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Qual é a realidade por trás dos símbolos, preços, números e gráficos de mercado? Ao verificar os preços nos jornais, observar as cotações na tela ou plotar um indicador num gráfico, o que realmente você está vendo? Qual é o mercado que você quer analisar e operar?

Os amadores agem como se o mercado fosse um happening gigantesco, um jogo de futebol em que podem entrar em campo, juntar-se aos profissio- nais e ganhar dinheiro. Os operadores de mercado com antecedentes cien- tíficos ou com formação em engenharia geralmente tratam o mercado como um evento físico. Aplicam-lhe os princípios de processamento de si- nais, de redução de ruído e idéias semelhantes. Em contraste, os investido- res profissionais sabem muito bem o que o mercado é – uma enorme massa de pessoas.

Todo investidor tenta tirar dinheiro dos outros investidores superan- do-os em suas estimativas quanto aos rumos prováveis do mercado. Os membros da multidão do mercado vivem em diferentes continentes. O ele- mento de ligação entre eles são os modernos meios de telecomunicações, no esforço de extrair lucro uns dos outros. O mercado é uma enorme mul-

tidão de pessoas. Cada membro da multidão tenta tirar dinheiro dos outros participantes, sendo mais inteligente do que os demais. O mercado é um ambiente extremamente rigoroso, pois todos estão contra você e você luta contra todos.

Além de muito rigoroso, o mercado também é demasiado oneroso, pois se paga alto preço para entrar e sair. Você precisa transpor duas barrei- ras muito altas – comissões e slippage – antes de começar a ganhar dinhei- ro. No momento em que coloca a ordem, você já deve comissão à correto- ra. Antes de começar, você já está perdendo o jogo. Em seguida, os opera- dores da sala de negociações tentam atingi-lo com a slippage, no momento em que sua ordem chega lá. E ainda procuram dar outra mordida em sua conta quando você sai da posição. Ao operar nos mercados, você compete

com algumas das mentes mais brilhantes do mundo, ao mesmo tempo em que luta para manter a distância as piranhas das comissões e da slippage.

Multidões em todo o mundo

Nos velhos tempos, os mercados eram pequenos e muitos investidores co- nheciam-se uns aos outros. A Bolsa de Valores de Nova York foi constituí- da em 1792, como um clube de duas dúzias de corretores. Nos dias ensola- rados, costumavam operar à sombra de um choupo e, nos dias chuvosos, na Fraunces Tavern. A primeira coisa que os corretores fizeram depois de organizar a Bolsa de Valores de Nova York foi beliscar o público com co- missões fixas que perduraram pelos 180 anos seguintes.

Hoje, apenas os operadores da sala de negociações se encontram face a face. A maioria dos demais operadores está ligada ao mercado por meio eletrônico. Os atores do mundo financeiro observam as mesmas cotações em seus terminais, lêem os mesmos artigos na mídia financeira e estão sujei- tos a argumentos de vendas semelhantes por parte dos corretores. Esses la-

ços nos unem como membros da multidão do mercado, ainda que esteja- mos a milhares de quilômetros da bolsa de valores.

Graças aos modernos meios de telecomunicações, o mundo está cada vez menor e os mercados estão em franco crescimento. A euforia de Lon- dres flui para Nova York e a melancolia de Tóquio infecta Hong Kong.

Quando se analisa o mercado, o que se examina, na verdade, é o com- portamento da multidão. As massas se comportam da mesma maneira, em diferentes culturas, em todos os continentes. Os psicólogos sociais desco- briram várias leis que governam o comportamento das multidões. O inves- tidor precisa compreender como as multidões do mercado influenciam sua mente.

Grupos, não indivíduos

A maioria das pessoas sente uma necessidade premente de juntar-se à mul- tidão e “agir como todo o mundo”. Essa compulsão primitiva oblitera sua capacidade de julgamento quando se inicia uma negociação no mercado. O operador de mercado bem-sucedido precisa pensar com independência. Deve ser bastante forte para analisar o mercado sozinho e para executar suas decisões sobre investimentos.

Se oito ou dez pessoas puserem as mãos em sua cabeça e o empurrarem para baixo, seus joelhos vergarão, por mais forte que você seja. A multidão pode ser burra, mas é mais forte do que você. As massas têm o poder de criar tendências. Jamais vá contra uma tendência. Se a tendência for de alta, você deve apenas comprar ou manter-se fora. Nunca venda a descoberto “porque os preços estão muito altos” – nunca discuta com a multidão. Você não precisa correr com a multidão – mas também nunca deve correr contra ela.

Respeite a força da multidão – mas não tenha medo dela. As massas são poderosas, mas primitivas, seu comportamento é simples e repetitivo. O investidor que pensa por conta própria pode tirar dinheiro dos membros da multidão.

