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Chegamos ao mercado oriundos de diferentes praias da vida e trazemos conosco a bagagem mental de nossa criação e de nossas experiências ante- riores. Quase todos achamos que se atuarmos no mercado da maneira como agimos em nossa vida pessoal acabaremos perdendo dinheiro.

Seu sucesso ou fracasso no mercado depende de seus pensamentos e sentimentos, depende de suas atitudes em relação aos ganhos e ao risco, ao medo e à cobiça, e de como você maneja a empolgação das negociações e do risco.

Acima de tudo, seu sucesso ou fracasso depende de sua capacidade de usar o intelecto em vez de agir com base nas emoções. O investidor que se sente eufórico quando ganha e deprimido quando perde não consegue acumular patrimônio, pois se deixa levar pelas emoções. Se você permitir que o mercado controle seus sentimentos de euforia e depressão, você per- derá dinheiro.

Para ser vencedor no mercado, é preciso conhecer-se e agir com frieza e responsabilidade. A dor da perda induz as pessoas a buscar métodos má- gicos. Ao mesmo tempo, essas mesmas pessoas em busca de milagres des- cartam boa parte do que é útil em seus antecedentes profissionais e de ne- gócios.

Como um oceano

O mercado é como um oceano, sobe e desce independentemente de seus desejos. Você talvez fique alegre quando compra uma ação e ela dispara numa alta do mercado. Também é possível que se sinta dominado pelo medo quando está vendido e o mercado sobe, corroendo o seu patrimônio em cada ponto de alta. Esses sentimentos não têm nada a ver com o merca- do. Estão dentro de você.

O mercado não sabe de sua existência. Você não pode fazer nada para influenciá-lo. Resta-lhe apenas a alternativa de controlar seu comporta- mento.

O oceano não quer saber do seu bem-estar, mas tampouco está interes- sado em causar-lhe danos. Você talvez se sinta exultante num dia de sol, quando uma brisa suave enfuna as velas de seu barco rumo ao seu destino. Também é provável que sinta pânico numa noite tempestuosa, quando as ondas empurram seu barco para os recifes. Seus sentimentos sobre o ocea-

no existem apenas em sua mente. E ameaçam sua sobrevivência quando to- mam o lugar do intelecto e dominam seu comportamento.

O navegante não controla o oceano, mas é capaz de controlar-se a si mesmo. Ele estuda as correntes e os padrões meteorológicos. Aprende téc- nicas de navegação segura e ganha experiência. Sabe quando levantar ân- cora e quando reforçar as amarras. O navegante bem-sucedido usa a inteli- gência.

O oceano pode ser útil quando fornece peixes e funciona como hidro- via. Mas o oceano também pode ser perigoso, soçobrando embarcações e afogando pessoas. Quanto mais racional sua abordagem, maior a probabi- lidade de que você chegue ao seu destino e realize seus objetivos. Ao con- trário, quando as emoções são sua bússola, você não consegue concen- trar-se na realidade do oceano.

O operador de mercado precisa estudar as tendências e as reversões no mercado da maneira como o navegante perscruta o oceano. Deve operar em pequena escala enquanto aprende a lidar consigo mesmo e com o mer- cado. Jamais se consegue controlar o mercado, mas se aprende a controlar a si mesmo.

O iniciante que realiza uma sucessão de operações lucrativas não raro sente-se capaz de caminhar sobre as águas. Começa a assumir riscos insensa- tos e logo estoura sua conta. Por outro lado, o amador que sofre várias perdas seguidas geralmente se sente tão desmoralizado que não consegue colocar uma ordem, mesmo quando seu sistema emite fortes sinais de compra ou ven- da. Se as operações no mercado fazem com que você se sinta empolgado ou assustado, você não consegue utilizar todo o seu intelecto. Quando a alegria tirar seus pés do chão, você realizará operações irracionais e perderá. Ao con- trário, quando o medo o derrubar, você perderá oportunidades lucrativas.

O investidor profissional usa a cabeça e mantém-se calmo. Apenas os amadores ficam eufóricos ou deprimidos com suas negociações. As rea- ções emocionais são um luxo a que você não se pode dar nos mercados.

