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Cada preço é o consenso momentâneo entre os participantes do mercado sobre o valor de determinado ativo. Revela a votação mais recente a respe- ito do valor de determinado objeto de negociação. Qualquer investidor pode dar o seu voto, emitindo uma ordem de compra ou venda ou recusan- do-se a negociar ao preço vigente.

Cada barra no gráfico reflete a batalha entre touros e ursos. Quando os touros se sentem mais vigorosos, eles compram com mais ansiedade e em- purram o mercado para cima. Quando os ursos se sentem mais vigorosos, eles vendem com mais disposição e puxam o mercado para baixo.

Cada preço reflete a ação ou inação de todos os operadores de merca- do. Os gráficos são visores da psicologia de massa. Quando se analisam os gráficos, perscruta-se na verdade o comportamento dos investidores. Os indicadores técnicos ajudam a tornar essa análise mais objetiva.

A análise técnica é psicologia social aplicada. Seu objetivo é identificar tendências e mudanças no comportamento das multidões, a fim de tomar decisões inteligentes sobre as operações no mercado.

Sentimentos fortes

Pergunte à maioria dos investidores por que os preços subiram e a resposta provavelmente se aterá ao estoque e não ao fluxo – mais compradores do que vendedores. Isso não é verdade. O número de instrumentos de negocia- ção, como ações ou futuros, comprados ou vendidos em qualquer merca- do é sempre igual.

Caso você queira comprar um contrato de francos suíços, alguém terá de vendê-lo. Se você quiser vender a descoberto um contrato de S&P 500, alguém terá de comprá-lo. As quantidades de ações compradas e vendidas no mercado de ações são sempre iguais, como também são idênticos os vo- lumes de posições compradas e vendidas nos mercados futuros. Os preços movimentam-se para cima ou para baixo por causa de mudanças na inten- sidade da ganância e do medo entre compradores e vendedores.

Quando a tendência é de alta, os touros sentem-se otimistas e concor- dam em comprar um pouco mais caro, pois esperam que as cotações conti- nuem subindo. Os ursos, por outro lado, sentem-se tensos e só se dispõem a vender por um preço mais alto. Quando touros gananciosos e otimistas se encontram com ursos receosos e defensivos, o mercado sobe. Quanto mais intensos forem os sentimentos, mais forte será a alta. A alta termina apenas quando muitos touros perdem o entusiasmo.

Quando os preços cedem, os ursos sentem-se otimistas e não se inco- modam de vender a descoberto a preços mais baixos. Os touros estão te- merosos e concordam em comprar apenas com desconto. Enquanto os ur- sos se considerarem vencedores, continuarão a vender a preços mais bai- xos e a tendência baixista prossegue. Ela só termina quando os ursos come- çam a sentir-se inquietos e se recusam a vender a preços mais baixos.

Altas e baixas

Poucos investidores agem como seres humanos puramente racionais. Constata-se alta dose de atividade emocional nos mercados. A maioria dos participantes do mercado age com base no princípio do “macaco vê, maca- co faz”. Ondas de medo e ganância levam de roldão os touros e os ursos.

Os mercados sobem por causa da ganância dos compradores e do medo dos vendedores a descoberto. Os touros normalmente gostam de comprar barato. Mas quando a expectativa de alta é muito forte, ficam mais preocupados em não perder o impulso de alta do que em conseguir preços atraentes. A alta prossegue enquanto os touros forem bastante ga- nanciosos para atender às demandas dos vendedores.

A intensidade da alta depende do sentimento predominante dos inves- tidores. Se os compradores se sentirem apenas um pouco mais fortes do

que os vendedores, o mercado sobe lentamente. Caso se sintam muito mais fortes, a alta será rápida. O trabalho do analista técnico é descobrir se os compradores continuam fortes ou se já estão perdendo o gás.

Os vendedores a descoberto sentem-se encurralados pelos mercados em alta, à medida que seus lucros derretem e se convertem em perdas. Quando os vendedores a descoberto correm para cobrir suas posições, a curva da alta empina-se quase que para a vertical. O medo é emoção mais forte do que a ganância e as altas induzidas pela cobertura de posições ven- didas são especialmente fortes.

Os mercados caem por causa da ganância entre os ursos e do medo en- tre os touros. Normalmente, os ursos preferem vender a descoberto nas al- tas, mas se esperam ganhar muito dinheiro na baixa, não se importam em operar a descoberto também na descida. Os compradores receosos con- cordam em comprar apenas abaixo do mercado. Se os vendedores a desco- berto estiverem dispostos a atender a essas demandas e vender ao preço proposto, a queda continua.

À medida que os lucros dos touros derretem e se convertem em perdas, eles entram em pânico e vendem a praticamente qualquer preço. Estão tão ansiosos para sair que aceitam as propostas de compra abaixo do mercado. Os mercados podem cair com muita rapidez quando atingidos pelo pânico de venda.

Líderes de tendências

A lealdade é o adesivo que mantém a coesão grupal. Freud mostrou que os membros de um grupo se relacionam com o líder da maneira como as crianças interagem com o pai. Os membros do grupo esperam que o líder os inspire e os recompense, quando são bons, mas que os puna, quando são maus.

Quem lidera as tendências do mercado? Quando alguém tenta contro- lar o mercado, geralmente se dá mal. Por exemplo, a alta da prata na déca- da de 1980 foi liderada pelos irmãos Hunt, do Texas, e seus associados árabes. Os Hunt acabaram numa vara de falências e concordatas. Não lhes sobrou dinheiro nem mesmo para manter o carro e tomaram o metrô para chegarem ao tribunal. Os gurus do mercado às vezes lideram as tendências, porém, geralmente, não duram mais do que um ciclo de mercado.

