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CAPÍTULO I OS FUNDAMENTOS E OS CAMINHOS METODOLÓGICOS

4.3 INFÂNCIA/CRIANÇA: O OLHAR DAS PROFESSORAS

A infância, compreendida como uma construção histórica e social não se apresenta de forma estática e universal; constitui-se como um processo em permanente construção, por isso, em cada sociedade ou grupo social, esse ser pequeno denominado criança vive a infância de forma diferenciada. Assim como a infância é construída de acordo com o contexto social (infância urbana, rural, da favela, do orfanato, das ruas), as concepções e significados de infância também se modificam ao longo da história. A infância, portanto, não é dada naturalmente, como um período do desenvolvimento biológico da raça humana. Se em um período havia a invisibilidade da infância quando a criança não tinha o direito de ser criança, agora, na sociedade contemporânea, a infância passa a ter uma visibilidade social e a ser respeitada pelas suas características identitárias próprias e singulares, pois a criança, esse ser tão pequeno, já é um cidadão da nossa sociedade, é um ser de direito que requer respeito e dignidade de vida.

Com base nos depoimentos das entrevistas, nas discussões do grupo focal, nos documentos analisados e nas observações em sala de aula, discutirei as visões infância/criança que as professoras e as instituições de educação infantil manifestaram no processo da pesquisa. Os termos aqui apresentados infância/criança, ainda que sejam diferentes em seus significados, o primeiro com uma dimensão histórica e social e o segundo como um período de desenvolvimento da vida de todo ser humano, não apenas o desenvolvimento biológico, mas também o social, são utilizados de forma complementar, pois, embora diferentes, estão complexamente imbricados e interligados, não perdendo o seu próprio significado, pois, como salienta Sarmento, todo ser humano foi ou é criança, mas nem todos tiveram ou tem infância.

A infância é vista pela maioria das professoras numa perspectiva romântica segundo a qual a criança é naturalmente boa, “um ser puro, inocente, sem maldade”, como salienta a professora Regina. Essa visão é confirmada pela professora Fúlvia quando argumenta que

as crianças não têm maldade, só têm amor, alegria, não têm má intenção nem com os próprios colegas, nem com a gente. Quando a gente chama a atenção delas, no mesmo instante, elas vêm com amor para o nosso lado. A criança não guarda mágoa da gente, mesmo tendo que chamar a atenção (Entrevista feita com a profa. Fúlvia em 14/10/2008).

Essa compreensão de bondade natural da criança converge para a concepção rousseauniana de que o indivíduo é naturalmente bom, mas a sociedade o corrompe. Em

O paradigma rousseauniano deu as bases para o surgimento do sentimento de infância até então inexistente, como analisa o historiador francês Ariès, pois não havia respeito às particularidades infantis nem mesmo nas obras e nas artes do período medieval. Embora reconheçamos as significativas contribuições de Rousseau para o surgimento do sentimento de infância e do respeito à criança, sabemos que existem críticas em relação a sua obra Emílio

ou Da Educação, pela sua visão romântica da criança como esse ser puro e inocente que

precisa desabrochar naturalmente. Mas foi com ele que a criança passou a ter uma visibilidade social e educacional e passou a ter as suas características próprias reconhecidas e respeitadas. Ele acreditava na capacidade de pensar da criança e não a considerava um ser desprovido de entendimento, um infans – não falante. A obra de Rousseau influenciou significativamente na educação das crianças menores a partir do século XVIII e se refletiu no trabalho desenvolvido pelo denominado pedagogo dos jardins-de-infância, Friederich Froebel. Este educador defendia a ideia do desenvolvimento natural e espontâneo da criança (concepção naturalista romântica). Considerava a criança como uma plantinha e a professora a jardineira como ficou caracterizado pelo próprio nome (jardim-de-infância) dado por ele à instituição de atendimento às crianças de até seis anos de idade.

