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Os analistas técnicos estudam os movimentos do mercado, tentando iden- tificar padrões de preço recorrentes. O objetivo é lucrar com operações no mercado, quando os padrões se repetem. A maioria dos analistas técnicos trabalha com gráficos de barras, que mostram o preço máximo, o preço mínimo, o preço de fechamento, o volume e os contratos em aberto. O gráfico ponto-figura acompanha apenas as mudanças no preço e ignora tempo, volume e contratos em aberto.

O gráfico clássico exige apenas papel e lápis. Apela aos que têm incli- nação visual. Quem plota os dados a mão desenvolve sensibilidade física em relação ao preço. Os computadores aceleram a produção de gráficos, à custa de se perder parte dessa sensibilidade.

O maior problema dos gráficos é o pensamento desejoso, ou wishful thin-

king. Os investidores não raro convencem-se a si mesmos de que um padrão é

de alta ou de baixa, dependendo de sua intenção de comprar ou vender. No começo do século XX, Herman Rorschach, psiquiatra suíço, de- senvolveu um teste para a exploração da mente das pessoas. Derramou tin- ta em 10 folhas de papel e dobrou cada uma delas na metade, criando um borrão simétrico. Quase todas as pessoas que olham para essas folhas des- crevem o que vêem: partes da anatomia, animais, edifícios, e assim por di- ante. Na realidade, não passam de borrões! Cada um vê o que está em sua mente. A maioria dos investidores usa os gráficos como um gigantesco tes- te de Rorschach. Projetam suas esperanças, medos e fantasias nos gráficos.

Breve história

Os primeiros grafistas dos Estados Unidos apareceram na virada do século XIX para o século XX. Entre eles se incluem Charles Dow, autor de uma

famosa teoria do mercado de ações, e William Hamilton, que sucedeu a Dow como editor do Wall Street Journal. A máxima famosa de Dow era: “As médias descontam tudo.” Com isso ele afirmava que as mudanças no Dow Jones Industrial and Rail Averages refletiam todos os conhecimentos e esperanças sobre a economia e sobre o mercado de ações.

Dow nunca escreveu um livro, apenas os editoriais do Wall Street Jour-

nal. Hamilton substituiu Dow depois de sua morte e deu grande impulso

aos gráficos, ao escrever “The Turn of the Tide” (A Virada da Maré), edi- torial sobre o crash de 1929.

Hamilton definiu os princípios da teoria Dow em seu livro The Stock

Market Barometer. Robert Rhea, editor de uma newsletter, contribuiu

para que a teoria atingisse o auge, em seu livro de 1932, The Dow Theory. A década de 1930 foi a Era de Ouro dos gráficos. Muitos inovadores viram-se com excesso de tempo depois do crash de 1929. Schabaker, Rhea, Elliott, Wyckoff, Gann e outros publicaram suas pesquisas durante essa década. O trabalho desses pioneiros prosseguiu em duas direções dis- tintas. Alguns, como Wyckoff e Schabaker, encararam os gráficos como um registro visual da oferta e demanda nos mercados. Outros, como Elliott e Gann, buscaram uma ordem perfeita nos mercados – empreendimento fascinante, mas fútil (ver Seção 6).

Em 1948, Edwards (que era genro de Schabaker) e Magee publicaram

Technical Analysis of Stock Trends. Eles popularizaram conceitos como

triângulos, retângulos, cabeças e ombros, além de outras formações e no- vos conceitos, como suporte, resistência e linhas de tendência. Outros gra- fistas aplicaram esses conceitos a mercadorias.

Os mercados mudaram muito desde os dias de Edwards e Magee. Na década de 1940, o volume diário de negociações de uma ação ativa na Bol- sa de Valores de Nova York era de apenas várias centenas. Já na década de 1990 não raro excedia a milhões. O equilíbrio de poder no mercado de ações deslocou-se em favor dos touros. Os primeiros grafistas escreveram que os topos no mercado de ações eram pontiagudos e efêmeros, enquanto os fundos formavam-se mais devagar e eram mais duradouros. Isso era ver- dade naqueles tempos deflacionários, mas o oposto tem sido a realidade desde a década de 1950. Agora, os fundos tendem a se formar rapidamen- te, enquanto os topos costumam levar mais tempo.

