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O mercado é uma multidão unida por laços frouxos, cujos membros apos- tam que os preços subirão ou cairão. Uma vez que cada preço representa o consenso da multidão no momento da transação, todos os investidores es- tão, com efeito, apostando no ânimo da multidão no futuro. Essa multidão oscila o tempo todo entre otimismo, indiferença e pessimismo. Ou entre esperança e desespero. A maioria das pessoas não segue os próprios planos de negociação, pois deixa que a multidão influencie seus sentimentos, pen- samentos e ações.

Os touros e os ursos batalham no mercado, e o valor de seus investi- mentos sobe e desce, dependendo das iniciativas de agentes totalmente es- tranhos. Você não pode controlar o mercado. Você apenas decide se e quanto entrar e sair de determinada posição.

A maioria dos operadores de mercado fica agitada quando inicia uma negociação. Sua capacidade de julgamento fica obliterada pelas emoções, depois que se juntam à multidão do mercado. Essas emoções induzidas pela massa desviam os investidores de seus planos e os levam a perder dinheiro.

Especialistas em multidões

Charles Mackay, advogado escocês, escreveu seu clássico, Extraordi-

nary Popular Delusions and the Madness of Crowds, em 1841. Nessa

obra, ele descreveu várias manias de massa, como a Mania da Tulipa, na

Holanda, em 1634, e a Bolha de Investimentos dos Mares do Sul, na Inglaterra, em 1720.

A loucura das tulipas começou com uma alta no mercado de bulbos de tulipa. A duração da tendência convenceu os prósperos holandeses de que as tulipas continuariam a aumentar de valor. Muitos deles abandonaram seus negócios para cultivar tulipas, negociar com elas no mercado ou tornar-se corretores de tulipas. Os bancos passaram a aceitar tulipas como garantia de empréstimos e os especuladores ganharam muito dinheiro. Finalmente, a mania entrou em colapso em ondas de pânico de venda, deixando muita gente na miséria e o país em choque. Lamenta-se Mackay: “As pessoas en- louquecem em massa, mas recuperam a razão aos poucos e uma a uma.”

Em 1897, Gustave LeBon, filósofo e político francês, escreveu The

Crowd, um dos melhores livros sobre psicologia de massa. O investidor

que o ler hoje verá seu reflexo num espelho de 100 anos.

LeBon escreveu que, quando as pessoas se aglomeram numa multidão, “não importam os indivíduos que a componham, nem quão semelhantes ou diferentes sejam os estilos de vida, ocupações, personalidade e inteli- gência, o fato de terem se transformado em multidão, confere-lhes uma es- pécie de mente coletiva, que os faz sentir, pensar e agir de maneira muito diversa de seu modo de sentir, pensar e agir como indivíduos, ou seja, caso tivessem continuado isolados”.

As pessoas mudam quando se juntam à multidão. Tornam-se mais cré- dulas e impulsivas, buscam ansiosamente um líder e reagem de maneira emocional, em vez de usarem o intelecto. O indivíduo que se envolve com um grupo torna-se menos capaz de pensar por conta própria.

Os experimentos de psicólogos sociais americanos, na década de 1950, comprovaram que as pessoas, quando em grupos, pensam de manei- ra diferente de quando estão sozinhas. Por exemplo, um indivíduo sozi- nho consegue distinguir com facilidade a mais longa de duas linhas traça- das numa folha de papel, mas perde essa capacidade, quando inserido num grupo cujos membros, deliberadamente, dão respostas erradas. Pessoas in- teligentes, com nível universitário, acreditam mais num grupo de estra- nhos do que em seus próprios olhos!

Os membros do grupo acreditam uns nos outros e, em especial, nos lí- deres mais do que em si mesmos. Theodore Adorno e outros sociólogos mostraram em seu estudo de dois volumes, The American Soldier, que o maior previsor isolado da eficácia de um indivíduo em combate era o rela- cionamento com o sargento. O soldado que confia no líder literalmente o segue até a morte. O operador de mercado que acredita estar seguindo uma tendência pode manter uma posição perdedora durante muito tempo, até consumir todo o seu patrimônio.