Essa visão faz com que as professoras desconsiderem as questões sociais e culturais da vida da criança e de todo ser humano, pois, já que a criança se desenvolve apenas no aspecto maturacional/biológico, não há necessidade de intervenção. Essa visão denota uma concepção inatista de desenvolvimento. É preciso tomar cuidado com essa visão determinista do desenvolvimento infantil para que, no processo educacional, não se descartem as outras dimensões do desenvolvimento como, por exemplo, os aspectos sociais e culturais.

Não estamos desconsiderando a importância de Rousseau para a história da infância e muito menos a influência de Froebel para a criação de espaços educativos para a criança menor de seis anos. Porém, faz-se necessário rever essa visão naturalista, para não reduzir a criança a apenas uma dimensão da existência humana – a biológica.

A professora Ivani argumenta que “a infância é a fase onde tudo começa. A partir daí que começa a formar um adolescente, um jovem, um adulto. Então tudo parte da infância; se essa infância for bem cuidada, com certeza mais tarde vai ter bons adultos44”.

A infância é o primeiro período da vida do ser humano após o nascimento, mas é também um período que deve ser respeitado pelo que ele é, e não pelo vir-a-ser – “bons adultos”. Essa visão de plantinha bem cuidada que dará bons frutos pode caracterizar uma

concepção fragmentada e restrita de criança, que precisa ter assistência e cuidado para se desenvolver. Vislumbramos também nessa fala uma concepção da criança como uma fase preparatória para a vida adulta, um “bom cidadão”. Não se compreende que a criança já é um cidadão e que tem direitos garantidos por lei.

No outro extremo, temos o olhar completamente oposto da professora Teresinha, que, no encontro do grupo focal, argumenta dessa forma: “algumas já têm maldade e quando veem alguma mais inocente influenciam as outras”. Essa é uma percepção contrária à anterior. Para essa professora, nem todas as crianças são inocentes, algumas, além de terem maldade, ainda são influenciadoras da maldade. Haveria aqui uma visão agostiniana segunda a qual a criança é essencialmente má por ter herdado o pecado original? E por que existe criança má? Ela já nasceu com a maldade ou esse sentimento foi despertado pelo seu contexto histórico e social? Em relação a essa visão, ao fazer uma análise do pensamento agostiniano, Sarmento (2007, p. 30-31) afirma que “a imagem da criança está associada a toda uma conceptualização do corpo e da natureza como realidades que necessitam ser controladas pelo instinto, a criança é concebida como uma expressão de forças indomadas e dionisíacas, com potencialidade permanente para o mal”.

Essa polaridade ocorre não só nos discursos, mas nas ações cotidianas das escolas. São duas visões distintas de criança: de um lado a inocência e, do outro, a maldade; de um, a bondade e, do outro, a perversidade: de um lado, o ser perfeito e, do outro, o imperfeito que precisa da ação do adulto para moralizá-lo. Kramer (2006, p. 18) assegura que

o sentimento moderno de infância corresponde a duas atitudes contraditórias que caracterizam o comportamento dos adultos até os dias de hoje: uma que considera a criança ingênua, inocente e graciosa e é traduzida pela “paparicação” dos adultos; e outra surge simultaneamente à primeira, mas se contrapõe a ela, tomando a criança como um ser imperfeito e incompleto, que necessita da “moralização” e da educação feita pelo adulto.

Sabemos que o sujeito possui aspectos instintivos, biológicos, naturais, mas ele também é formado por outras dimensões como as sociais, históricas, culturais, estéticas e éticas, dimensões essas que não estão separadas na vida do sujeito. Na condição de sujeito da complexidade que somos, convivemos cotidianamente com essas contradições. E com a criança não é diferente, ela também é esse ser complexo. Há crianças que são boas por natureza e outras ruins? Umas nascem para o bem e outras para o mal? Essa é a constituição da humanidade e da criança, especificamente, ser da contradição. A criança, como esse ser complexo, requer um olhar em diferentes direções e óticas, pois, como salienta Burnham

(1998, p. 35): “a aceitação da heterogeneidade é que constitui o complexo”. Um olhar pluridimensional.