Negociações emocionais

A maioria das pessoas anseia por empolgação e entretenimento. Cantores, atores e atletas profissionais alcançam rendas muito mais altas em nossa sociedade do que outros trabalhadores mundanos, como médicos, pilotos ou professores universitários. As pessoas adoram ficar com os nervos à flor da pele – por isso compram bilhetes de loteria, freqüentam cassinos e dimi- nuem a velocidade para bisbilhotar os acidentes nas estradas.

Operar nos mercados é experiência inebriante, capaz de criar forte de- pendência. Os perdedores que jogam dinheiro nos mercados recebem em troca alto valor como entretenimento.

Os mercados estão entre as principais fontes de entretenimento da face da Terra. É um esporte para espectadores e jogadores, que acabam se fun- dindo numa única pessoa. Imagine um importante jogo de futebol, no qual você não esteja confinado às arquibancadas. Por uns poucos dólares, você pode entrar em campo e atuar como jogador. Se você der os chutes certos, será pago como profissional e até pode fazer gols.

Na primeira vez, é até possível que você pense duas vezes antes de “adentrar o gramado”. Essa atitude cautelosa é responsável pela bem co- nhecida “sorte dos principiantes”. Quando o dente-de-leite acerta na bola logo de início e recebe seu pagamento, é muito provável que se considere melhor do que os profissionais e se julgue capaz de ganhar a vida como jo- gador. Os amadores fominhas começam a correr em campo como doidos, dividindo todas as bolas, mesmo quando a oportunidade não é boa. Não demora muito, cometem falta grave e são expulsos de campo.

As decisões emocionais são letais nos mercados. Vê-se bom modelo de negociação emocional quando se vai ao hipódromo e em vez de olhar para os cavalos observa-se a platéia. Os apostadores batem os pés, pulam e gritam para os cavalos e jóqueis. Milhares de pessoas extravasam suas emoções. Os vencedores se abraçam e os perdedores rasgam seus boletos em desespero. A euforia, o sofrimento e a intensidade da torcida são cari- caturas do que acontece nos mercados. O bookmaker frio, que tenta ga- nhar a vida nas pistas, não vibra, não grita nem aposta toda a grana num único páreo.

Os cassinos adoram apostadores bêbados. Por isso, servem bebida de graça aos jogadores, pois os ébrios são mais impulsivos e se arriscam mais. Pela mesma razão, tentam livrar-se dos jogadores frios. Serve-se menos be- bida de graça em Wall Street do que nos cassinos, mas pelo menos aqui não o chutam porta afora por ser um bom investidor.

Responsável por sua vida

Quando um macaco machuca o pé num tronco, tem um acesso de raiva e começa a chutar a madeira furiosamente. Você ri do macaco, mas será que também ri de si mesmo quando age da mesma maneira? Se o mercado cai quando você está comprado, você pode dobrar a posição perdedora para ganhar duas vezes na reversão da tendência negativa ou adquirir ou- tra posição vendida, para neutralizar a perda. Você age emocionalmente, em vez de usar o intelecto. Qual é a diferença entre o investidor que tenta vingar-se do mercado e o macaco que chuta a árvore? Agir na base da rai- va, medo ou empolgação destrói sua chance de sucesso. Você deve anali- sar seu comportamento no mercado, em vez de se deixar levar pelos sen- timentos.

Ficamos com raiva do mercado, temos medo dele, desenvolvemos su- perstições tolas. Enquanto isso, o mercado mantém seus ciclos de altas e baixas, como o oceano que passa por períodos de tempestades e calmarias. Mark Douglas escreve em The Disciplined Trader que no mercado “Não há começo, meio e fim – apenas o que você cria em sua mente. Raramente, como parte de nossa educação, aprendemos a operar numa arena que per- mite completa liberdade de expressão criativa, sem nenhuma estrutura ex- terna para restringi-la de alguma maneira”.