O significado de um gráfico de barras

Os padrões dos gráficos refletem as ondas de ganância e medo entre os operadores de mercado. Este livro foca os gráficos diários, mas é possível aplicar muitos de seus princípios a outros dados. As regras para a leitura de gráficos semanais, diários e horários são muito semelhantes.

Cada preço é o consenso momentâneo dos participantes do mercado sobre o valor de uma ação, expresso sob a forma de negociações. Cada bar- ra de preço fornece várias informações sobre o equilíbrio de poder entre touros e ursos (Figura 18.1).

O preço de abertura das barras diárias ou semanais geralmente reflete a opinião dos amadores sobre valor. Eles lêem os jornais matutinos, to- mam conhecimento do que aconteceu na véspera e transmitem suas ordens para os corretores, antes de irem para o trabalho. Os amadores são espe- cialmente ativos no começo do dia e no começo da semana.

Os investidores que pesquisaram as relações entre preços de abertu- ra e fechamento durante várias décadas descobriram que os preços de abertura com grande freqüência se situam perto da máxima ou da míni- ma das barras diárias. As compras e vendas por amadores no começo do dia criam um extremo emocional dos quais os preços se recuperam ao longo do dia.

18. GRÁFICOS 77

Figura 18.1: O significado de um gráfico de barras.

Os preços de abertura são estabelecidos pelos amadores, cujas ordens se acu- mulam durante a noite e chegam ao mercado de manhã. Os preços de fecha- mento são determinados em boa parte pelos profissionais de mercado, que negociam durante o dia. Observe a freqüência com que os preços de abertura e fechamento estão nos extremos opostos das barras.

Em cada barra, a máxima marca o poder máximo dos touros e a mínima marca o poder máximo dos ursos durante o período representado pela bar- ra. A slippage tende a ser menor quando se entra ou sai de posições em bar- ras curtas.

Nos mercados em alta, os preços geralmente registram a mínima da se- mana na segunda ou na terça-feira, em conseqüência da realização de lucro pelos amadores, depois atingem nova máxima na quinta ou na sexta-feira. Nos mercados em baixa, a máxima da semana geralmente ocorre na segun- da ou na terça-feira, atingindo-se nova mínima mais para o fim da semana, na quinta ou na sexta-feira.

O preço de fechamento das barras diárias ou semanais tende a refletir as negociações dos investidores profissionais. Eles observam o mercado ao longo do dia, reagem às mudanças e tornam-se especialmente ativos perto do fim do pregão. Muitos deles realizam lucro nessa hora, para não carre- garem posições durante a noite.

Os profissionais como grupo geralmente operam contra os amadores. Tendem a comprar aberturas mais baixas, vender a descoberto aberturas mais altas e desfazer-se de suas posições ao longo do dia. Os investidores precisam prestar atenção à relação entre preços de abertura e de fecha- mento. Se os preços fecham mais altos do que abriram, os profissionais de

mercado provavelmente foram mais altistas do que os amadores. Vale a

pena operar com os profissionais e contra os amadores.

A máxima de cada barra representa o auge do poder dos touros durante

o período. Os touros ganham dinheiro quando os preços sobem. Suas com- pras empurram os preços para cima e cada ponto de alta aumenta seus lu- cros. Finalmente, os touros chegam a um nível em que não mais conseguem aumentar os preços – nem mais um ponto. A máxima de uma barra diária re- presenta o ponto de maior poder dos touros naquele dia e a máxima de uma barra semanal marca o pico do poder dos touros durante a semana. A máxi- ma de uma barra de cinco minutos reflete o poder máximo dos touros na- quele período de cinco minutos. O ponto mais alto de uma barra representa

o poder máximo dos touros no período representado pela barra.