Nesse sentido, Sarmento (2007, p. 45) afirma que

a complexidade dos mundos da vida das crianças desafia uma ciência que parta ou que se fixe em imagens. Uma ciência outra, atenta a complexidade das condições de existência das crianças, capaz de combinar os vectores da socialização (horizontal e vertical, realizadas entre pares e com os adultos) com os da subjetivação, o grupo geracional na sua existência histórica concreta com a criança ator e autor da sua história singular de vida.

Considerando a diversidade (crenças, valores, espaços, família, escola) do universo infantil, existe a possibilidade de construirmos uma concepção de infância pautada na construção histórica. Nessa acepção, a professora Teresinha discute a diferença da criança do passado e a criança do contexto atual. Segundo ela, com as mudanças na sociedade fica cada vez mais difícil trabalhar com a criança, pois “antigamente as crianças brincavam mais, observavam mais contar histórias; hoje elas nem ouvem as histórias que contamos na sala, temos que chamar a atenção a todo o momento”. A professora acredita que talvez a TV esteja influenciando no comportamento das crianças.

Como a infância é uma construção histórica, com certeza há diferenças entre a infância dos nossos pais e a dos nossos avós, a nossa própria infância e a de nossos filhos. A professora se refere de forma saudosista à infância de antigamente, como em Casimiro de Abreu: “Oh! que saudades que tenho/Da aurora da minha vida/, Da minha infância querida/ - Que os anos não trazem mais!”, como se as crianças do passado fossem melhores do que as de hoje. O contexto social e familiar mudou e, consequentemente, o comportamento nas atividades e brincadeiras desejadas e desenvolvidas pelas crianças. Confirmando esse discurso, a professora Fúlvia argumenta que algumas atividades desenvolvidas em sala de aula não chamam a atenção, não interessam às crianças, ao contrário das brincadeiras e das histórias, e que “tudo que se trabalha na escola fica gravado para sempre na mente da criança” e faz referência a sua própria infância com saudades.

Ao fazer alusão às atividades lúdicas que interessam às crianças, a professora contradiz a sua fala anterior de que as crianças de hoje não se envolvem nas brincadeiras. Mesmo em um contexto considerado pós-moderno, com muitos brinquedos eletrônicos, computadores, TV etc., a criança continua a ser criança. Houve sim mudanças nos tipos de brincadeiras, uma vez que o contexto é outro. Estamos em outro período da história e a

mudança é inevitável. Não somos seres estáticos e muito menos a criança o é. Devemos levar em conta os fatores heterogêneos, a diversidade do mundo adulto e também do infantil.

O que há é a diferença de contextos. Se em uma época, valorizavam-se cantigas de roda, os “causos” contados pelos mais velhos (avós, pais), a criança de hoje prefere o videogame, o computador, os desenhos animados. Ela não deixou de ser criança por isso nem deixou de ter infância por preferir assistir a TV a brincar de gude na rua. . Seria muito complicado querer impor às crianças brincadeiras que não fazem parte do seu contexto e esperar que elas gostem ou participem de tais brincadeiras.

Na concepção da professora Alessandra, a infância

É a fase de descoberta e tem que ser respeitada. Às vezes, eles45 ficam muito focado nos conteúdos e aí eu falo que eles deveriam estar dando atenção ao que as crianças veem na escola e levam para casa. Coisa simples, como pedir para contar uma história, músicas que eles cantam. Ter atenção para ouvir, ver os desenhos que eles fazem. Eu peço para deixarem livre, assim, papel pra rabiscar, porque, às vezes, chegam à escola sem saber segurar no lápis. Eles podem muito bem já está vendo isso em casa. Pra ter um sentido para eles é bom se eles vissem isso e perguntassem, buscassem ver que significado tem pra criança aquele desenho. Eu converso muito com eles a respeito disso. De dar atenção a essa criança. Então essa criança chega à escola às vezes sem infância. A gente vê muito que o brincar fica de lado. Muitas crianças estão sendo miniadultos. Chegam aqui com uma linguagem diferente, aquela linguagem decorativa de adulto (Entrevista feita com a profa. Alessandra em 25/07/2008).