A fonte de dinheiro

Ao tentar ganhar dinheiro operando nos mercados, você algum dia parou para pensar de onde vem o dinheiro que espera ganhar? O dinheiro do mercado resulta do aumento do lucro das empresas, das taxas de juros mais baixas ou da boa safra de soja? Nada disso. Todo dinheiro do mercado

decorre da presença de outros operadores que injetam dinheiro no mercado. O dinheiro que você quer ganhar é de outras pessoas que não têm a intenção de lhe dar dinheiro.

Operar nos mercados é tentar tirar o dinheiro de outras pessoas, en- quanto elas lutam para ficar com o seu dinheiro. Ganhar nos mercados é ex- tremamente difícil porque os corretores e os operadores da sala de negocia- ções surrupiam dinheiro tanto dos perdedores quanto dos vencedores.

Tim Slater comparou as operações de mercado com uma batalha medi- eval. Os cavaleiros iam para as liças com suas lanças e espadas em riste e tentavam matar os adversários, que também usavam suas lanças e espadas para abatê-lo. O vencedor ficava com as armas, com as propriedades e com a mulher do perdedor e vendia seus filhos como escravos. Agora, peleja- mos nas bolsas, em vez de nas lides em campo aberto. Tirar dinheiro de al- guém não é diferente de sugar o seu sangue. Ele pode perder a casa, outros bens, a esposa, e os filhos talvez sofram.

Um amigo meu, muito otimista, observou em tom jocoso que a arena estava apinhada de adversários mal preparados: “Noventa e nove por cen- to dos corretores ignoram a coisa mais elementar em qualquer pesquisa. Não sabem o que estão fazendo. Nós temos o conhecimento e alguns po- bres coitados ignorantes estão distribuindo dinheiro como caridade.” Essa teoria parece boa, mas está errada – não há dinheiro fácil no mercado.

Realmente, há muito carneiro inocente por aí, esperando ser tosquiado ou abatido. De fato, são presas fáceis – mas para ficar com um pedaço da car- ne deles, você precisa lutar com alguns adversários muito perigosos. E não faltam profissionais: pistoleiros americanos, cavaleiros ingleses, mafiosos italianos, samurais japoneses, mercenários franceses e outros guerreiros, to- dos correndo atrás do mesmo carneiro desditoso e indefeso. Operar nos mercados significa combater multidões de rivais hostis, e ao mesmo tempo pagar pelo privilégio de entrar e sair da luta, morto, ferido ou vivo.

Informação privilegiada

Pelo menos um grupo de pessoas recebe informações antes dos demais in- vestidores. Os registros mostram que os insiders das empresas sempre ga- nham dinheiro no mercado de ações. Mas esses dados refletem apenas as negociações legítimas, que foram comunicadas à Securities and Exchange Commission pelos investidores. Elas são apenas a ponta do iceberg, pois se realizam muito mais negociações privilegiadas ilegítimas no mercado de ações.

Quem opera no mercado com base em informações privilegiadas está roubando dinheiro do resto dos investidores. As ações judiciais contra insi- ders na década de 1980 levaram para a prisão alguns desses transgressores mais notórios – Dennis Levine, Ivan Boesky e outros. Durante algum tem- po, rara era a semana sem uma prisão, indiciação ou condenação: o caso do Yuppy Five, de Michael Milken, e mesmo de um psiquiatra de Connecti-

cut, que operou no mercado depois de tomar conhecimento de uma fusão iminente por meio de um paciente.

Os réus dos casos de informação privilegiada da década de 1980 foram pegos por que se tornaram gananciosos e displicentes – e enfrentaram um procurador federal em Nova York com ambições políticas. A ponta do ice- berg foi desbastada, mas a grande massa continua a flutuar abaixo da su- perfície. Não pergunte que navio naufragará – é a sua conta de investimen- tos que está em jogo.

O esforço para reduzir as negociações privilegiadas é como tentar li- vrar-se dos ratos numa fazenda. Os pesticidas os mantêm sob controle, mas não os erradicam. Um ex-CEO de uma companhia aberta expli- cou-me que o homem inteligente não negocia com base em informações privilegiadas, mas as dá aos amigos de golfe no country club. Depois, eles lhe retribuem com informações privilegiadas sobre suas empresas e am- bos lucram sem serem detectados. A rede de insiders é segura desde que seus membros sigam o mesmo código de conduta e não se tornem por de- mais gananciosos.

As informações privilegiadas são legais nos mercados futuros. A análi- se técnica ajuda a detectar compras e vendas privilegiadas. Os gráficos re- fletem todas as negociações, realizadas por todos os membros do mercado – até mesmo pelos insiders. Eles deixam pegadas nos gráficos, como qual- quer outro participante – e cabe ao analista técnico segui-los até o banco.