A mínima de cada barra representa o ponto de maior poder dos ursos

durante o período. Os ursos ganham dinheiro quando os preços baixam. Continuam vendendo a descoberto, suas vendas pressionam os preços mais para baixo e cada ponto de baixa aumenta seus lucros. Em algum mo- mento, eles ficam sem capital e perdem o entusiasmo e, com isso, cessa a queda dos preços. A mínima de cada barra mostra o poder máximo dos ur-

sos durante o período. A mínima de uma barra diária marca o ponto de

maior poder dos ursos durante aquele dia, e a mínima de uma barra sema- nal identifica o apogeu do poder dos ursos durante aquela semana.

O ponto de fechamento de cada barra revela o resultado de uma bata-

lha entre touros e ursos durante o período. Se os preços fecham perto da máxima da barra diária, isso mostra que os touros ganharam a batalha do dia. Os preços de fechamento em gráficos diários dos mercados futuros são especialmente importantes. A quantidade de dinheiro em sua conta depen-

de disso, pois o valor de sua conta é “marcado a mercado” (marked to mar- ket) a cada noite.

A distância entre a máxima e a mínima de qualquer barra revela a in- tensidade do conflito entre touros e ursos. Em média, as barras revelam mercados relativamente frios. A barra cujo comprimento seja apenas a me- tade da média corresponde a um mercado sonolento e desinteressado. Já a barra que seja duas vezes mais alta do que a média mostra um mercado em ebulição, no qual os touros e os ursos pelejaram ininterruptamente em toda a extensão da arena.

A slippage (ver Seção 3) é geralmente mais baixa nos mercados tran- qüilos. Vale a pena entrar nas negociações em períodos cujas barras sejam curtas ou normais. As barras compridas são boas para realizar lucros. A tentativa de assumir uma posição quando o mercado está em operação é como pular num trem em movimento. É melhor esperar pelo próximo.

Candelabros japoneses

Os comerciantes de arroz japoneses começaram a usar gráficos candelabro uns dois séculos antes do aparecimento do primeiro grafista nos Estados Unidos. Em vez de barras, esses gráficos apresentam fileiras de velas com pavios em ambos os lados. O corpo de cada vela representa a distância en- tre os preços de abertura e de fechamento. Se o preço de fechamento for maior do que o de abertura, o corpo é branco. Se o preço de fechamento for mais baixo, o corpo é preto.

A ponta do pavio superior representa a máxima do dia e a ponta do pa- vio inferior representa a mínima do dia. Os japoneses consideram as máxi- mas e mínimas do dia relativamente desimportantes, de acordo com Steve Nison, autor de Japanese Candlestick Charting Techniques. Eles se concen- tram na relação entre preços de abertura e fechamento e nos padrões que incluem várias velas.

A principal vantagem do gráfico candelabro é o foco na luta entre ama- dores, que controlam a abertura, profissionais, que controlam o fecha- mento. Infelizmente, a maioria dos grafistas de candelabro não usa muitas ferramentas dos analistas ocidentais. Eles ignoram o volume e não têm li- nhas de tendência ou indicadores técnicos. Essas lacunas estão sendo pre- enchidas por modernos grafistas americanos, como Greg Morris, cujo software Candlepower combina indicadores técnicos ocidentais com os padrões clássicos do candelabro.

Perfil do mercado

A técnica de gráficos para rastrear a acumulação e a distribuição durante cada seção de negociações foi desenvolvida por J. Peter Steidlmayer. O

perfil de mercado (market profile) necessita de acesso em tempo real aos

dados – um fluxo constante de cotações durante todo o dia. O método atri- bui uma letra do alfabeto a cada meia hora de negociações. Cada nível de preço atingido durante aquela meia hora é marcado com sua própria letra.