Esta professora vê a criança como um ser que merece ser respeitado nas suas especificidades. Faz referência aos pais, os quais, segundo ela, estão muito preocupados com os conteúdos e acham que as crianças vão para a escola estudar, “fazer dever”. Uma das razões para esse “desaparecimento da infância” é que, muitas vezes, essas crianças estão ajudando até mesmo nos afazeres domésticos. Na escola, especificamente na sua sala de aula, a professora procura fazer com que se viva à infância de forma mais plena, proporciona momentos de histórias, músicas infantis, jogos e brincadeiras, mas, segundo a professora, quando as crianças chegam em casa, a realidade é outra. Muitas tomam conta de irmãos menores, lavam prato etc. Esta docente acredita que a escola precisa resgatar a infância, e que, o ponto fundamental da pré-escola é justamente esse resgate.

Embora essa professora tenha uma visão de infância como uma fase com particularidades que devem ser respeitadas, em outro momento do discurso, ela acaba por se contradizer ao afirmar que a criança chega à escola sem saber pegar no lápis. Qual a forma de

pegar? Existe uma maneira correta? A forma correta é a do adulto? Qual a relevância disso para construção social de uma criança de quatro anos de idade? Essa tão chamada coordenação motora não vai ser desenvolvida com o contato no dia-a-dia da escola e no contato com outros objetos. Pegar no lápis de forma “adequada” é o mais importante na escola?

A professora Sônia externou a angústia que sentia ao se deparar com uma turma de crianças de cinco anos, como via as crianças antes de trabalhar com elas e a forma como as vê hoje. Sua concepção mudou a partir do momento em que começou a ter um contato direto com as crianças. Nessa perspectiva argumenta que a infância “é viajar nesse mundo imaginário que as crianças têm dos contos de fada. Aquela habilidade que elas têm de criar coisas, inventar e contar histórias”. Hoje ela tem essa compreensão de infância e não imaginava que a história tivesse tanto significado para as crianças, assim como as ilustrações dos livros:

eu achava também que a história não era interessante. Mostrar o desenho para aluno... Eu contava a história, eu achava que a ilustração do livro não tinha importância. Esse ano, descobri que, através dos desenhos, eles podem criar sua própria história. E eles, quando ouvem a história que interessa, vivem como se fossem os personagens da história. Às vezes até acrescentam, “não tia, se fosse eu, fazia assim”. Eles já se veem sendo o personagem da história. Então o mundo infantil é esse aí, viajar pelo mundo da imaginação. Deixar vivenciar a imaginação (Entrevista feita com a profa. Sônia em 30/07/2008).

Essa é uma concepção restrita de infância, pois ter infância não significa apenas viajar no mundo imaginário. Muitas crianças viajam nesse mundo, têm imaginação, criam histórias, mas vivem o mundo do adulto, seja em casa nos afazeres domésticos, seja nas ruas, tendo que se virar para comer e dormir, seja no mundo do trabalho, tendo que ajudar nas despesas em casa ou, até mesmo, na escola onde não há espaço para o prazer e a alegria de viver. Quantas dessas crianças viajam no mundo imaginário? Sonham por melhores condições de vida, com brinquedos, com o lazer etc.? Claro que esses aspectos de fantasia e criação caracterizam a infância, mas não é só isso.

Para a professora Teresinha, a “infância é o período desde o nascimento até a adolescência, no caso assim a infância ele vai brincar, estudar, vai se envolver com outras crianças na escola, isso aí tudo eu acho que é infância” A infância aqui é caracterizada como um período biológico, e não como uma construção histórica e social. Em outro momento, porém, ela expõe que

tem criança que não vive a verdadeira infância. Como muitos meninos, as falas deles, conversando, você vê que não vive a infância, até o olhar, não é um olhar de criança que vive a infância. Tem muitos que chegam na escola e quer se soltar, porque tá envolvido com outras crianças do tamanho deles, eles se soltam, tem uns que são difíceis de concentrar [...] não ter infância, estou falando de amadurecimento cedo demais, às vezes tem que tomar conta de algum irmão, tem que ajudar em casa (Entrevista feita com a profa. Teresinha em 29/07/2008).

