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Um dia, encontrei um cirurgião muito gordo num seminário. Ele me disse que perdera um quarto de milhão de dólares em três anos, negociando com ações e opções. Quando lhe perguntei como tomava suas decisões so- bre investimentos, ele apontou meio acanhado para a sua enorme pança. Ele jogava com base na intuição e recorria à sua renda profissional para sustentar o hábito. Dispõe-se de duas alternativas para o instinto: uma é a análise fundamentalista; a outra é a análise técnica.

Os grandes mercados altistas e baixistas resultam de mudanças nos fundamentos da oferta e da procura. Os analistas fundamentalistas acompanham os relatórios sobre safras, estudam as iniciativas dos bancos centrais, acompanham os índices de ocupação dos setores, e assim por diante. No entanto, ainda que se conheçam esses fatores, é possível per- der dinheiro nas operações de mercado, quando se está fora de sintonia com as tendências de médio e curto prazos. Elas dependem das emoções da multidão.

Os analistas técnicos acreditam que os preços refletem tudo que se conhece sobre o mercado, inclusive os fatores fundamentais. Cada preço representa o consenso de todos os participantes do mercado sobre o va- lor de determinado objeto – grandes investidores institucionais, peque- nos especuladores, analistas técnicos, pesquisadores fundamentalistas e jogadores.

A análise técnica é um estudo de psicologia de massa. É em parte ciên- cia e em parte arte. Os especialistas dessa área usam muitos métodos cientí- ficos, inclusive conceitos matemáticos de teoria dos jogos, probabilidades e assim por diante. Quase todos usam computadores para rastrear indica- dores sofisticados.

A análise técnica também é uma arte. As barras nos gráficos juntam-se em padrões e formações. Quando os preços e indicadores se movimentam, produzem um senso de fluxo e ritmo, um sentimento de tensão e beleza que ajuda o analista a perceber o que está acontecendo e como operar nos mercados.

O comportamento individual é complexo, diverso e quase imprevisí- vel. O comportamento grupal é primitivo. Os técnicos estudam os padrões de comportamento das multidões do mercado e operam quando reconhe- cem um padrão que no passado precedeu certos movimentos do mercado.

Pesquisas de opinião

As pesquisas de opinião em política são um bom modelo de análise técnica. Os técnicos e os pesquisadores de opinião tentam ler a mente da massa. Os pesquisadores de opinião o fazem em busca de ganhos políticos; os técni- cos, na tentativa de auferir ganhos financeiros. Os políticos querem conhe- cer suas chances de serem eleitos ou reeleitos. Fazem promessas aos eleito- res e então pedem aos pesquisadores de opinião pública que verifiquem suas chances de vitória.

Os pesquisadores de opinião pública usam métodos científicos: esta- tística, procedimentos de amostragem e assim por diante. Também preci- sam de um jeito todo especial de entrevistar e de formular perguntas; em outras palavras, precisam estar sintonizados com as correntes emocionais de seus partidos. As pesquisas de opinião pública são uma combinação de ciência e arte. Quando um pesquisador de opinião pública afirmar que é um cientista, pergunte-lhe por que, nos Estados Unidos, a maioria deles é membro do Partido Democrata ou do Partido Republicano. A verdadeira ciência é apartidária.

Os técnicos de mercado devem erguer-se acima das filiações partidá- rias. O importante é não ser nem touro nem urso, mas buscar a verdade. O touro tendencioso olha para o gráfico e diz: “Onde eu posso comprar?” O urso tendencioso olha para o mesmo gráfico e tenta descobrir em que ponto deve operar a descoberto. Os analistas de alto coturno estão acima dos vieses altistas e baixistas.

Um truque o ajuda a detectar sua tendência. Se quiser comprar, vire o gráfico de cabeça para baixo e veja se ele recomenda venda. Se ele ainda su- gerir compra, mesmo ao contrário, você deve empenhar-se para eliminar a tendência altista de seu sistema. Se, ao contrário, ambos os gráficos parece- rem indicar venda, você precisa trabalhar para expurgar a tendência bai- xista.