Tentamos engambelar ou manipular o mercado, agindo como o antigo imperador Xerxes, que ordenou a seus soldados que chicoteassem o mar por afundar sua frota. A maioria de nós não sabe quão manipuladores so- mos, como barganhamos, como extravasamos nossos sentimentos no mer- cado. Quase todos nos consideramos o centro do universo e achamos que todas as pessoas ou grupos sejam boas ou más conosco. Isso não se aplica ao mercado, que é completamente impessoal.

Leston Havens, psiquiatra da Universidade de Harvard, escreve: “O canibalismo e a escravidão são provavelmente as manifestações mais antigas da predação e da submissão humana. Embora ambas sejam desencorajadas, sua existência contínua sob formas psicológicas de- monstra que a civilização alcançou grande sucesso em evoluir do con- creto e do físico para o abstrato e para o psicológico, embora mantendo os mesmos propósitos.” Os pais ameaçam os filhos, os fanfarrões sur- ram os colegas mais fracos e os professores tentam vergar a vontade dos alunos. Não admira que a maioria de nós cresça escondendo-se numa concha ou aprendendo a manejar os outros em autodefesa. Agir com in- dependência não parece natural para nós, mas essa é a única maneira de alcançar o sucesso no mercado.

Douglas adverte: “Se o comportamento do mercado parece misterio- so para você, é porque seu próprio comportamento é misterioso e inad- ministrável. Você realmente não consegue determinar o que o mercado fará em seguida, se nem mesmo souber como você agirá em seguida.” Em última instância, “a única coisa que você consegue controlar é a si mesmo. Como operador de mercado, você tem o poder de dar dinheiro para si mesmo ou dar dinheiro para os outros operadores de mercado”. E acrescenta: “Os operadores de mercado capazes de ganhar dinheiro de maneira consistente (...) atuam sob a perspectiva de uma disciplina mental.”

Cada investidor tem seus próprios demônios a exorcizar no esforço de tornar-se profissional bem-sucedido. Aqui estão várias regras que foram eficazes para mim, à medida que eu evoluía de amador insensato para se- miprofissional errático e, finalmente, para investidor profissional. Você pode alterar a lista para melhor adaptá-la à sua personalidade.

1. Decida que você está no mercado com propósitos duradouros – ou seja, você quer continuar sendo operador de mercado daqui a 20 anos.

2. Aprenda tanto quanto possível. Leia e ouça os especialistas, mas preserve certo grau de ceticismo sadio a respeito de tudo. Faça per- guntas, e não aceite ao pé da letra tudo que afirmam.

3. Não se torne ambicioso nem se precipite em suas operações de mercado. Não se apresse em aprender. Os mercados continuarão lá, com outras oportunidades promissoras, nos meses e anos vin- douros.

4. Desenvolva um método para analisar o mercado – ou seja, “Se A acontecer, é provável que B também ocorra”. O mercado tem mui- tas dimensões – use vários métodos analíticos para confirmar as operações. Teste todas as hipóteses com base em dados históricos e depois no mercado, usando dinheiro de verdade. Os mercados sempre mudam. Você precisa de diferentes ferramentas para ope- rar no mercado em alta, no mercado em baixa, e nos períodos de transição, além de outro método para distinguir as diferenças en- tre as situações (ver as seções sobre análise técnica).

5. Desenvolva um plano de gestão do dinheiro. Seu primeiro objetivo deve ser a sobrevivência no longo prazo; seu segundo objetivo, o crescimento constante do capital; e seu terceiro objetivo, gerar al- tos lucros. A maioria dos investidores põe o terceiro objetivo em primeiro lugar e ignoram os objetivos 1 e 2. (Ver o Capítulo 10.) 6. Saiba que o investidor é o elo mais fraco em qualquer sistema de

negociação. Compareça a uma reunião dos Alcoólatras Anônimos para aprender a evitar perdas ou a desenvolver seu próprio méto- do de evitar operações impulsivas.

7. Os vencedores pensam, sentem e agem de maneira diferente dos perdedores. Você deve olhar para dentro de si mesmo, deixar de lado as ilusões e mudar as velhas maneiras de ser, pensar e agir. A mudança é difícil, mas se quiser ser um investidor profissional, você deve empenhar-se em mudar sua personalidade.

II

Psicologia de Massa