Tony Plummer, investidor inglês, apresentou uma idéia revolucioná- ria em seu livro Forecasting Financial Markets – The Truth Behind Techni-

cal Analysis. Ele mostrou que o preço em si funciona como líder da multi-

dão do mercado! A maioria dos investidores concentra a atenção no preço.

Os vencedores sentem-se recompensados quando os preços movimen- tam-se a seu favor e os perdedores sentem-se punidos quando os preços mo-

vimentam-se contra eles. Os membros da multidão mantêm-se na santa ig- norância de que, ao se concentrarem no preço, criam seu próprio líder. Os operadores de mercado que se deixam hipnotizar pelas oscilações nos preços criam seus próprios ídolos.

Nos mercados em alta, os touros se sentem recompensados por um pai generoso. Quanto mais perdurar a tendência de alta, mais intenso será o sentimento de confiança. Assim como as crianças continuam agindo da mesma maneira quando são recompensadas por seu comportamento, tam- bém os touros no mercado em alta reforçam suas posições compradas e en- tram em novas posições. Os ursos sentem-se punidos por estarem venden- do a descoberto. Muitos deles cobrem suas posições, ficam comprados e juntam-se aos touros.

As compras por touros felizes e as coberturas de posições por ursos te- merosos intensificam a tendência de alta. Os compradores sentem-se re- compensados, enquanto os vendedores sentem-se punidos. Ambos sen- tem-se envolvidos emocionalmente, mas poucos operadores de mercado percebem que estão desencadeando uma tendência de alta, desenvolvendo seu próprio líder.

Até que um dia ocorre um choque de preço – uma grande venda chega ao mercado, sem que existam compradores suficientes para absorvê-la. A tendência de alta dá um mergulho. Os touros sentem-se maltratados, como crianças cujo pai lhes dá algumas palmadas durante uma refeição, mas os ursos sentem-se encorajados.

O choque de preço lança as sementes da reversão da tendência. Ainda que o mercado se recupere e entre em nova alta, os touros sentem-se me- nos seguros e os ursos tornam-se mais ousados. Essa falta de coesão no gru- po dominante e o otimismo entre os oponentes torna iminente a reversão da tendência. Vários indicadores técnicos identificam topos, traçando um padrão chamado divergência de baixa (ver Seção 28). Isso ocorre quando os preços alcançam nova máxima, mas esta se situa em ponto inferior ao da máxima anterior. As divergências de baixa proporcionam as melhores oportunidades de operações a descoberto.

Quando a tendência é de baixa, os ursos se sentem como bons filhos, elogiados e recompensados por serem inteligentes. Tornam-se cada vez mais confiantes, reforçam suas posições e a tendência de baixa persiste. Novos ursos entram no mercado. A maioria das pessoas admira os vence- dores e a mídia financeira entrevista os ursos nos mercados em baixa.

Os touros perdem dinheiro durante a tendência de baixa, fazendo com que se sintam mal. Em conseqüência, desfazem-se de suas posições e mui- tos mudam de lado, juntando-se aos ursos. Essas vendas pressionam os mercados mais para baixo.

Depois de algum tempo, os ursos tornam-se cada vez mais confiantes e os touros cada vez mais desmoralizados. De repente, ocorre um choque de preço. Uma sucessão de ordens de compra absorve todas as ordens de ven- da disponíveis e levanta o mercado. Agora, é a vez de os ursos se sentirem como crianças cujo pai repreendeu-as com severidade, durante uma refei- ção até então feliz.

O choque de preço lança as sementes da reversão da tendência de baixa, porque os ursos se sentem mais temerosos e os touros tornam-se mais ousa- dos. Quando as crianças começam a duvidar da existência de Papai Noel, ra- ramente voltam a acreditar plenamente no bom velhinho. Ainda que os ur- sos se recuperem e os preços caiam para novas mínimas, vários indicadores técnicos revelam a fraqueza do mercado, ao traçarem padrões denominados divergências de alta. Isso ocorre quando os preços caem para uma nova mí- nima, mas o novo fundo é mais superficial do que o anterior. As divergências de alta oferecem as melhores oportunidades de compra.

Psicologia social

O ser humano é dotado de livre-arbítrio e é difícil prever seu comporta- mento. Os comportamentos de grupo são mais previsíveis e fáceis de se- guir. Quando se analisam os mercados, analisam-se comportamentos de grupo. Você precisa identificar a direção em que se movimentam os gru- pos e suas mudanças.

Os grupos nos sugam e obliteram nosso julgamento. O problema para a maioria dos analistas é se emaranhar na mentalidade dos grupos que são objeto de seus estudos.

Quanto mais longa for a alta, mais os técnicos se deixam levar pela eu- foria altista, ignoram os sinais de perigo e não se dão conta da reversão. Quanto mais prolongada for a baixa, mais os técnicos se enleiam na melan- colia baixista e não percebem os indícios de alta. Essa é a razão por que é importante ter um plano por escrito para analisar os mercados. Precisamos definir antecipadamente que indicadores observaremos e como os inter- pretaremos.

Os operadores da sala de negociações usam várias ferramentas para rastrear a qualidade e a intensidade de um sentimento de massa. Observam a capacidade da multidão de romper níveis recentes de suporte e resistên- cia. Ficam de olho no fluxo de “papel” – as ordens dos clientes que chegam à sala de negociações, em resposta às mudanças nos preços. Os operadores da sala de negociações ouvem as mudanças, no tom e no volume do alarido no recinto da bolsa.

No entanto, quando se opera fora da sala de negociações, precisa-se de outras ferramentas para analisar o comportamento da multidão. Os gráfi-

cos e indicadores refletem psicologia de massa em ação. O analista técnico

é um especialista em psicologia de massa, geralmente armado com um com- putador.