À medida que os preços mudam, cada vez mais letras enchem a tela, criando uma curva em forma de sino. Quando os preços rompem uma ten- dência, o perfil de mercado reflete essa situação, tornando-se alongado. Às vezes, combina-se o perfil de mercado com o de dados de liquidez (liqui- dity data bank), que monitora o volume de negociações durante o dia por vários grupos – operadores da sala de negociações, hedgers e operadores fora da sala de negociações.

Mercados eficientes, random walk e Lei da Natureza

A teoria dos mercados eficientes é a noção acadêmica de que ninguém pode superar o desempenho do mercado, pois qualquer preço, a qualquer momento, incorpora todas as informações disponíveis. Warren Buffet, um dos investidores mais bem-sucedidos do século XX, comentou: “Acho fas- cinante como a ortodoxia reinante pode levar muita gente a pensar que a terra é plana. Investir num mercado no qual as pessoas acreditam em efi- ciência é como jogar bridge com alguém a quem disseram que não é bom olhar as cartas.”

A falha lógica da teoria dos mercados eficientes é equiparar conheci- mento e ação. É até possível que algumas pessoas tenham conhecimento, mas as pressões emocionais da multidão geralmente as induzem a operar nos mercados de maneira irracional. Um bom analista é capaz de detectar padrões repetitivos de comportamento da multidão em seus gráficos e ex- plorá-los.

Os teóricos do random walk argumentam que os preços do mercado mudam ao acaso. Evidentemente, há uma boa dose de aleatoriedade ou “ruído” nos mercados, da mesma maneira como se constata aleatoriedade em qualquer outra multidão que esteja atuando em qualquer lugar. O ob- servador inteligente consegue identificar padrões de comportamento re- petitivos numa multidão e fazer apostas sensatas em sua continuidade ou reversão.

As pessoas têm memória, lembram-se dos preços passados e essas lem- branças influenciam suas decisões de compra e venda. As recordações aju- dam a criar suporte abaixo do mercado e resistência acima dele. Os ran- dom walkers negam que as lembranças do passado influenciam nosso comportamento no presente.

Conforme observou Milton Friedman, os preços contêm informações sobre a disponibilidade da oferta e a intensidade da demanda. Os partici-

pantes do mercado usam essas informações para tomar suas decisões sobre compra e venda. Por exemplo, os consumidores compram mais mercado- rias quando estão em liquidação e menos quando os preços estão altos. Os operadores de mercado são tão capazes de comportamentos lógicos quan- to uma dona-de-casa num supermercado. Quando os preços estão baixos, as caçadoras de pechinchas entram em cena. A escassez pode induzir a situa- ções de pânico de compra, mas os preços altos restringem a demanda.

A Lei da Natureza é o grito de guerra de um grupo de místicos que se opõem aos random walkers nos mercados financeiros. Os místicos argu- mentam que existe uma ordem perfeita nos mercados, que, segundo eles, movimenta-se como um mecanismo de relógio, em resposta a leis naturais imutáveis. R. N. Elliott chegou ao ponto de intitular seu último livro de

Nature’s Law (Lei da Natureza).

A multidão da “ordem perfeita” gravita para a astrologia e busca cone- xões entre os preços e o movimento dos planetas. A maioria dos místicos tenta ocultar sua inclinação astrológica, mas é fácil tirá-los da concha. Da próxima vez em que alguém lhe falar de ordem natural nos mercados, per- gunte-lhe sobre astrologia. Ele provavelmente não perderá a oportunida- de de sair do armário e falar sobre as estrelas.

Os que crêem em ordem perfeita nos mercados acreditam na possibili- dade de prever topos e fundos, ainda que no futuro remoto. Os amadores adoram previsões, e o misticismo proporciona ótimos recursos de marke- ting. Ajuda a vender cursos, sistemas de negociações e newsletters.

Os místicos, os acadêmicos do random walk e os teóricos do mercado eficiente têm um traço em comum. Todos estão igualmente alienados da realidade dos mercados. Os extremistas brigam uns com os outros, mas pensam da mesma maneira.