É perceptível certa contradição na fala da professora, pois, ao mesmo tempo em que diz que a infância é uma fase (sentido biológico), pela qual todas as crianças passam indistintamente, ela faz também uma distinção entre criança e infância, quando diz que existem crianças que não vivenciam a infância. Nesta última assertiva, a infância é construída historicamente; mas também há referência a uma visão de desenvolvimento natural, ao se referir a “amadurecimento”, uma concepção de desenvolvimento maturacional, segundo o qual a criança se desenvolve de acordo com determinados estágios.

A professora Regina vem confirmar essa visão do desaparecimento da infância com a discussão de que

as meninas hoje não sabem brincar de casinha, de pular corda. Mas falam o tempo todo sobre gravidez. Houve uma situação em que a aluna (4 anos) disse que estava grávida. A outra perguntou se já estava mexendo e quem era o pai. Ela apontou para um colega e disse que ele era o pai. O garoto a ouviu dizer que ele era o pai e não gostou e disse imediatamente que não, pois não ia dar dinheiro a ninguém não (Entrevista feita com a profa. Regina em 22/07/2008).

As crianças podem ter ouvido esses assuntos em casa, na rua, na TV, não se sabem especificamente, mas com certeza elas ouviram em algum lugar. Questionada sobre a sua atitude diante da discussão das crianças, a professora disse que ficou apenas observando e que não fez nenhuma intervenção ou participou da conversa, manifestando dificuldade em lidar com questões que surgem dos diálogos entre as crianças. Quantos conhecimentos poderiam ser explorados em sala de aula: a percepção do garoto de que se fosse o pai teria que arcar com a responsabilidade de dar a pensão alimentícia; o saber que a criança mexe na barriga da mãe. Observa-se que a criança estava brincando de casinha, de família. Ao falar do nascimento de uma criança, do pai, da mãe, há aí a compreensão da constituição de um tipo de família. Na sala de aula, o professor precisa levar em conta as situações que surgem no cotidiano, nas conversas, e explorar as percepções e conhecimentos infantis que são construídos também nessas situações, e não apenas na reprodução dos saberes já instituídos pela humanidade.

Com base nesses contextos, a criança passa a desvelar o mundo adulto e a conhecer a realidade que lhe é dada, no entanto, muitas vezes por falta de diálogo dos pais e/ou professores, por acharem que a criança não tem capacidade de compreender determinados assuntos, preferem se calar e as crianças acabam ficando sem respostas para os seus questionamentos. Quantas vezes ouvimos os adultos pedirem as crianças para que se calem por estar falando demais, fazendo muitas perguntas? Kramer (2008, p. 92), ao discorrer sobre a infância e o mundo que lhe é dado a conhecer, salienta que no “cotidiano do trabalho, na política, nas relações familiares, o que se vê é a falta de diálogo e de escuta do outro”.

A professora Teresinha ratifica essa concepção ao falar que “as conversas deles são conversas de adulto. Quem beijou, quem fez isso ou aquilo... A televisão, programas sem nenhuma censura, cenas de sexo. Tudo é considerado normal”.

Realmente muitos pais não selecionam os programas que as crianças poderiam ou não assistir, há uma permissividade a qualquer tipo de programa, o que acaba por influenciar na formação da criança. No entanto, a escola precisa estar atenta para discutir tais questões no seu dia-a-dia, abrir-se ao diálogo e não achar que isso não é um problema dela. Kramer (2008, p. 94) discute “a necessidade de educar contra a barbárie”, o que nos remete ao educador Paulo Freire, que já preconizava nas suas obras a necessidade de uma relação dialógica na educação. É possível manter essa relação dialógica com crianças tão pequenas? A criança não é um ser sem pensamento, desprovido de razão, pelo contrário, é um ser que fala, pensa, cria, rir, chora, aprende.

As concepções de infância/criança não estão presentes nos Projetos Político- Pedagógicos das escolas pesquisadas nem na Proposta Curricular da Secretaria Municipal de