Sigmund Freud explicou que os grupos se mantêm coesos pela lealda- de de seus membros ao líder. Nossos sentimentos em relação aos líderes do grupo decorrem de nossos sentimentos da infância em relação aos pais – mistura de confiança, adoração, medo, desejo de aprovação e rebelião po- tencial. Quando nos reunimos em grupo, nosso raciocínio sobre as ques- tões referentes ao grupo regride ao nível da infância. Um grupo sem líder não se mantém coeso e dissolve-se. Isso explica os pânicos de compra e venda. Quando os investidores de repente constatam que a tendência que vinham seguindo não mais é válida, saem de suas posições em pânico.

Os membros do grupo até podem seguir algumas tendências, mas são li- quidados quando o mercado muda de rumo. Ao juntar-se a um grupo, você age como uma criança seguindo os pais. O mercado não quer saber do seu bem-estar. Os operadores de mercado bem-sucedidos são pensadores inde- pendentes.

Por que se juntar?

Desde o início dos tempos as pessoas se juntam em multidões por motivos de segurança. Se um grupo de caçadores atacasse um tigre-dentes-de-sa- bre, a maioria deles provavelmente sobreviveria. Mas um caçador isolado teria chances muito remotas de sair vivo do encontro. Assim, os solitários morriam com mais freqüência e deixavam prole menor. Como os gregários tinham maiores chances de viver por mais tempo e produzir mais descen- dentes, a tendência de se reunir em grupo parece ter sido instilada na natu- reza humana.

Nossa sociedade glorifica a liberdade e o livre-arbítrio, mas abrigamos muitos impulsos primitivos sob essa fina camada de verniz de civilização. Por motivos de segurança, queremos constituir grupos fortes, sob a lide- rança de líderes poderosos. Quanto maior a incerteza, mais intenso nosso desejo de nos reunirmos em grupos e de sermos liderados.

Os tigres-dentes-de-sabre não mais vagueiam pelas glebas de Wall Street, mas você decerto teme por sua segurança financeira. E os seus receios tornam-se mais intensos em face de sua incapacidade de controlar as mu- danças nos preços dos ativos financeiros. O valor de suas posições sobe e desce ao sabor das compras e vendas efetuadas por pessoas e instituições totalmente estranhas. Essa incerteza leva muitos investidores em renda fixa a procurar um líder que lhes diga o que fazer.

Você talvez tenha decidido racionalmente assumir posições compra- das ou vendidas, mas no momento em que efetua uma operação, a multi- dão começa a sugá-lo. Você precisa prestar a atenção a vários sinais que in- dicam quando você deixa de ser um investidor inteligente, para transfor- mar-se em membro esbaforido da multidão.

Você começa a perder sua independência quando observa os preços como um gavião e sente-se exultante quando estão a seu favor ou deprimi- do quando lhe são contrários. Você está com problemas quando passa a confiar nos gurus mais do que em sua própria capacidade e impulsivamen- te reforça as posições perdedoras ou as reverte. Você perde a sua indepen- dência quando não segue seu próprio plano de investimentos. Ao perceber o que está acontecendo, tente recuperar o bom senso; se não conseguir re- assumir a compostura, saia do mercado.

Mentalidade de multidão

As pessoas tornam-se primitivas e orientadas para a ação quando se juntam às multidões. Estas se deixam dominar por emoções básicas, mas podero- sas, como terror, exultação, sobressalto e alegria. Oscilam entre sentimen- tos opostos, de angústia e júbilo, pânico e segurança. Um cientista pode ser frio e racional em seu laboratório, mas efetuar operações de mercado levia- nas, depois de se deixar levar pela histeria de massa do mercado. O grupo pode dominá-lo, não importa que você esteja operando do escritório api- nhado de uma corretora ou de uma cabana remota, no alto de uma monta- nha. Ao permitir que outros influenciem suas decisões sobre suas opera- ções de mercado, você reduz suas chances de sucesso.

A lealdade ao grupo é essencial para a sobrevivência de uma unidade militar. Sindicalizar-se talvez o ajude a manter o emprego, ainda que seu desempenho não seja dos melhores. Mas nenhum grupo pode protegê-lo no mercado.

A multidão é maior e mais forte do que você. Por mais inteligente que seja, você não pode discutir com a multidão. Você só tem uma escolha – juntar-se à multidão ou agir com independência.

Muitos operadores de mercado ficam intrigados com a reversão do mercado sempre que abandonam sua posição perdedora. Isso acontece porque os membros da multidão são dominados pelo mesmo medo – e to- dos debandam das mesmas posições ao mesmo tempo. Depois que termina o surto de vendas, o mercado não tem para onde ir, senão para cima. O oti- mismo retorna ao mercado, a multidão de novo se deixa levar pela ganân- cia e inicia-se mais uma orgia de compras.

