizadas. Esses resultados aparecem na Tabela 2, que engloba a frequência relativa de ocorrência de cada padrão de resposta.

Nos dois cenários, menos de 50% das respostas foram enquadradas na categoria IV. Isso representa, na prática, que menos da metade dos entrevistados reconhece o conceito de gê­ nero a partir de uma perspectiva de identidade do sujeito. Reconhecer gênero sob o aspecto identitário implica em salientar o aspecto dinâmico, mutável e, consequentemente, impreg­ nado de contribuições sociais. Implica, então, em reconhecer o conceito como construção social e livre de determinações estabelecidas a priori.

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Figura 3. Distinção entre os significados de gênero e sexo biológico Tabela 2

Padrões de resposta ­ concepção de gênero

Categoria Padrão de Resposta Frequência (%)

UENF IFF

I Não responderam 10 23

II Binarismo (masc. e fem.) 25 16

III Gênero como sexualidade 25 15

IV Identidade de um sujeito 40 46

Buscando compreender a aceitação do debate de gênero no ambiente escolar, foi per­ guntado aos respondentes em quais espaços de aprendizagem – com as opções de escola, casa e rua – o debate sobre gênero e sexualidade deveria ser abordado. As respostas para essa pergunta, Figura 4, foram dividias em duas categorias: as que reconhecem a escola como um dos espaços de aprendizagem a abordar gênero e sexualidade e as que não reconhecem.

A mesma temática, também, foi abordada de outra maneira. Os (as) estudantes foram convidados a concordar ou discordar, no questionário, da seguinte afirmação: “É responsa­ bilidade de todos os professores trabalharem o tema gênero e sexualidade na sala de aula, independente de qual seja a sua disciplina”. As respostas, juntamente com os argumentos, foram analisadas e categorizadas, conforme mostra a Tabela 3.

Em relação às duas instituições pesquisadas, observam­se realidades diametralmente opostas. Cabe destaque ao fato de que, na UENF, a coleta de dados foi realizada em um evento temático na forma de mesa redonda, o que pode ter contribuído para seletividade dos(as) respondentes. Isso pode ter corroborado com o cenário menos conservador, expresso pelos resultados da Figura 3 e da Tabela 2.

Figura 4. Porcentagem de entrevistados que reconhecem a importância do debate de gênero ser proporcionado pela escola

71 A alta porcentagem de entrevistados(as) que discordam da afirmação (Tabela 3, cate­ goria II – IFF) tem uma relação direta com a noção persistente de que a temática deve ser abordada pelos professores de biologia, já identificada em estudos anteriores (Lima & Silva, 2011). Além disso, neste instituto, os alunos entram em contato com as disciplinas de cunho pedagógico nos primeiros períodos do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza. A es­ colha pela área de formação – Licenciatura em Física, neste caso – ocorre ao final desse ciclo

básico6. Tal fato pode representar a redução da atividade docente à mera reprodução de

conteúdo, prática conflitante com as previsões dos Parâmetros Curriculares Nacionais e com o que, segundo Freire (2004), são os saberes necessários a pratica docente.

Tabela 3

Padrões de respostas coletados a partir da análise da afirmação

Categoria Padrão de Resposta Frequência (%)

UENF IFF

I Não responderam 5 8

II Discordam 25 61

III Concordam parcialmente 10 8

IV Concordam 60 23

Quando perguntados a respeito do reconhecimento da sigla e dos significados das letras, os(as) respondentes, em maioria (cerca 55%), não foram capazes de atribuir o significado correto às letras Q, I e ao símbolo +. Somados aos que não sabiam sequer o significado da “sigla base”, cerca de 21%, 76% não reconhecem as identidades de gênero e as sexualidades representadas na sigla. Esses resultados encontram­se na Figura 5.

Figura 5. Reconhecimento do significado da sigla LGBTQI+. Resultado de ambas instituições,

visto a semelhança entre os perfis de resposta.