A bola de cristal

A maioria dos investidores leva para o lado pessoal as viradas nos preços. Quase todos sentem-se muito orgulhosos quando ganham dinheiro e ado- ram gabar-se de seus lucros. Quando uma operação não dá certo, sen- tem-se punidos como crianças e tentam ocultar o prejuízo. É possível ler as emoções dos investidores estampadas em suas fisionomias.

Muitos investidores acreditam que o objetivo do analista de mercado é prever os preços no futuro. Em quase todos os campos, os amadores pe- dem previsões, ao passo que os profissionais simplesmente gerenciam as informações e tomam decisões baseadas nas probabilidades. Veja o caso da

medicina, por exemplo. Um paciente é levado para a sala de emergências, com uma faca fincada no peito – e os ansiosos membros da família fazem apenas duas perguntas: “Ele sobreviverá?” e, depois, “Quando poderá ir para casa?”. Pedem previsões aos médicos.

Mas o médico não é um previsor – cuida dos problemas à medida que surgem. Sua primeira função é evitar a morte do paciente em conseqüência do choque, e assim lhe dá analgésicos e faz transfusões de sangue para compensar a hemorragia. Em seguida, remove a faca e sutura os tecidos le- sionados. A próxima preocupação é evitar a infecção. Assim, monitora o estado do paciente e prescreve medicamentos para evitar complicações. Ele está gerenciando – não prevendo. Quando a família insiste em previ- sões, é até possível que as dê, mas sua utilidade prática é baixa.

Para ganhar dinheiro com suas operações de mercado, não é necessá- rio prever o futuro. O importante é extrair informações do mercado e veri- ficar quem controla a situação – se os touros ou os ursos. É preciso medir a força do grupo dominante e determinar a probabilidade de permanência da tendência vigente. Também é necessário planejar a gestão conservadora do dinheiro, visando à sobrevivência de longo prazo e à acumulação de lu- cro. Também é importante observar o funcionamento de sua mente e não descambar para a ganância ou para o medo. O investidor que fizer tudo isso tem mais chances de sucesso do que qualquer previsor.

Leia o mercado, gerencie-se

Enorme volume de informações transborda dos mercados durante as ho- ras de negociações. As mudanças dos preços narram as batalhas entre tou- ros e ursos. Seu trabalho é analisar essas informações e apostar no grupo de mercado dominante.

Previsões dramáticas são truques do mercado para iludir os incautos. As pessoas que vendem serviços de assessoria sabem que as boas previsões atraem clientes pagantes, enquanto as más previsões são logo esquecidas. Meu telefone tocou enquanto escrevia este capítulo. Um guru famoso, na época passando por um período de má sorte, disse-me que havia identifi- cado “uma dessas oportunidades de compra que só acontecem uma vez na vida”, em certo mercado agrícola. Ele me pediu para ajudá-lo a levantar di- nheiro e garantiu que o multiplicaria por 100 em seis meses! Não sei quan- tos tolos ele fisgou, mas as previsões dramáticas sempre foram boas para tosquiar o público.

Use o bom senso ao analisar os mercados. Quando alguma nova ocor- rência o intrigar, compare-a à vida fora dos mercados. Por exemplo, os in- dicadores podem emitir sinais de compra em dois mercados. Você deve comprar no mercado que caiu muito depois do sinal de compra ou no que

caiu menos? Coteje essa situação com o que acontece com alguém depois de um tombo. Se ele rolou um lance de escada, provavelmente se levanta- rá, sacudirá a poeira e voltará a correr. Mas se caiu da janela do terceiro an- dar, dificilmente voltará a correr tão cedo; precisará de tempo para recu- perar-se. Os preços raramente sobem com muito vigor imediatamente de- pois de um declínio acentuado.

As operações de mercado bem-sucedidas erguem-se sobre três pilares. É preciso analisar o equilíbrio de poder entre touros e ursos. É fundamental praticar a boa gestão do dinheiro. É imprescindível seguir seu plano de ne- gociações e evitar empolgar-se nos mercados.

III

Análise de Gráficos Clássica