As multidões são primitivas e suas estratégias de operação nos merca- dos devem ser simples. Não é preciso ser um gênio para conceber métodos de negociação eficazes. Se o mercado virar-se contra você, corte as perdas e corra. Nunca vale a pena brigar com a multidão – simplesmente recorra à sua capacidade de julgamento para decidir quando entrar e quando sair.

A natureza humana o predispõe a abrir mão de sua independência em situações de estresse. Ao iniciar uma operação, você sente o desejo de imitar

os outros em vez de observar com atenção os sinais do mercado. Essa é a ra- zão por que é preciso desenvolver e seguir sistemas de negociação e adotar regras de gestão do dinheiro. Esses parâmetros representam suas decisões individuais racionais. Eles foram definidos antes de você entrar no mercado e perder-se na multidão.

Quem lidera?

Você talvez sinta uma alegria intensa quando os preços se movimentam a seu favor. Mas também é possível que se deixe dominar pela raiva, pela de- pressão e pelo medo, quando a tendência dos preços for contrária às suas posições. Os investidores se juntam às multidões quando se sentem estres- sados e ameaçados. Subjugados pelas emoções, perdem a independência e começam a imitar os outros membros do grupo, sobretudo o líder.

Quando as crianças se sentem assustadas, elas querem que lhes digam como agir e recorrem aos pais. Em seguida, passam a agir assim em relação aos professores, médicos, ministros, chefes e especialistas. Os operadores de mercado, por sua vez, recorrem a gurus, fornecedores de sistemas de negociação, colunistas de jornais e outros líderes do mercado. Mas como Tony Plummer observou com brilhantismo em seu livro Forecasting Fi-

nancial Markets, o principal líder do mercado é o preço.

O preço é o líder da multidão do mercado. Investidores em todo o mun-

do seguem as altas e baixas do mercado. O preço parece dizer aos investi- dores: “Sigam-me e lhes mostrarei o caminho para a riqueza.” Quase todos os investidores consideram-se independentes. Poucos se dão conta da in- tensidade com que se concentram no comportamento do líder do grupo.

Uma tendência a seu favor é como um convite dadivoso e promissor dos pais para compartilhar uma refeição, sob o risco de ser excluído do banquete. Já a tendência contrária às suas posições é que nem uma punição irada dos pais. Quando você é dominado por esses sentimentos, é fácil ig- norar os sinais objetivos que lhe dizem para sair. Sua reação talvez seja a de desafiar, barganhar ou implorar perdão – evitando a atitude racional de aceitar a perda e abandonar a posição perdedora.

Independência

Você precisa basear seus investimentos num plano cuidadoso de operações no mercado, em vez de pular em resposta a cada mudança na tendência dos preços. Você deve saber exatamente sob que condições entrar ou sair de determinada posição. Não tome decisões sob a pressão do momento, quando está vulnerável a ser sugado para dentro da multidão.

O sucesso de suas operações de mercado depende de seu raciocínio e de sua atuação como indivíduo. A parte mais fácil de qualquer sistema de negociação é o investidor em si. Os investidores fracassam quando operam no mercado sem um plano ou quando se desviam do plano ori- ginal. Enquanto os indivíduos sensatos desenvolvem planos racionais, os membros instáveis de uma multidão volúvel se entregam a operações impulsivas.

Você deve observar-se constantemente e manter-se atento às mudanças em seu estado mental enquanto opera nos mercados. Anote seus motivos para entrar em determinada posição e as regras para sair dela, inclusive as referentes à gestão do dinheiro. Você não deve mudar o seu plano enquanto estiver numa posição em aberto.

As sereias são criaturas da mitologia grega, cujo canto era tão inebrian- te que os marinheiros se atiravam ao mar e se afogavam. Quando Ulisses quis ouvir o canto das sereias, mandou que seus homens o amarrassem ao mastro e pusessem cera nos próprios ouvidos. Ulisses ouviu o canto das se- reias, mas sobreviveu porque não conseguiu desprender-se das cordas e porque os marinheiros não ouviam suas ordens e ameaças para que o sol- tassem. Você garante sua sobrevivência como investidor quando se prende ao mastro de seu plano de operações de mercado e de suas regras de gestão do dinheiro, sem ceder à ululação das multidões.